A vida não é mais a mesma, mas pode ser melhor

Resumo: Este artigo opinativo reflete sobre a vida cotidiana das pessoas com reflexão cíclica sobre a passagem das eras filosóficas na história, opinando pela proximidade do ponto de conflito e nova formação histórica diante das ações humanas atuais.

Palavras-chave: Filosofia- história da filosofia – conduta humana.

Abstract: This opinionated article reflects on the daily life of people with cyclic reflection on the passage of eras in philosophical history, theorizing by the proximity of the point of conflict and new historical formation before human actions today.

Keywords: Philosophy- history of philosophy – human conduct.

Não fui educado pela televisão como muitos de hoje são, abandonados defronte um aparelho eletrônico, seja ele o computador ou a televisão para que os adultos produzam… dinheiro. Sou do tempo em que os pais eram presentes, abdicavam um pouco de suas vidas profissionais para gozar do presente maior que é se ver no outro ser e reviver cada momento da sua juventude nos olhos daquela criança espelho.

Como dizia, meus pais eram bastante presentes na minha vida e de meus irmãos, participavam dos momentos mais coloquiais aos desbravamentos de um ser em pleno desenvolvimento físico e mental, seja o primeiro joguinho da escola, as primeiras palavras, os primeiros desenhos, as letras, até o diploma almejado da alfabetização, colegial e científico, hoje o ensino médio.

Meus pais nunca se fizeram de rogado quando era necessário dar um conselho, fazer uma reclamação, dar um incentivo ou até mesmo umas palmadas. Ensinaram os meus pais que tudo tem sua hora e sua vez e que devemos nos preparar para os dias de gozo e os dias de sofrimento.

Histórias como a do gafanhoto e da formiga, aquele não se prepara para os momentos difíceis e dilapida tudo o que vê e consome tudo o que tem ao seu redor como se não houvesse amanhã, enquanto que a formiga trabalha duro o ano inteiro para criar uma reserva e poder sobreviver nos períodos difíceis. Não precisa dizer que o gafanhoto só sobrevive na abundância, enquanto a formiga perdura até nos momentos difíceis.

Na vida é assim, sempre temos que pensar no futuro, afinal não só de abundância se vive, sempre temos os momentos desastrosos, casos fortuitos, intempéries da vida, quando as coisas parecem sair dos trilhos e para lá nunca pensam em retornar. Para quem acredita em crendices, pode ser uma quizila, um trabalho, uma macumba ou o que mais o valha, tudo para justificar o momento difícil quando nada dá certo.

A vida é uma eterna sucessão de situações inesperadas e as calculadas, mas sempre de forma nova, pois estamos sempre modificando a nossa visão de mundo. Aliás, esta é uma visão de mundo muito antiga, visão atribuída a um dos primeiros filósofos pertencente a escola pré- Socrática, o eterno Devir de Heráclito de Éfeso. Em sua concepção o mundo sempre estava modificando, sempre estaria para ser diferente, por isso seria impossível entrar no mesmo rio duas vezes, afinal as águas que outrora entrara eram passadas e mesmo o ser que adentrara no rio já modificara, envelhecera, mudara.

Da mesma forma que mudam as pessoas e as coisas, as gerações vão se sucedendo, mudando de foco, da forma de viver, a sua forma de pensar, melhorando para depois piorar. Sempre foi assim. Basta um simples olhar na história que sempre encontramos argumentos, aliás, os melhores argumentos para justificar a (melhorar) modificação de algo, para depois surgirem outros completamente contrários mas, entendam, com a mesma finalidade, melhorar  que está se vivendo para querer dias melhores.

Quando o homem deixou as cavernas e começou a valorizar o pensamento, surgiram novas formas de agrupamento, novas formas de viver em sociedade, novas formas de ver o outro. Este período foi evoluindo para a Grécia e Roma do período clássico, aquelas cidades que vemos nos filmes de Nero, Gladiador, Calígula, etc. Sociedades corrompidas, fúteis, consumistas, que valorizavam mais a imagem, o poder, do que o valor que cada um tem. Sociedades Imagem, sociedades onde as pessoas preteriam o conteúdo diante da forma que se apresente a coisa, sociedade que as pessoas deixavam de ser pessoas para ser coisas, instrumentos ou mercadorias para outras, ou seja, deixavam de ter importância, um mundo de aparências. Não era certo, tratar pessoas como se nada fossem.

