O tempo e a intuição

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Sumário: Introdução ; que é o tempo?; O presente ; O passado; O futuro;O tempo objetivo; A consciência e o tempo; A percepção e os elementos temporais;O que é duração?A intuição; Busca conceitual e explicativa do que é a intuição; Classificações de intuições; A intuição de reconhecimento atento; A intuição de resistência; A intuição heurística; Notas conclusivas; Referências


INTRODUÇÃO


MÚSICA:  Caras como eu (1998) de Tony Bellotto (Titãs) Volume dois

“Caras como eu / Estão ficando raros / Como cabelos ralos / Que se partem e caem pelo chão /Caras como eu /Estão tirando o pé / Andando em marcha-ré / Com o medo de entrar na contra mão / Como trens do interior / Que não chegam no horário / Como velhos elefantes / Que morrem solitários / Caras como eu / Estão ficando chatos / Como solas de sapatos / Que se gastam com o passar do tempo / Não vou mais medir o tempo / Não vou mais contar as horas / Vou me entregar ao momento / Não vou mais tentar matar o tempo/Como palavras de amor / Que não se guardam em disquetes / Como segredos sem valor / Que agente nunca esquece / Caras como eu / Estão ficando velhos / Calçando seus chinelos /

Concluindo que não há mais tempo


A letra da música apresentada trata da saga da vida de uma pessoa, que após viver sua vida, por anos, observa a velhice e a mudança de comportamento, e termina por dizer que tais pessoas após um período concluem que “não há mais tempo”. Mas para quê? Ou melhor, o que é o tempo?


O “tempo”, pelo conhecimento vulgar e senso comum, é tido como “duração das coisas, duração limitada, sucessão de dias, horas, momentos, período, época”,[1] e como tal foi abstraído pelas ciências exatas que lhe atribuindo particularidades próprias e fracionando e potencializando atos e eventos passados e futuros, conseguiu “medi-lo” e “quantificá-lo”, como por exemplo, as medidas havidas num relógio.


Mas será que o tempo de fato é ou pode ser entendido por tal interpretação exata? O que será o tempo? Uma formula matemática poderia quantificá-lo? Estas questões já foram e muito objeto de estudos filosóficos e científicos (exatas), como se poderá verificar.


 Os estudos mais detalhados e aprofundados sobre o tema “tempo” levou-nos a questionar outros conceitos e institutos relacionados a tal instituto, com por exemplo, o que é durar? O que é perceber? O que é o presente? O que é o futuro? O que é o passado? O que é o pensar? O que é o agir? E assim por diante. E, no trabalho que segue buscou-se aclarar e trabalhar todos os referidos conceitos e institutos pelo lado da filosofia, partindo-se dos conhecimentos adquiridos de texto da filosofia Bergsoniana, bem como de texto clássicos da filosofia.


Ao final, após concluir o que vem a ser cada instituto relaciona-se com a intuição, classificando-a e analisando suas hipóteses e formas, conforme a mais autorizada doutrina, parte-se na busca de obter respostas, ou melhor, obter questionamentos mais elaborados e precisos, sobre o que é o pensar? Quem é o ser humano? Qual a origem do ser? Qual o fundamento de tudo? Enfim, seguindo uma linha existencialista o presente trabalho aborda diversos institutos filosóficos e ao fim o tenta-se alinhar a algum deles, mesmo que tal audácia seja passível de crítica e análise pelo leitor.


1. O QUE É O TEMPO?


Tal questionamento, do que vem a ser o tempo é uma das dúvidas que quando estudada e analisada remete o estudante ao princípio de algo, à origem de alguma coisa, para alguns tal origem seria o universo, para outros a espécie humana, e para outros ainda, do pensar coeso do ser humano.[2]


André Comte-sponville[3]  cita que o nosso tempo – o tempo vivido, o da consciência ou do coração – é múltiplo, heterogêneo, desigual.  E justifica que assim o é o fato de ter-se “um tempo para a espera e outro para a saudade, um tempo para a angústia e outro para nostalgia, um tempo para o sofrimento e outro para o prazer, um tempo para a paixão e outro para a união, um tempo para a ação e ou para o trabalho, outro , ou vários, pára o descanso.”. Sendo inútil deter-se nisso. E propõe analisar o tempo da consciência, a consciência verdadeira, a consciência lúcida ou em ilusões, a que consegue alcançar algo do real. 


Partindo de Santo Agostinho,[4] a questão aqui apresentada também foi objeto de estudo do autor, que assim posicionou-se:


“que é, pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei. Contudo, afirmo com certeza e sei que, se nada passasse, não haveria tempo passado; que se não houvesse os acontecimentos, não haveria do tempo futuro; e que se nada existisse agora, não haveria o tempo presente. Como então podem existir esses dois tempos, o passado e o futuro, se o passado já não existe e se o futuro ainda não chegou? Quanto ao presente, se continuasse sempre presente e não passasse ao pretérito, não seria tempo, mas eternidade. Portanto, se o presente, para ser tempo, deve tornar-se passado, como podemos afirmar que existe, se sua razão de ser é aquela pela qual deixará de existir? Por isso, o que nos permite afirmar que o tempo existe é sua tendência para não existir.”


E ainda, do próprio Santo Agostinho[5]  verifica-se que:


“ouvi um homem instruído dizer que o tempo é nada mais que o movimento do sol, da lua e dos astros. Não concordo. Por que não seria então o tempo o movimento de todos os corpos? (…) o meu desejo é conhecer a natureza e a essência do tempo, com que medimos os movimentos dos corpos, e nos autoriza a dizer, por exemplo, que um movimento dura duas vezes mais que outro. O que chamamos de dia não é apenas o tempo em que o sol ilumina a terra e distingue o dia da noite, é também todo o percurso de oriente a oriente, e que nos faz dizer: “passaram-se tantos dias” entendendo por isso também as noites, que não são enumeradas separadamente. (…) portanto, não mais buscarei conhecer em que consiste o dia mas em que consiste o tempo, que usamos para medir o percurso do sol.”


Para Santo Agostinho, o tempo é uma espécie de extensão, mas o ver, ou ter a impressão de vê-lo, só é possível sob a ótica da verdade.[6] Mas qual verdade? Para o Santo a verdade é o Deus, o Divino. Mas para os filósofos ateus os empiristas, ou até existencialistas a verdade é consciência das coisas, ou ainda, a verdade é busca pela essência de algo, partindo-se do ser.


Nesse sentido, ou seja, como ponto de partida, tem-se Sartre que disse:[7] “o ser é o mundo… o Outro… o Nada é a realidade humana, a negação radical através da qual o mundo é revelado… a realidade humana é o que faz esse nada ser, a partir do ser.”


Como disse  Santo Agostinho, o tempo é algo que todos conhecem, ou o reconhecem, mas ninguém o vê cara a cara, como cita André Comte-sponville.[8] E é justamente buscar o conceito ou mesmo uma definição filosófica que leva-nos a analise da duração e da intuição, para chegar ao fim na consciência, já que o agir relaciona-se com o conceito primário de tempo.


