Adolescentes e construção do projeto de vida: apontamentos a partir da realidade de Ponta Grossa-PR

Resumo: O presente artigo tem como objetivo discutir sobre  os fatores que influenciam na construção do projeto de vida de adolescentes que vivem em comunidades carentes do núcleo Borsato, Ponta Grossa-PR, Brasil. O interesse pelo tema surgiu pela relevância teórica e prática do tema que cada vez mais atormentam nossos adolescentes, questões como futuro e projeto de vida emergem cada vez mais no cotidiano de nossos jovens, tanto por pressões impostas pela família, pela sociedade e por eles mesmos. É um momento de construção de sujeitos, de formação de identidade, devido a isso, a construção de um projeto de vida consciente por parte dos adolescentes se faz necessária, as escolhas tomadas por eles agora irão refletir na sua vida futura. É importante entender como se dá este processo de construção e quais fatores influenciam, para que futuramente possamos desenvolver ações, que visem ajudá-los no seu amadurecimento tanto psicológico como social. Foram entrevistados oito jovens moradores e da região e bolsistas do Programa Atitude. Os procedimentos metodológicos utilizados foram pesquisa bibliográfica e documental, entrevista individual semi estruturada e por final a analise de discurso. Os dados obtidos demonstram que o item mais valorizado é o estudo, este é visto como um meio de se conseguir um bom trabalho, e com isso posteriormente poder construir uma família.

Palavras chaves: Projeto de vida, representações sociais, adolescentes.

Abstract: This article aims to discuss the factors personal, professional and social influence in the construction of the life project of teenagers living in poor communities of the nucleus Borsato, Ponta Grossa-PR, Brazil. Interest in the topic arose by the theoretical and practical relevance of the theme that increasingly bedeviling our adolescents, issues such as future and life project increasingly emerge in daily life of our young people, both by the pressures imposed by family, by society and by themselves. It is a time for construction of subject, identity formation, because of this, the construction of a project of conscious life of adolescents is required, the choices taken by them now will reflect on his future life. It is important to understand how this construction process and what factors influence, so that in future we can develop actions, which aim to help them in their maturation both psychological and social. Eight young people were interviewed and residents of the region and Fellows of the programme approach. The methodological procedures used were the documentary and bibliographic research, individual semi structured interview and final analysis of discourse. The data obtained shows that the item more valued is the study, this is seen as a means of achieving a good work, and subsequently be able to build a family.

Keywords: life project, social representations, teenagers.

INTRODUÇÃO

O presente artigo objetiva refletir sobre a construção do projeto de vida e as visões acerca do futuro de adolescentes que vivem em comunidades carentes do núcleo Borsato, na cidade de Ponta Grossa, Brasil[1].

O interesse por pesquisar este tema surgiu a partir de um trabalho desenvolvido na região, a mais de um ano, pelo Projeto Atitude, uma iniciativa da Secretaria Estadual da Criança e da juventude do Paraná em parceria com o Município de Ponta Grossa.

Com o decorrer do trabalho, questões como futuro, projeto de vida, mercado de trabalho, inclusão social, possibilidades, desafios e limitações quanto ao que ser na vida, quanto ao sonhar, foram surgindo, e com isto foi constatado a necessidade de se pesquisar algo que abarcasse estas questões tão importantes e presentes no dia a dia dos adolescentes atendidos pelo programa. 

Os principais questionamentos feitos são em relação a como os adolescentes tem pensado o seu futuro, em termos pessoal, profissional e social; quais fatores influenciam na criação do projeto de vida, procurando identificar se já possuem um projeto ou estão numa fase de construção. Levantando também como os adolescentes pensam as adversidades sociais do contexto em que estão inseridos, e como estas adversidades interferem nos seus projetos futuros. E quais as representações sociais, de projeto de vida e futuro, destes adolescentes.

A presente discussão  apresenta relevância por se tratar de um tema que cada vez mais atormenta nossos adolescentes: “o que quero para minha vida?”, questões como futuro e projeto de vida emergem cada vez mais no cotidianos de nossos jovens, tanto por pressões impostas pela família, pela sociedade e por eles mesmos.

É um momento de construção de sujeitos, de formação de identidade, devido a isso, a construção de um projeto de vida consciente por parte dos adolescentes se faz necessária. As escolhas tomadas por eles agora iram refletir na sua vida futura. É importante entender como se dá este processo, para, a partir daí, termos um norte para as ações futuras, em prol do seu amadurecimento tanto psicológico como social.

Para realização de tal estudo foi optado pela realização de entrevistas individuais, semi estruturadas, este tipo de pesquisa consiste segundo Britten (2005, pg.22) “em questões abertas que definem a área a ser explorada, pelo menos inicialmente, e a partir da qual o entrevistador ou o entrevistado podem divergir a fim de prosseguir com uma idéia ou uma resposta em maiores detalhes.”

Foi estruturado de um roteiro de entrevista constando algumas falas indutoras, possibilitando ao adolescente expressar-se livremente, e assim, ampliar as possibilidades de resposta, acerca de questões como seu projeto de vida e seu futuro (anexo).

A entrevista foi realizada em um local tranqüilo e silencioso, tentando-se evitar o máximo de interrupções externas, com duração aproximada de 40 minutos, e foi gravada a partir do consentimento por escrito do entrevistado.

Durante a entrevista permanecia no local apenas o participante e a pesquisadora. Primeiramente explicitavam-se os objetivos da pesquisa, bem como, a necessidade do uso do gravador. Era garantido o anonimato e a confidencialidade das respostas, sinalizando que estas seriam analisadas em conjunto.

Paralelamente a pesquisa qualitativa foi realizada constantemente durante todo o trabalho uma pesquisa bibliográfica, para embasamento teórico do tema, com vista, a fundamentar a discussão acerca do tema escolhido.

