Resumo: O presente trabalho de pesquisa faz uma reflexão acerca da necessidade de estabelecer uma única língua como oficial na área do MERCOSUL. Análisa em primeiro plano, a formação do bloco e a adoção dos diversos idiomas, como português, guarani e espanhol, como oficiais no território, fazendo uma comparação com a construção da torre de babel, história bíblica, onde todos falavam línguas diferentes e não havia entendimento entre eles, e por isso, não obtiveram êxito. Discute brevemente os conceitos básicos de território, nação e pátria, no intuito de esclarecimento, que a ideia de idioma única, não ofende estes princípios, mas os fortalece. Busca compreender a evolução do uso de idioma comum nas fronteiras destes países e oportunamente o uso deste, como oficial no âmbito do tratado de intercambio comercial. Nessa perspectiva, tece algumas reflexões e considerações desse fenômeno nos países de fronteira interligada na America do Sul. Igualmente, analisando o surgimento e a evolução e, por fim, o atual estágio em que se encontra.
Palavras chave: Língua. Povo. Fronteira. MERCOSUL.
Resumen: Este trabajo de investigación es una reflexión sobre la necesidad de establecer un único idioma como oficial en el área del Mercosur. Analiza en primer plano, la formación del bloque y la adopción de las diversas lenguas, incluyendo el portugués, guaraní y español, como oficiales en el territorio, haciendo una comparación con la Torre de Babel, la historia bíblica en la que todos hablaban lenguas diferentes y no había un entendimiento entre ellos, por lo que han hablado. Brevemente los conceptos básicos del territorio, nación y patria, con el finalidad de aclarar que la idea de la lengua única, no ofender a estos principios, pero refuerza. Se trata de comprender la evolución de la utilización de un lenguaje común en las fronteras de estos países y utilizar correctamente esta como oficial en virtud del tratado de intercambio comercial. Desde esta perspectiva, ofrece algunas reflexiones y consideraciones de este fenómeno en los países fronterizos conectados en América del Sur. También, examinar el desarrollo y la progresión y, por último, la etapa actual donde se encuentra.
Palabras clave: Idioma. La gente. Frontera. MERCOSUR.
Sumário: 1. Introdução, 2. Contextualização do tema. 2.1. Da integração formação do bloco e adoção da língua oficial. 2.2. Apontamentos bíblicos acerca da importância do entendimento nas relações de prosperidade. 3. Da necessidade de unificação das línguas e a construção de uma língua local única. 3.1. Conceitos básicos de identidades coletivas: território país nação e pátria. 3.2. A aproximação dos povos através do idioma. 4. Considerações Finais. Referências.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se, que o MERCOSUL, como é conhecido o Mercado Comum do Sul (em castelhano:Mercado Común del Sur, Mercosur; em guarani: Ñemby Ñemuha) é a união aduaneira (livre comércio intrazona e política comercial comum) de cinco países da América do Sul.
Neste sentido, há uma relação direta, entre corredores culturais dos países envolvidos e o intercâmbio nas localidades principalmente de fronteira, sendo cogente, um aperfeiçoamento unificando dados estatísticos sobre a situação da cultura, intensificando o intercâmbio nas comunidades.
Assim, a necessidade de aproximação, é fruto desta convivência harmônica, visando o desenvolvimento cultural e econômico, produzindo um entrelace dos povos, que sem danificar a cultura local, tornam-se, componentes, em um futuro próximo, de uma mesma nação, e precisam facilitar a comunicação entre eles, através de uma língua oficial.
Em um primeiro momento, estudar-se-á, a formação do bloco de intercambio comercial e a adoção de idiomas oficiais no território e a necessidade de compreensão para facilitar o progresso e a formação de identidade comum entre os habitantes desta área.
Já em um segundo momento, se abordará, alguns conceitos importantes, como naco, pátria e território, no intuito de esclarecer, que a ideia não ofende estes princípios, mas os fortalece, desenvolvendo um sentimento de nação entre os membros destes países, podendo, no futuro, formar um só povo.
Assim, este trabalho pretende lançar o debate e o desafio de se encarar a necessidade de um idioma oficial, porém, em momento algum se busca esgotar as questões concernentes ao tópico in foco. O interesse é unicamente apresentar uma abordagem breve, mesmo que sucinta sobre os temas elencados. Por fim, apontando que a língua serve para aperfeiçoar os laços de um povo.
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
A ideia de aumentar o vínculo entre os países Sul-Americanos fez com que estes se aproximassem, construindo um mercado comum, chamado de MERCOSUL, tendo em vista que possuem a mesma origem, principalmente europeia, as mesmas religiões, os mesmos costumes, falando línguas diferentes, mas com possibilidade de se fundirem, o que será palco desta pesquisa.
Para tanto, neste primeiro momento, estudar-se-á, formação do bloco e adoção da língua oficial abordando-se, em seguida, os apontamentos bíblicos acerca da importância do entendimento nas relações de prosperidade.