O tempo para a consciência é primeiramente a sucessão do passado, do presente e do futuro, como exposto. E assim, “o tempo é essa abolição de tudo, que parece abolir a si mesma: a fuga do tempo é o próprio tempo”, (grifei) como sustenta e problematiza André Comte-sponville[9] e continua o referido autor:


“o tempo parece indefinidamente divisível; todo lapso de tempo, portanto, seria composto apenas de passado e de futuro, que já não são ou ainda não são. “Agora”? é o que os separa e os une, e é por isso que, para Montaigne, não é nada (se fosse alguma coisa, seria uma duração, que por sua vez deveria ser dividida em passado e futuro…). entretanto, esse nada é a única coisa que nos é dada. É o que nos separa do ser, da eternidade, de nós mesmos – de tudo. Ser no tempo é ser presente ou não ser. Mas ser presente já é cessar de ser…”


 “O tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas. O tempo poderá sem dúvida renascer, mas primeiro terá de morrer.”[10] Logo, o tempo que está por vir não é e o tempo que passou também não é, restando à questão nuclear do que venha a ser o presente? Pois, com efeito, pode-se observar que o tempo presente, quando identificado, o mesmo já está no passado e o que está por vir ainda é o futuro, por tal razão que a análise conceitual do tempo passa obrigatoriamente pela explanação de seus elementos, o presente, o passado e o futuro.


1.1. O PRESENTE


O presente ou se divide num passado e num futuro, que não existem ou não passa de um ponto de tempo sem nenhuma extensão de duração  e  portanto, há um não tempo, nada pois entre dois nadas.  E o tempo “seria essa nadificação perpétua de tudo” como sustentou André Comte-sponville[11] já que “o presente nunca me faltou, eu nunca o vi cessar, nunca o vi desaparecer, mas apenas durar, sempre durar com conteúdos diferentes, por certo, as sem deixar com isso de continuar e de ser presente.”


  Ora, o presente nunca deixa de ser presente, pois se deixar, é passado, o presente nunca abandona, nunca faltam, todos os dias vividos são sempre hoje e todos os momentos são sempre agora, assim o presente é o tempo, e é o único. Não há como viver no passado ou viver no futuro, o viver é ato presente.[12] (grifei)


 Para Rizzatto Nunes[13] citando Bergson menciona que ‘o presente é simplesmente o que se faz’. E assim, se se pensar no momento presente como um limite indivisível que separa o passado do futuro, quando o tentamos captar como devendo ser, ele ainda não é; e quando o pensamos como existindo, ele já passou. Mas, se tomar esse presente como algo concreto e realmente vivido pela consciência, pode-se afirmar que esse presente consiste em grande parte no “passado imediato”.


 O presente, embora localizado aqui como sendo o agora, torna-se abstrato do ponto de vista físico, pois pelo conhecimento vulgar todos podem identificá-lo objetivamente, para tanto, em item a seguir trata-se justamente da questão do tempo objetivo e físico em relação ao conceito abordado agora.


1.2. O PASSADO


O passado não existe, uma vez que já não é[14]. Rizzatto Nunes[15] expõe que entre o passado e o presente existe bem mais que uma diferença de grau. Sendo o presente do sujeito aquilo que lhe interessa, que nele vive, que o impele à ação, e o passado por sua vez totalmente impotente, ou seja, passivo do que é atual.


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 Para André Comte-sponville[16] “antes do homem, ou seja, antes do gênero humano, há a Terra. Antes da Terra, o universo. Antes do universo? Ninguém sabe” (…) a cadeia das causas, inexplicável por natureza.”


Mas qual a relevância do passado portanto? Duas poderiam ser destacadas, a primeira a de qualificar o presente, e a segunda, e talvez a mais relevante, de possibilitar com que conscientemente o presente ocorra, pois o agir consciente já ocorreu em um tempo, e neste adquiriu-se experiência, conhecimento, e signos, valorados e somados à mente, permitindo que no agora, o ser saiba identificar seus atos, seu agir, ou melhor, identificar a si mesmo.


1.3. O FUTURO


O futuro é aquilo que ainda não é. Vale destacar que “os projetos, as esperanças, tanto quanto as lembranças, não passam, de pedaços do presente, que podem, é claro, visar ou preparar o futuro, mas que não poderiam lhe proporcionar o ser que lhe falta e que – como não-ser – os justifica ou obseda. O futuro nunca é dado (se fosse, seria presente): o porvir é por vir, se vier, e é por isso que não existe.” [17]


Se não existe, não seria possível condicioná-lo ou mesmo ter a certeza de sua realização. De fato, ter a certeza de sua realização, mesmo que de segundos é totalmente impossível a ser humano em sua fase de desenvolvimento, mas condicioná-lo não. É possível que o futuro que esteja por vir seja por aquele que o espera moldado de acordo com os atos e intenções praticados pelo sujeito no presente, até porque se o ser humano é dotado de capacidade volitiva e emocional, além de cognitiva, nada mais razoável do que esperar e prever que pelo livre-arbítrio e o agir puramente condicione e estabeleça as possíveis conseqüências e respostas para os atos praticados.


Por exemplo, se A pratica um ato e a norma jurídica prevê que tal conduta de A é passível de penalização X, A, portanto, estará incurso nas penas X pois praticou o ato previsto, assim agiu e por este arcará com as conseqüências possíveis. Porém, A tem várias opções, dentre as quais: fugir, contratar um ótimo advogado, provar que não praticou a conduta descrita no tipo, que o tipo ao lhe aplica, que há erro quanto à pessoa, e assim por diante. Logo o “futuro”, o que está por vir, de A é previsível mas não certo, nunca será certo, pois se certo for já será presente,aliás passado.  


 André Comte-sponville[18] cita que “tudo muda, tudo flui, tudo passa. É a verdade de Heráclito, ou melhor, é a verdade do mundo”, sendo que “que tudo muda é algo que não muda. Que tudo passa, é algo que sempre será verdadeiro. Portanto, o devir é eterno: o devir é a própria eternidade.” Mas o ser eterno é o ser eterno no hoje, no agora, como exposto pelo autor e já abordado anteriormente.


1.4. O TEMPO OBJETIVO


Antes de prosseguir e acalmar os ânimos acerca do que vem a ser o tempo objetivo,  cabem as colocações de Santo Agostinho:[19]


“o que agora parece claro e evidente para mim é que nem o futuro nem o passado existem, e é impróprio dizer que há três tempos: passado, presente e futuro. Talvez fosse mais correto dizer: há três tempos: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. Essas três espécies de tempos existem em nossa mente, e não as vejo em outra parte. O presente do passado é a memória; o presente do presente é a percepção direta; o presente do futuro é a esperança.”


 Do conhecimento vulgar de tempo, como exposto, ou seja, aquele que é passado de geração a geração, por meio de leigos, o tempo é algo compreendido entre dois períodos e ainda aquele que é possível mensurá-lo, desde que esteja ocorrendo, precisamente, já que não é possível medir o que não existe (futuro) e muito menos o que já ocorreu (passado), bastaria para tanto ter-se á disposição mecanismos, como calendários, relógios e outras tantas formas de “marcar” o tempo. Mas de fato, só há o tempo do agora ocorrendo, e o mensurável, tanto pela física quanto pela metafísica é o do passado. Estar no tempo é estar no passado. Mas o que é assim essa verdade, essa esperança proposta pelos autores e pensadores?