Este mundo foi destruído… destruído por uma nova necessidade, a necessidade de enxergar o homem, o indivíduo, a pessoa que estava por trás daquela máscara. Destruído pelo próprio homem, da sua forma mais severa, a guerra, a dominação, a destruição da ilusão e a apresentação da realidade, da fragilidade humana, da crueldade que esconde dentro daquela falsa imagem de cordeiro. O ceticismo, o desencanto perdurou muitos e muitos anos, anos negros, anos em que o homem se esqueceu daqueles conceitos e foi em busca de outros e estes igualmente se solidificaram. A Era onde o homem, esqueceu de si e procurou em outro o seu valor, o valor que tem e quando deve ser respeitado.

Olhando o outro, seus: valores, vida, história, argumentos, poder, relação e a sua verdade. Acabou esquecendo de si, daquele instrumento que nos diferencia dos demais animais: a capacidade de pensar. Deixou então, o outro pensar por si, que lhe impusessem uma verdade, limites, pensamentos, valores e um destino.

Este mundo foi destruído…destruído pela necessidade do homem se enxergar, enxergar a si mesmo e a este dá a importância que lhe é cabido. Não era certo, nada estava certo, as pessoas não tinham mais valor, não se podia imaginar que algo metafísico fosse mais real que a própria realidade e que as pessoas vivenciavam e nada sabiam, pois só se preocupavam com o que não viam.

Novamente se apresentou uma proposta, um racionalismo, uma dedicação do homem em descobrir a realidade que está em sua volta e a ele mesmo, como disse René Descartes: “E, decidindo-me a não mais procurar outra ciência além daquela que poderia encontrar em mim mesmo, ou então no grande livro do mundo…” (DESCARTES, 1979, p. 33). O homem se deu valor, acabou se descobrindo e continua a cada dia mais se descobrindo. Só isto.

Ocorre que já estamos em um patamar que as pessoas não mais se cumprimentam, não se falam pessoalmente, apenas por um computador, telefone, televisão, etc. Mundo este onde há miséria, miséria profunda, aquela onde as pessoas não tem o que comer, dormir, vestir, como sobreviver, enquanto que o indivíduo que passa nem o nota no cantinho daquela esquina.

Não se engane, não é apenas este o único indivíduo invisível do mundo, pois as pessoas cada vez mais se deixam levar por uma aparente realidade de seu próprio mundo para ignorar as pessoas que estão a sua volta. Não pensem que me refiro aos mendigos, aos meninos de rua, aos menos privilegiados, falo sim dos outros em volta, daqueles bem próximos com os quais trabalho e não sei seu sobrenome, sua filiação, sua estirpe. Agora parece desnecessário, algo insignificante, mas será que sei quantos filhos tem, os problemas que passam , o nome dos filhos deste, as dificuldades que passam em sua vida, melhor, em seu mundo particular, em qual casamento está, onde se especializou naquela função, quais os planos futuros. Não sei nada sobre as pessoas que convivo. Aliás, a palavra “convivo” deve ser entendida como as pessoas com as quais compartilho minha vida, mas será que compartilho a minha vida com alguém? Estamos vivendo a nossa própria história, só esquecemos de contá-la aos outros de convidar os outros a participar dela.

Houve um grupo de pessoas que usavam de seus argumentos para convencer os demais, na verdade ensinar a quem pagasse saber: postar a voz, organizar os pensamentos, sistematizar as ideias com o fito de convencer o seu adversário, seu opositor. Este eram sábios, os chamados sofistas. Para estes não existia verdade inabalável, verdade absolutas, apenas verdades relativas ao indivíduo que a defende, aos interesses que este pretende alcançar. Pensadores que possibilitavam ferramentas para que as pessoas usassem para defender seu ponto de vista, valor, objetivo, comércio, partido e dominasse o adversário com ideias, suas ideias.

