A violência nas escolas

Resumo: Sabe-se que a ocorrência de violência nas escolas é um acontecimento antigo. A concentração da população humana cada vez maior nas cidades facilita para a expressão dessa violência. Polícia ineficiente, pobreza, má distribuição de renda, desemprego e alta evasão escolar. Esses fatores contribuem para o aumento da violência. A escola não ficou de fora desse fenômeno. Este trabalho visa identificar a origem da violência nas escolas, quais são as causas, o que se pode fazer e como enfrentá-la.

Palavras-chave: escola, violência, família, sociedade e alunos.

Abstract: We know that the occurrence of violence in schools is an old event. The concentration of human population increasing in the cities to facilitate the expression of violence. Police inefficient, poverty, unequal income distribution, unemployment and high school dropout. These factors contribute to increased violence. The school was not out of this phenomenon. This work aims to identify where it comes to violence in school, what causes them, what can you do and how to address it.

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Keywords: school, violence, family, society and student

Sumário: Introdução. 1. A origem da violência nas escolas. 1.2 Quais os fatores da violência.1.2.1 A violência e a escola pública. 1.3 O que fazer. 1.4 Uma experiência de sucesso. 1.5 Resultados. 1.6 A violência na escola: como enfrenta-la? Conclusão. Referências.

Introdução.

Sabe-se que a ocorrência de violência nas escolas é um acontecimento antigo. A concentração da população humana cada vez maior nas cidades facilita para a expressão da violência. Polícia ineficiente, pobreza, má distribuição de renda, desemprego e alta evasão escolar. Esses fatores contribuem para o aumento da violência. A escola não ficou de fora desse fenômeno. Os comportamentos violentos na escola têm uma intencionalidade lesiva. Podem ser exógenos, ou seja, determinados de fora para dentro, como acontece nos bairros degradados invadidos pela miséria e pela toxicodependência, onde agentes estranhos ao meio o invadem e destroem; pode tratar-se de violência contra a escola, em que alunos problema assumem um verdadeiro desafio à ordem e à hierarquia escolares, destruindo material e impondo um clima de desrespeito permanente; ou são simplesmente comportamentos violentos na escola, que ocorrem, sobretudo quando esta não organiza ambientes suficientemente tranquilos para a construção de valores característicos a este local. A violência pode ser desencadeada fruto de muitas situações de indisciplina que não foram resolvidas e que constituem a origem de um comportamento mais agressivo. Mas, é preciso identificar a origem da violência na escola, quais são suas causas, o que se pode fazer para evitar as ocorrências e como enfrenta-la.

1. A origem da violência nas escolas.

Para muitos pais, alunos e profissionais de educação, a violência vem de fora da escola. Ou seja, a escola é vista como uma vítima de “maus elementos” que a atacam, depredam e roubam. No entanto, a escola também produz a violência no seu cotidiano. É uma violência sutil e invisível, que se esconde sob o nome de “evasão”. É inconscientemente promovida pelos próprios educadores através de regulamentos opressivos, currículos e sistemas de avaliação inadequados à realidade onde está inserida a escola e medidas e posturas que estigmatizam, discriminam e afastam os alunos.

O ambiente escolar soma mais algumas à série de violências que pesa sobre a vida das crianças e jovens que frequentam a escola pública. Muitas vezes, a escola diz-se neutra, universal e com valores próprios. Essa “neutralidade” acentua e dissemina valores estranhos àqueles que ilustram o cotidiano das crianças pobres, que vêem seus hábitos e jeito de falar reprovados. Ao inferiorizar os alunos pobres, a escola lhes ensina a resignação frente ao fracasso. Quando os alunos deixam a escola, expulsos pelos mecanismos de evasão encaminham-se para a outra parte do ciclo: o trabalho mal remunerado em subemprego, as casas de resocialização para menores infratores e os presídios.

Quase sempre, a violência não é um ato gratuito, mas uma reação àquilo que a escola significa ou, ainda pior, àquilo que ela não consegue ser. A maioria das ocorrências de violências nas escolas são praticadas por alunos ou ex-alunos. Ou seja, muito raramente são “elementos estranhos” que atacam a instituição. Há uma diferença qualitativa entre os diversos tipos de “atos de violência” que chegam à direção das escolas. A gravidade das situações é variável e os efeitos das providências tomadas podem ser muito sérios. Os envolvidos, em geral, são alunos ou jovens expulsos indiretamente através dos mecanismos de evasão. Por isso, é importante que a escola se volte para estes jovens, buscando a sua reintegração na condição de alunos ou de usuários de espaços e serviços oferecidos à comunidade.

