Quem tem esquizofrenia tem direito a algum benefício

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Sim. Pessoas diagnosticadas com esquizofrenia podem ter direito a benefícios previdenciários, assistenciais e trabalhistas no Brasil, desde que preencham requisitos específicos de incapacidade, renda familiar e qualidade de segurado. A esquizofrenia é classificada como transtorno mental grave e persistente, apta a gerar limitações funcionais que comprometem o desempenho laboral e a autonomia. A seguir, examinaremos de forma detalhada cada benefício possível, os critérios legais, a documentação exigida, os cuidados periciais, as controvérsias jurisprudenciais e os caminhos práticos para transformar o diagnóstico em proteção social efetiva.

Conceito médico-legal de esquizofrenia

A esquizofrenia integra o grupo F20 do CID-10 (ou 6A20 da CID-11). Clinicamente manifesta-se por delírios, alucinações, pensamento desorganizado, embotamento afetivo e prejuízo cognitivo. O curso é crônico, com períodos de remissão parcial e recaídas, exigindo tratamento antipsicótico contínuo e suporte psicossocial. No direito, é considerada doença incapacitante potencial, equiparada a “transtorno mental grave ou persistente” (Lei 10.216/2001) e passível de enquadramento como deficiência psicossocial para efeito da Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015).

Benefícios previdenciários possíveis

  1. Auxílio-por-incapacidade temporária (antigo auxílio-doença)

  2. Aposentadoria por incapacidade permanente (invalidez)

  3. Auxílio-acidente (somente se restar redução parcial permanente em segurado que exerça atividade laborativa e mantenha a qualidade de segurado)

Qualidade de segurado e carência

  • Auxílio e aposentadoria exigem 12 contribuições mensais, exceto se a esquizofrenia surgir no interregno em que o segurado mantenha a qualidade (período de graça) ou se houver acidente de qualquer natureza.

  • A jurisprudência dispensa carência quando o transtorno mental se manifesta antes da filiação, por equiparação a doença preexistente agravada. Nesse caso, é preciso provar agravamento posterior às contribuições.

Incapacidade pericial

Deve ser total (para aposentadoria) ou total temporária (para auxílio) para a ocupação habitual. Exames psiquiátricos devem detalhar:

  • tipo de esquizofrenia (paranoide, desorganizada, residual)

  • frequência de surtos

  • resposta a antipsicóticos de 1.ª e 2.ª geração

  • comprometimento cognitivo (teste de MoCA, WAIS)

  • necessidade de supervisão de terceiros

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Caso haja risco de agravar sintomas com estresse laboral, peritos costumam recomendar afastamento.

Benefício assistencial (BPC-Loas)

Requisitos

  1. Incapacidade para a vida independente ou participação plena em sociedade (interpretação do STF, Tema 1.232).

  2. Renda familiar per capita ≤ 1/4 do salário-mínimo (presunção absoluta) ou superior até 1/2 SM se comprovadas despesas médicas e situação de miserabilidade (art. 20, § 11, Lei 8.742).

  3. Inscrição no CadÚnico atualizada.

  4. Não exigir qualidade de segurado, nem carência.

Atenção à Deficiência Psicossocial

O Decreto 6.949/2009 (Convenção da ONU) ampliou o conceito de deficiência: envolve barreiras. A esquizofrenia incapacitante enquadra-se se houver prejuízo de interação social e dependência para atividades da vida diária, avaliado por instrumentos CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade).

Benefícios complementares

  • Isenção de Imposto de Renda: só para aposentados por invalidez com laudo oficial (art. 6.º, XIV, Lei 7.713/1988).

  • FGTS e PIS: saque integral quando aposentado ou em auxílio-doença > 30 dias contínuos (Lei 8.036/1990).

  • Quitação de financiamento imobiliário: se contrato prevê cobertura por invalidez.

  • Transporte público gratuito: leis estaduais/municipais garantem passe livre a pessoas com deficiência mental grave.

  • Medicamentos de alto custo: fornecimento pelo SUS via processo administrativo.

Procedimento para requerer auxílio ou aposentadoria

  1. Contribuinte empregado: decorre de atestados que gerem afastamento > 15 dias. RH emite atestado de último dia trabalhado.

  2. Conta Gov.br: acessar Meu INSS > Novo pedido > Auxílio-doença ou Aposentadoria por incapacidade.

  3. Anexar laudo psiquiátrico recente (≤ 90 dias) com CID, histórico, tratamentos, exame mental e previsão de incapacidade.