Dentro desse universo de atuação do Programa Atitude, os adolescentes foram os sujeitos da nossa pesquisa. Estes foram selecionados num numero de oito adolescentes de 14 a 23 anos, que fosse bolsista do Programa Atitude, ou também denominado agente de cidadania, que tivesse uma participação assídua em pelo menos uma atividade do programa, sendo quatro do sexo feminino e quatro do sexo masculino, que estivessem estudando ou já tivessem concluído os estudos. Residente na comunidade do Borsato ou adjacências, em áreas atendidas pelo programa.

Foram realizadas oito entrevistas com duração aproximada de 30 minutos, que foram gravadas na integra a partir do consentimento escrito dos participantes, estas entrevistas foram totalmente transcritas e analisadas posteriormente.

Para caracterização do universo de pesquisa utilizou-se análise documental. Considera-se documentos “quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano” (Phillips, apud Ludke e Andre. 1986, p. 38). Os documentos analisados foram as planilhas de dados da Secretaria de Saúde e o Diagnóstico do Núcleo Borsato realizado pela equipe do Programa Atitude.

Para a análise do material foi utilizado a análise de discurso, que tem por objetivo ir além da compreensão imediata e interpretar o sentido das falas, levando em conta não só o que foi dito no momento, mas também a relação disso com o que já foi dito anteriormente e até mesmo com o não-dito e com o contexto social e histórico do sujeito da pesquisa.

Tentou-se construir um paralelo entre a teoria levantada na pesquisa bibliográfica com os dados obtidos nas entrevistas, a partir, da analise do discurso presente.

A analise dos dados foi realizada com base nas informações obtidas nas entrevistas, e na experiência de trabalho de quase dois anos da pesquisadora como psicóloga do Programa Atitude, onde já acompanha a comunidade do Borsato e os adolescentes participantes da pesquisa desde junho de 2009.

Analisamos as respostas dos sujeitos que correspondem as categorias definidas, traçando em um primeiro momento o perfil dos entrevistados, em um segundo momento analisamos o que foi trazido durante as entrevistas a respeito de algumas questões como projeto de vida, futuro, sonhos, estudos, trabalho e comunidade, buscando co-relacionar as informações obtidas de cada um com o respaldo teórico que embasou a construção desta pesquisa.

Foram entrevistados 8 adolescentes e jovens com idade entre 14 e 23 anos, 4 do sexo feminino e quatro do sexo masculino, residentes em regiões atendidas pelo Programa atitude, núcleo Borsato.

Dadas informações introdutórias sobre este estudo, parte-se então a desenvolver o conteúdo ao qual nos propomos neste artigo.

PROJETO DE VIDA NA ADOLESCENCIA E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A criança ao passar para a fase da adolescência e juventude se depara com muitas transformações, tanto em seu corpo como em sua forma de agir e pensar, há uma modificação em sua personalidade. Ocorrem também, brutais transformações em suas relações sociais. O adolescente está se firmando perante a sociedade como pessoa, como sujeito munido de direitos e deveres, esta passando por um processo de formação de identidade que vem a ser segundo Sprinthall & Collins (2003, p. 202) “A formação da identidade é encarada como um processo integrador destas transformações pessoais, das exigências sociais e das expectativas em relação ao futuro.”

 O adolescente tem vários sonhos e desejos, anseia por respostas e nessa busca nem sempre as encontra. Às vezes a escola, a sociedade e a própria família não estão preparadas para dá-las, principalmente, nos dias atuais, em que enfrentam a imposição do mundo moderno.

Segundo Gunther (1999): “A adolescência, por sua vez, constitui uma guerra interna e externa, cuja batalha central é a formação da identidade.”

É um momento que segundo Almeida & Pinho (2008, p. 176):

“(…) de confronto entre as fantasias e identificações da infância e as exigências reais, seja de uma profissão, seja do mundo adulto. Sendo assim, o adolescente que escolhe encontra-se numa fase de transição, de mudanças, de adaptação e de ajustamento, quando deixa para trás o mundo infantil para entrar na vida adulta.”

Angustiam-se quando numa sociedade onde todos deveriam ser iguais conforme determina a lei, se deparam com uma grande desigualdade social e, conseqüentemente, exclusão social, que vem a ser segundo Wanderley, apud Sposati (1996, p. 78) “situação de privação coletiva, a qual inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade a direitos, não representação pública’’. Situação vivenciada devido às condições de desemprego, baixos salários e parca infra-estrutura da comunidade, angustiam-se ainda pelas diversas escolhas que tem que realizar e pela definição de papel social na comunidade onde vivem.

Para Nascimento (2006, p. 59)

“As concepções sobre a adolescência, embora com algumas nuances de diferenças entre si, evidenciam que este é um momento de crise, de transformações que culmina com um processo de construção da identidade, diferenciado do processo anterior ocorrido na infância. Novas buscas, papéis, escolhas e relações estruturam-se, o que provoca, em grande parte dos adolescentes, ansiedade, medo e insegurança.”

Emerge neste contexto a importância do projeto de vida destes adolescentes, fruto da crise desta idade, que a partir das suas experiência e relações com o outro e com o mundo, vão se formando quanto sujeitos conscientes e críticos. Segundo Nascimento (2006, p. 76) “entendemos que os sentidos que definem o Projeto de Vida para esses adolescentes refletem e revelam as relações que estes estabelecem com o mundo. Tanto a educação quanto o trabalho são fundamentais na constituição desses sujeitos-adolescentes.”

 Segundo Marcelino, Catão & Lima (2009, p. 546):

“Definir adolescência, portanto, é capturar significações e interpretar a realidade. O adolescente, concebido como ser psicosociohistórico, expressa, através da linguagem, os componentes afetivos, históricos e sociais do seu pensamento sobre seu projeto de vida.”