1.2 Quais os fatores da violência.

1.2.1 A violência e a escola pública.

Independente de qualquer controvérsia sobre a questão da violência, seria cinismo não perceber o quanto a pobreza contribui com os índices de violência. A própria situação de pobreza já é uma violência das mais cruéis vividas por camadas da população. Yves Michaud, quando se refere a esse tipo de violência a denomina de violência da vida. Segundo ele:

“… sejam quais forem as melhorias recentes, a vida das classes populares é sempre mais terra a terra que a dos outros grupos sociais: a sujeira onipresente, a promiscuidade, o aperto da moradia já foram suficientemente descritos”.

Já foi suficientemente descrita também a enorme desigualdade social existente em nosso país. O Brasil ocupa o segundo lugar mundial nos índices de concentração da renda e de má distribuição da riqueza, mas ocupa o oitavo lugar em termos do Produto Interno Bruto. Essa desigualdade -2% possuem 92% da renda nacional, enquanto 98% possuem 8% dessa renda – não é percebida como socialmente inaceitável, mas natural e normal”. Não estaria ai a causa primeira de tantos males brasileiros?

A violência estrutural rouba da criança e do adolescente a sua infância. Ela está manifesta nos alarmantes indicadores da exploração sexual comercial de adolescentes, sobretudo em capitais nordestinas; na presença denunciadora dos meninos e meninas em situação de rua; na brutalidade da violência policial e na tácita violência familiar; no trabalho infantil e escravo; na mortalidade infantil e na falta de saúde; na exploração pelo tráfico de drogas; no vergonhoso índice de analfabetismo e evasão escolar.

A violência contra crianças e adolescentes nos centros urbanos é um fenômeno complexo que se expressa em vária facetas: o convívio familiar, na relações de gênero e etnia, nas relações de trabalho, no convívio escolar. Está presente, portanto, nas famílias, nas ruas, nas instituições de ensino.

A dura realidade de pobreza vivida pelas crianças e adolescentes nas periferias urbanas constitui-se num grande viveiro da violência. Contudo, a pobreza não pode ser vista somente do ponto de vista sócio-econômico, existem também a “pobreza cultural”, a “pobreza de mentalidade”, a “pobreza de valores humanos”, a “pobreza de conhecimento”. Trata-se, portanto, também de uma questão cultural e ética. Nesse sentido é que vemos a banalização da vida e a brutalidade das relações humanas.

A situação de risco pessoal e social de crianças e adolescentes é marcadamente mais acentuada nas periferias, geralmente constituídas sem planejamento urbano, fruto de ocupações irregulares. Nessas localidades a falta de perspectivas de futuro e oportunidades no mercado de trabalho, aliado a ausência de espaços e programas de cultura, lazer e esporte, tornam, sobretudo os adolescentes e jovens bastante vulneráveis ao universo das drogas e da criminalidade.

Por sua vez, também a instituição escolar historicamente é autora de violência contra criança e adolescentes. Num passado não tão remoto, o uso da violência física fazia parte do processo pedagógico, sendo considerada uma atribuição legítima da autoridade do professor. A palmatória e os castigos físicos são expressões desse fazer pedagógico.

Podemos citar outras causas como:

a.    A Família. É neste núcleo que as crianças e jovens adquirem os modelos de conduta que exteriorizam. A pobreza, violência doméstica, alcoolismo, toxicodependência, promiscuidade, desagregação dos casais, ausência de valores, detenção prisional, permissividade, demissão do papel educativo dos pais, etc., são as principais causas que deterioram o ambiente familiar. Normalmente, os indivíduos que vivem estas problemáticas familiares são sujeitos e alvos de violência. Há famílias que participam diretamente na violência que ocorre nas escolas. Impotentes para lidarem com a violência dos seus descendentes, acusam os professores de não educarem os seus filhos, instigando a agressividade e, em extrema instância tornam-se eles mesmos violentos, agredindo os professores e funcionários;

b.    Os alunos. O que faz com que um aluno exerça violência? Muitas vezes a raiz do problema está na educação. O jovem apresenta problemas que deveriam ser direcionadas para a saúde mental infantil e adolescente, para a proteção social ou até judicialmente. O cerne da questão é que muitas escolas tentam resolver os problemas para os quais não estão preparadas e que não são da sua competência. Na verdade, todos os alunos são potencialmente violentos, sendo a escola sentida como uma imposição por parte da família ou do Estado. Porque os alunos estão contrafeitos, as aulas são para eles locais de constrangimento e de repressão de desejos. Alguns alunos conformam-se e conseguem permanecer na escola sem fazerem grandes distúrbios. Outros se revoltam contra as normas estabelecidas, a autoridade dos professores e insurgem contra os professores e colegas como ato de poder e robustez física.