  4. Agendar perícia presencial; em casos graves, solicitar perícia domiciliar.

  5. Cumprir requisitos de carência e qualidade; caso indeferido, recorrer à Junta de Recursos e, se necessário, ajuizar ação no JEF.

Prova para BPC

  • Relatório circunstanciado de serviço social ou CRAS.

  • Laudo psiquiátrico laudo multiprofissional (INSS aplica Instrumento de Avaliação da Deficiência).

  • Documentos de renda: holerites, pensões, benefícios, extratos bancários, despesas medicamentosas.

  • Testemunhas podem comprovar abandono familiar, dependência para higiene e medicação.

Reabilitação profissional e readaptação

Lei 8.213 obriga o INSS a oferecer programa de reabilitação. Para esquizofrênicos estável medicado, funções de menor estresse podem viabilizar readaptação. Se fracassar, aposenta-se. Empregador deve fornecer condições (NR 17, ergonomia; políticas de inclusão).

Estabilidade e dispensa discriminatória

TST, Súmula 443: dispensa de empregado portador de doença grave presume discriminação. Empregado com esquizofrenia pode pleitear reintegração + danos morais se demitido sem justificativa plausível. Convenção 159 da OIT garante acomodação e adaptações razoáveis.

Jurisprudência relevante

  • STJ, AREsp 1.742.689 – admite BPC a esquizofrênico com renda familiar acima de 1/4 SM, mas miserabilidade comprovada.

  • TNU, Tema 229 – INSS deve considerar gastos com tratamentos no cálculo de renda.

  • TRF-4, ApCiv 5019981-82.2021 – aposentadoria concedida por incapacidade permanente a vigilante após surtos psicóticos.

  • TST, RR 10056-39.2020 – reintegração de trabalhador demitido após diagnóstico.

Possíveis causas de indeferimento

  • Falta de carência (contribuinte individual).

  • Laudo médico insuficiente (sem CID, sem história clínica).

  • Não comprovada incapacidade total: controle medicamentoso adequado.

  • Renda familiar acima do limite no BPC, sem comprovar despesas.

Estratégias de sucesso

  • Dossiê médico: laudos sequenciais, histórico de internações, exames neuropsicológicos.

  • Diário de crises: anotações de surtos, hospitalizações.

  • Relatórios de terapeutas ocupacionais: incapacidade para atividades simples.

  • Declarações de vizinhos/familiares sobre dependência.

  • Procuração: muitos requerentes não têm capacidade civil plena; curador ou representante legal realiza o pedido.

Perguntas e respostas

Quanto tempo dura a aposentadoria por esquizofrenia?
É vitalícia, mas o INSS pode convocar pente fino. A incapacidade costuma ser permanente.

Posso trabalhar recebendo BPC?
Não. BPC cessa se houver vínculo empregatício, mas microempreendedor individual é admitido por 2 anos de teste.

Existe carência zero para esquizofrenia?
Não para contribuintes obrigatórios. Carência zero aplica-se à lista de doenças graves (art. 151 da Lei 8.213) que não inclui esquizofrenia. Mas empregado, doméstica e rural dispensam carência.

Esquizofrenia garante aposentadoria especial?
Não, pois não é agente nocivo ocupacional, e sim doença do segurado.

A pessoa pode receber auxílio-acompanhante (25 %)?
Somente aposentado por invalidez que necessite auxílio permanente de terceiro; laudo deve atestar dependência.

Medicamentos podem ser obtidos judicialmente?
Sim. Se o SUS não fornecer clozapina ou risperidona de longa ação, cabe mandado de segurança em face do Estado.

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Esquizofrenia garante passe livre interestadual?
Se for considerada pessoa com deficiência de baixa renda, sim (Lei 8.899/1994).

Conclusão

A esquizofrenia, pela gravidade e imprevisibilidade dos sintomas, pode gerar direito a auxílio-doença, aposentadoria por invalidez ou BPC, além de proteções trabalhistas contra discriminação. O êxito depende de comprovar incapacidade funcional, cumprir carência ou demonstrar condição de segurado especial e, no caso do BPC, provar vulnerabilidade socioeconômica. Laudos psiquiátricos completos, relatórios multidisciplinares e documentação de renda são peças-chave para convencer peritos, conselheiros do CRPS ou juízes. Conhecendo cada requisito e utilizando estratégia probatória sólida, o segurado transforma o diagnóstico em amparo financeiro contínuo, fundamental para aderência ao tratamento e inclusão social.

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