Nesta vida só estamos preocupados com nós mesmos, com o que devo fazer no amanhã e no agora, nunca o que quero fazer, o que espero usufruir, mas sempre com o que necessito lidar. Um mundo de liberdade extrema que acaba se tornando em uma prisão impossível de fugir. Impossível porque você mesmo é quem constrói as suas grades e levanta os seus muros com seus valores e perspectivas de mundo. Grades estas construídas com tijolos do conformismo com a realidade cruel, paredes com a cegueira imposta pela mídia e pela preguiça de pensar por si mesmo e deixar levar pelo que é melhor para si.

Sabe aquela história que uma mentira vai crescendo, crescendo até você não mais saber o que é a verdade? É assim que estamos, vivendo uma eterna mentira que não sabemos, onde, quando e como ela começou, não sabemos ao menos se é mentira.

Quando temos um desafio sempre usamos os nossos interesses acima de qualquer perspectiva coletiva, de olhar o outro, de respeitar o outro, afinal o que importa é que você ganhe com aquela situação. Daí pode imaginar as pessoas que fazem do trânsito o quintal da sua casa, ou quem faz do seu quintal o de seus vizinhos quando extrapola os limites da boa convivência em comunidade. A sociedade está cheia de exemplos nós sabemos, conhecemos pessoas assim.

Os pensamentos nem sempre são usados, muitas vezes nos deixamos levar pelas emoções, pelos instintos animais, esquecendo-se do nosso diferencial aos demais. Assim o é quando se discute no trânsito, diante de um jogo de futebol, diante de uma pretensa agressão a seu ser, em todos os casos podemos abandonar a reflexão adequada sobre o caso com a ponderação dos riscos, o respeito pelo indivíduo, a possibilidade de vitória e a importância do que está sendo objeto da celeuma. Muitos perdem a vida por uma partida de futebol, por um arranhão no carro, por um lugar mais próximo ao show, sem saber que aquilo poderá lhe custar o que tem de mais precioso, a vida.

Observando em uma perspectiva mais ampla e longínqua podemos olhar para as sociedades humanas como capital e ainda a natureza como déficit, olhamos as coisas naturais como se a nós pertencessem, somente a nós humanos, somente a nós vivos, somente a nós ricos, somente a mim. Não respeitamos a natureza, afinal eu mando, eu posso, eu uso, eu destruo, este é o lema, este é o senso comum, apesar de tantos alertas dos ambientalistas. Certo é que o mundo está sendo destruído, cada dia percebemos mais isto.

Junto com o mundo as pessoas também deixam de pensar, imaginar o que é possível, preferem se enclausurar em seus pensamentos, em seu próprio mundo, na sua mesmice segura de sempre.

A segurança impõe uma sensação muito boa de controle, domínio sobre a situação, só que… você não está.  O mundo está interligado, boa ação gera boa ação e o ódio também gera ódio.  Da mesma forma e com o mesmo raciocínio percebemos que o descaso gera descaso e que a indiferença gera a apatia.

Acontece que cada indivíduo dentro de seu mundo sempre percebe a sua fragilidade em algum momento em sua vida, daí ele quer ser percebido, amado, observado, cuidado, apoiado, acalentado, só que se esquece de olhar o outro, saber do outro, conquistar o outro. O mundo está esquecendo a maravilha de olhar no outro um amigo, um irmão, um igual.

As convenções estão aí para serem destruídas, pensa-se que um bom dia, um olá, um adeus lhe trará perda de tempo, que é inútil, afinal já perceberam que você chegou ou saiu. Imagina-se que tolerância é apara os fracos, que a paz é para os retardados e a educação para os desocupados. Ledo engano, não se conquista amigos com grosserias, não se conquista admiradores com má educação, não se conquista parceiros com a guerra, mas nós precisamos do outro e nos esquecemos disto.

