A operação valquíria e suas lições em nossos dias: ensaio político sobre o perigo da onipotência do partido político

Resumo: A Operação Valquíria passou a ter destaque depois de sua aparição nas telas de cinema remontando a história da tentativa de assassinato de Hitler e, golpe no estado nazista, trama envolvendo este cenário político serve de pano de fundo para os dias atuais demonstrando que os perigos que foram vivenciados pelos alemães não acabaram com a morte do mentor do nazismo e nem tampouco desapareceu a possibilidade real de se ver novos projetos políticos aos moldes do vivenciado na Alemanha.

Palavras chaves: Estado; Política; Imprensa; Partido; Discurso.

Abstract: The Valkyrie now has highlighted after her appearance on movie screens reassembling the story of the attempted assassination of Hitler and the Nazi state coup, this plot involving political landscape serves as the backdrop for today demonstrating that dangers that were experienced by Germans did not end with the death of mentor of the Nazis and disappeared nor the real possibility of seeing the new political projects templates lived in Germany.

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Keywords: State, Politics, Press, Party, and the Discourse.

Sumário: Introdução; 1- O que veio a ser a Operação Valquíria?; 2 – As características de regimes ideológicos; 3- Qual seu significado para a história?; 4. As lições a serem aprendidas deste regime; Conclusão.

Introdução

A leitura apaixonada da história nos leva a perceber que os erros do passado sempre voltam a nos assombrar. Parece que o ser humano em sua essência não aprende com aquilo que deveria servir de lição e, mormente se comete até novos erros mas não repeti-los como se vê com frequência no curso dos eventos humanos.

A Operação Valquíria passou a ter destaque depois de sua aparição nas telas de cinema remontando a história da tentativa de assassinato de Hitler e, golpe no estado nazista. A trama envolvendo este cenário político serve de pano de fundo para os dias atuais demonstrando que os perigos que foram vivenciados pelos alemães não acabaram com a morte do mentor do nazismo e nem tampouco desapareceu a possibilidade real de se ver novos projetos políticos aos moldes do vivenciado na Alemanha. Assim, longe de ser apenas história, há muitas lições a se aprender deste momento bem como também temer a volta da onipotência de um partido, uma ideologia de um líder que faça o que fizer estará como foi visto, apoiado pela população.

A Alemanha de Hitler, como imaginava o mundo, adepta ao nazismo em sua totalidade, parecia uma fortaleza impenetrável. Aos olhos dos demais países, aparentemente havia uma solidez de pensamento e, apoio irrestrito a doutrina do Führer. Evidente ser este o pensamento, uma vez haver uma sensação de que tudo estava a favor desta ideologia. Mas a história pós-guerra demonstrou ser este pensamento comezinho e míope, não correspondendo com as verdades dos fatos.

O que vem a ser a operação Valquíria? Qual seu significado para a história? Quais os motivos reais que fizeram com que esta operação surgisse no cenário histórico? Quais as lições que se pode depreender de todo este acontecimento? Há qualquer coisa semelhante acontecendo em nossos dias?

1-O que veio a ser a Operação Valquíria?

Esta operação tinha outro sentido, que era de proteção ao Reich. Hitler possuía este plano arquitetado como forma de proteção da Alemanha em caso de qualquer tentativa de golpe contra seu governo. A ideia mor era mesmo que ele sucumbisse a morte, o projeto político deveria sobreviver a todo custo. Uma síntese pode se vislumbrar neste comentário:

“Uma operação que deveria proteger o Terceiro Reich contra golpes de Estado acabou sento arquitetada contra Hitler. Com o objetivo de tomar o controle da Alemanha, oficiais da resistência do alto escalão nazista protagonizaram o maior atentado contra Hitler. O coronel Claus von Stauffenberg se dirige a Toca do Lobo, Prússia Oriental, quartel-general da qual Hitler realizaria uma reunião que contava com oficiais nazistas, e também com o líder italiano, Benito Mussolini. Com duas bombas em sua pasta, Stauffenberg monta todo o aparato em um banheiro, e se dirige a reunião, colocando a pasta em baixo da mesa principal, ao lado onde Hitler se acomodaria. Longe da Toca do Lobo, os oficiais da resistência já preparavam todo o golpe, assim que fosse confirmada a morte do líder alemão. Mas nem tudo saiu como planejado, a bomba foi acionada, mas, mais uma vez, Hitler sairia ileso, contando apenas com alguns ferimentos. (http://www.historiadigital.org/curiosidades/5-atentados-frustrados-contra-adolf-hitler/)”