Vão compreendendo o mundo, e a partir disso, desenvolvendo seus papeis, se firmando como pessoa, pertencente a determinados grupos. Para Gunther & Gunther (1998, p. 202):

“Esta compreensão do mundo social inclui muito mais do que descobrir atributos pessoais ou habilidades sociais. Envolve os porquês dos comportamentos, os papéis que o próprio indivíduo tem a desempenhar, os papéis desempenhados por outros, a natureza das instituições sociais, as relações de poder entre elas, o significado de pertencer a um determinado grupo.”

Grupo este, que servirá de meio para manifestação e reformulações destas transformações, para Cardoso & Cocco (2003) quando os problemas pelo qual os adolescentes passam vão se manifestando no grupo, estes reconhecem que muitos são comum a todos, com isso, percebem a força do grupo como um meio de transformação da realidade que estão vivendo, conseguem direcionar melhor suas ações em busca de uma sociedade melhor, mais justa.

Atualmente é indiscutível o poder de transformação social dos adolescentes e dos jovens, esta nova geração que já começa a fazer a diferença nas comunidades onde vivem, tem força, tem garra e atitude, só que muitas vezes, não tem noção da proporção da força e capacidade que estes tem para mudarem sua realidade social que muitas vezes é desfavorecida e vulnerável.

Muitas vezes também, esta força não esta bem canalizada para bons fins, mas sim, para a marginalidade, para a violência. Os adolescentes e jovens se perdem nas drogas e na criminalidade, comprometendo, muitas vezes definitivamente, suas vidas. Deixando de lado muito de seus sonhos.

As bibliografias sobre adolescentes e jovens pobres vem numa tendência se focando neste tipo de público, se encontram muito ligadas a fatores negativos como marginalidade drogas delinqüência, mas isso, não condiz com a realidade da maioria dos jovens, que não representam este perfil preconceituoso e estigmatizado da grande parte das pesquisas, há pouco interesse em se conhecer o que o jovem pobre que não se encontra nestas estatísticas criminais pensa. Discutem o jovem e a escola e a família, mas não se atem ao que o jovem realmente pensa, como vivem e elaboram, sobre qual a representação que ele faz das instituições que fazem parte da sua vida. E a partir disso, como pensam seu futuro, o que querem, pelo que anseiam. E como pretendem se realizar no campo pessoal e profissional (TEIXEIRA, 2005, p. 19).

Este pesquisa pretende ir de encontro com esta proposta diferenciada, abarcando as formulações e reformulações que os indivíduos passam durante todo a sua vida, no presente estudo, focado na adolescência e juventude, neste momento de formação de identidade e preparação para a vida adulta.

Os adolescentes e jovens estão vulneráveis a diversos tipos de influências durante esta fase da vida, que dependendo da maneira que forem vivenciadas, vão definindo como é seu presente e como será seu futuro.

Para Bezerra apud Teixeira (2005, p. 20)

“Só quando imaginamos o futuro com projeção de aspirações do presente é que o tempo atual passa a ser percebido como momento de gestação do amanhã. Assim a problematização do presente passa a ser um tema necessário, uma vez que o futuro (tanto o individual quanto o coletivo) já não esta mais pré-determinado, nem pertence a um designo supra-humano, ele depende em grande parte do que o sujeito faz ou deixa de fazer, dos seus erros ou acertos.”

Segundo Teixeira (2005, pg. 131) em sua pesquisa com adolescentes de comunidade carentes do Rio de Janeiro, participantes do projeto Jovem Total, constatou que, os jovens tem muitos sonhos e sabem verbalizar quais seriam, mas não o relacionam com o presente, e nem sabem dizer o que fazer no hoje para realizá-los no futuro, eles não identificam as relações que existem entre o hoje e o amanhã.

Ainda segundo este autor, os projetos de vida são elaborados, a partir de, experiências pessoais, sociais e culturais, vários códigos, que vão sendo interpretados conformes as vivencias e interações.

Mas o que seria este projeto de vida? Segundo Marcelino, Catão & Lima (2009, p. 551): “O projeto de vida figura como um conjunto de desejos que se pretende realizar e como uma série de planos e etapas a serem vencidas rumo ao ideal que se tem, com vistas à organização e à orientação do próprio futuro”, a autora trás ainda que, este projeto tem como finalidade transformar a realidade, considerando a representação acerca desta realidade e sua relação entre passado, presente e futuro.

Para Teixeira (2005, p. 20) “Só quando imaginamos o futuro como projeção de aspirações do presente é que o tempo atual passa a ser percebido como o momento da gestação do amanhã.”

É neste momento que surge a necessidade de buscarmos um conceito que vai direcionar melhor nosso olhar com relação a construção do projeto de vida de adolescentes, que trata-se do conceito de representações sociais.

O conceito de representação social é bastante discutido entre vários estudiosos, mas o pioneiro nos estudos foi o sociólogo Durkheim com o conceito de representações coletivas. Apoiado nesse conceito, Moscovici aprofundou seus estudos, conceituando-a de representações sociais, trazendo, assim, para a psicologia social. Transformo-o em um conceito psicossocial. Segundo Minayo (1999, p. 90):

“(…) as representações sociais não são necessariamente conscientes do ponto de vista individual. Assim, de um lado, elas conservam sempre a marca da realidade social onde nascem, mas também possuem vida independente, reproduzem-se e se misturam, tendo como causas outras representações e não apenas a estrutura social.”

É ponto comum entre os pesquisadores que precisa ser levado em conta o contexto em que as representações sociais são engendradas, as condições sociais em que são produzidas. O contexto nos proporciona compreender as construções que nele se fazem e se transformam. Nesse processo de re-interpretação contínua é que se constitui a elaboração das representações sociais.

As representações sociais são sempre produto da interação e comunicação, elas tomam forma a qualquer momento, conseqüência do equilíbrio dos processos de influência social. Representações sociais, segundo Moscovici (2003, p. 21), são:

“Um sistema de valores, idéias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientarem-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social.”

