Diz uma expressão de domínio público que “a propaganda é a alma do negócio”.
Acredito que o autor da frase a proferiu pretendendo dizer que, para que determinada atividade comercial ou mesmo de outra natureza se tornasse conhecida, era importante sua divulgação. A propaganda, ou seja, a propagação da notícia sobre a existência daquela atividade traria novos clientes.
Contudo, com o tempo, a propaganda ganhou outros contornos e passou a ser usada para vender fantasias, falsidades, mentiras. Um dos casos mais espetaculares da história recente da civilização foi a propaganda nazista, que culminou na II Guerra Mundial, de 1939 a 1945.
Depois a propaganda ganhou outras vertentes e nomes, passando a ocupar um lugar de destaque na atividade político – partidária, onde a mentira encontrou o seu campo mais fértil.
Com a globalização e os avanços da tecnologia nos meios de comunicação, a mentira também foi globalizada e hoje o cidadão precisa ter bastante discernimento para descobrir a verdade por trás da notícia, quer esteja na mídia escrita, radiofônica, televisiva ou na Internet.
A propaganda passou a ser, também, um dos mais eficientes recursos da corrupção, ensejando a criação de inúmeras empresas do que chamam de marketing, integradas por parentes dos governantes ou seus laranjas.
Criada a empresa, é contratada, por exemplo, para fazer determinada campanha. O projeto prevê veiculações em rádios, jornais, tv, sites, outdoors e outros recursos, ao custo total de milhões de reais. A empresa recebe, partilha seu ganho com os padrinhos e espalha meia dúzia do produto, confiante em que ninguém, nem o Ministério Público, fiscalizará a efetiva prestação do serviço.
Isso sem entrar no mérito do próprio serviço, ou seja, a campanha, que, na quase totalidade das vezes, é para veicular mentiras e dizer que o governo está fazendo isso e aquilo, quando na verdade o que faz mesmo é roubar o povo, não se importando se a população pobre tem escola, hospital, moradia, alimentação ou trabalho.
Esses serviços, nunca prestados ou prestados apenas precariamente, servem apenas para firmar convênios cujos valores são dilapidados ao longo do caminho desde a fonte até sua destinação final, de modo que, se um convênio prevê a construção de uma escola, no percurso de Brasília até o município, talvez sobre para comprar uma carteira escolar, porque o resto foi transferido para contas pessoais, virou veículo, casa ou apartamento de luxo e bancou outros prazeres da corrupção.
Enquanto isso, a população vai ficando cada vez mais pobre, mais abandonada e, o que é pior, obrigada a conviver com a propaganda da mentira dando notícia de maravilhas que a realidade desmente.
Um governo sério não deve gastar dinheiro com propaganda para dizer que está fazendo o que efetivamente está fazendo. Fazer o deve é cumprir seu dever.
Ou você acha, leitor, que um governo deve gastar milhões para fazer propaganda de qualquer obra sua em vez de investir esses recursos em saúde e educação, que tanto precisam?
*Publicado no Diário da Manhã, São Luís – MA, 08/01/2006
Informações Sobre o Autor
João Melo e Sousa Bentivi
João Bentivi é médico, advogado, jornalista e músico em São Luís do Maranhão