Por Fernando Poziomczyk
Em uma breve conversa com nossos pais ou avós, notamos que a estabilidade em seus empregos, com a possibilidade de efetivação a cargos cada vez mais relevantes, era um dos maiores sonhos de todo profissional. Por muitos anos, essa premissa social era fortemente permeada no mercado, em um modelo pautado pelas horas de trabalho em troca de uma remuneração adequada para tal serviço. Mas hoje, após muitas mudanças e questionamentos colocados à mesa, especialmente pelas novas gerações, esse sistema já não se mostra sustentável, abrindo portas para soluções mais saudáveis às classes, que se não forem logo adaptadas pelas empresas, poderão levar à falência muitos negócios ao redor do mundo.
Por muitos anos, a lógica profissional aplicada no mercado era determinada pela ascensão de cargos em uma linha racional, recompensando os empregados por seus trabalhos prestados com remunerações crescentes conforme seu crescimento na companhia. Um processo seguro, determinado e estável, que deixou de ser predominante em vista das novas demandas e exigências do mercado.
A percepção de receber uma quantia justa frente a seus esforços se tornou alvo de questionamento perante as novas gerações, em vista de novos fatores que ganharam relevância e maior importância, como critérios de seletividade nos processos seletivos. Muito mais do que ter um emprego registrado com um plano de carreira, as novas relações de trabalho estão se baseando, cada vez mais, no propósito dos serviços ofertados pelas empresas — e, acima de tudo, o quanto essas características estão alinhadas aos ideais e projetos buscados por cada profissional.
Antes da pandemia, a tolerância sobre tais aspectos mais tradicionais era elevada, sem espaço para dúvidas sobre seus benefícios. Mas hoje, após intensas mudanças nas relações de trabalho intensificadas ao longo do isolamento social, este modelo dificilmente continuará existindo por muito tempo — dando espaço para propostas mais flexíveis que já podem ser vistas ao redor do mundo. Dentre tantos exemplos, o home office é um dos mais nítidos e significativos, viabilizando uma opção remota de trabalho que, há poucos anos, era inimaginável por muitos empresários.
Com a proposta de muitas empresas para a volta ao presencial, inclusive, diversos profissionais já se declararam completamente contra tal mudança, afirmando até mesmo a busca por oportunidades que tragam essa possibilidade do trabalho à distância, junto com outras vantagens que proporcionem uma melhor qualidade de vida. Segundo uma pesquisa realizada pela página Festa da Firma, 85% dos profissionais gostariam que seus empregadores provessem mais iniciativas voltadas para a melhoria da saúde mental, uma vez que 67% declaram que sofreram sérios prejuízos nesse quesito em seus ambientes de trabalho.
Como solução para este cenário, muitos países europeus estão ofertando contratos de trabalho temporários para evitar jornadas extensas e desgastantes, enquanto, no Brasil, esse modelo ainda é encarado com maus-olhados por muitas organizações. Em complemento a essas variações trabalhistas, a oferta de benefícios flexíveis também deverá ser explorada mais a fundo.
Ao invés de serem disponibilizados via uma gama de opções predefinidas, muitas companhias já os dispõem por meio de uma quantia financeira em um cartão de crédito, dando ao empregado o poder de escolha para definir como e quando deseja gastar este valor. Para as empresas, essa opção se torna muito mais benéfica economicamente, uma vez que será dispensada de altas tributações que costumam incidir quando concedidos via depósito na conta dos profissionais.
É difícil determinar com precisão até quando o modelo de trabalho visto hoje continuará sendo exercido. Mas, algo é certo: conforme novas gerações forem dominando o mercado, a tolerância sobre jornadas mais tradicionais será cada vez menor — perdendo força para contratações mais dinâmicas e alinhadas a propósitos sociais, como a crescente onda do ESG em inúmeras empresas. Nesse cenário, o empreendedorismo poderá ganhar cada vez mais destaque, como alternativa de carreira perante estes profissionais mais questionadores.
O tempo em troca de dinheiro, certamente, não será o modelo predominante na grande maioria dos países. Em seu lugar, novos projetos sob demanda poderão emergir, com empregados cada vez mais especializados em seus segmentos de interesse e com políticas sociais bem mais definidas. Neste momento de questionamento intenso, cabe às empresas se atentarem a essas novas demandas e se adequarem, de forma que não se percam e fiquem estagnadas perante seus concorrentes.
Fernando Poziomczyk é sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.