A história é instrumento fundamental
para o bom entendimento das Relações Internacionais. Nas últimas semanas, e em
especial nos últimos dias, alguns líderes mundiais parecem ter esquecido o
valor significativo da história. Parece que os interesses econômicos superam os
interesses dos povos de alguns continentes. O potencial de acontecer ou não o
conflito que se avizinha no Iraque é movido pelo poder e interesses do petróleo.
Entretanto, caro leitor, estou falando dos interesses de China, Rússia e França
no óleo dominado por Saddam. As empresas TotalFinaElf (França), Lukoil (Rússia)
e a Chinas National Petroleum Company (China) possuem contratos de US$ 41
bilhões com o Iraque.
O ditador calculou estrategicamente
seus passos na década de 90. Depois de ser humilhado na operação Tempestade no
Deserto, que livrou o Kuwait de suas garras, Saddam procurou, gentilmente,
alguns líderes mundiais, oferecendo-lhes a possibilidade de explorar petróleo
em seus potentes campos. Entretanto, o homem de Bagdá não chamou espanhóis ou
ingleses para explorar o petróleo de seu território. Ao contrário, chamou
França, Rússia e China para se deleitar no ouro negro que repousa sob o solo da
antiga Mesopotâmia.
Assim, por meio do poder do
petróleo, Saddam conseguiu manter em seu país, empresas de três membros do
Conselho de Segurança que possuem poder de veto. Foi uma jogada política de
longo prazo que agora começa a render resultados. Hoje, se França, Rússia e
China aprovarem uma resolução que autorize a guerra, seus interesses econômicos
petrolíferos serão duramente afetados. Logo, se de um lado, os Estados Unidos
são acusados de manobrar esta guerra movidos exclusivamente pelo interesse no
petróleo, outros tentam evitar a guerra para manter-se na atividade de
exploração no Iraque, mesmo que isto custe o risco de tornar, em pouco tempo, a
região (e talvez o mundo) refém dos interesses de Saddam, suas armas de
destruição em massa e seus contatos com o terrorismo internacional – fatos já
provados por Colin Powell em reunião do Conselho de Segurança das Nações
Unidas. É hipócrita posar de pacifista neste momento, quando os reais
interesses em jogo dos ditos “países que defendem a paz” repousam na simples manutenção
do status quo para que o Iraque continue fornecendo possibilidade de exploração
de petróleo para suas empresas. Se os americanos são gananciosos, não há
palavras para descrever países que colocam em risco a segurança mundial em
troca dos benefícios do petróleo para suas empresas. Se Bush viesse a negociar
a divisão dos campos de petróleo iraquianos pós-guerra entre os ditos países
pacifistas, será que estes não mudariam rapidamente de opinião?
A inércia de alguns países da
comunidade internacional, mesmo que movida por interesses petrolíferos, é
preocupante. Uma posição similar já foi adotada enquanto Hitler expandia seus
tentáculos pela Europa. Somente depois de a França cair por inteiro nas mãos do
Führer germânico, percebeu-se o perigo do câncer nazista. Naquele momento,
Londres já estava sendo bombardeada, enquanto em Paris já se falava alemão.
Assim, mais uma vez, o Velho Mundo clamou pelo apoio dos Estados Unidos,
principal responsável pela libertação da Europa ocidental, juntamente com o Reino
Unido. A Europa do leste, depois de fugir dos horrores do nazismo, caiu nas
mãos da ditadura comunista, e só seria libertada em 1989 após o ocidente, mais
uma vez sob a liderança dos Estados Unidos e Reino Unido, vencer a Guerra Fria.
Churchill, o maior estadista do
século do XX, era uma voz isolada contra Hitler. Enquanto isto, os líderes
mundiais, tentavam um acordo com os nazistas. Depois de perceber que Hitler não
tinha limites, as principais lideranças mundiais ouviram Churchill (muitas
delas já no exílio). Uma espera maior poderia ter sido fatal para o mundo. Face
aos perigos do totalitarismo de ditadores como Saddam e seu potencial de gerar
o mal, me pergunto: não seria hora de os líderes mundiais revisitarem os
discursos de Churchill?
A Alemanha, sem poder bélico e
liderada por verdes e social-democratas, somente busca motivos para não perder
mais espaço na arena internacional, por isto defende a não invasão. Os
interesses comerciais de outros países certamente impedirão uma posição firme
do Conselho de Segurança. A responsabilidade repousará nas mãos de líderes
cientes de suas responsabilidades perante seus povos, que sofreram nas mãos do
nazismo e vivem sob a sombra do terrorismo. A nova Europa, aliada aos Estados
Unidos, será responsável por agir no momento certo, mesmo que contrariando os
interesses comerciais de outros países. A sabedoria de Churchill, neste
momento, deve ser revisitada nos livros de história. Saddam deve ser parado.
Informações Sobre o Autor
Márcio C. Coimbra
advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).