Uma discussão sobre a influência da Aprendizagem Informal na tomada de decisão em Organizações

Jana Aparecida Pereira Lopes – Mestre em Administração pela Fundação Universidade Federal de Rondônia-UNIR, Pós-graduada em Administração Pública pela UCAM e graduada em Administração  pela UNIR. ([email protected])

Resumo: O objetivo deste trabalho é trazer uma discussão relacionando a aprendizagem organizacional, no modo informal, para a tomada de decisão nas organizações. Como objetivos específicos pretendeu-se descrever e compreender a abrangência dos elementos em questão no estudo, identificar se a aprendizagem organizacional, por meio da aprendizagem informal influencia na tomada de decisão, expor e retratar os pontos resultantes da análise e interpretação dos elementos elencados no estudo. O procedimento técnico utilizado para coleta de dados foi à pesquisa bibliográfica, a apreciação foi realizada pela técnica de análise de conteúdo. Concluiu-se que a organização favorece e norteia a aprendizagem, que é adquirida pelo individuo, e exerce influência no processo decisório. A Aprendizagem informal é um mecanismo estratégico das organizações e como resultado da aprendizagem tem-se o conhecimento que em sua forma tácita, também é responsável pela orientação da tomada de decisão.

Palavras-chave: Aprendizagem informal, estratégia, tomada de decisão.

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A discussion on the influence of Informal Learning on decision making in Organizations

Abstract: The objective of this work is to bring a discussion relating to organizational learning in informal way for decision making in organizations. The specific objectives aimed to describe and understand the scope of the elements involved in the study, identify the organizational learning through informal learning influence in decision-making, expose and retract the resulting points in the analysis and interpretation of the listed elements in the study. The technical procedure as used for data collection was the literature, the analysis was performed using content analysis. It was concluded that the organization promotes and guides the learning that is acquired by the individual, and exerts influence in decision making. Informal learning is a strategic mechanism of organizations as a result of learning has the knowledge that in its tacit form is also responsible for guiding decision making.

Keywords: Informal learning, strategy, decision-making.

 


Sumário:
Introdução. 1. Referencial Teórico. 1.1. Aprendizagem Organizacional. 1.2. Aprendizagem Informal. 1.3. Tomada de Decisão. 2. Metodologia. 3. Analise dos resultados. Conclusão. Referências.

 

INTRODUÇÃO

Atualmente o mercado passa fortes transformações sociais, econômicas e tecnológicas, o que leva os gestores a repensar a sua maneira de agir dentro das organizações. O ambiente organizacional tem ficado envolto numa nuvem contínua de incertezas, onde as estratégias empresariais aparecem como uma ferramenta administrativa relevante para encarar os fatores contingenciais da mudança. Nas últimas décadas tem existido um crescente interesse pelo processo de aprendizagem no contexto organizacional, alimentado pela crença de que aprendizagem e inovação são essenciais para a sobrevivência em ambientes competitivos e dinâmicos (FINGER; BRAND, 2001).

Constantemente as organizações encaram condições de insegurança, ambientes transitórios e intensa concorrência, por isso precisam aprender a aprender e criar novos conhecimentos, para que seus colaboradores estejam preparados em suas tomadas de decisões, de modo, que venham a colaborar no desempenho organizacional (NESPOLO et al. 2015).

Os processos informais de aprendizagem têm grande relevância para trabalhadores que ocupam funções gerenciais (ENOS; KEHRHAHN; BELL, 2003) ou para aqueles que não ocupam tais funções (CAMILLIS; ANTONELLO, 2010). A interação social, o aprender pela prática e o contexto organizacional são aspectos de destaque nos processos de aprendizagem informal (CAMILLIS; ANTONELLO, 2010).

Para Godoy e Reatto (2015), no ambiente de trabalho há possibilidades potenciais para que a aprendizagem se desenvolva, sobretudo, informalmente, pois como essa aprendizagem acontece por meio das oportunidades que estão integradas nas rotinas e práticas de trabalho cotidianas, há maior chance desta aprendizagem ocorrer com maior frequência do que a formal.

Conforme Deo (2013) o aprendizado contínuo é necessário para detectar novas soluções, estratégias e inovações que possam agregar valor aos serviços prestados, assim gerando vantagens competitivas.