 Antes de responder cumpre destacar que acerca de tal aspecto, a própria física cuidou de analisá-lo como sendo um tempo único, ou seja, Einstein percebeu que não poderia haver algo simultâneo, ou seja, dois eventos acontecendo ao mesmo tempo, no máximo os eventos ocorreriam próximos, mas um deles já seria passado em relação ao outro, quando comparado, mesmo que à sensibilidade humana fossem tais eventos imperceptíveis.[20] Portanto o conceito objetivo de tempo, que é aquele que parte do conceito subjetivo, da consciência, é relativo a cada observador.


 Henry Bergson observa que[21] “o tempo que dura não é mensurável. À medida que não é puramente convencional implica com efeito divisão e superposição. Ora, não se conseguiria superpor durações sucessivas para verificar se são iguais ou desiguais, por hipótese uma não existe mais quando a outra aparece.”


  Mede-se o tempo já iniciado, àquele que já está em processo de se tornar algo inatingível, e mais se mede o momento assim, por exemplo, quando a física trata de “ t=”  determinada hora ou minuto, estuda-se esta passagem estanque, separada de todo o restante do contexto teórico que compreende a pressuposição do passado do qual faz parte (conceitualmente), o que corrobora a tese de que o tempo é único e é o presente. [22]


Eventualmente a marcação ou lançamento objetivo de uma forma de mensurar o tempo, não tira do mesmo o seu postulado que é o do “agora”, pois, o tempo é a consciência, elemento desconsiderado pelas ciências exatas para quantificar e apurar. E repisa-se não se trata de um tempo contínuo na medição exata, mas sempre estanque, ou seja, novamente no campo hipotético mental faz-se a digressão para alcançar um resultado almejado, a título de pesquisa e estudo, mas não real.


 Com efeito, não se pode regressar no tempo, não é possível estar em outra dimensão ao mesmo tempo, pois o que acontece no presente é só no presente, mesmo que, a título de argumentação, retornasse-se no tempo ou avançasse, nunca poderia alcançar o que acontecerá(u) no presente pois este é único e não é possível repetir-se, pois o que determina o ato é o consciente do presente.


 Isto posto, a seguir estudar-se-á a duração para entender o que é durar, antes, vale aprofundar o tema imediato que é a consciência.


1.5. A CONSCIÊNCIA E O TEMPO


Diante da analise de mudança entre o tempo objetivo e subjetivo, sendo a consciência o elemento central, passa-se  a verificar  o que vem a  ser a consciência.


 André Comte-sponville[23] menciona que “para a simples consciência, o tempo parece mais vasto, se assim podemos dizer, do que o espaço: este pode ter começado (no tempo); não se vê onde ele poderia parar (no espaço)… tudo  o que ocorre ( no espaço) advém ou dura (no tempo). Mas nem tudo o que advém ou dura ocorre necessariamente.”


O autor[24] continua e cita Husserl para quem o tempo é vivido como a unidade originária do passado imediato (retenção) e do futuro imediato (protensão) num presente vivo que portanto, só é temporal para e pelo “fluxo absoluto da consciência, constitutivo do tempo”, chamada de subjetividade absoluta. Propondo que o tempo objetivo é aquele fora do circuito, o que se pretende pensar, só sendo possível pensar em tempo objetivo quando a mente humana assim desejar. 


 André Comte-sponville[25] ao apresentar a proposição a seguir, desenvolve teses relevantes acerca do conceito tempo, e que são idéias necessárias para continuar a descrever e a investigar a intuição dentro da linha temporal proposta.


“filosofia do presente: filosofia da imanência, filosofia do corpo e da natureza, filosofia do devir e da eternidade, filosofia da necessidade e do ato. Ser é ser presente no espaço e no tempo; é portanto ser fisicamente e atualmente presente. Como então seríamos outra coisa senão  que somos? Outra coisa senão o que fazemos? Outra coisa senão o que devimos? Em suma, o que a consciência nos ensina ou nos sugere, quando tenta pensar o tempo tal como ele é (e não como ela o vive: como temporalidade extática ou intencional, como retenção ou protensão, como prospecção ou retrospecção como esperança ou saudade…), é que tempo é o presente, logo que o tempo é a eternidade, logo que o tempo é o presente, logo que o tempo é a matéria, logo que o tempo é a necessidade, logo que o tempo é o ato.” (GRIFEI)


Partindo dessa colocação o autor desenvolve suas teses que são:[26]


a) Primeira tese: o tempo é o presente. Ela resulta apenas das definições do passado, do presente e do futuro, logo apenas da definição do tempo como unidade ou sucessão dos três. O passado não existe, já que não existe mais; o futuro não existe, já que ainda não existe; só há o presente, que é o único tempo real.


b) Segunda tese: o tempo é a eternidade. É uma conseqüência imediata da anterior, que converge sob o aspecto de que se só há o presente e se esse presente dura, ele continua a ser presente enquanto existir (no instante). Pois o passado não é nada, e o presente não poderia, propriamente, lhe suceder, assim o presente só sucede a si mesmo, é isso que se chama presente e é isso que o torna eterno. 


c) Terceira tese: o tempo é o ser. Ou o tempo não passa de um ser de razão, uma abstração que forjamos comprando durações diferentes, ou ele é a duração mesma do que é e muda. Se o tempo é, só pode ser o devir. Assim o tempo é uma forma, um modo de ser, de explicar a duração;


d) Quarta tese: o tempo é a maneira. Tendo como parâmetro o espírito e a memória, sendo esta última mais extensa que o primeiro, e ao citar Bergson, deixa claro que o presente é antes de mais nada o estado do corpo, sendo o espírito (mente) um ato, não uma substância.


e) Quinta tese: o tempo é a necessidade. Resultante também da primeira, já que se tudo está presente, tudo é necessário. E, a sucessão entre as causas e os efeitos permanece, mas é uma sucessão em ato, que permanece totalmente no interior do presente, assim, se o tempo é orientado não é porque o passado volta e é sim porque o presente é sempre novo e nunca volta atrás. Mas sobretudo o passado não volta e muito menos o presente pode repetir-se.


Analisadas as teses do referido autor, merece destaque que ser não é antes de mais nada um nome, que designaria um a coisa, mas sim um verbo que designa um ato.[27] E para o materialismo, o ser é matéria, força atual, potência em ato (do grego, energia). O ser não é no tempo, mas o ser é o próprio tempo – o presente, logo: “o ser é tempo: o tempo é presença do ser”.


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 E assim, o tempo é o devir em via de devir (devir entendido como realidade viva), é a continuação mutável do presente, é a mudança continuada do ser. Mas o tempo não circular, mas sim a definição que é dada do tempo, pois, o presente nunca recomeça, e por causa de tal afirmação é que “tudo passa e nada permanece.”[28]


 Das teses analisadas a segunda “tempo como eternidade” torna-se relevante e essencial na busca pela intuição, pois se para Santo Agostinho é no eterno que se encontra a saída e o fundamento do existir e do ser, o eterno é o presente, é o contínuo, o eterno, digo, é o “agora”.