As representações sociais se constituem e se manifestam em palavras, sentimentos e condutas e se institucionalizam, portanto devem ser analisadas a partir da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais. Sua mediação privilegiada é a linguagem, tomada como forma de conhecimento e de interação social.

Para Jovchelovich (1999, p. 81 e 82):

“(…) as representações sociais não são um agregado de representações individuais da mesma forma que o social é mais que um agregado de indivíduos. Assim, a análise das representações sociais deve concentrar-se naqueles processos de comunicação e vida que não somente as engendram, mas que também lhe conferem uma estrutura peculiar. Esses processos, eu acredito, são processos de mediação social”.

Ainda segundo esta mesma autora são estas mediações que geram as representações sociais, que por sua vez, tornam-se também, elas próprias, mediações sociais.

Para Jovchelovich (1999, p. 81) “As representações sociais são uma estratégia desenvolvida por atores sociais para enfrentar a diversidade e ao mobilidade de um mundo que, embora pertença a todos, transcende a cada um individualizante,”. Emergindo como um processo cheio de contradições que: ”ao mesmo tempo que desafia e reproduz, repete e supera, que é formado, mas que também forma a vida social de uma comunidade.” (p. 82).

Através da comunicação e da interação social, o indivíduo consegue descobrir e construir um novo mundo de significados, de representações sociais. (Jovchelovich, 1999, p. 78).

Para Minayo (1999) em seu artigo titulado “O conceito de representações sociais dentro da sociologia clássica”, o termo representações sociais é

“um termo filosófico que significa a reprodução de uma percepção retida na lembrança ou do conteúdo do pensamento. Nas Ciências Sociais são definidas como categorias de pensamento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-a”.

A autora destaca ainda, que estes termos não são necessariamente conscientes, podem até ser elaborados por alguém, mas estão carregados de algo bem maior que perpassa determinado grupo social.

Para Catão (2007), ao se estudar uma representação social se pressupõe: “investigar o que pensam os indivíduos acerca de um determinado objeto, o porquê pensam, traduzindo as funções do conteúdo que uma representação assume no universo cognitivo e social dos indivíduos.”

A representação social pode ser construída, segundo Marcelino, Catão & Lima (2009, p. 548):

“como um produto das interações e dos fenômenos de comunicação em uma dada sociedade e no interior de um grupo de pertença; reflete, portanto, o contexto ideológico, econômico e social desse grupo, através do qual são perpassados seus conhecimentos e significados, práticas e comunicações, problemas, estratégias e aspirações. Por isso, as representações sociais se colocam, simultaneamente, como individuais e sociais”.

As relações sociais serviriam como um sistema utilizado para se interpretar as relações do indivíduo com ele próprio, com os outros e com o mundo a sua volta, além de interpretar também os significados do projeto de vida para os mesmos.

É nestas relações que se dá a construção do projeto de vida, que se processa de maneira contínua e dinâmica de reconstrução das representações sociais. (Marcelino, Catão & Lima; 2009)

Neste artigo procuramos levantar quais as representações sociais que nossos os adolescentes, bolsistas do Programa Atitude, possuem acerca de algumas questões como: futuro, estudos, profissão, família e comunidade, o que eles pensam e querem, considerando os processos psicológicos e sociais envolvidos, e na possibilidade da construção desses saberes no tocante ao Projeto de Vida. É importante antes de apresentarmos os resultados da pesquisa realizada, situarmos o leitor quanto ao programa atitude e a comunidade que se trata este artigo.

CONTEXTUALIZANDO A COMUNIDADE E O PROGRAMA ATITUDE

A comunidade do Borsato localiza-se no municio de Ponta Grossa – PR, município este que tem uma população estimada de 314.681 habitantes (fonte: IBGE – 2010), que se encontra localizado na região dos Campos Gerais, tem suas origens no tropeirismo, possui um importante entroncamento rodo-ferroviário.

As principais atividades econômicas estão ligadas a indústria, comércio, pecuária e agricultura e turismo, devido aos seus diversos atrativos naturais, históricos e culturais.

 Ponta Grossa teve sua origem e seu povoamento ligado ao Caminho das Tropas. As fazendas contribuíram para o aumento da população, que levou ao surgimento do Bairro de Ponta Grossa, que pertencia a Castro. Com o crescimento do Bairro, os moradores começaram a lutar para a criação de uma freguesia.

Ponta Grossa foi elevada à Freguesia em 15 de setembro de 1823. Em 1855, Ponta Grossa foi elevada à Vila e em 1862 à cidade. Cada vez mais pessoas aqui chegavam, sendo que a cidade cresce e se desenvolve, tornando-se a mais importante do interior do Paraná.

A importância da cidade provém em grande parte de sua localização estratégica: entroncamento rodo-ferroviário do interior do estado ligando as principais regiões econômicas e os centros políticos.

Foi com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro, que Ponta Grossa se tornou um grande centro comercial, cultural e social. A ferrovia transformou a cidade em um grande entroncamento, destacando-se na Região dos Campos Gerais e no Paraná. Isso fez com que inúmeras pessoas escolhessem o local para trabalhar, estudar e viver.

 Ponta Grossa foi um dos municípios do Paraná escolhido, como território de atuação do Programa Atitude. Foram instalados cinco núcleos em regiões distintas da cidade, que são: Coronel Claudio, Vila Isabel, Ouro Verde, vila Nova e Borsato.

A área de atuação delimitada pela equipe técnica do Programa Atitude/Núcleo Borsato compreende os Conjuntos habitacionais Castanheira, Cachoeira, Quero-quero I e II, Borsatinho e Borsato propriamente dito.

 Há tempos atrás, toda a região era utilizada para o cultivo de eucaliptos e pertencia ao fazendeiro Bortolo Borsato; após sua morte a área foi dividida entre seus filhos.  Algumas partes da antiga fazenda foram vendidas para particulares (Vila Neri) e outras foram sendo vendidas ao longo do tempo para companhias de habitação (Borsato, Castanheira, Quero-Quero, Cachoeira).