A tomada de decisão é compreendida como uma importante etapa do processo estratégico, onde a informação atua como seu insumo principal (ALWIS e HIGGINS, 2001; COHEN, 2002), podendo ser perdida por uma gestão despreparada para perceber seu valor e organizar seu uso.

Conforme expos Senge (2012) a tomada de decisão organizacional é alcançada por meio das pessoas, que efetuam ações baseadas nas suas capacidades de aprendizagem, processamento de informações e por meio do conhecimento obtido.

Na visão de Miller, Hickson e Willson (2004), as decisões de caráter mais estratégico, ou seja, decisões que acontecem em um grau mais gerencial e escapam à rotina e à normalidade, acabam determinando que o administrador procure novos caminhos, novas alternativas e informações.

Isso mostra que, quanto maior é a incerteza na decisão, maior é a necessidade dos indivíduos procurarem novos conhecimentos e novas fontes de informação, enfim, o que os levem a sair de sua zona de conforto, procurando estratégias de aprendizagem, além da estruturada aprendizagem formal.

Diante do exposto, o objetivo geral deste estudo foi propor uma discussão teórica relacionando a aprendizagem organizacional, mais especificamente a aprendizagem informal para a tomada de decisão nas organizações. Os objetivos específicos, que sustentam o objetivo geral, buscam: descrever e compreender a abrangência dos elementos em questão no estudo, identificar se a aprendizagem organizacional, por meio da aprendizagem informal influencia na tomada de decisão, expor e retratar os pontos resultantes da análise e interpretação dos elementos elencados no estudo.

A coleta de dados foi ambientada em obras de autores renomados e em artigos levantados no portal SPELL[1] (Scientific Periodicals Electronic Library)¹, com publicações sobre os temas, de janeiro de 2010 a julho de 2018.  No repositório SPELL, o ponto de partida foi levantar tudo o que foi publicado no Brasil que tivesse o tema “aprendizagem” ou “tomada de decisão” no título, resumo ou nas palavras-chave, a fim de saber o total de artigos publicados sobre esses assuntos; como resultado, obteve-se 1114  artigos. Logo após, foi feito um refinamento desses dados, com o objetivo de obter apenas os artigos que tivessem os termos “aprendizagem” e “tomada de decisão”, no título, resumo ou palavras-chave, o que resultou em um total de 16 publicações. Esses artigos foram analisados a fim de constatar se tratavam da relação entre aprendizagem e a tomada de decisão; restaram, então, 5 artigos. Foi feito o levantamento também com as palavras “aprendizagem informal” e “tomada de decisão”, objeto do estudo, no título, resumo ou nas palavras-chave e nenhum resultado foi encontrado. Mas ao analisar os artigos que tratavam da relação da aprendizagem com a tomada de decisão, 3 desses abordavam a aprendizagem informal no estudo.

O método usado neste estudo apresentou abordagem qualitativa, de natureza aplicada, com objetivo exploratório e descritivo.

Após a leitura dos estudos encontrados, por meio da análise de conteúdo, foram esquematizadas três proposições, a proposição 1: A organização é responsável por proporcionar um ambiente propício para a aprendizagem, visando assim ter uma tomada de decisão com mais informações para se basear. Proposição 2: A aprendizagem organizacional realizada por meio da aprendizagem informal é um ponto estratégico que influencia a organização. Proposição 3: A aprendizagem organizacional influencia positivamente as decisões.

 

 

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

A aprendizagem, no contexto organizacional, pode ser considerada como uma resposta a mudanças enfrentadas pelas organizações, uma vez que se busca desenvolver a capacidade de aprender continuamente, baseando-se nas experiências organizacionais, e traduzir tais conhecimentos em práticas que contribuam para um desempenho melhor (SARAIVA; SALAZAR e SILVA, 2014).

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Panosso et al. (2017) traz que a aprendizagem organizacional  pode ser considerada um processo contínuo de apropriação de conhecimentos em níveis individuais, coletivos e organizacionais, num contexto organizacional.