Ainda na corrente existencialista, Sartre menciona que “a consciência é o completo vazio (porque o mundo inteiro está fora dela)”. Esta frase demonstra que se a consciência é o presente, de fato as coisas estão acontecendo agora, assim a consciência se forma agora, e tais atos formados sã remetidos à memória, e esta sim, quando útil à realidade é ativada (ao menos os fatos) para fazer-se presente, e o restante, do inútil momentâneo, remetido ao inconsciente, formando assim a estrutura da mente.


Ponto finalizando, vale destacar a posição de Immanuel Kant[29] acerca do espaço e do tempo:


“se elimino toda a existência das coisas, ainda permanece a forma da sensibilidade, isto é, espaço e tempo; de fato, estes não são propriedades das coisas, mas propriedades nos nossos sentidos; não são propriedades objetivas, mas subjetivas. Posso, portanto, representá-los a priori, porque ele precede todas as coisas. Espaço e tempo são as condições da existência das coisas, são intuições singulares e não conceitos. Estas intuições não se referem a algum objeto; são vazias, são formas puras e simples de intuições (…) as formas de intuição não têm nenhuma realidade objetiva, mas somente subjetiva (…) espaço e tempo podem ser divididos metafisicamente, mas não fisicamente, isto é, não podem ser separados. Divisível é tudo o que é extenso. Toda parte da matéria é móvel, todo movimento é uma separação.”


 E completa o autor citando que no pensamento é possível haver distinções quantitativas e qualificativas, sendo estas últimas partes não homogêneas de algo, que são as dissociações e as primeiras as partes homogêneas, as associações. Ou seja, no pensamento que é a raiz do conceito subjetivo de tempo, há idéias que se associam ou não aos conceitos das coisas.


1.6 A PERCEPÇÃO E OS ELEMENTOS TEMPORAIS


 Rizzatto Nunes[30] analisa que a percepção corrente que é aquela imediata do contato com o objeto, por mais instantânea que seja, consiste numa incalculável quantidade de elementos rememorados, e assim conclui que “toda percepção é já memória” e o que é percebido é praticamente o passado, sendo o presente puro o inapreensível avanço do passado a roer o futuro. E cita Bergson para justificar que “numa fração de segundo, que dura a mais breve percepção possível de luz, trilhões de vibrações tiveram lugar, e a primeira está separada da última por um intervalo dividido enormemente.”


 Assim é possível perceber pois tomou-se contato com o objeto, e ainda, o ser está em complementação e formação, pois o contato com o objeto percebendo-o permite o desenvolvimento do ser, a lapidação de sua memória e muito mais de sua mente.


2. O QUE É A DURAÇÃO?


Para iniciar a análise do que vem a ser duração incumbe à afirmação de Santo Agostinho,[31] que assim se situou:


“se pudermos conceber um lapso de tempo que não possa ser subdividido frações, por menores que sejam, só essa fração poderá ser chamada de presente, mas sua passagem do futuro para o passado seria tão rápida, que não teria nenhuma duração. Se a tivesse, dividir-se-ia em passado e futuro, mas o presente não tem duração alguma.”


Se o presente não tem duração é porque o tal presente é o que dura, é eterno. E assim para chegar a idéia ou conceito de duração é importante analisar segunda tese apresentada anteriormente, pois a premissa é verdadeira sob o aspecto de o presente suceder ao passado , assim como o futuro sucederá o presente, já que o hoje sucede o ontem, assim como a quarta batida do relógio sucede à terceira, sendo que a ilusão não está na sucessão; ela está na idéia, que é acrescentada ao mundo, ou seja, é a idéia do presente adicionado ao próprio presente, ou seja, a continuação, a duração, a presença, um ato.


Duração como uma “continuação indefinida da existência”, é a própria existência, é o ser atual.[32] Sendo que a duração pertence ao ser, retro apresentado, e o tempo ao sujeito[33], sendo este tempo o vivido, o tempo subjetivo, o único que possibilita medir o tempo objetivo, só existe relógio para uma consciência, é o que os filósofos chamam de temporalidade, ou seja, uma dimensão da consciência, muito mais do que do mundo.


 A duração não permite que o hoje encontre o amanhã, muito menos que um rio chegue à sua nascente, e ainda que os vivos remontem aos seus ancestrais, pois o passado é um nada. E é o eterno do tempo presente que permite pensar e refletir sobre o passado e o futuro, e até em pensar em duração.


Ora, se o presente real, concreto, vivido, ou seja, aquele a que o sujeito se refere quando fala de sua percepção presente e que ocupa necessariamente uma duração, a duração está na simultaneidade do além e do aquém e que o sujeito denomina de “meu presente”; ou, é o ponto de convergência entre o passado e o futuro, e assim, esse “meu presente” é o fato simultâneo que ocorre entre a percepção do passado imediato e uma determinação do futuro imediato.[34]


 Sendo que: “o passado imediato enquanto percebido é sensação, já que toda sensação traduz uma sucessão muito longa de estímulos elementares; e o futuro imediato, enquanto determinando-se, é ação ou movimento. Para o sujeito, seu presente é, portanto, sensação e movimento ao mesmo tempo, e, como esse presente forma um todo indiviso, o movimento deve conclui que esse presente consiste num sistema combinado de sensações e movimentos. Ele é, por essência, sensório-motor.” Presente portanto, é a consciência que se tem do corpo agora, com sensações e movimentos.


 Assim André Comte-sponville[35] propõe conclusivamente que: “o princípio nunca foi; o futuro nunca será. Desde o início do tempo, se início houve, até o fim do tempo, se houver um, não houve nem haverá mais que o presente, não houve nem haverá mais que longuíssimo e insistentíssimo – mesmo se irredutivelmente múltiplo – agora”  e, o presente é indissociável  do ser e de sua duração.


Para prosseguir a grande questão é “o que é que é” ( no sentido de o que é o ser) para o tempo? Pois se o que é já é o passado (foi), pois já ocorreu e o que está por vir é futuro e ambos são o nada, assim o que quer dizer “ser-presente”?


 Diversas propostas são apresentadas, quer pela filosofia pagã, quer pela religiosa, quer pela filosofia pura, metafísica e assim por diante. A busca pelo ser (o que vem a ser cada um) é incansável, talvez uma das mais importantes e cruciais perguntas e charadas da filosofia (“o que é o ser-presente?”).


Ainda em André Comte-Sponville, ao chegar a indagação suprema, de “o que é ser”, o referido autor cita Bergson,[36] para quem o essencial do corpo não se vê e não por isso é menos corporal, pois, “enquanto a matéria, como extensão no espaço, deve se definir, a nosso ver, como um presente que recomeça sem cessar, nosso presente, inversamente, é a própria materialidade de nossa existência”, sendo a matéria um presente sem memória e assim o presente uma estado do nosso corpo, assim como “o estado atual de nossa consciência constituía atualidade de nosso presente”. E se pudermos citaríamos novamente Sartre para quem[37]: “ A consciência é o completo vazio (porque o mundo inteiro está fora dela).”