Primeiramente, entendendo que vem a ser esta operação. Ela tinha o condão de em caso de tentativa de golpe de Estado, proteger o Estado Alemão de possíveis intervenções, para tanto este plano era uma forma de contenção, preparando o Exército e a polícia nazista contra qualquer tentativa de por fim ao Terceiro Reich. Uma reação em cadeia contra qualquer intervenção aos planos da Alemanha voltar a ser uma potência a sua ideologia.

Invertendo o objetivo do projeto, aqueles que estavam insatisfeitos, membros do Partido e Militares, intentaram usar com uma nova arquitetura este plano com o fim de retomar o país. O atentado não deu certo em toda sua dimensão como mostra a história, mas ficou a preciosa lição, de ser a aparência, sem se vislumbrar a realidade dos fatos, uma conspiração perigosa e sutil.

A Operação Valquíria passou a história como umas das tentativas de dar cabo a vida de Hitler houveram outras. É forçoso imaginar diante deste quadro que embora a imagem externa da Alemanha no mundo fosse a de ser o nazismo unânime, havia dissensões e muitas no plano interno. Não havia como se podia imaginar um consenso geral, absoluto, muito embora fosse esta a imagem que a propaganda nazista fazia dentro e fora do país.

O que se pode vislumbrar neste plano é que havia um fanatismo quase religioso sobre a ideologia pregada e cauterizada na Alemanha. Esta predicação era férrea, inquestionável e, por conseguinte, a melhor para o país segundo seus idealizadores. Choca perceber a certeza indômita quando se trata deste regime. Não haver espaço para discussão, rever qualquer atitude, refazer qualquer plano, ou fazer um balanço sobre como está e se está avançando na direção correta.

A rigor a história tem apresentado até os dias atuais que não há um sistema de governo infalível, ou um modelo econômico perfeito e, muito menos que atenda todas as necessidades de um país. O que se observa sem precedente é normalmente o contrário, que regimes autoritários e que vive da ideologia forte e impertinente, normalmente estão mais longe que os usuais de se mostrarem sensíveis as necessidades básicas. Cumpre perceber ser a característica mais plausível e razoável aquele regime que permite liberdade, que inspire democracia e vislumbre um sistema liberal de mercado.

2 – As características de regimes ideológicos

 Urge apontar algumas características que fazem destes regimes ideológicos similares em sua natureza de ação e aplicação. São elas:

a)   Discurso nacionalista: diferente do que se possa pensar, nacionalismo é diferente de patriotismo. Há uma confusão bem comum quando se fala de um e de outro. Esta categoria de discurso usa e abusa da ideia de defesa do país, do Estado forte, como forma de mostrar que está se preocupando de fato com algo importante e indispensável para toda a nação. O que se vê  de verdade é ser este um recurso usado em grande parte por aqueles que no fundo almejam um poder onipotente, para poder construir não um projeto de reconstrução, mas uma ideologia fanática onde seu tempo seja permanente e eterno. Nada mais longe de trazer algum benefício social, ou avanço para o país. Já patriotismo é orgulho do país que se vive, é respeito as origens do Estado, é usar bandeira, as cores dela com satisfação. É recontar a história e se e sentir orgulhoso de ser daquele país.

b)   Culto à pessoa do líder: abusando deste discurso nacionalista, se vê como pano de fundo a pregação messiânica de um salvador da pátria neste líder “nacionalista”. O que se propaga é que se este líder não estiver no controle não há como manter o projeto. Diante disso, sua perpetuação na liderança passa a ser indispensável, e insubstituível.

c)    Fanatismo exarcebado ao partido: normalmente acompanhado deste projeto de poder e controle, há um partido político, que acendendo ao governo demonstra ser aquele que pode, juntamente com o líder, ser o promotor das mudanças necessárias e importantes para o futuro do Estado. Mais uma vez, a predicação de insubstituível é fundamental.

d)   Manipulação das massas: com uma facilidade impressionante, consegue manobrar e conduzir a grande massa para onde bem desejar. Esta característica tem se perpetuando na história de forma assustadora e perceptível. Verdade e mentira, não existem apenas a aceitação tácita e total de tudo que se apregoa.