c.     Os grupos e turmas. Conjunto estruturado de indivíduos têm importância nos processos de socialização e de aprendizagem nos jovens. Influenciam certos comportamentos que os adolescentes demonstram, sendo o resultado de processos de imitação de outros membros do grupo. Em certas manifestações públicas de violência, os jovens procuram obter segurança, respeito e prestígio pela restante comunidade escolar. Numa sociedade onde os grupos familiares estão cada vez mais desagregados, este vazio é preenchido por estes grupos formados a partir de interesses e motivações diversas.

d.    A escola. No passado, e ainda hoje alunos com menos capacidades intelectuais são estigmatizados, esquecidos no fundo das salas de aula. Ao fazê-lo, criam focos de revolta por parte daqueles que legitimamente se sentem marginalizados. A escola de hoje, que se auto-intitula de inclusiva, não o é de fato.

“A este propósito Jacques Delors (1996: 48) aconselha “aos sistemas educativos a não conduzirem por si mesmos, a situações de exclusão. O princípio de emulação, propício em certos casos, ao desenvolvimento intelectual pode (…) ser pervertido e traduzir-se numa prática excessivamente seletiva, baseada nos resultados escolares. Então, o insucesso escolar surge como irreversível, e dá origem, frequentemente, à marginalização e exclusão sociais.”

Na realidade as escolas não estão preparadas para enfrentar a complexidade dos problemas atuais, designadamente os que se prendem com a gestão das suas tensões internas. A crescente participação dos alunos, pais, entidades públicas e privadas nas decisões tomadas nas escolas, tornou-se uma fonte de conflitos e não raramente terminam em situações de descontentamento e de agressividade. As associações de pais, quando funcionam, encaram muitos dos professores como incompetentes que  se aproveitam de todas as ocasiões para se furtarem às aulas e recorrerem à atestados de saúde alegando enfermidade, para não terem que enfrentar os alunos e os problemas do cotidiano escolar.

1.3  O que fazer.

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Não é fácil erradicar a violência da sociedade. Por serem suas causas complexas e de caráter estrutural, não está ao alcance do governo municipal eliminá-la das escolas ou de qualquer outro lugar. No entanto, é possível e necessário controlar alguns dos mecanismos que a geram, reduzindo seus efeitos.

Democratizar a escola é a linha central de todas as intervenções para diminuir a violência em seu ambiente. A mudança na prática do sistema de ensino deve levar à eliminação das barreiras – muitas vezes não percebidas – entre os alunos e a escola, entre a comunidade e a escola. Num trabalho que envolve ações de curto, médio e longo prazos de maturação, as violências geradas pelo próprio sistema escolar devem ser questionadas e subvertidas pelos seus atores.

A democratização do acesso à escola não deve ser vista só como a extensão do atendimento escolar (aumentando o número de vagas, por exemplo) ou mesmo a criação de condições materiais para a fixação do aluno. A democratização deve ser encarada de forma mais abrangente, significando, também, a mudança das relações internas e da estrutura de funcionamento da instituição escolar, valorizando e estimulando em seu interior a presença dos alunos marginalizados pela sociedade.

Assim, para atacar o problema da violência nas escolas, o primeiro passo é situá-lo dentro de sua esfera de complexidade. A violência na escola é diferente da violência nas ruas: insere-se no meio escolar, alimenta-se da sua dinâmica e de seus vícios. Soluções policialescas não resolvem. É claro que, se for necessário, deve-se colocar vigias, gradear janelas, etc. Mas estas medidas terão pouca eficácia se não forem acompanhadas de outras, que resolvam o problema em seus aspectos sociais e pedagógicos. Para isto, é necessário trabalhar com os profissionais de educação (tanto professores como servidores operacionais), com os alunos, com a comunidade e com a polícia, procurando estabelecer uma compreensão mais ampla da violência, como fenômeno social que possui uma face visível e muitas outras invisíveis. Para consolidar esta nova compreensão da violência é preciso um esforço de repensar a escola tanto interna quanto externamente, em suas relações com o ambiente em que se encontra.

Como a escola depende do que está à sua volta, o entorno deve ser sempre considerado. Se a escola estiver integrada a ele, abrindo o seu espaço – privilegiado e valorizado – não só aos alunos, mas ao oferecimento de soluções para problemas e necessidades da região, ser mais respeitada pela comunidade onde se insere.É importante promover atividades comunitárias e o uso das instalações para eventos ou para o lazer dos moradores das imediações, contando com a participação e o envolvimento dos diretores, professores e outros profissionais, levando-os a substituir o medo por novas posturas que contribuam para a superação de uma mentalidade violenta.