Para Pozo (2002), a aprendizagem pode ser considerada como: implícita, quando não existe o propósito definido de aprender e nem a consciência de que se aprende; ou explícita, quando for decorrente de uma atividade deliberada e consciente. Assim nas organizações, as atividades de aprendizagem explícita podem ser: formais, quando forem estruturadas e comporem iniciativa realizada ou apoiada pela organização; ou informais, quando não forem estruturadas e constituírem iniciativa do próprio empregado, com ou sem o apoio da organização (SONNENTAG et al., 2004)

Kolb (1997) mostra que o processo de aprendizagem está circunscrito em um ciclo. O mesmo passa por quatro fases que vão desde envolver-se o que é denominado experiência concreta, ouvir/observar (observação reflexiva), criação de ideias (conceituação abstrata), até a tomada de decisões (experimentação ativa). Uma aprendizagem bem sucedida irá demandar do indivíduo, de forma flexível, a combinação dessas etapas e que poderão evoluir para padrões estáveis e duradouros que definem a sua individualidade.

Aprendizagem organizacional é um processo contínuo criação de conhecimentos novos envolvendo todas as formas de aprendizagem, tanto formal quanto informal, num contexto organizacional (PANOSSO, 2014).

Maden (2012) destaca a importância da ação flexível como um dos mais desejados objetivos dos processos de aprendizagem organizacional, e que é conseguida através da descentralização, de estruturas enxutas, informais e baseadas em equipes, onde todos são livres para tomar decisões. Adiciona-se que o valor de uma análise direcionada às práticas informais pode ser justificado ainda pela consideração de que as práticas informais são portadoras genuínas da realidade social que constitui as práticas organizacionais e o cotidiano.

Para Shipton (2006), a aprendizagem pode ocorrer em diferentes níveis: individual, grupal, organizacional e interorganizacional, e também sob diferentes perspectivas: psicológica, sociológica, da ciência política, histórica, econômica e da ciência social aplicada. A variedade de nortes nesta área está bem representada em estudos como os de Lyles (2003), Raupp et al.(2013), Lima et al. (2015). Este trabalho foi conduzido para os níveis individual, organizacional e grupal sob a perspectiva das ciências sociais aplicadas.

Maluli (2013), baseada nos estudos de Kim (1998), traz o modelo de aprendizagem individual como sendo o “ciclo de aprendizagem conceitual e operacional que informa e recebe informações de modelos mentais”. Esses ciclos de aprendizagem individual intervêm na aprendizagem organizacional por meio da influência dos modelos mentais compartilhados da organização. Os modelos mentais compartilhados e individuais são determinados como sendo a memória ativa da organização, ou seja, as partes da memória de uma organização que são relevantes para a aprendizagem organizacional, mas tem a capacidade de afetar a forma pela qual um indivíduo ou uma organização vê o mundo e toma ações e decisões.

Bonner e Bolinger (2013) investigaram uma forma de melhorar a tomada de decisão em grupo e seu desempenho, por meio da instrução aos membros do grupo para buscar informações que já possuíam, e que as consideravam como relevante para resolução de um problema. Nesta pesquisa os autores verificaram que a tomada de decisão utilizando o conhecimento do grupal foi melhor capturada, prevendo maior influência para os demais membros.

 

1.2 APRENDIZAGEM INFORMAL

No que tange à aprendizagem formal, está se caracteriza pela existência de processos organizados de aquisição do conhecimento de maneira proposital (LIVINGSTONE, 1999). Dessa forma, segundo o entendimento de Malcolm, Hodkinson e Colley (2003), a aprendizagem formal ocorre, em um contexto organizacional, por meio da realização de programas de treinamento. Portanto, ela tipicamente conta com apoio institucional, ocorre em salas de aula e é altamente estruturada (MARSICK e WATKINS, 2001). Estão envolvidas nessa categoria tanto as ações instrucionais comumente planejadas nas organizações, através de treinamentos, cursos, seminários, workshops e outras mais formas contemporâneas como mentoria e rodízio de tarefas, além de cursos de especialização e mestrado profissional (ANTONELLO, 2005).

A aprendizagem informal, para Marsick (2009) é difícil de padronizar, sistematizar e avaliar, contudo sua marca característica está em sua naturalidade. Muitas vezes, ela acontece espontaneamente e inconscientemente, sem estabelecer, a priori, objetivos em termos de resultados (KYNDT, DOCHY, e NIJS, 2009). No ambiente organizacional, a liderança, a estrutura, a cultura, os sistemas e as práticas, são fundamentais para a definição de aprendizagem informal (MARSICK, 2009). Eraut (2004) corrobora informando que a aprendizagem informal fornece um contraste simples à aprendizagem formal sugerindo maior flexibilidade e liberdade aos aprendizes, incluindo também a noção de interação social e pode ocorrer nos mais variados contextos, inclusive em torno de eventos mais formais. Portanto, a aprendizagem informal acontece naturalmente como parte do trabalho diário e envolve a busca de entendimento, conhecimento ou habilidades específicas. Porém vale observar, que esses tipos de aprendizagens decorrentes de situações práticas de trabalho não aparecem de forma isolada. Há uma interação no decorrer do desenvolvimento das atividades diárias (MARDEGAN, 2011).