 Logo, “quando se pensa o presente como devendo ser, ele ainda não é; e quando se o pensa como extinto, ele já passou. Mas, se ao contrário se se considera o presente concreto e realmente vivido pela consciência, pode-se afirmar que esse presente consiste em grande parte no passado imediato. Na fração de segundo que dura a mais breve percepção possível de luz, trilhões de vibrações tiveram lugar, sendo que a primeira está separada da última por um intervalo enormemente dividido. A sua percepção, por mais instantânea, consiste, portanto, numa incalculável quantidade de elementos rememorados, e, para falar a verdade toda percepção é já memória.” Sendo que há, para Henri Bergson, duas memórias, uma que está fixada no organismo (presente) e a outra a verdadeira (coextensiva à consciência). [38]


 Pela consciência é que a lembrança útil é trazida para completar e esclarecer a situação presente em vista da ação final. Poder-se-ia, muito bem, dar sentido utilitarista à consciência, sendo o útil o ato do presente.


3. A INTUIÇÃO


“A intuição é o centro luminoso que põe foco no caminho correto a ser seguido. Ela é o mais potente e melhor dom da humanidade. A intuição é um ato do espírito em seu esforço de introduzir-se na consciência. É a maneira pela qual o indivíduo pode atingir o absoluto. Sem rodeios, sem intermediações, sem obstáculos. Na intuição o ser humano está em plenitude. Atinge simultaneamente o puro homogêneo da matéria e mantém em contato com a eternidade do espírito. Na intuição a pessoa pode ver-se repleta de si, na própria dimensão da universalidade divina.”[39]


Em resumo do quanto exposto, Cristina G. Machado de Oliveira,[40] considera que:


“Em outras palavras, o tempo é a sucessão dos estados de consciência, logo, essencialmente duração, não podendo,por isso, ser reduzida ao espaço. É um processo em contínuo enriquecimento e não divisível.  A duração caracteriza não só os dados da consciência, mas toda a realidade. Isto porque, para Bergson, a realidade não tem como princípio constitutivo supremo ser ou a substância, mas a vida. Se a realidade é vida é necessário outro método para estudá-la, um método que possa aproximar-se da realidade sem submetê-la a nenhuma pressão, a nenhuma distorção, a nenhuma abstração.  Segundo Bergson, o método que tem estas qualidades é a intuição ( capacidade que nos leva a perceber imediatamente o seu objeto e todo o seu dinamismo). A intuição vê a modificação das coisas em seu processo dinâmico. Para Bergson mediante a intuição conhecemos pelo menos a realidade do nosso eu, que permanece no tempo, flui, vive sem solução de continuidade. A essência do eu como a do universo é duração real, correr perene, no qual os vários estados se aglutinam em unidade.” (grifei)


3.1. BUSCA CONCEITUAL E EXPLICATIVA DO QUE É A INTUIÇÃO


 Para buscar respostas para alguns dos questionamentos propostos no capítulo anterior, como o que é o ser? O que é a memória? O que é consciência e inconsciência? O que é duração? O que é percepção? Enfim, alguns autores partem para campos como o ser é o espírito, ou o ser é a memória, ou o ser é o corpo e assim por diante, para quaisquer das respostas que se tenta obter esbarra-se da idéia nuclear do que vem a ser mente e seus desdobramentos.


 Conhecer-se, analisar-se, buscar sua origem, entender-se, essa é busca incansável do ser humano, porém o ato de conhecer a si mesmo, refletir, está intimamente relacionada ao fato de conviver com a intuição[41], que é experimentada por todos os seres humanos, sendo para alguns mais perceptiva, para outros menos.


Da mesma forma que intuir é evoluir é possível que a intuição também seja óbice e foco de resistência para certas questões e certos dados apresentados à consciência, como se observará.


 E nesse sentido Rizzatto Nunes[42] menciona que:


“a intuição muitas vezes é um obstáculo que terá de ser transposto para que se imponha uma nova disposição do pensamento, isto é, a intuição por vezes age negativamente, resistindo a certas perspectivas… isso tem conseqüências: ou a nova imposição de verdades (no sentido factual, de proposição científica, de valor) sufoca a intuição, que se recolhe, perdendo-se em algum lugar dos confins da natureza humana, ou faz recuar até o limite do espírito humano, onde permanece acesa instigando a mente, ainda que numa freqüência irregular.”


 Conceituar a intuição não é simples e fácil, como exprime Rizzatto Nunes[43], já que sua natureza verdadeira (essência) está mais próxima de ser experimentada, de ser vivida, do que ser explicada por palavras. Propõe-se que  a “intuição é movimento concreto, é processo, é progresso, que, vividos na duração presente pelo sujeito, conecta pontos desse presente ao passado, para agualizando-o de volta à ação presente, ir de encontro ao futuro.” (grifei) E ainda distingue os elementos temporais do presente, passado e futuro, como já exposto e analisado anteriormente.


Porém, cumpre distinguir alguns conceitos e dentre os quais, o da percepção, ou seja, o que permite que se tome contato com o mundo material, com as pessoas, com as coisas, e percebamos-o (o mundo) por meio dos sentidos  –  tato, olfato, paladar, visão e audição – ou seja, forma e meio de se interagir. Mas cumpre observar que a percepção já está interiormente impregnada de lembranças-imagens, e relacionada ao instinto humano.


Outro conceito, já abordado, o da consciência, permite analisar que “a consciência constata quando, para analisar a memória, acompanha o próprio movimento da memória que trabalha. Trata-se de recuperar uma lembrança, de evocar um período da própria história.” Ou seja, a memória é composta por elementos já deixados do presente, ou precisamente, de elementos passados. Como exposto, não há memória do que está por vir.


  A intuição ocorre na duração e opera no instantâneo, no plano da consciência. E essa talvez seja a “chave” entre elementos como memória, inconsciente e presente. Pois, se não há passagem de tempo (gasto) entre o objeto externo que impulsiona o corpo numa reação através da percepção, que leva à memória pura seu influxo, e de lá recebe como resposta a intuição, tudo se dá continuamente na consciência, já que qualquer informação “guardada, mantida” na memória pura (no hipotético inconsciente) é “esquecida”, e não é atualizada conscientemente, e portanto pode surgir, de alguma forma ou por um os processos intuitivos, como se verificará a seguir. [44] 


 Resta saber se a intuição é ou não “um ato do espírito no seu esforço para introduzir-se na consciência, atualizar-se” (ligação espírito e corpo), como afirma Rizzatto Nunes, pois tal análise prescinde de uma posição do que vem a ser o espírito propriamente dito, sem quaisquer cargas ideológicas.