Segundo relatos dos moradores, as primeiras habitações estavam localizadas em chácaras nas proximidades da atual Vila Neri, e poucas residências no seu entorno que viriam a formar a Vila São Marcos e mais tarde o Jardim Pontagrossensse, e então a construção do Núcleo Habitacional Bortolo Borsato com 353 casas, financiado pela CEF, entregue aos moradores no início da década de 80. A próxima comunidade a se formar na região foi a da Castanheira pela implantação do Loteamento denominado Jardim Castanheira em 1997 e hoje abriga cerca de 600 famílias. Logo em seguida, em 1999, foi fundado o Conjunto Habitacional Quero-Quero e em 2008 foram entregues outras casas que formam o Quero-Quero II, somando um total de 575 moradias. Pelo desenvolvimento rápido da área houve a necessidade da implantação de mais um loteamento ora denominado Jardim Cachoeira, que conta com 625 lotes onde já foram construídas 430 casas.

Toda região abriga cerca de 11000 pessoas e está previsto para os próximos dois anos a construção de dois novos condomínios populares.

A maior parte da área conta com uma infra-estrutura incipiente. Os dispositivos de atendimento (escolas, creche, unidade de saúde) não dão conta de responder à crescente demanda.

 Em relação à organização/mobilização comunitária, destacamos a existência das Associações de Moradores, a Pastoral da Criança e o Conselho local de Saúde.

Já o Programa Atitude traz uma nova proposta de atuação, contando com a participação social na busca pela superação das violências que envolvem as crianças, os adolescentes, suas famílias e a comunidade onde vivem. Para alcançar os seus objetivos, conta com a mobilização, integração e articulação das diferentes esferas de governo e da sociedade civil. Numa proposta que tem como base o aproveitamento dos recursos públicos e comunitários já disponíveis em cada comunidade, contando com a colaboração de todos os envolvidos. 

Buscando envolver todas as esferas da sociedade, partindo da parceria entre o governo estadual e municipal, envolvendo também nesta parceria setores mais próximos da comunidade como associações de bairro, clube de mães, pastoral da criança, igrejas, escolas municipais e estaduais, unidades básicas de saúde, além de outras organizações não-governamentais e entidades de atendimento a crianças e jovens.

Foram escolhidas comunidades que apresentavam altos índices de indicadores de violência, para assim, buscar proteger os direitos fundamentais da população infanto-juvenil destas comunidades, promovendo oportunidades de participação ativa, empoderamento, protagonismo, inclusão social e profissional, tanto para as crianças e jovens quanto para as suas famílias e comunidades.

Este programa foi uma iniciativa da Secretaria de Estado da Criança e da Juventude, segundo deliberação 17/2009 do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente – Cedca/PR.

O Programa Atitude atua segundo eixos de ação que, seriam segundo o manual: “Orientações para a atuação dos profissionais do Programa Atitude” (2009):

– Fortalecimento familiar;

– Superação da violência contra crianças e adolescentes e fortalecimento de redes de Proteção;

– Práticas Formativas, Socializadoras e de Cidadania, promovendo a participação social da juventude (através de oficinas culturais, esportivas e de profissionalização);

– Abordagens educativas e terapêuticas ao usuário de drogas;

– Redução da violência praticada por jovens;

– Fortalecimento comunitário (atreves do fortalecimento das estruturas de atendimento aos adolescentes e o estimulo a participação social da juventude).

Em sua proposta de atuação o Programa Atitude conta diretamente com a participação da população, partindo das necessidades e anseios da comunidade, as atividades são propostas, avaliadas e executadas.

Através do bolsa-atitude, jovens da comunidade de 14 a 24 anos podem participar ativamente do Programa Atitude, desenvolvendo atividades nas comunidades onde vivem, ou em localidades próximas às atendidas pelo programa.

O bolsa-atitude é um auxilio de R$ 100,00 (cem reais) por mês, a jovens que tiverem seu projeto de atuação aprovados. É dado a jovens lideranças das comunidades, estes, desenvolvem ações educativas, socializadoras e de produção cultural nos núcleos. Tendo como critérios principais para a participação, estar estudando ou já ter concluído o ensino médio, e ser um bom exemplo para os outros jovens de sua comunidade.

O Programa Atitude atua em dez municípios do estado: Foz do Iguaçu, Cascavel, Sarandi, Cambé, Londrina, Almirante Tamandaré, Colombo, Piraquara, São José dos Pinhais e Ponta Grossa. Cada um tem de dois a cinco núcleos de atuação, totalizando no estado 34 núcleos.

Ponta grossa possui 5 núcleos: Coronel Claudio, Vila Isabel, Ouro Verde, Vila Nova e Borsato. Neste último abarca as comunidades Borsato, Borsatinho, Jardim Castanheira, Quero-Quero I e II, São Marcos, Jardim Pontagrossensse, Vila Neri e Jardim Cachoeira, somando uma população de mais de 11 mil habitantes.

Em cada um dos núcleos há uma equipe de profissionais composta por dois psicólogos, um assistente social, um professor de educação física e um professor de educação artística. Conta também, com um profissional de ciências sociais, que atende a todos os núcleos de Ponta Grossa, além de estagiários, voluntários e bolsistas-atitude. Todos os profissionais e evolvidos desenvolvem as mais diversas atividades como, por exemplo: oficinas de esporte, artes e profissionalizantes; oficinas culturais, grupos com pais e filhos, de apoio familiar; atendimento psicossocial; atendimento e encaminhamento de usuários de álcool e drogas; estudos de casos; visitas domiciliares; identificação de casos de violência e encaminhamentos pertinentes; fortalecimento das redes de proteção; ações com lideranças juvenis em prol de suas comunidades; ações de cidadania; e eventos diversos. 