1.4 Uma experiência de sucesso.

Em São Paulo, tornaram-se cotidianas as reclamações das escolas contra atos de violência. Na gestão 1989 – 1992, convencida de que as medidas tradicionais (gradeamento, vigilância e policiamento) não eram suficientes nem atingiam pontos centrais do problema, a Secretária de Educação criou o “Projeto Pela Vida, Não à Violência”. O projeto foi desenvolvido por equipes regionais, auxiliadas por uma equipe de apoio multidisciplinar, composta por assistentes sociais, psicólogos, educadores e advogados. Focando seu trabalho na concretização da cidadania, o projeto assumiu como procedimentos básicos:

A)    Ouvir todos os segmentos envolvidos, em especial aos alunos,

B)    Explicitar as contradições existentes

C)    Trabalhar as contradições internas,

D)   Trabalhar as relações humanas,

E)    Organizar comissões para aprofundar as discussões sobre violência e sobre a segurança possível.

F)    Abrir as escolas para dentro e para fora;

G)   Fazer funcionar efetivamente as estruturas democráticas escolas.

Sua atuação materializou-se através de atividades que tiveram como centro a abertura de uma discussão sobre violência com alunos, pais, professores e outros profissionais da educação. Foram promovidos cursos e debates sobre temas como direitos humanos, preconceitos. Estatuto da Criança e do Adolescente e drogas, entre outros. O Projeto “Pela Vida, Não à Violência” procurou utilizar e absorver as expressões culturais da juventude da periferia, como a música rap, procurando criar uma visão de escola que também funcione como centro de eventos que digam respeito à comunidade.

Também foi levada em conta a importância de formar vigias e pessoal operacional (serventes, merendeiras, etc.), dentro do conceito de que todos os trabalhadores em educação têm responsabilidade sobre a formação dos alunos, inclusive nas questões relacionadas à violência. O projeto criou, ainda, um espaço reservado exclusivamente aos professores, atendendo sua demanda em temas por eles propostos como medos e dificuldades de relacionamento.

1.5 Resultados

A experiência do Projeto “Pela Vida, não à Violência” mostrou que é possível administrar a violência, mantendo-a em patamares que ofereçam em mínimo de tranqüilidade para o funcionamento da rede pública de educação. Os métodos adotados pelo projeto permitiram que se ampliasse o elo da escola com a comunidade em atividades como reforma da escola em multirão, abertura da escola em fins de semana para atividades culturais, esportivas e comunitárias, curso de primeiros socorros e debates sobre temas de interesse da comunidade relacionados à violência.

A partir da ampliação da ligação com a comunidade, as queixas de violência foram reduzidas. Em muitos casos foi possível combater a cultura da violência que a miséria e o abandono pelo Estado vão implantando. Em uma escola, por exemplo, onde os alunos da 4ª série fizeram um abaixo-assinado em defesa da pena de morte, o projeto realizou uma discussão de esclarecimento com as crianças e adultos envolvidos na iniciativa.

O projeto conseguiu avanços na integração de crianças e jovens afastados da escola pelos mecanismos de exclusão. Não só puderam participar de atividades no espaço (fanfarra, painel de exposição de trabalhos, sala de leitura aberta a jovens da comunidade) como receberam orientações nas questões relativas a trabalho. Para parte desses alunos, encaminhou-se o seu retorno à escola.

O projeto alcançou, também, resultados positivos na discussão com professores e alunos dos problemas relacionados ao alcoolismo e consumo de drogas, que normalmente apresentam relação com a violência. O projeto “Pela Vida, Não à Violência” integrou-se numa política de educação pública que buscou modificar a visão e as práticas tradicionais do sistema escolar brasileira. Esta inserção numa política global, privilegiando o desenvolvimento da cidadania, foi fundamental para o êxito do projeto.

Conclusão

Percebe-se a importância da busca de resoluções para a diminuição da violência nas escolas. É interessante observar que iniciativas estão sendo tomadas. A sociedade esta sofrendo significativas transformações e a escola não pode ignorar que os conflitos e problemas sociais existem, e por isso, a adaptação à nova realidade é extremamente importante. A escola entendeu que nesse novo contexto de sociedade o seu papel na vai muito  além de educadora, mas também de formadores de cidadãos.

 

Referências
ABRAMOVAY, Miriam. ETAL.Gangues, galeras, chegados e rappers – juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. Rio de janeiro: Garamond, 1999.
MICHAND, Yves. A violência. Ática, 1995
NOLETO, Marlova Jovchelo Vitch (Coord). Abrindo espaços: educação e cultura para a paz. Brasília: UNESCO, 2001.
JORNAL CORREIO BRASILIENSE, caderno: Cidades pg. 27. De 11 de maio de 2005.

Informações Sobre o Autor

Yara Gonçalves Emerik Borges

Graduada em Direito pela Faculdade Anhanguera de Brasília


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