e)   Propaganda distorcida: os fatos apresentados, via de regra são aqueles que o Partido quer apresentar, nada passa para o povo sem sua expressa concordância, com isso é normal perceber que os meios de comunicação está também sob seu controle, e com isso, as notícias são maquiadas ao bel prazer do grande líder.

f)    Aparelhamento do Estado: abusar de colocar nos principais cargos políticos, pessoas que fazem parte do partido e da ideologia. O único critério para estas nomeações são estas características apontadas, nenhum mérito, nenhuma qualidade. Apenas e tão somente apoiar irrestritamente tudo que se faz ou se possa fazer, o Partido sem contraria-lo de forma nenhuma.

g)   A permanência ad eterna no poder: se há a convicção absoluta de que o único meio para se melhorar a vida das pessoas, de se alcançar os ideais reformistas é manter o líder e a ideologia no poder, O partido tem que se colocar na condição de eterno.

h)   A propagação de que o Estado é onipotente: todas as soluções passam pelo Estado, que tem todas as respostas, todos os meios para sanar qualquer tipo de problema. Essa é uma pregação messiânica, que convém ao estado de coisas implementadas uma vez, impingir na mente da população, a ideia de dependência da máquina estatal.

i)     Discurso escatológico: se desaparecer o líder, o partido, o Estado, haverá o fim de todas as conquistas, de todas as reformas realizadas. Será o apocalipse, o fim do país, o fim de toda a população.

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j)     Formação de uma guarda nacional leal somente ao líder e partido: a manutenção da ideologia, do partido e do líder depende desta ação, muito vista em todos os lugares que se formou tal estado de coisas. A lealdade destas tropas beira ao histerismo, ao fanatismo com seu lado mais sombrio, uma vez, não questionarem nunca, a quem serve o líder (partido), ou o Estado. A história mostra que servem cegamente ao líder (partido), sem ponderar.

Esse apanhado pode ser observado em outros Estados que sofreram o mesmo tipo de intervenção ideológica. Na essência há uma convergência perigosa, não é possível perceber se há uma cópia de procedimentos, pois a semelhança é assustadora, ou se o tronco principal de se implantar uma ideologia, um partido e um líder onipotente, tem a mesma raiz: a megalomania humana.

3- Qual seu significado para a história?

Esta Operação Valquíria abrigava a ideia do eterno poder do partido nazista e da ideologia de Hitler. Numa tentativa de golpe, se usou este plano que era de contenção para tentar matar Adolf. O projeto fracassou mais mostrou tempos depois para o mundo, que a Alemanha não estava tão inclinada e nem tão pouco apoiava ao nazismo em sua totalidade.

A história mostrou a fraqueza de um projeto que tinha como sua base a manipulação da massa, a ideologia fanática, o culto ao partido e líder onipresente. Mas também a manobra de perpetuação do poder a todo custo, mesmo que esse fosse a vida da população. Esta entranha cruel demonstra muito do que um projeto político, com ambição acima dos valores mínimos humanos, pode produzir num país. Não se pode falar de um governo, de um líder, partido que tenha como fim primeiro a auto sustentação, a ideologia acima de valores morais, o absolutismo na forma mascarada de democracia.

Com esta operação, se mostrou ao mundo que havia mais do que só um plano de poder, existia escondido no chamado ideal alemão, algo danoso, funesto, que era o extermínio da Europa se colocando aos pés de um personagem que sofria de megalomania, e era apoiado por um grupo de pessoas celebres (intelectuais) que construíram junto algo em torno do possível.

Um significado ainda não explorado foi de que mesmo num ambiente inóspito é possível existir uma oposição mesmo silenciosa pronta no momento certo a se opor as atrocidades que normalmente são produzidas por estes regimes.

Para se buscar a tônica do que este governo e seu projeto político traziam em seu bojo cumpre relembrar:

“Uma ampla campanha de propaganda foi levada a efeito para disseminar os objetivos e ideais do regime. Com a morte do presidente alemão Paul von Hindenburg em agosto de 1934, Hitler assumiu os poderes da presidência. O exército fez a ele um juramento de lealdade pessoal. A ditadura de Hitler baseava-se em suas posições como Presidente do Reich (chefe de estado), Chanceler do Reich (chefe de governo), e Führer (chefe do Partido Nazista). Segundo o "princípio Führer", Hitler colocava-se fora do estado de direito e passou a determinar as questões políticas. Hitler tinha a última palavra tanto na legislação nacional quanto na política externa alemã. […] Críticas explícitas ao regime eram reprimidas pela Gestapo, a polícia secreta do estado, e pelo Serviço de Segurança (SD) do partido nazista, mas o governo de Hitler era popular. (http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005141)” (grifos nossos).

