A Violência Contra a Medicina

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Autor: Renato de Assis Pinheiro

Geralmente a violência é precedida por ameaças e outros sinais, que são ignorados  pelas pessoas, e até mesmo pelas vítimas. 

“Direito e Saúde”  

Na manhã de ontem, a classe médica foi profundamente impactada por mais um caso  grave de violência: o assassinato do médico Edvandro Gil Braz, esfaqueado sete vezes  enquanto trabalhava em uma unidade de saúde. O motivo? Um suposto mal  atendimento prestado à ex-esposa do criminoso mais de dois anos atrás. O Clínico  Geral, que dedicava quase 20 anos de sua vida ao serviço público em Douradina, era  concursado no município e muito querido pelos pacientes, que o chamavam  carinhosamente de Dr. Braz. 

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O autor do crime, um usuário de drogas e dependente químico, teria premeditado o  assassinato, amadurecendo por mais de dois anos sua intenção de vingança. Detido e  interrogado, ele alegou que o atendimento prestado pelo médico teria causado um  aborto na ex-esposa. As autoridades agora buscam o prontuário médico para averiguar  se há alguma veracidade da acusação. 

Embora ainda faltem informações concretas sobre o caso, algumas reflexões já se  impõem. 

A primeira delas é que a violência contra médicos e profissionais da saúde não é  tratada com a seriedade que merece, pelas autoridades. Esse descaso cria um  ambiente em que episódios como esse se tornam cada vez mais frequentes. A  precariedade na saúde pública alimenta a insatisfação dos pacientes, que  frequentemente direcionam sua ira aos médicos — também vítimas do sistema,  presos às limitações estruturais e operacionais. Trata-se de um ciclo vicioso, que não se  resolverá sozinho. 

Em segundo lugar, é fundamental que os médicos fiquem atentos a sinais de ameaças.  Não faço essa observação apenas com base neste caso, sobre o qual pouco ainda se  sabe, mas em muitos outros que acompanhei ao longo de mais de 15 anos de atuação  na defesa médica. É difícil acreditar que, dois anos após o ocorrido, o criminoso tenha  simplesmente se levantado da cama e decidido buscar vingança, sem apresentar sinais  prévios. É provável que ameaças ou comportamentos suspeitos tenham sido ignorados  por pessoas ao seu redor, e até mesmo pela vítima. 

Lembro de um caso semelhante envolvendo um cliente, um médico que, após a morte  de uma paciente menor de idade em suas mãos, passou a receber ligações anuais do  pai da jovem. Todos os anos, na data em que a filha completaria mais uma primavera, o  homem ameaça matar os filhos do médico para que ele “sinta a mesma dor”. Apesar  de meus insistentes apelos para que ele denuncie as ameaças e busque uma Ordem de  Restrição (medida protetiva que visa garantir a segurança e o bem-estar de uma vítima 

de violência, ameaça ou assédio), o médico insiste em adotar uma postura que diz ser  “empática” em relação à dor do pai, e não toma as atitudes legais que deveria.  

Portanto, este caso precisa servir de alerta a todos os médicos. Ignorar ameaças reais  não é empatia; é negligência consigo mesmo e com aqueles que dependem de sua  segurança. Nossa justiça tem limitações, mas quando sequer é acionada, torna-se  completamente ineficaz. 

O terceiro aspecto a ser considerado é a importância de promover um atendimento  médico humanizado, como forma de prevenir crises e tensões desnecessárias entre  médicos e pacientes. Não digo isso por acreditar que este fator motivou o homicídio  em questão, ou que o justificaria de alguma forma — nenhuma violência é justificável.  Mas minha experiência com centenas de casos análogos mostra que muitas crises  entre médicos e pacientes poderiam ser evitadas com um atendimento mais empático. 

Vivemos tempos estranhos, em que as emoções das pessoas estão cada vez mais à flor  da pele, ocasionando comportamentos e reações completamente irracionais, pelos  motivos mais insignificantes. Em questões tão sensíveis como saúde e vida, evitar  atritos deve ser a nossa prioridade. Afinal, de que adiantaria estar certo, mas morto? 

Gostaria de acreditar que o responsável por esse crime irá cumprir uma pena longa,  mas creio que isso dificilmente acontecerá. Também desejaria que as autoridades  reconhecessem a urgência de melhorar as condições de trabalho para os profissionais  da saúde pública, mas, infelizmente, já estou cético quanto a isso. Gostaria de acreditar  que os meios de comunicação e a sociedade irão reavaliar a cultura de hostilidade  contra a classe médica, que não apenas desrespeita os profissionais, mas também  incentiva comportamentos violentos. Contudo, também não tenho grandes  expectativas neste ponto. 

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Sendo bastante realista, minha verdadeira esperança é que após mais essa tragédia, os  médicos compreendam que os riscos que enfrentam são reais, que ameaças não  podem ser subestimadas, e que proteger suas vidas e as de seus entes queridos deve  ser sempre a prioridade. 

Renato Assis é advogado há 18 anos, especialista em Direito Médico e Empresarial,  professor e empresário. É conselheiro jurídico e científico da ANADEM. Seu escritório de  advocacia atua em defesa de médicos em todo o país. 

Site: www.renatoassis.com.br
Instagram: renatoassis.advogado

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