A intuição é a única forma de atingir o “absoluto”, afirma Bergson, e é na duração (do ato) concreta que o ser humano, por intuição, pode-se ver repleto de si, na sua circunstância em que se movimenta realmente no universo, assim o é que Rizzato Nunes[45] afirma que


 “a intuição é, então, a simpatia pela qual o sujeito se transporta para o interior de um objeto para coincidir com o que ele tem de único – e, conseqüentemente, inexprimível-, mas isso se dá dentro de uma realidade do sujeito e que ele apreende por dentro, algo com que ele espiritualmente simpatiza: é sua própria pessoa, pois é seu “eu” que dura, escoando-se através do tempo. (…) e essa intuição, surgindo na duração, se dá num movimento contínuo de progresso, que vem do passado na direção do futuro, numa série de estados múltiplos que se prolongam uns nos outros. Aliás, a intuição se dá na consciência, e consciência é já memória.” (grifei)


Assim, Rizzatto Nunes pontua que o a intuição pode ser utilizada como método, e o ato de viver ser repleto de intuição, permitindo ao indivíduo “conhecer a si mesmo”. Buscar junto à consciência o seu verdadeiro eu, que sofre alterações com as experiências adquiridas, e que cada experiência vivida permite com que a intuição para o ato se modifique e se “lapide” como uma pedra bruta até transformar-se em uma pedra preciosa.


 Com precisão Miguel Reale aponta que: (grifei)


“A intuição é o processo próprio do filósofo ou do homem enquanto filosofa. A intuição é um modo de conhecer que tem algo do instinto e da emoção, ou, como diz Bergson, é “uma espécie de simpatia espiritual”. O conhecimento intuitivo opera-se diretamente, como uma sondagem no real para coincidir com aquilo que ele tem de concreto, de único, e, por conseguinte, de inefável. Pense-se na atitude espiritual diante dos problemas estéticos, do senso artístico. Compreensão estética não é quantificação numérica, mas é, ao contrário, uma identificação com o próprio objeto contemplado, de maneira que a poesia seria uma forma fundamental, inicial, de compreensão do ser. Há algo de imaginoso nos conceitos bergsonianos de intuição, de “impulso vital” (élan vital), duração pura (durée pure), etc. (…)


Bergson dá-nos um exemplo ou uma imagem interessante para distinguir-se inteligência de intuição. Analisemos o conhecimento de uma cidade. Podemos conhecer Rio de Janeiro ou Paris por meio de plantas, guias, fotografias. Obtemos fotografias precisas dos quarteirões, das principais praças e monumentos, lemos guias, decoramos nomes de ruas, estudamos a situação das igrejas, dos museus e dos teatros. Eis um conhecimento típico da inteligência, pela contemplação de fragmentos, pela composição daquilo que previamente se dividiu e se separou. Este é um conhecimento puramente intelectual. Comparemo-lo, no entanto, com o conquistado por quem vai morar na cidade, põe-se em contato com suas ruas, com suas casas, com sua gente, não fica na visão fragmentária do todo, mas se insere naquilo que é insuscetível de divisão e de fragmentação. Quem vive assim na cidade penetra no coração da realidade urbana. É um conhecimento por dentro, não por fora apenas, um intus ire, um ir dentro da coisa, para surpreendê-la no que ela possui no íntimo, ou seja, na sua natureza genuína. A intuição, portanto, é uma via de acesso direta ao real de maneira que o homem se identifique com o real concreto, com a “duração pura”.[46]


Verifica-se que o “fenômeno” da intuição está mais que presente na vida do homem. A intuição faz parte da vida, do agir, do pensar, do ser, ou melhor “do ser agente pensante” . Só com a conscientização do que vem a ser intuição é que o elo entre a inteligência e seus consectários fica repleto e assim fecha-se o ciclo, do agir, do pensar, do ver, do imaginar, do sentir, do realizar, do memorizar, mas sempre no presente, ou seja, o ponto do passado que objetiva o do futuro e que ocorre agora, e assim o ato que ocorre  neste momento e mais em nenhum outro.


3.2. CLASSIFICAÇÕES DE INTUIÇÕES


 Rizzato Nunes,[47] classifica dentro da intuição de duração três formas de intuição a seguir apresentadas. Porém, quaisquer delas é forma de desdobramento da intuição apresentada retro, que na classificação do autor torna evidente quando ocorre a intuição e que de uma forma ou de outra as mesmas ocorrem, cada uma em seu momento no ato que perdura:


3.2.1. A INTUIÇÃO DE RECONHECIMENTO ATENTO


O autor propõe que além da duração, na intuição exista a atenção, ou seja, um esforço em torno de algo específico. É aquela que, presente na consciência, atualiza imagens-lembranças, trazendo no curso do progresso, sempre, o passado ao presente com vistas ao futuro.


A atenção tem por finalidade tornar a percepção mais intensa e destacar seus detalhes. Mas toda a percepção atenta supõe de fato uma reflexão, uma projeção exterior de uma imagem ativamente criada. Assim, consciência e intuição quase se confundem, pois a consciência capta a simultaneidade e é ativada para ter-se a memória, e a intuição atenta é justamente a forma de apontar determinada e específica circunstância a ser realçada, destacada, observada.


A intuição de duração é aquilo que nós somos, que escoa em nós como nós mesmos, aliás, somos nós que escoamos. Mas na intuição de reconhecimento atento, algo se destaca. É como focar uma lente: percebemos um plano especial – atento – e nele colocamos nossa atenção  reflexão -, mas não perdemos contato com o restante, com aquilo que não está focado – seria o segundo plano atrás do foco da lente.


3.2.2. A INTUIÇÃO DE RESISTÊNCIA


A intuição de resistência ocorrerá quando a percepção imediata aciona em nossa memória algumas lembranças-imagens, que se atualizam em nossos aparelhos sensórios-motores, gera em nosso corpo uma atitude, digamos assim, negativa uma atitude de resistência à ação nascente ou realizada em relação àquilo que vindo do exterior em direção à nossa percepção, clamava determinada ação. Tal intuição pode gerar dois comportamentos: um o de paralisia na atitude que resiste, podendo até não gerar nova ação, acabando por ser uma reação, podendo perder-se na memória; dois, gerar uma preocupação consciente que leva a uma investigação com o fito de resolver o problema dado.


3.2.3. A INTUIÇÃO HEURÍSTICA


A intuição heurística trata-se da descoberta repentina, como um estalo, ou seja: quando a memória tenha lembranças relevantes para serem recolhidas e escolhidas pela consciência, que é constantemente atualizada; quando um problema que incomode e que faça a percepção, o corpo, o pensamento, formar ou tornar-se de alguma meio que venha a tencionar a consciência pressionando a memória; e que a memória originada da tensão se contraia pela várias lembranças puras e num processo de seleção por semelhança e a contigüidade acabe por elaborar a combinatória que, circulando virtualmente pela lembrança e imagens que seriam passíveis de se atualizar, alcançando ou não uma solução.


 A origem de tal intuição ou é por influxo imediato de uma percepção ou sensação ou por resultado do surgimento de uma nova imagem-lembrança, espécie de iluminação súbita na consciência


NOTAS CONCLUSIVAS


 Se intuir é um ato simples, único do espírito por meio do qual captamos a realidade de um objeto dado, a intuição vale assim tanto como visão, ou seja, ver algo, conhecer esse algo direta e imediatamente, sem intermediários de quaisquer espécies.


O estudo da intuição como proposto, bem como da duração permite-nos analisar as teorias de tempo, pois se a intuição de duração ocorre no ato, e este é imediato, mas constante, perfazendo-se e renovando-se, logo, a concepção clássica de tempo não nos serve, “não” ao menos ao filósofo que conhece o conceito de “consciência”, que diversamente do físico e o conceito clássico de tempo e suas designações em frações e quantificações.


