A Colômbia de hoje: Um vizinho explosivo

Nosso vizinho
país, na fronteira norte, atravessa um conflito interno que tem tudo para se
internacionalizar, envolvendo direta e profundamente o Brasil.

A República
da Colômbia, ou apenas Colômbia, localiza-se na região Noroeste da América do
Sul e faz fronteira ao norte com o Panamá e Venezuela, ao sul com o Peru e o
Equador e a leste com o Brasil sendo banhada a oeste pelo Oceano Pacífico e ao
norte pelo Mar do Caribe num total de 3.208 quilômetros
de costa. Sua área é de 1,138,914 quilômetros
quadrados divididos em 32 departamentos além da capital, Bogotá, que fica
localizada na região central do país. Foi colônia espanhola, o que explica a
língua oficial, o espanhol, e tornou-se independente em 5 de julho de 1810; seu
clima é tropical.

O atual presidente, Andrés Pastrana, foi eleito em sete de agosto de 1998 com mais de
50.3 % dos votos, para um mandato de quatro anos.

A população colombiana é composta,
segundo números de julho de 2000, de 39,685,655
pessoas divididas em cinco grupos étnicos sendo 58% de mestiços, 20 % de
brancos, 14% de negros, 3% de índios com negros e 1% de índios. A expectativa
de vida geral é de 70.28 anos, sendo 66.43 para os homens e 74.27 para as
mulheres.

O país tem uma taxa de natalidade, em
2000, de 22,85 crianças por mil habitantes e a de mortalidade, no mesmo
período, está em 5,73 pessoas por mil habitantes, o crescimento vegetativo é de
1,68%. 90% da população é católica e o índice de
alfabetização geral em 1999 é de 91.3%, sendo 91.4% de homens e 91.2% de
mulheres.

O perfil econômico da Colômbia mostra
uma taxa de crescimento negativo de 5% em 1999 com uma renda per capita,
também em 1999, de U$ 6.200, o que equivale, em 25 de outubro de 2000, a 13.407.376 Pesos, a
moeda oficial colombiana (Col$). A agricultura
responde por 19% da economia, a indústria por 26% e os serviços por 55%. A
Colômbia teve, em 1999, uma inflação de 9,2% e uma taxa de desemprego de 20%, a
dívida externa gira em torno de US$ 35 bilhões. Os principais recursos naturais
são o petróleo, o gás natural, carvão, minério de
ferro, níquel, cobre, esmeraldas e força hídrica.

Os órgãos responsáveis pela segurança
são compostos por 250 mil homens incluindo aí polícia e Forças Armadas.

O país devastado pela guerra das drogas- A criminalidade na
Colômbia vem consumindo o país de tal forma que os antropólogos e sociólogos
estão se especializando no estudo da violência. Hoje, a Colômbia tem uma média
de homicídios que é o dobro da brasileira – e uma taxa de seqüestro vinte vezes
maior. Estas taxas fazem das cidades de Medellín e Cali
os lugares mais violentos do Mundo.

A Colômbia hoje é um dos principais
centros produtores de drogas do planeta, responde por quase a totalidade da
produção de cocaína consumida no mundo, chegando a ter, em 1998, 101.500 hectares
de plantação da planta de Coca, a matéria prima da cocaína.

A criminalidade atingiu um padrão sem
precedentes, cerca de 40% da Colômbia é controlada por grupos guerrilheiros,
destacando-se as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com 15 mil integrantes, e o Exército de Libertação
Nacional (ELN) com 6 mil.

O dinheiro que mantém a guerrilha é
obtido pelo “imposto” cobrado aos traficantes que atuam em territórios controlados
pelas Farc e pelo ELN, que determina que toda pessoa
física ou jurídica com patrimônio superior a 1 milhão de dólares deverá pagar
um imposto às Farc. Quem não fizer isso será
“retido” até que a quantia seja paga.

A guerrilha colombiana nasceu de um
movimento popular nos anos 40 do século XX, no contexto marcado externamente
pelo início da guerra fria e internamente por uma violenta guerra civil entre
elementos da burguesia.

Na última década do século XX a
violência no país foi responsável pela morte e desaparecimento de 70 mil
pessoas, sendo mais da metade composta pela população civil, destacando-se
trabalhadores, intelectuais e sindicalistas.