Segundo Abbad et al.(2013) a aprendizagem informal ocorre por iniciativa das pessoas e pode derivar de um conjunto de ações, tais como: observação de colegas, imitação, tentativa e erro, reflexão sobre o que funcionou ou não em diversas situações, busca de ajuda em materiais escritos, integração de funcionários, tarefas diárias, oportunidades, eventos, rotinas, interações com a cultura e o ambiente externo.

Para Apostólico (2015) a aprendizagem informal relaciona-se a toda situação em que um colega de trabalho ajuda o outro para entendimento de questões pertinentes ao trabalho, como, por exemplo, usar mais eficazmente a internet ou o pacote Office e assim por diante.

Além disso, são momentos oportunos para a aprendizagem informal: a precisão de obtenção de ajuda, suporte ou informação por parte de um funcionário; a discussão com outros membros do grupo sobre outras visões e pontos de vista; horizontes de pensamentos, experiências e planos; a abertura para novos caminhos, alternativas; e reflexão sobre os processos anteriormente executados (CONLON, 2004).

No quadro 1 a seguir, são demostrados quais são os tipos de aprendizagem informal, baseado no estudo de Madergan (2011).

Captura de Tela 70 Captura de Tela 71

Panosso (2014) retrata que ações informais de aprendizagem no trabalho não são planejadas pelos gestores da organização e, por isso mesmo, não geram custos onerosos tais como observado quando se planejam ações formais de TD&E.

Abaixo Antonello (2007) traz um resumo dos mais importantes aspectos sobre a Aprendizagem Informal, o que é exposto abaixo no quadro 2.

Captura de Tela 73

Os ambientes organizacionais, a liderança, a estrutura, a cultura, os sistemas e as práticas, são fundamentais para a definição de aprendizagem informal (MARSICK, 2009). Essa última, a prática, pode ser mais útil se descrita em termos da capacidade de uma pessoa ou equipe, diante do fato de a prática destacar o que se traz para a situação, habilitando assim os participantes a fazerem o que realmente se observa, mesmo o que possa ser aparentemente invisível (ERAULT, 2004).

Ao conferir 39 estudos qualitativos sobre aprendizagem informal, Marsick e Yates (2012) descobriram que as experiências de aprendizagem informal estavam interligadas ao trabalho e às rotinas diárias, cujo gatilho em regra era um desafio ou uma situação de surpresa. Igualmente, que a aprendizagem ocorreu por meio de solução de problemas, frequentemente com ajuda de terceiros, o que lhes permitiu afirmar que a conversa, as interações sociais, a colaboração, os relacionamentos e as práticas são o ponto-chave da aprendizagem informal. Nesse sentido, o estudo de Donato, Hedler e Coelho Júnior (2017) destacou que a aprendizagem informal depende principalmente do desenho das práticas no trabalho, dos relacionamentos interpessoais, compartilhamento de conhecimento e autodidatismo.

 

1.3 TOMADA DE DECISÃO

Para Nespolo et al. (2015), a tomada de decisão é um procedimento que se encontra presente em todas as atividades que realizamos, sejam elas organizacionais ou não. Quando inserida no contexto organizacional, compete às áreas mais relevantes dos estudos das organizações (MILLER et al., 2004).

Para Lima et al. (2015) a tomada de decisão pode ser vista como um conjunto de ações e fatores que têm início a partir da identificação de um estímulo para a ação e que se finaliza com um compromisso específico privilegiando dada linha de ação.

A tomada de decisão é um dos temas centrais nos estudos em estratégia. Isto ocorre, pois o desempenho das organizações está ligado diretamente com as decisões tomadas por seus gestores de topo (ALBERTI et al., 2014; RIBEIRO et al., 2015).