Isto porque a grande diferença está em que o tempo para o físico é analisado e concebido como estanque, parado, ou seja, o tempo para o físico é visto como um elemento fático sem qualquer relação como o momento que o ato ocorreu. Diferente para o filósofo, que ao analisar o momento preocupa-se com o pensar e agir do ser humano, enquanto ser, sendo o tempo um conjunto de realizações que acontecem no momento (e diga-se de passagem, muitas, em diversos espaços físicos).  Assim, se pensar é agir e se do pensar o ser humano se torna ser, é este o momento inicial, e é o “pontapé inicial” para que as coisas se realizem. Mas ao passo que tal ponto de partida é proposto, o mesmo se divide e se transforma tanto num pensar (agir) mecânico, automático, quanto num pensar (agir) puro, ou melhor, o pensar (agir) apenas acontece, ou por vezes reflete-se e analisa-se “o porquê?”


Quanto a estas duas formas de pensar propostas por nós (mecânica e pura), a primeira é evidente no dia-a-dia, quando automaticamente agimos, estampando tal ato pelo que vulgarmente dizemos “agimos sem pensar”, o que para um filósofo seria uma barbárie, pois o agir é intimamente relacionado ao pensar; quanto à segunda forma, e a ideal, o pensar torna-se contínuo, os atos e os agir são pensados e analisados antes de ocorrer, tendo plena consciência do que foi praticado.


 E, quando ocorrer tal fato, de agir e pensar “conscientemente” alguns fenômenos mundanos começam a ser questionados pelo sujeito, que então passa a reparar, a observar e a pensar o mundo, questionando-se, sendo que  muitas das vezes não obterá respostas para alguns atos, porém  seu agir e seu pensar serão diferentes.


Para tanto resta como resposta (e principalmente resposta) “pensar um pouco mais”, ou seja, fragmentar e desmembrar o pensamento, refletindo, dissecando-o, para então poder encontrar suas fases e etapas, sendo uma delas a intuição. E esta, como já mencionado, é a “chave” para ligar o pensar consciente com a memória, e ainda, é a forma de perceber e captar a essência do mundo exterior.


E nesse ponto do pensar é que o tempo se justifica em nossa análise. Pois se o ato, a ser analisado ou questionado for separado de suas conseqüências, observará o sujeito que qualquer ato quando assim proposto já não estará ocorrendo, ou melhor, só se pode separá-lo para realizar sua análise estanque e fria quando o mesmo já ocorreu, utilizando-se assim um recurso de memória.


Por tal fato discutir intuição não é possível para atos presentes só para atos pretéritos, e para tanto, a intuição surgiria (“data venia”) pela atenção ou pela resistência, mas não pela “intuição heurística”, pois nesta, o ato de intuir foi derivado justamente pelas percepções, que estão “armazenadas” na memória. Em melhor análise, respeitando o quanto exposto pelos autores, ou a intuição será a de atenção, ou a de resistência, mas não a heurística, que a nosso ver não é uma forma pura de intuição, mas derivada das duas modalidades anteriores.


Tal conclusão só foi possível por analisar o fator tempo, pois se tempo é consciência e realidade, concomitantemente, a realidade só é pelo pensar que está permeado de intuição, bastando identificá-lo (o pensar).


Portanto, o real conceito do que vem a ser tempo é àquele que atribui todos os conceitos e análises como tempo é a “consciência” que deriva do agir e da memória, e principalmente do pensar, é o “devir”, é a realidade da vida. E talvez por tal concepção seja que René Descartes já tenha há muito proferido a célebre frase de que “penso, logo existo”, reduzindo o ser humano a um ser pensante e assim descobrindo a verdadeira essência do homem, qual seja, sua mente no atual estágio, “no agora”, “neste instante”.


Assim, nesta outra música a seguir descrita, o tempo é “o agora”, a vida é a do momento, só há o instante…


Amanhã não se sabe (1998) Sérgio Britto, Titãs, Volume dois

“Como as folhas, com o vento / Até onde vai dar o firmamento / Toda hora enquanto é tempo / Vivo aqui este momento / Hoje aqui, amanhã não se sabe / Vivo agora antes que o dia acabe / Este instante, nunca é tarde / Mal começou eu já estou com saudade / Me abraça, me aceita / Me aceita assim meu amor / Me abraça, me beija / Me aceita assim como eu sou / E deixa ser o que for / Como as ondas, com a maré / Até onde não vai dar mais pé / Este instante tal qual é / Vivo aqui e seja o que Deus quiser / Hoje aqui não importa pra onde vamos / Vivo agora não tenho outros planos / É tão fácil viver sonhando / Enquanto isso a vida vai passando / Me abraça, me aceita / Me aceita assim meu amor / Me abraça, me beija / Me aceita assim como eu sou / E deixa ser o que for”

 


Referências bibliográficas

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Notas:
[1] Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa, p. 1164, em definição do vocábulo “tempo”

[2] Pierre Boutang, in o tempo, p. 41 e ss. Cita diversos autores e filósofos que fazem a comparação entre o conceito de tempo e origem, bem como suas concepções científicas acerca da vida humana e divina

[3] In o ser-tempo, p. 16

[4] In confissões, livro 11, capítulo XIV, p. 267-268

[5] In confissões, Capítulo XXIII, p. 275

[6] O autor aponta a Luz, a Verdade, com letra maiúscula, e propõe que tais sejam Deus. Assim, só é possível ver o tempo real através de Deus.

[7] Paul Strathern, in Sartre em 90 minutos, p. 72

[8] In o ser-tempo, p. 17

[9] In o ser-tempo, p. 18-20

[10] Gaston Bachelard, in a intuição do instante,  P. 17

[11] In o ser-tempo, p. 19 e p. 45

[12] André Comte-sponville, in o ser-tempo, p. 47 propõe que “a neurose, que nos encerra no passado, não é menos atual que a saúde, que nos liberta dela. A esperança, que nos encerra no futuro, não é menos atual que a sabedoria, que nos abre para o presente. Supondo-se inclusive que um dia possamos viajar no tempo, como imaginam os filmes de ficção científica, isso seria apenas trocar de presente, e não se deslocar, como gostariam de nos fazer acreditar, no passado ou no futuro… o presente é o único tempo disponível, o único tempo real, e longe de ser somente quando cessa de ser.” (…) “o presente estava lá quando de nosso nascimento. Ele estará lá quando de nossa morte. Ele estará lá, sem a menor interrupção, durante todo o tempo que irá separar esses dois momentos. Ele esta aí, sempre aí: ele é o ai do ser.