O poder acima do permitido por qualquer Estado Democrático de Direito deve ser temido. Não há quem possa acertar sempre e sozinho. Assusta e muito perceber o poder alcançado para liderar o Estado Alemão. Observando atentamente o ambiente criado para se apoderar desta força toda surpreende como foi possível ultrapassar os limites mínimos do razoável e mesmo assim ter o apoio popular. É certo que o tempo, e a guerra com suas perdas e gastos enormes foram vergando o povo alemão, criando uma insatisfação explorada por outros líderes. Mas em seus primeiros anos a frente do governo havia uma popularidade temerária, o que certamente possibilitou serem levada avante todas as ideias propagadas e o clima de superioridade da nação alemã.

“Nos primeiros meses da chancelaria de Hitler, os nazistas instituíram uma política de "coordenação"—o alinhamento dos indivíduos e instituições com os objetivos nazistas. A cultura, a economia, a educação, e as leis passaram ao controle nazista. (http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005141).”

A orquestração não passa despercebida, muito pelo contrário, ardilosamente os nazistas arquitetaram esse controle que seria fundamental para os passos que viriam a seguir ao regime. Tomando o controle da cultura, economia, educação e leis, o cenário estava mais que preparado para o controle absoluto e o domínio total. É notório que este trabalho foi feito cuidadosamente, sem demonstração inicial do seu real objetivo e muitas conquistas aparentes foram sendo frontalmente divulgadas pela imprensa que passou a ser um braço do novo governo. Conquistas no campo econômico e mudanças no cenário interno possibilitaram o discurso de Hitler se afinar ao sonho da Alemanha se tornar uma potência e independência no cenário mundial.

“Organizando várias intervenções na economia, com os chamados Planos Quadrienais, Hitler conseguiu ampliar as frentes de trabalho e reaquecer a indústria alemã. A rápida ascensão econômica veio seguida pela ampliação das matérias primas e dos mercados consumidores. Foi nesse momento que a teoria do Espaço Vital fora colocada em prática. Hitler, tornando-se um grande líder carismático e ardoroso estrategista […] (http://www.brasilescola.com/historiag/hitler.htm)”.

4. As lições a serem aprendidas deste regime

O mundo depois das atrocidades deste regime tem tentado e muito fugir da probabilidade do surgimento de um novo nazismo, mas o que temos observado de fato?

Oficialmente quase todos os Estados fogem destas características, mas no fundo boa parte dos governantes anseiam por poder ter todo controle em suas mãos, verem aplicados todos seus projetos, todas suas ideias e desejos. Os lampejos desta premissa se pode ver aqui e acolá, desde o chamado mais desenvolvido como o mais subdesenvolvido. É quase uma doença nos governantes este desejo megalomaníaco de poder.

Mas quais lições se podem tirar da história passada e presente?

A) O Papel real do Estado

 O Estado não pode e nem deve assumir o papel do trabalho, da mão de obra, ou seja, não pode ser assistencialista. Sua função é geração de trabalho, de escolas em todos os níveis, de moradia, de segurança, de cuidar da saúde através da construção de hospitais.  Foucault assim resume:

“[…]O Estado não é um monstro frio, é o correlato de uma certa maneira de governar. E o problema está em saber como se desenvolve essa maneira de governar, qual sua história, como ela ganha, como ela escolhe, como ele se estende a determinado domínio, como ela inventa, forma, desenvolve novas práticas – é esse o problema, e não fazer do [Estado], como no teatro de fantoches, uma espécie de policial que viria reprimir as diferentes personagens da história”. (Foucault, 2008: p.9).  (grifos nossos)

Entender qual o real papel do Estado é crucial para poder não ser levado a toda sorte de discurso distorcido sobre sua função. Prover recursos infinitos e ad eterno aos cidadãos do país não é papel natural. Sem conhecer esta função a população pode ser levada mesmo, numa democracia a estar em um estado que não prima pela liberdade, cumpre lembrar ser a criação de uma dependência da pessoa humana em relação ao Estado desenvolvendo a fraqueza e pior a indolência para se sair de um estado de necessidade para uma condição de independência financeira e, por conseguinte resgate social. É certo que para manipulação do Estado esse é o pior estado, sendo a dependência, a necessidade primal e total o melhor dos mundos.