Para Corso (2012) o processo decisório é considerado um dos pontos centrais para o eficaz gerenciamento das organizações, e se configura como a principal atribuição dos gerentes. Entretanto, não são somente os gerentes que tomam decisões cotidianamente; colaboradores, em geral, em suas organizações, deparam-se frequentemente com situações nas quais têm que resolver problemas, criar soluções e encontrar o melhor caminho para seus afazeres, enfim, são, também, tomadores de decisões. Em meio à constante atividade de tomar decisões, os indivíduos deparam-se com situações de aprendizagem, ou seja, de mudanças, pois, como afirmam Swieringa e Wierdsma (1995), a aprendizagem requer mudanças de comportamento.

Conforme Vianna e Almeida (2009), é preciso distinguir dois tipos fundamentais de decisão: as que devem ser tomadas sob condições de certeza e as que são tomadas sob condições de incerteza. A tomada de decisão estratégica se caracteriza por ser efetuada, muitas vezes, em condições de incerteza (LESCA, 2003), quando os tomadores de decisão se utilizam mais de sua experiência, percepção e intuição, do que de uma técnica sistemática de pensamento. Esta incerteza, conforme Viana e Almeida (2009) está relacionada com a impossibilidade de controlar as variáveis que interferem na decisão.

Estudos sobre processo decisório, como os de Reis et al (2011); e Reis e Lobler (2012), Corso (2012), Lima et al. (2015), Ribeiro et al. (2016), são exemplos de estudos nacionais que demonstram o crescente interesse no tema. Estes estudos evidenciam a necessidade que ainda se tem de pesquisas que abarquem o comportamento de indivíduos, grupos e organizações frente ao processo decisório.

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Para Simon (1979), o processo decisório consiste em três principais fases, realizadas em diferentes tempos, e com um constante feedback entre elas: inteligência, concepção e escolha. Na fase da inteligência, acontece a identificação dos problemas e oportunidades; na fase de concepção, o tomador de decisão formula o problema, constrói e analisa as alternativas disponíveis; e na fase de escolha, ele seleciona a alternativa ou o curso de ação entre as que estão disponíveis. O feedback ocorre após a tomada da decisão em si, visando a avaliação de decisões passadas, isto é, o decisor pode voltar a uma fase anterior, visando elaborar, elencar e avaliar as alternativas na busca de uma solução que melhor satisfaça seus objetivos e critérios.

Vale acrescentar que Chang e Hsu (2013), diz que a tomada de decisão inadequada por parte das organizações incide em uma maior possibilidade de causar crise financeira e corromper a solidez dos mercados financeiros. Sendo assim, se os tomadores de decisão podem ajustar adequadamente a estrutura da sua empresa na fase de declínio do capital, isso aumenta a capacidade de absorver risco e de sobreviver em um mercado econômico extremamente competitivo.

 

2 METODOLOGIA

A coleta de dados foi extraída em obras de autores renomados dos assuntos tratados neste estudo e em artigos levantados no portal SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library), base que contempla aproximadamente 70 periódicos. Desse conjunto de periódicos foram excluídos os da área de Ciências Contábeis, Economia, Engenharia e de Turismo. Esta base disponibiliza artigos científicos, resenhas, editoriais, notas bibliográficas, casos de ensino, debates, entre outros documentos. Neste trabalho foram pesquisados estudos, entre o período de janeiro de 2010 a julho de 2018.

O ponto de partida foi levantar no repositório, todos os artigos que foram publicados e que tivesse o tema “aprendizagem” ou “tomada de decisão” no título, resumo ou nas palavras-chave, a fim de saber o total de artigos publicados sobre esses assuntos; como resultado, obteve-se 1114  artigos.

Logo após, foi feito um refinamento desses dados, com o objetivo de obter apenas os artigos que tivessem os termos “aprendizagem” e “tomada de decisão”, no título, resumo ou palavras-chave, o que resultou em um total de 16 publicações. Esses artigos foram estudados a fim de examinar se tratavam da relação entre aprendizagem e a tomada de decisão; restaram, então, 5 artigos. No que tange a aprendizagem informal foi pesquisado também no repositório, mas não foi encontrado nenhum artigo nesta base que retratasse no título, resumo ou palavra-chave este tipo de aprendizagem com relação a tomada de decisão. Desta feita, não se encontram nos estudos brasileiros, dentro da amostra analisada no repositório SPELL, pesquisas que tratam especificamente da aprendizagem informal na tomada de decisão, objeto deste estudo. Mas ao fazer a leitura minuciosa dos artigos encontrados, 3 deles abordavam a aprendizagem informal no corpo do texto dos estudos, conforme está expressado na figura 1.