Como
conseqüência desse processo de ocupação, estima-se que quase 2% da população –
800 mil pessoas – tenham abandonado
o país nos últimos dez anos com medo da violência. Calcula-se que 1,5 milhão de camponeses fugiram da violência no campo para
engrossar as favelas das grandes cidades. Um terço desse total está na capital,
Bogotá. É o terceiro maior número de refugiados do mesmo país no mundo. Só
perde para Angola e Sudão.

Os três crimes que mais assustam a
Colômbia são o homicídio, o latrocínio e o seqüestro.
As taxas de homicídios duplicaram na Colômbia nos últimos dez anos. No caso de
seqüestro, o aumento foi ainda maior. Na década de 80, o país tinha, em média,
um por dia. Agora, tem dez. A média de duração dos seqüestros é de quatro a
cinco meses.

A capital, Bogotá, está literalmente
sitiada. A população evita a todo custo deixar a
cidade com medo dos seqüestros, que viraram rotina nas estradas que levam ao
interior. A guerrilha criou a “pesca milagrosa”, ao interditar
trechos das rodovias principais e selecionar entre os motoristas quais deveriam
ser seqüestrados.

O Ministério das Comunicações cede
espaço gratuito em rádios e TVs para a divulgação de campanhas institucionais e
de informações sobre as vítimas. Há até um programa de rádio chamado Em
Busca da Liberdade Perdida
, que abre espaço para que parentes e amigos de
vítimas de seqüestro lhes mandem mensagens.

A Colômbia é o principal fornecedor da
droga para os EUA, que, por esse motivo, lançaram uma ajuda financeira ao
governo colombiano para combate aos traficantes que foi denominado de o “Plano Colômbia”.

O Plano Colômbia, uma ação conjunta dos governos
colombiano e norte-americano para conter o narcotráfico na Colômbia, vem
preocupando as autoridades brasileiras, que temem uma maciça violação das
fronteiras nacionais por parte de guerrilheiros da FARC e traficantes de
cocaína, fugidos da repressão que virá com a ofensiva.

As operações militares do Plano Colômbia, de fato, começaram em outubro de 2000,
quando o exército realizou um ataque em grande escala em Putumayo,
no sul do país, na região mais rica em petróleo, localizada na fronteira com o
Equador, com a desculpa de combater um foco da guerrilha supostamente ligado
narcotráfico.

É preciso que fique claro, que o
interesse dos Estados Unidos não se restringe ao petróleo. A biodiversidade da
Amazônia colombiana só perde para o Brasil, sendo que somente seus recursos
hídricos já bastariam para atrair os Estados Unidos.

Essa questão torna-se ainda mais
delicada, principalmente se levarmos em conta que a água doce, cada vez mais
escassa, já é considerada uma questão chave para o século XXI, tendo nos
Estados Unidos seu principal consumidor mundial.

A questão crucial do Plano
Colômbia é o combate aos grupos de guerrilha, não pela ligação desses
com o tráfico e sim, pela capacidade de mobilizar a população mais pobre, de
origem indígena, contra o imperialismo norte-americano.

O Brasil e o Plano Colômbia – As autoridades brasileiras negam o
aumento do efetivo militar nos 1.600 quilômetros
de fronteira entre a Amazônia e a Colômbia, mas a Polícia Federal tem dito que
pretende triplicar o número de seus homens no local, que hoje conta com cerca
de 1.000 homens. A única ajuda do Exército seria com infra-estrutura e troca de
informações. Hoje a proteção à fronteira Brasil – Colômbia conta com mais de 22
mil homens do Exército, além de mais de 100 embarcações da Marinha e aviões da
FAB.

A Policia Federal começou a
apertar o cerco para evitar a entrada de guerrilheiros no país
assegurando assim a fiscalização intensa na divisa.

O Ministro das Relações Exteriores, não
acredita numa invasão de guerrilheiros nem tão pouco de traficantes
colombianos. O Ministro descartou também o deslocamento do cultivo de coca da
Colômbia para o Brasil, entretanto, não descarta a possibilidade do refino da
droga entrar em território nacional.