PROJETO DE VIDA DOS ADOLESCENTES DO PROGRAMA ATITUDE, NUCLEO BORSATO, PONTA GROSSA-PR.

Apresentamos a seguir um quadro com os destaques das respostas obtidas durante o processo de pesquisa para depois discutirmos os dados.

9778a

9778b

Fonte: Monografia de Daniele C. Almeida, 2011.

Em um primeiro momento buscou-se caracterizar quem eram os sujeitos da pesquisa, pode-se notar que os adolescentes advêm de comunidades de alto grau de vulnerabilidade social, como a pesquisadora pode perceber durante o trabalho que desenvolveu como psicóloga no Programa Atitude. A maioria dos entrevistados apresentam condições socioeconômicas desfavoráveis, apenas dois deles, possuem uma renda familiar acima de R$1.000,00 (hum mil reais), mas apesar de ter um poder aquisitivo baixo, sabem o que querem e o que fazer para alcançar as mudanças desejadas.

Assim como apontado por Catão (2007):

“As primeiras análises revelam que mesmo em condições sociais mínimas, os adolescentes são capazes de produzir conhecimento sobre suas reais possibilidades de pensar a construção de seu Projeto de Vida, apesar das dificuldades próprias das condições socioeconômicas a que pertencem.”

Em um segundo momento da entrevista, foram indagados sobre o que entenderiam por projeto de vida. Todos se espantaram inicialmente com a pergunta, ouve a princípio um estranhamento em relação ao termo, alguns de imediato relataram não saberem o que seria, mas todos disseram ser algo projetado no futuro, para que este venha ser melhor que o presente. Nem todos possuem um projeto de vida traçado, mas quem já o tem, prioriza a questão dos estudos, pois vêem nisso um meio para alcançar a profissão desejada, e assim, melhorar as condições de vida, tanto deles como de seus familiares.

Assim como em estudos realizados por Catão (2007), Nascimento (2006) e Pilon (1986), pode-se verificar também em nossa pesquisa que as representações sociais do projeto de vida dos entrevistados estão associados a uma multidimensionalidade cuja centralização reside principalmente na educação, no trabalho e na família.

Demonstram preocupação em relação aos estudos, querem passar em um vestibular, cursar uma faculdade e poder ter uma profissão e bom emprego, para assim poder ajudar, principalmente financeiramente, seu núcleo familiar, e pensar em constituir sua família futura. Dados que confirmam os apontados por Catão (2007), Nascimento (2006) e Cardoso & Cocco (2003) em seus estudos sobre a temática.

Segundo Nascimento (2006), pode-se constatar pelas falas dos seus sujeitos de pesquisa: “a associação da realização de seus projetos de vida com o estudo. Esses adolescentes acreditam que a escola possibilita-se conhecer e saber, e que este é o caminho para ingressar no nível superior de ensino, trabalhar e obter uma vida melhor.”

Quando descreveram seus projetos de vida e se referiram a suas futuras profissões, todos apontaram profissões ligadas a sua experiência no Programa Atitude, querem dar continuidade ao que vem desenvolvendo. O que demonstra que o Programa Atitude influenciou positivamente na construção dos projetos de vidas destes jovens e na perspectiva de futuro dos mesmos. 

Todos os entrevistados confirmaram que o Programa Atitude vem ajudando na construção do seu projeto de vida. Fosse pela experiência adquirida, pelos cursos oferecidos, pela mudança de comportamento, pela aquisição de uma maior responsabilidade, pela melhora na convivência familiar, pela mudança de mentalidade, pelo conhecimento adquirido, pelo incentivo aos estudos, pelo bom exemplo de profissionais com os quais tiveram contato e na ampliação das possibilidades em relação ao futuro.

A partir da análise de todos os dados coletados, podemos verificar que, a maioria dos adolescentes e jovens entrevistados, apesar de todas as dificuldades, tanto de ordem financeira quanto às próprias da fase do desenvolvimento em que se encontram, sabem o que querem e sabem como alcançar. Vinculam a sua experiência presente ao seu futuro. Diferente do que foi levantado por Teixeira (2005, p. 131 e 132), em sua dissertação de mestrado, onde ela traz que:

“Os jovens verbalizam seu sonho de futuro, mas não relacionam sua vida presente com ele, e muitas vezes não souberam dizer nem que ações deveriam realizar no presente para que o futuro desejado fosse concretizado, pois para a maioria deles parece não haver relação entre o que eles estão fazendo hoje com o que querem ser amanhã”.

Através do relato dos entrevistados, pode-se perceber que isso se deve a experiência que estes vem adquirindo no Programa Atitude, como agentes de cidadania. A partir do que eles vem vivenciando, estão construindo seu projeto de vida, como eles mesmos verbalizaram o programa atitude abriu seu leque de opções e perspectivas, ofereceu para eles novas oportunidades. Influenciou suas representações sociais acerca de diversas questões inerentes ao tema pesquisado.

O projeto de vida não é tido como algo estanque e imutável, que uma vez definido, será cumprido; mas sim, como algo em constante adaptação a realidade que vai sendo vivenciada. A maioria dos entrevistados informou que já possuem um projeto traçado, mas tem consciência das intercorrências que podem acontecer, no chegar a vir a ser. Questão também frisada por Nascimento (2006, p. 63): “ao longo da vida, estes projetos são redimensionados e/ou modificados consoante a história individual de cada um e as novas relações grupais.”

Em um terceiro momento, o foco das questões estava relacionado á representação social, a cerca do futuro, com foco no estudo, no trabalho, na família e na comunidade, buscando-se analisar o que os entrevistados esperavam deste futuro, e como fariam para alcançá-lo, bem com, as dificuldades que teriam neste percurso. E para finalizar o estudo, foi lhes perguntado quais seriam seus sonhos.