Captura de Tela 69

O objetivo geral deste estudo foi proporcionar uma discussão teórica relacionando a aprendizagem organizacional, mais especificamente a aprendizagem informal para a tomada de decisão nas organizações. Os objetivos específicos, que sustentam o objetivo geral, buscam: descrever e compreender a abrangência dos elementos em questão no estudo, identificar como a aprendizagem organizacional, por meio da aprendizagem informal influencia na tomada de decisão, expor e retratar os pontos resultantes da análise e interpretação dos elementos elencados no estudo.

O método utilizado neste estudo apresenta abordagem qualitativa, a qual Creswell (2010) destaca que o objetivo de uma pesquisa qualitativa é compreender o contexto no qual determinado fenômeno se insere a partir da relação que tal fenômeno estabelece com o sujeito e por ele é interpretado. No que refere-se a natureza se enquadra como aplicada, com objetivo descritivo e exploratório. Neste tipo de pesquisa, a ideia é entender o problema ao qual o pesquisador está exposto, e os resultados obtidos são considerados experimentais ou como dados para pesquisas posteriores (MALHOTRA, 2012).

Como procedimento técnico de coleta de dados empregou-se a pesquisa bibliográfica, que para Lakatos e Marconi (2010) este tipo de pesquisa não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre determinado assunto, mas proporciona o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões diferentes ou inovadoras.

A seleção de artigos a partir do ano de 2010 dá ao estudo uma perspectiva mais atual da pesquisa científica acerca dos temas tratados, por meio da qual foi possível apurar a validade das proposições delineadas, e resultou nos estudos de Corso (2012), Oyadomari et al. (2013) e Lima et al. (2015). Para a análise dos dados utilizou-se da análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2011), enriquece a tentativa exploratória e aumenta a propensão à descoberta.

 

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Aqui é apresentada, com base nas obras pesquisadas e nos autores citados ao longo desta discussão, a análise das proposições indagadas neste estudo.

Proposição 1: A organização é responsável por proporcionar um ambiente propício para a aprendizagem informal, visando assim os indivíduos por meio do modo informal ter uma tomada de decisão com mais informações para se basear.

Com o referencial exposto à aprendizagem é vista na literatura como um procedimento formado de componentes ou etapas de aquisição de informação, transmissão de informação, que promove a transformação de comportamento ou a ação de resposta à aprendizagem, intervindo diretamente nos resultados da organização.

A partir do apresentado sobre a aprendizagem organizacional e informal percebe-se que é o indivíduo que aprende gerando assim a possibilidade das organizações aprenderem. Para Leach et al.(2014) as organizações que aprendem dão condições para que os indivíduos aprendam, haja vista os processos colaborativos serem relevantes para o desenvolvimento e a crescimento dos indivíduos, fatos que refletem no desempenho organizacional.

A aprendizagem informal está cada vez mais vem sendo abordada como um tema relevante para as organizações. É nesse contexto, que Senge (2012) avalia que o início da aprendizagem organizacional ocorre a partir da conversação entre os membros da organização, com base na participação individual origina-se o conhecimento em conjunto. E é com base no conhecimento em conjunto que surgem as estratégias organizacionais, possibilitando que a empresa possa perceber tanto os efeitos do seu ambiente competitivo, quanto em relação aos seus concorrentes (BESANKO et al., 2006; MELLO; MARCON, 2004).

No que diz respeito à criação de um ambiente que promova a aprendizagem informal Marsick e Watkins (1997); Maluli (2013), ressaltam que a aprendizagem informal foca o indivíduo e que, diante disso, os gestores são desafiados a criar condições nas quais a informação flua livremente e o conhecimento seja valorizado não apenas para aprender, mas para que, a partir do nível do indivíduo, ocorra um salto para o nível do sistema e que, com isso, demonstre-se que o conhecimento adquirido pelo indivíduo pode ser absorvido e utilizado por outras pessoas.

DuBrin (2003) explicita que as empresas poderiam incentivar a aprendizagem informal por meio de áreas comuns, como um átrio central ou salões de restaurante que encorajam a interação entre funcionários.