A rigor entender a razão do Estado tem uma significância de entendimento a esta situação.

“A razão do Estado passa a ser a razão do povo; crescimento do Estado é o crescimento dos habitantes; a existência do Estado é a segurança de todas as pessoas; o governo do Estado passa a ser o governo de cada cidadão; e, com esta imagem impingida, o Estado pode programar as medidas que entender necessárias para tornar o governo com esse consciente coletivo, transmitindo a ideia de um governo democrático. Há uma prisão invisível, mais premente, onde os chamados cidadãos tornam-se uma espécie de livres-escravos sem, contudo, gozar plenamente da liberdade conceituadamente democrática.” (Duarte, 2014, p.25,26). (grifos nossos)

O perigo de se permitir a continuação, a perpetuação é estar sob a mira de falácias de manipulação da massa, viver sob a falsa égide da democracia e, no entanto, ser escravo da pior espécie, pois, imaginar ser livre e, no entanto estar na escravidão mental, financeira, e ideológica.  O Estado existe com uma finalidade não absoluta. Deve prestar contas do dinheiro que arrecada dos cidadãos, não pode, não tem este direito constitucional de usar e abusar daquilo que é público. Mas o que se vê em nossos dias é bem o contrário. A população recebe migalhas, e se contenta com elas, enquanto o Estado se banqueteia. A aparente liberdade é de o Estado agir como bem lhe aprouver e não os cidadãos terem direito de ver prestadas contas do uso da coisa pública.

Este hiato decorrente da forma errônea de conceber o Estado tem se misturado com a razão dele existir. A diferença de se viver numa democracia e ser participante da vida pública são de não se conceber a condição de súdito como dispõe a história do tributo, não é a toa que com esta atmosfera ainda monárquica, o Estado se entenda proprietário e todo poderoso da vida de seus cidadãos e, ainda entender não precisar ter que prestar contas do uso da coisa pública. A República surgiu no cenário mundial com a finalidade de dirimir esta e outras ideias e fomentar a razão de prestação de contas, de respeito com aqueles que pagam os tributos revertendo o uso destes recursos para a melhora da vida de toda população. Fugir deste ideal é fugir da razão de ser do Estado.

B) A presunção de onipotência do líder

O discurso autoritário perpassa por esta ideia maquiavélica de ser o líder onipotente e infalível na condução do país. Nada se afasta mais da verdade do que esta funesta ideia. A história tem sido pródiga em demonstrar que todos os líderes que se valeram desta premissa, se tornaram cruéis ditadores, implacáveis no trato da população e no abuso do poder. A República surgiu com o findo de acabar com a monarquia que tinha na figura do rei exatamente esta conclusão de todo poder, todo soberano, onipotente e infalível. O fim da monarquia se deu por estas razões e sucumbiu exatamente por ver falhas irreparáveis, excesso de gastos, menosprezo pela pessoa humana, desvalorização da vida em sociedade. Cumpre lembrar que tudo, absolutamente tudo girava em torno do rei e sua família, sem se quer se dar ao luxo de reparar na importância da vida humana dos chamados súditos. 

Na República não há súditos, mas cidadãos que tem autoridade democrática para estabelecer quem governa ou não o Estado através das urnas. Não pode e nem deve haver um poder perpétuo, a troca de poder a cada período de tempo (aqui no Brasil, a cada 4 anos) deve ser uma forma do povo demonstrar seu controle. Não permitir o não cumprimento dos ideais democráticos, como transparência nos negócios, prestação de contas, e o controle norteado pelo congresso, no sistema protetivo desenvolvido no sistema bicameral, onde o senado e câmara dos deputados federais se fiscalizam para evitar excessos. Daí estar no poder um só partido, que dominem as duas casas, o executivo, e as unidades federativas, o pior dos mundos, uma vez tolher a possibilidade de fiscalização.