Igual inteligência pode ser usada para o relacionamento do homem com a natureza, o poder da ciência em descobrir e dominar subiu a cabeça dos homens que saem sem controle em busca de todas as fronteiras possíveis, destruindo o que tem a frente em busca do mais vantajoso e lucrativo em detrimento do desconhecido, do que não é útil para a aquele momento. O homem destrói o mundo em busca de viver mais, de obter mais riquezas, de mais e mais, no agora, sem que exista um amanhã. Se você perguntar para quem destrói certamente ouvirá um discurso inflamado de progresso, de sobrevivência ou de patrimônio privado, esquecendo este que nossa constituição defende e impõe o uso adequado dos bens, da destinação social do patrimônio. Mas ele terá argumentos para lutar, para destruir, para argumentar sofisticamente o que é melhor para ele, tão somente ele. 

Esta individualização, este egoísmo, este cercado construído para delimitar o seu mundo, o mundo que vale a pena para o indivíduo está desatinadamente assolando o ser humano que deixa de pensar nos outros para poder gozar de si.  Na verdade, o outro não importa, o outro é apenas um indivíduo que está no caminho e que posso transpor sem muitas baixas. Na guerra é assim, pensa-se em indivíduos como números, em pessoas como peças de um jogo, em pessoas como objetos a seu dispor.

Nada mais importa, nada mais tem valor, somente aquilo que lhe está mais próximo e que lhe traga prejuízo imediato. Assim não o é ou mesmo a desgraça alheia a qual damos tanto valor e dedicamos parte de nossa existência na frente da televisão, nas conversas com as pessoas mais próximas e as desconhecidas com as catástrofes naturais, com os acidentes sanguinários, com as mazelas dos outros, mas no momento seguinte esquecemos de tudo, como se aquilo não mais fizesse parte de nossa vida e nossa história. De fato não o faz, fizeram acreditar, nos convenceram que era crucial, nos mobilizaram e … passou. Não mais importa, não mais me interessa, não mais quero saber, abusei, esqueci.

Nossa existência é a do descarte, do descarte do aparelho eletrônico que não lê o meu DVD para comprar outro, do descarte do bichinho de estimação, das pessoas que abusei e não quero mais vê-las, ou daquelas que aprendi tudo que ela tinha a ensinar e não me serve mais. A fugacidade da importância das coisas não mais nos faz imaginar uma forma de consertar, de reaproveitar, simplesmente se descarta.

A realidade aguerrida que estamos compartilhando em nossa realidade contemporânea nos induz a acreditar em um eterno jogo, jogo de valores e necessidades, jogo que busca pela vitória e, como em qualquer jogo, o campeão leva o prêmio, mas este prêmio fica e você passa.

Nada importa, nada tem mais valor, nada é comungado com as pessoas, ninguém merece a sua atenção, não há quem se preocupe consigo e você com eles. As pessoas são ignoradas, a natureza é saqueada e destruída, os instintos se sobressaem à razão, o egocentrismo infantil supera a boa convivência, a vida passa e os outros não mais fazem parte dela.

Sem profetizar, mas já dando o meu “pitaco”, posso dizer… Este mundo será  destruído…destruído pela necessidade do homem se enxergar, enxergar a si mesmo e a este dá a importância que lhe é cabido, pois novamente o mundo está esquecendo de pensar… pensar no outro, pensar no mundo, pensar em viver e em conviver.

Que tal começarmos a destruição, acabar com os valores errados, findar com a era da indiferença e valorizarmos as pessoas, respeitar o outro, agradecer cada dia compartilhado com seus amigos, parentes, vizinhos, iguais e diferentes, buscar a postergação da espécie, a salvaguarda da natureza e a sua recuperação, acreditar não só no hoje, no que tenho para fazer, mas principalmente no amanhã, no que pensar de melhor para o amanhã. Vamos conviver, vamos pensar.

Nossos pais, ou vocês pais, que tal produzir mais e mais, pessoas conscientes no seu papel na sociedade, da sua importância para o mundo e do mundo para ela, seres que respeitam os outros seres, sejam eles, brancos, negros, amarelos, vermelhos, rosas, azuis, o que forem, a cor não importa, o saldo da conta não importa, são pessoas como nós; pais que tal pararmos para que os adultos produzam… outro ser melhor… outra sociedade melhor… outro mundo melhor?

 

Referências:
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Informações Sobre o Autor

Arthur da Gama França

Advogado na Paraíba


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