Conforme Melitz (2013) o caminho de compartilhamento do conhecimento está relacionado com a interação entre os indivíduos, uma vez que um indivíduo pode adquirir o conhecimento tácito com o outro, mediante encontros informais, reuniões, experiências perceptivas, formas estas de se aprender informalmente, podendo interferir diretamente na sua tomada de decisão.

A contribuição por parte da organização está na habilidade de instigar a aprendizagem, criar um ambiente que propicie e possa fazer a propagação do conhecimento, (NESPOLO et al. 2015).

A partir do momento em que a organização conscientizasse da importância da aprendizagem informal para a instituição, tem-se a consciência que a criação de mecanismos para que ocorra aprendizagem informal é um fator relevante para que os indivíduos que fazem parte do ambiente organizacional possam tomar decisões mais favoráveis, baseado em conhecimento, que segundo Nespolo (2015) é o resultado da aprendizagem e que é o guia propulsor para estimular as inovações organizacionais, assim como as alusões sob a prática de gestão.

Proposição 2: A aprendizagem organizacional realizada por meio da aprendizagem informal é um ponto estratégico para uma organização.

A aprendizagem informal está, habitualmente, unida a algum tipo de ação imediata pautada ao desempenho no trabalho, ou seja, sua aplicabilidade e transferência têm impacto imediato no trabalho do indivíduo, se tornando um ponto estratégico para o cenário que se encontram as organizações. Ela é um tipo de aprendizagem menos oneroso, diferentemente de ações formais de treinamento. Por outro lado, estas podem ter um impacto mais intenso.

Kyndt, Dochy e Nijs (2009), além de identificarem a competição como um fator importante que reforça a atenção à aprendizagem informal, apontam outros fatores, tais como: a mudança no mundo corporativo e a vantagem financeira para a exploração da aprendizagem no próprio local de trabalho, dando assim maior ênfase na importância estratégica que está aprendizagem tem no ambiente organizacional atualmente.

Coelho Jr e Mourão (2011) partem de uma revisão da literatura sobre a aprendizagem informal e retratam que o cenário de trabalho atual deve considerar as ações de aprendizagem formal e informal nas estratégias da organização.

Borin e Hanashiro (2005), ao estudarem os gestores em cargos estratégicos, identificaram que a busca de fontes de informações e o compartilhamento de visões e conhecimentos por meio das reuniões e conversas informais para a tomada de decisão são fatores positivos, o que corrobora com Lima et al. (2015) que retrata que o processo de aprendizagem organizacional tem um papel estratégico para criar condições de competitividade por meio de seu papel nos processos de tomada de decisão.

Proposição 3: A aprendizagem organizacional influencia a tomada de decisão.

A tomada de decisão pode sofrer influência do conhecimento, que é o resultado da aprendizagem, pois conforme Simon (1970), o indivíduo age de acordo com os resultados obtidos em experiências passadas, criando expectativas em relação à situação atual e às estratégias que pretende utilizar. Ainda conforme o autor, a racionalidade é que permite ao homem realizar as escolhas, porém, é necessário que haja informações a respeito dos fatos para que ocorra um julgamento ético, (NESPOLO et al., 2015).

Stefano (2001) traz que a tomada de decisão nas organizações é realizada por indivíduos, que age de acordo com suas capacidades de aprendizagem, processamento de informações e conhecimento. Ressalta-se que as informações e a capacidade dos indivíduos de processá-las interferem diretamente na tomada de decisão, pois elas fazem com que o risco e as possibilidades de ação sejam percebidas de maneira diferente pelos indivíduos (PINDYCK; RUBINFELD, 2002).

Bennis e O’Toole (2005), sugeriam um sistema reflexivo, propondo a tomada de decisão baseada no conhecimento individual sobre fatos e valores, entretanto, essa ação provoca um comportamento impulsivo por meio de associações a fatos anteriores e orientações motivacionais. Reforçando a presença do conhecimento tácito na tomada de decisão, Grant (1996) observa que os indivíduos desenvolvem atitudes envolvendo conexões com dados observados anteriormente, e, deste modo, estão aptos para tomar a decisão adequada no futuro, mesmo se a situação for mais complexa que aquela anteriormente enfrentada (SADOWSKI et al., 2013).