Como se não
bastasse, o terrorismo palestino conta com uma filial na Colômbia. Maicao, cidadezinha de 58.000 habitantes, na fronteira com
a Venezuela acolhe 4.670 cidadãos de origem islâmica que controlam 70% do
comércio. Foi de lá que saíram, em meados do ano passado, 60.000 dólares. A
“ajuda” foi enviada para a terra santa e seu trajeto mapeado pelos
serviços de inteligência da Colômbia (DAS), Estados Unidos (FBI) e Israel (Mossad).

Mas quem
abandona a problemática do território disputado do outro lado do mundo, não dá
adeus à causa. Não é só a bolada de 60.000 dólares, acumulada com percentagens
de 10% a 30% do lucro dos comerciantes muçulmanos do local, que sustentam essa
guerra. Ela se dá também através de muita dinamite e tráfico de armas.

Foi seguindo
o cheiro de pólvora que o FBI descobriu o enclave palestino. Em 1992,
apareceram os primeiros indícios de que o extremismo islâmico havia tomado
outros terrenos longe da Faixa de Gaza, com a explosão de bombas na Embaixada
de Israel e, em 1994, na Associação de Mutualidades
Israelitas, ambas na Argentina. O saldo desses ataques: 116 pessoas mortas. Em 1997, a DAS fechou uma
estação de rádio clandestina em Maicao que incitava o
terrorismo, com mensagens do Hizbollah.

Em novembro
de 2000, o terrorista palestino Salah Abdul Karim Yassine
foi preso pela Polícia Nacional de Paraguai em uma fazenda na cidade de Encarnación, na fronteira com o Brasil. Ele jurou ser
colombiano e sacou um passaporte expedido em 1997, com o nome de Jaime Yassine Uribe. A partir daí, as
fronteiras argentinas, brasileiras e paraguaias ganharam atenção. Depois dele,
já foram capturados com documentos falsos Yusef Hamud Hatim, Faraj
Taha Taha, Majdi Tareef Dahrouj,
Manuel Barakat Safadi e por
aí vai. A lista longa tem tudo para aumentar. A estimativa é de que cerca de
1.000 palestinos, incluindo terroristas, povoem ilegalmente Maicao,
camuflados de comerciantes.

Fontes
palestinas entrevistadas pela revista “Câmbio”, do escritor Gabriel
García Márquez, rebatem as acusações dos israelenses, de que a remessa ilegal
estaria sendo utilizada para financiar a guerra no Oriente Médio. “O
desemprego chegou no mês passado ao nível histórico de
52%. Uma boa parte da ajuda é entregue às famílias das pessoas que, por conta
da agressão israelense, não têm nada o que fazer”, garante o palestino.

Os conflitos
entre israelenses e palestinos ganham o palco, onde já atuam as Forças Armadas
Revolucionárias Colombianas (FARCS), colaborando com bombas e atentados e
incrementando o clima de terror no país. Campo bastante minado para uma Copa
América.

Lamentavelmente e acredito até de forma
irresponsável, o governo brasileiro considera de baixa probabilidade os efeitos
do Plano Colômbia sobre o País. As três hipóteses –
transferência da guerrilha, transferência do cultivo de coca e contaminação das
nascentes dos rios da bacia amazônica – dificilmente ocorrerão, na avaliação
dos militares. Os oficiais entendem que os guerrilheiros não desafiariam a
soberania de um país do porte do Brasil, essa mesma visão equivocada teve os
Estados Unidos ao invadirem o Vietnã mas nossa memória
é curta, lembram que o cultivo da coca não se adequa
ao solo amazônico e advertem que o uso de armas biológicas desencadearia uma
pressão internacional contra a Colômbia e os Estados Unidos, em defesa do
ecossistema.

A conclusão não poderia ser outra,
estamos diante de uma situação gravíssima e extremamente delicada, onde o
Departamento de Polícia Federal deve estar permanentemente atento, e
principalmente motivado a buscar sanar suas deficiências operacionais junto às
fronteiras, incluindo aí um chamamento ao governo quanto a importância do
preparo, qualificação, reconhecimento profissional e principalmente motivação
almejada e merecedora à todos os integrantes da
Carreira Policial Federal.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Wlamir Motta Campos

 

Consultor Legislativo, Especialista em Gestão de Políticas Públicas nas áreas de Segurança Pública e Defesa Nacional.

 


 

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