O jogo democrático exige que o líder saiba de suas limitações, trabalhe entre as maiorias e minorias para melhorar a condição de vida de todos, sem beneficiar nem um e nem outro grupo, mas o todo. Para isso, o líder tem que ser um democrata, alguém que privilegie o diálogo, as diferenças como essenciais para o crescimento de toda nação.

C) A ousadia de onipotência do Partido

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A simples demonstração de ser um único partido portador de toda verdade, de todo conhecimento de toda sensibilidade para atender as necessidades do povo é o maior engodo já produzido nos liames da civilização moderna. Nada está mais longe de ser democrático do que esta ideia comezinha, pois é na multiplicidade das diferenças que se alcança o ideal democrático. O isolamento, a unicidade de poder deve ser sempre temido, pois a história tem sido pródiga em mostrar onde tais conceitos levam a população.

Nenhum partido pode concentrar todas as virtudes e todas as pessoas de boa índole para diminuir o fosso social. É uma ousadia conceber que tal coisa possa existir. Esta é marca registrada conforme narra os historiadores, de regimes que primam pelo absolutismo, pelo controle excessivo, pela ausência de democracia.

D) A lisura na liberdade da imprensa

Na instituição de um Estado Democrático de Direito a imprensa tem que estar livre para realizar seu papel de apresentar as notícias de forma isenta e sem tendência a esta ou aquela situação. Uma imprensa que tenha grande parte de seu financiamento do governo federal, e assim dependa do Estado, compromete seu papel de isenção e transmissora de informações.

O Artigo 220 da Constituição Federal de 1988 assim dispõe:

“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

II-

§ 5º – Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.

§ 6º – A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade”. (grifos nossos)

Como se pode extrair do texto legal toda intervenção, manobra, censura, ou proibição está vedada pela lei, a ponto de tal ato ser inconstitucional em sua nascente. Essa é uma garantia constitucional a ser exigida pela população para que os meios de comunicação responsáveis em retransmitir informação não sejam contaminados nem obstaculizados por meios ilegais.

Com estas premissas expostas cumpre observar as lições a serem desprendidas do que não pode acontecer num país com vocação para ser democrático. É fato que a história recente no Brasil tem demonstrado o contrário. Há mais períodos de ditadura, de excessos, de ausência de democracia, do que um Estado Democrático de Direito. É fácil observar que numa nação conquistada, e que não exerceu desde os primórdios seus direitos de ser libertada, que sofreu duros e sofríveis golpes ao longo de sua existência, é ainda muito superficial o conceito de democracia, de liberdade e de direito. É perceptível ser quase que incompreensível a extensão do que seja a democracia, sua forma de apresentação e a convivência pacífica com as divergências plurissubsistentes. Há ainda muito a aprender e desaprender para se chegar a uma democracia consistente.

Conclusão

Este ensaio busca demonstrar que não há fórmula mágica em nenhum partido político para disseminar a democracia, mas é perceptível o que não tem funcionado ao longo da história da humanidade.

A troca de partido mandatário no comando do governo executivo tem sido mais satisfatória ao invés da perpetuação de um só partido comandando todos os negócios do Estado.

O jogo político democrático tem que ser exercido pela prática do diálogo, das propostas coerentes e da boa prática da negociação. O assistencialismo, a prática do discurso populista, das manobras políticas, do engodo estratégico através da manipulação da imprensa é e deve ser algo abjeto a ser evitado a todo custo. Um país que pretende ser democrático não pode solapar direitos e garantias sob pena de se transformar em um regime totalitário.

Não há onipotência partidária como se vê apregoado nos regimes que ousam ser todo poderoso. Os partidos contribuem, mas não podem e nem devem ser alçados ao olimpo, serem deuses na forma de resolver questões sociais. É na multiplicidade e diferenças que se alcançam as melhorias necessárias. Não há fórmula mágica, há sim muito trabalho e desprendimento para perceber que todos fazem parte deste projeto e não só um partido, um líder ou, um modelo político.


Informações Sobre o Autor

Marcos Antônio Duarte Silva

Doutorando em Ciência Criminal UBA Mestre em Filosofia do Direito e do Estado PUC/SP Especialista em Direito e Processo Penal formado em Direito e Teologia Professor de Processo Penal e Direito Penal da Faculdade de Rondnia FARO Professor de Pós-Graduação da UNIJIPA pesquisador da PUC/SP e da CNPq


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