[13] In Manual de filosofia do direito, p. 248 e ss

[14] André Comte-sponville, in o ser-tempo, p. 18

[15] In manual de filosofia do direito, p. 203 apud Henri Bergson, matéria e memória, p. 111

[16] In ,p. 13

[17] André Comte-sponville, in o ser-tempo, p. 18 e p. 45

[18] In a vida humana, p. 99

[19] In confissões, livro 11, capítulo XX, p. 273

[20] Cássio Leite Vieira, in Einstein o reformulador do universo, p. 87

[21] In duração e simultaneidade, p. 75

[22] Márcio Barreto, in http://www.comciencia.br/reportagens/2005/03/12.shtml, acesso em 01/07/2007, às 15:30 horas, sustenta, comparando Eisten e Bergson: “A inteligência prepara uma ação do corpo no mundo e, portanto, destina-se a medir, calcular, prever, para que o uso de símbolos e a fragmentação do tempo em instantes imóveis no espaço sejam necessários. No extremo oposto ao da inteligência encontra-se a intuição. Neste espectro entre a inteligência e a intuição, situa-se a nossa consciência, situando-se quase sempre mais próxima da primeira. Bergson, porém, acredita que é através da intuição que podemos apreender o que Proust chamaria de “um pouco de tempo em estado puro”.Segundo o filósofo, a vida, graças à sua capacidade inventiva, dividiu-se em vegetal (especializada em captar energia) e animal (responsável pela locomoção que garante o espalhamento da vida). No reino animal, a inteligência desenvolveu-se com o sistema nervoso nos vertebrados, mas entre os invertebrados foi a intuição – forma elevada do instinto – que teve um desenvolvimento maior. As abelhas, por exemplo, organizam-se guiadas por essa intuição enquanto os humanos planejam inteligentemente. Apesar da cisão, instinto e inteligência conservam um caráter indiviso, pois, como disse Deleuze, “quando a vida se divide em planta e animal, quando o animal se divide em instinto e inteligência, cada lado da divisão, cada ramificação, traz consigo o todo sob um certo aspecto, como uma nebulosidade que acompanha cada ramo, que dá testemunho de sua natureza indivisa. Daí haver uma auréola de instinto na inteligência, uma nebulosa de inteligência no instinto, um quê de animado nas plantas, um quê de vegetativo nos animais.”Na humanidade da qual fazemos parte, a intuição é quase inteiramente sacrificada à inteligência. No entanto, ela está presente, mas vaga e sobretudo descontínua. É uma lâmpada quase apagada, que se reaviva apenas de vez em quando, e apenas por alguns instantes. Mas reaviva-se, em suma, quando um interesse vital está em jogo. Sobre a nossa personalidade, sobre a nossa liberdade, sobre o lugar que ocupamos no todo da natureza, sobre a nossa origem e talvez mesmo sobre o nosso destino, diz Bergson, “ela projeta uma luz vacilante e fraca, mas que não deixa de iluminar a escuridão da noite em que nos deixa a inteligência”. Esses lampejos vindos da franja periférica da nossa consciência podem nos revelar a pura duração, onde a inteligência só pode enxergar uma medida espacial. Intuir é coincidir. Uma rocha, um rio que passa e o murmúrio contínuo de minha vida interior são diferentes contrações da duração que percebo quando coincido com cada uma delas, quando nelas me instalo de imediato. Quando compreendemos a intuição em Bergson, percebemos que sua filosofia está mais próxima da ciência de seu tempo do que aparenta. A multiplicidade do tempo na relatividade é análoga a diferentes contrações da duração bergsoniana. Bergson não via nada de estranho nas diferentes medidas de tempo para diferentes referenciais na teoria de Einstein. Para ele, o pretenso tempo homogêneo é um ídolo da linguagem, uma ficção, pois não há um ritmo único da duração; é possível imaginar muitos ritmos diferentes, os quais, mais lentos ou mais rápidos, mediriam o grau de tensão ou de relaxamento das consciências, e desse modo fixariam seus respectivos lugares nas séries dos seres. Não nos acontece, diz Bergson, “perceber em nós mesmos, durante o sono, duas pessoas contemporâneas e distintas, sendo que uma dorme alguns minutos enquanto o sonho da outra dura semanas?”.A observação feita pelo filósofo francês no debate de 1922 procurava mostrar o que há de intuição na inteligência e o que há de duração no tempo da relatividade. Infelizmente, assim como as origens metafísicas do conceito de força à distância de Newton perderam-se na poeira levantada pelo triunfo do mecanicismo, a questão bergsoniana foi ofuscada pelo mito de Einstein. Por isso, continuamos a tomar a medida do tempo pelo próprio tempo, mesmo na complexidade desta teoria que completa um século em 2005.”

[23] In o ser-tempo, p. 23

[24] In o ser-tempo, p. 43 e ss

[25] In o ser-tempo, p. 49-50

[26] In o ser-tempo, p. 50 e ss, com grifos nossos

[27] André Comte-sponvile, in o ser-tempo, p. 125 e ss.

[28] André Comte-sponvile, in apresentação da filosofia, p. 123, termina seus apontamentos com a seguinte colocação: “ o presente é o único lugar da ação, o único lugar do pensamento, o único lugar inclusive, da memória e da espera. É o kairos do mundo (o instante propício, o momento oportuno: o da ação), ou o mundo como kairos – o real em ato. Não é porque o ser é no tempo que ele dura; é porque ele dura que há tempo. Vive no presente? É simplesmente viver em verdade. Já estamos no Reino: a eternidade é agora.”

[29] In realidade e existência, lições de metafísica, p. 75/76

[30] In Manual de filosofia do direito, p. 249

[31] In confissões, livro 11, capítulo XV, p. 269

[32] André Comte-sponville, in o ser-tempo, p. 89

[33] André Comte-sponville, in apresentação da filosofia, p. 118

[34] Rizzatto Nunes, in Manual de filosofia do direito, p. 203-204 apud Henri Bergson, in matéria e memória, p. 111 e ss.

[35] In o ser-tempo, p. 88  e 100

[36] In o ser-tempo, p. 103, apud Bergson, in Matière ET mémoire, cap III, p. 154

[37] Paul Strathern, In Sratre em 90 minutos, p. 72

[38] Rizzatto Nunes, in Manual de filosofia do direito, p. 209-210

[39] Rizzatto Nunes, in Intuição, p. 214

[40] In www.filosofiavirtual.pro.br/bergson.htm, acesso em 01 de julho de 2007, às 13 horas

[41] Etimologicamente, intuição vem de ‘tueri’, que em latim significa ‘ver’, ‘contemplar’, e ‘in’ (em, dentro). Intuição é, assim, uma visão direta, imediata, interna de um objeto. Ou em outras palavras, a intuição não tem nada que ver com mediação, rodeios, ela é já conhecimento, instantaneamente. Ou para André Franco Montoro, ‘ao lado do conhecimento discursivo ou mediato, representado pelos raciocínios dedutivo e indutivo, a ciência reconhece outra modalidade de conhecimento – imediato e direto – que é a intuição”, conforme expõe Rizzato Nunes, in manual de filosofia do direito, p. 237

[42] In manual de filosofia do direito, p. 198

[43] In Manual de filosofia do direito, p. 248 e ss

[44] Rizzatto Nunes, in manual de filosofia do direito, p. 253, grifos nossos

[45] In manual de filosofia do direito, p. 258 e 332

[46] http://www.miguelreale.com.br/artigos/bergson.htm, acesso em 01/07/2007, às 14 horas

[47] In manual de filosofia do direito, p. 260 e ss.



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