Segundo Leccardi (2005, p. 50): “O futuro é relacionado, assim, com a abertura potencial – o futuro constitui, hoje mais do que nunca, o espaço do devir possível -, mas, ao mesmo tempo, com uma indeterminação expressa, com freqüência cada vez maior, como insegurança.”

Insegurança presente em alguns relatos, devido ao futuro ser tão incerto, mas apesar disso eles têm certeza do que querem Apesar de não saberem o que vai acontecer, sabem que depende principalmente deles alcançar melhorias para sua vida, para da sua família e para comunidade onde residem. Diversas dificuldades aparecerão durante o caminho, tais como a falta de vontade, o pessimismo das pessoas, a falta de luta e objetivos comuns.

Quando questionados sobre o que dependeriam deles pra alcançar tudo que esperavam do futuro, emergiram coisas como empenho, atitude, vontade, união, batalha, boas influências, planejamento, esforço, saber da sua responsabilidade e dos outros neste processo e dar o melhor de si, se unindo para consegui melhorias. E principal caminho apontado é através dos estudos. Fator este já apontado anteriormente quando foi explorado a questão do projeto de vida, como primordial não só nesta pesquisa em questão, mas por diversas outras pesquisas importantes do gênero: Catão (2007), Nascimento (2006) Cardoso & Cocco (2003) e Pilon (2006)

Nossos entrevistados nos mostram que essa nova geração, vem num processo crescente de empoderamento e protagonismo, que segundo Romano (2002, p. 17) o empoderamento é uma abordagem onde as pessoas, as organizações e as comunidades ocupam um lugar central no processo de desenvolvimento, assumindo o controle sobre seus assuntos e sua vida. Tornando estes atores protagonistas da sua historia de vida, capacitando-os para um desenvolvimento auto-sustentável. (GOHN, 2004, p. 23). E isto esta muito presente na fala dos entrevistados, essa busca por desenvolvimento, assumindo o controle sobre sua vida e tendo a consciência que depende dele mesmo alcançar o que deseja para o seu futuro e seu projeto de vida.

Quanto aos sonhos os mesmo estão aos estudos, ao trabalho e a família, em se tornar um cidadão reconhecido.Além de, se tornarem independentes, se casarem, viajarem. Querem ser reconhecidos, tomados de exemplo por outras pessoas.

Segundo Pilon (1986, p. 250), em um de seus estudos afirma:

“O processo de maturação psicossocial dos jovens abrangidos pela pesquisa correspondeu àquele esperado em nossa cultura. O estudo, o trabalho, a vida familiar e de grupo, as relações com o sexo oposto e as atividades de lazer são valorizados pelos adolescentes. Em geral possuem uma auto-imagem positiva, buscam equilíbrio e realização pessoal, em termos de maturidade emocional e social.”

Esta geração sabe que não será fácil alcançar tudo que desejam, que vão ter que, segundo eles mesmos, “correr atrás”. Terão que se tornar protagonistas da sua história. Para fechar retomaremos a fala de um dos entrevistados.

“Olha, um dos principais sonhos pra mim é os estudos, o trabalho e a minha família. Eu acho assim que, vai girar muito em torno disso assim. Só que a única certeza que eu tenho é que eu no final da minha vida eu quero ter a certeza de que eu corri bastante. Eu posso ate não ter alcançado tudo aquilo imaginava, mas eu tentei, eu lutei, eu corri, eu busquei, eu fiz de tudo pra alcançar.” (Sujeito 5)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo geral compreender as representações sociais dos adolescentes acerca do futuro, principalmente em relação ao estudo, à profissão e à sua vida familiar e comunitária, e a partir disto, como constroem seu projeto de vida.

No que refere aos estudos pode-se observar que é dada a devida importância a este fator, os entrevistados reconhecem que, é através dos estudos que poderão ter um futuro melhor, escolher uma profissão, ter um bom emprego e poder propiciar condições favoráveis de vida a seus familiares, bem como, consolidar seu projeto de vida.

Nessa ótica, a construção do projeto de vida vem como uma forma de organizar estes objetivos, estabelecendo etapas e metas, auxiliando sua execução

A partir de tudo que foi coletado nas entrevistas, podemos verificar o quanto o Programa Atitude vem influenciando positivamente estes adolescentes e jovens, atuando diretamente na construção de seus projetos de vida, favorecendo a obtenção de melhores perspectivas de vida.

Essa nova geração sabe que depende deles lutar para melhorar suas condições de vida e melhorar a comunidade onde vivem. Já não pensam de uma maneira somente individualizada se compadecem dos problemas da coletividade. Querem ser bons exemplos, figuras de referência. Querem ajudar seus familiares e a comunidade como um todo.

Estão num processo de empoderamento e protagonismo social. Desenvolvendo seus papeis perante a sociedade. Sendo agentes de transformação.

Ainda são poucas as fontes acerca deste tema, e este estudo está longe de esgotar a possibilidade de futuros estudos com essa temática.

No entanto, espera-se que este trabalho possa contribuir para a formulação de novos questionamentos acerca da teoria das representações sociais e da construção do projeto de vida. Além disso, se espera que os resultados desta pesquisa posam provocar reflexões e indicações para a formulação de políticas públicas de caráter permanente voltada para os adolescentes e jovens de comunidades mais carentes. Políticas que os possibilitem de lutar por seus sonhos e alcançá-los, principalmente na área da educação, pois só através dela poderão escrever um capitulo diferente do que é preconceituosamente esperado de jovens residentes nestas comunidades.

Não adiantam só medidas de caráter assistencialista e paliativo, é preciso a formulação de políticas permanentes e eficazes, construídas a partir do que esta população realmente precisa e reivindica. Programas nos moldes do Atitude são uma ótima alternativa, mas precisa rever a questão de tempo de duração, diferente do Atitude cuja duração é apenas dois anos, é preciso medidas de caráter mais permanente, com um tempo mais longo de duração, para que quando comece a brotar os frutos do trabalho, este não acabe por se encerrar, deixando coisas importantes pela metade.