Assim, evidencia-se que o auxílio, por parte dos gestores, aos indivíduos a buscarem informações que já possuem (conhecimento tácito), auxilia no desempenho do grupo (aprendizagem organizacional), refletindo na tomada de decisões (BONNER; BOLINGER, 2013), e, consequentemente, no desempenho organizacional.

Lima et.al (2015) traz que ao compartilhar visões e conhecimentos, as organizações permitem um processo de disseminação de diferentes perspectivas e pontos de vista de seus colaboradores, gerando novas ideias e pensamento criativo, essenciais para o efetivo aprendizado nas organizações, podendo melhorar o processo decisório. Assim a aprendizagem organizacional mostra-se uma fonte de oportunidades apontando soluções diferentes para os problemas, reforçando o uso da iniciativa e criatividade, (BETTIS-OUTLAND, 2012), fazendo-se importante para a tomada de decisão, e conforme Panosso (2015) a consequência da tomada de decisão eficaz, rápida e precisa gera uma vantagem competitiva estratégica frente a seus concorrentes.

 

CONCLUSÃO

Com a efetivação desta discussão teórica proposta, foi possível pesquisar a relação entre a aprendizagem organizacional e informal na tomada de decisão nas organizações. Constatou-se que o processo do conhecimento, da aprendizagem, ocorre nas pessoas, pois são elas que aprendem e possibilitam às organizações aprenderem. Na literatura da aprendizagem organizacional, a grande maioria dos autores defende que a aprendizagem individual é o alicerce de pesquisas que visam a compreensão desse processo nas organizações, como Maluli (2013), Lima et al. (2015).

Os objetivos específicos propostos neste estudo foram atingidos quando apresentadas e discutidas as três proposições para o melhor entendimento da relação e influência da aprendizagem organizacional e informal na tomada de decisão: Proposição 1: A organização é responsável por proporcionar um ambiente propício para a aprendizagem, visando assim ter uma tomada de decisão com mais informações para se basear. Proposição 2: A aprendizagem organizacional realizada por meio da aprendizagem informal é um ponto estratégico. Proposição 3: A aprendizagem organizacional influencia a tomada de decisão.

Conclui-se que é a organização que promove um ambiente favorável para que ocorra a aprendizagem informal, e que está é um mecanismo de estratégia para as organizações, a qual exerce influência no processo decisório, auxiliando na tomada de decisão.

No ambiente de trabalho, as situações de interação com os outros indivíduos, mesmo em situações complexas ou negativas, os indivíduos aprendem, por meio do conhecimento tácito, e utilizam este aprendizado para fundamentar suas escolhas e atitudes futuras, tornando-se um ponto estratégico para as organizações. É por meio da aprendizagem informal no ambiente de trabalho que os indivíduos adquirem habilidades, atitudes e conhecimento como parte da rotina diária. Conhecer os diferentes estilos de aprendizagem dos colaboradores, suas estratégias para aprender e o que priorizam ao tomar decisões são informações que, se bem utilizadas pela gerência, podem conduzir à eficácia da organização. As empresas que buscarem fazer uso de tais informações e que souberem melhor alocar os recursos serão privilegiadas com colaboradores mais eficazes na tomada de decisão.

A concretização deste estudo, com a aplicação do método aqui exposto, permitiu ampliar o entendimento acerca dos temas abordados, ao passo que foi possível confirmar e legitimar as proposições apresentadas com a averiguação da literatura, que permeou desde os autores clássicos até o ponto de vista atual da pesquisa científica. Sendo que a metodologia utilizada teve como critério da seleção dos artigos examinados, a relação entre a aprendizagem e a tomada de decisão, a pouca quantidade de artigos nacionais que contemplem esta relação pode ser vista como uma oportunidade da realização de novos estudos a respeito das temáticas propostas nesta discussão.

 

REFERÊNCIAS

ALBERTI, R.; NARA, E.; FURTADO, J.; KIPPER, L.; SILUK, J. Índice de processabilidade para tomada de decisão como apoio ao planejamento estratégico. Revista Eletrônica de Estratégia & Negócios, v. 7, n. 2, p. 191-220, 2014.

 

APOSTÓLICO, C. Aprendizagem nas Organizações. Augusto Guzzo Revista Acadêmica, n°16, 294-314,2015.

 

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Ed. rev. e ampl. São Paulo: Edições 70, 2011.

 

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[1] Repositório SPELL disponível em: www.spell.org.br;

Acessado em outubro de 2018.

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