É preciso criar espaços onde possam refletir sobre futuro e projeto de vida, discutir e se instrumentalizar, possam estudar, fazer cursos, experimentar mais, abrir um leque de opções, é o que muitas vezes falta para estes jovens: opções, alternativas.

Há de se investir nessa população que é o futuro na nação para que ela não se torne como dizem por ai: “um problema social”, mais um número nos índices de desemprego e pobreza. 

Frente a essa configuração das relações sociais modernas, penso que precisamos oferecer possibilidades e alternativas viáveis e adequadas a realidades desses adolescentes e jovens para que eles possam estudar e alcançar tudo aquilo que almejam. Pois o que lhes faltam muitas das vezes é apenas uma oportunidade.
 

Referências bibliográficas:
ALMEIDA, Maria Elisa Grijó Guahyba de; PINHO, Luís Ventura de. Adolescência, família e escolhas: implicações na orientação profissional. Psicol. clin. ,  v. 20,  n. 2,  Rio de Janeiro, 2008 .  
BRITTEN, Nicky. “Entrevistas qualitativas na pesquisa em atenção à saúde” in POPE, Catherine & MAYS, Nicholas.(orgs) Pesquisa qualitativa na atenção à saúde. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
CARDOSO, Cristina Peres; COCCO, Maria Inês Monteiro. Projeto de vida de um grupo de adolescentes à luz de Paulo Freire. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 11,  n. 6, Ribeirão Preto, dec.  2003.
GOHN, Maria da Glória. Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais. Saude soc. [online]. 2004, vol.13, n.2, pp. 20-31.
GUNTHER, Isolda de Araújo. Adolescência e Projeto de Vida. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos da juventude, saúde e desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde. 1999. P. 86-92.
GUNTHER, Isolda de Araújo; GUNTHER, Hartmut. Brasílias pobres, Brasílias ricas: perspectivas de futuro entre adolescentes. Psicol. Reflex. Crit. ,  v. 11,  n. 2,  Porto Alegre, 1998.  
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIIA E ESTATÍSTICA – Cidades. Disponível em: <<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=411990#>>. Acesso em 25 out. 2010.
JOVCHELOVICH, S. Vivendo a vida com os outros: intersubjetividade, espaço público e representações sociais. In: T. GUARESCHI, T. & JOVCHELOVICH, S. (Orgs) Textos em Representação Social, Petrópolis: Vozes, 1994. p. 89-111.
LECCARDI, Carmen. Para um novo significado do futuro: mudança social, jovens e tempo. Tempo soc., v. 17,  n. 2, São Paulo, Nov.  2005 .  
LÜDKE, Menga.; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.MARCELINO, Maria Quitéria dos Santos, CATAO, Maria de Fátima Fernandes Martins e LIMA, Claudia Maria Pereira de. Representações sociais do projeto de vida entre adolescentes no ensino médio. Psicol. cienc. prof., set. 2009.MARTINS, Heloisa Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa in Educação e Pesquisa, v.30, n.2, p. 289-300, São Paulo, maio/ago. 2004MINAYO, M. C. S. O conceito de representações sociais dentro da sociologia clássica. In: GUARESCHI, T. & JOVCHELOVICH, S. (Orgs) Textos em Representação Social, Petrópolis: Vozes, 1994. p. 89-111.MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.NASCIMENTO, Ivany Pinto. Projeto de vida de adolescentes do ensino médio: um estudo psicossocial sobre suas representações. Imaginario, jun. 2006, vol.12, no.12, p.55-80. ISSN 1413-666X.
NOGUEIRA, Conceição. Análise(s) do discurso: diferentes concepções na prática de pesquisa em psicologia social. Psic.: Teor. e Pesq. ,  v. 24,  n. 2,  Brasília, Junho  2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA – A cidade – Disponível em: <<http://www.pontagrossa.pr.gov.br/acidade>>. Acesso 23 out. 2010.
PILON, André Francisco. O jovem e seu projeto de vida. Rev. Saúde Pública,  v. 20,  n. 3, p. 246-252,  São Paulo, Junho 1986.
ROMANO, J. O. "Empoderamento: recuperando a questão do poder no combate à pobreza" In ROMANO, Jorge O. & ANTUNES, Marta (orgs.) Empoderamento e Direitos no Combate à Pobreza. Rio de Janeiro: ActionAid, 2002
SECRETARIA DE ESTADO DA FAMILIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Disponível em: <<http://www.secj.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php? conteudo=299>>. Acesso em 25 out. 2010.
SEQUEIRA, Maria vilani Maia & CATÃO, Maria de Fatima Fernandes Martins. Adolescentes em processo de exclusão e a construção do projeto de vida. In: V JORNADA INTERNACIONAL E III CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, Brasilia, 2007
SPOSATI, Aldaíza. Mapa da exclusão/inclusão na cidade de São Paulo. São Paulo: EDUC,1996.
SPRINTHALL, Norman A: COLLINS, W. Andrew. Psicologia do Adolescente. Fundação Calouste Gulbenkian. 3. ed. Lisboa, 2003.
TEIXEIRA, Elaine Juncke. Juventude pobre, participação e redes de sociabilidade na construção do projeto de vida. Rio de Janeiro, 2005. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.
 
Notas:
 
[1] Este artigo é fruto da monografia de especialização Gestão de Políticas Públicas para a Infância e Juventude, ofertado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa em parceria com o Governo do Estado do Paraná.


Informações Sobre os Autores

Reidy Rolim de Moura.

Doutora em Sociologia Política (UFSC);Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG, Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas e do Núcleo de Pesquisa do Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas intitulado: Estado, Políticas Públicas e Práticas Sociais.

Daniele Correia de Almeida

Psicóloga, Especialista em Gestão de políticas públicas para criança e adolescente


logo Âmbito Jurídico