O mercado comum, inicialmente, interessava apenas aos grandes grupos transnacionais instalados na região, contudo, a aproximação e o aumento das relações provaram que várias questões relevantes, como desenvolvimento, podem ser encaradas de forma mais firme e eficaz, tendo em vista que a conjuntura envolvida ser maior, frente ao restante do mundo, portanto, com maior poder de atuação, podendo beneficiar diretamente a sociedade local, possibilitando uma melhor qualidade de vida a esta.
Nosso intuito aqui, não aprofundar o trabalho de pesquisa na temática já consagrada, como o uso do português, espanhol e guarani, como línguas do MERCOSUL, mas possibilitar, uma compreensão da temática seguinte, onde se tratará, da unificação destas e a construção de uma língua local.
2.1 Da integração, formação do bloco e adoção da língua oficial
Como em toda pesquisa de investigação, é oportuno que se defina o tema a ser investigado, primeiramente o bloco, bem como dos temas relacionados com o mesmo, por conseguinte estudar-se a integração na América do Sul e o uso de idioma oficial.
Em suma, a integração através de um bloco, significa uma união de diferentes elementos, em um mesmo sentido. Assim, a integração, não necessariamente precisa ser de Estados, motivo pelo qual, o significado de unir as partes de um território harmônico, para o beneficio comum de todos seus elementos, para transformar um solo conjunto maior, com maior poder de influência no mercado mundial.
Nas palavras de Feldstein de Cárdenas[1] trata-se, de “um processo convergente, deliberado, fundado na solidariedade, gradual e progressivo, entre dois ou mais Estados, sobre um plano de ação comum em aspectos económicos, sociais, culturais e políticos”.
No mesmo sentido, se ressalta que a integração é um fenômeno de carácter pluridimensional, plurifacético, globalizante, típico do século XX, que tem a virtualidade de incidir no campo cultural e económico, bem como no social, no político e no jurídico[2].
Quando existe integração existe união dos diferentes elementos para o beneficio comum de todos os sujeitos do mesmo, ficando claro, que a integração convém à todos seus elementos. Sendo indispensável que a integração convenha a seus membros, motivo pelo qual é imperioso juntar os elementos para que sejam como um todo e em consequência funcione de maneira harmônica para que todos seus membros se beneficiem da união e em decorrência se alcancem os objetivos traçados pela integração.
Trata-se, de um fenômeno do cenário internacional que consiste transformar unidades que antes estavam separadas em partes componentes de um sistema coerente, que é caracterizado essencialmente, pela interdependência, com propósitos convergentes[3].
Dentro de um contexto de integração e de globalização, nasce assim, o MERCOSUL, como estratégia adotada, após várias tentativas de fusão de continente em um mercado comum, o que culminou na assinatura do Tratado de Assunção, em 26 de março de 1991, para a constituição do Mercado Comum do Sul, ratificado em 17 de dezembro de 1994 pelo protocolo de Ouro Preto, formando o bloco econômico, onde as línguas oficiais seriam as que representavam os países presentes. No mesmo ano o guarani foi decretado pelo Paraguai, como língua oficial do país, ao lado do espanhol.
Com o fenômeno da globalização, o mercado internacional tornou-se bastante competitivo, diante disso, somente os mais fortes prevalecem. O que acontece é uma disputa por mercados em âmbito global. Muitos países, com o intuito de se fortalecer economicamente, unem-se para alcançar mercados e verticalizar a sua participação e influência comercial no mundo. A criação de blocos econômicos estreitou as relações econômicas, financeiras e comerciais entre os países que compõem um determinado bloco econômico. Atualmente existem muitos blocos econômicos, formados há décadas.
Em 2002 o Censo Nacional de Paraguai declarava a população com 50% de guaranis falantes e 25% de falantes bilíngues (guarani y espanhol). Com esses dados e a presença dos guaranis nos demais territórios do MERCOSUL fizeram com que os movimentos, a população e os políticos, buscassem soluções para a igualitária participação da comunidade do bloco[4].
Desde então, vem sendo estudada a incorporação do guarani à oficialização junto ao MERCOSUL. E muito tempo depois, em 2006, por decisão do Conselho de Mercado Comum, foi informado oficialmente por o MERCOSUL, a intenção real de incorporar a língua.
A origem histórica dos quatro países do bloco, Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai têm em comum o guarani. É dizer, a Nação Guarani, antes da entrada dos espanhóis e portugueses, já estavam por todo o território que abarca os quatro países e mais outros tantos.
Nomes como Paraguai, Uruguai, Japeju e Itamaraty, entre diversos outros utilizados nos quatros países tem origem guarani e a língua, originária do território, diferentemente do português e espanhol, agora recebeu a oficialização.
Hoje nos quatro países, existem enormes territórios guaranis, importantes para a cultura atual de todos os países. Seja a cultura adaptada dos colonizadores ou para a manutenção da cultura original da terra, ambas responsáveis pelas características atuais das sociedades do MERCOSUL.
Contudo, a adoção de diversos idiomas, serve apenas para não descontentar nenhum membro do acordo do intercambio comercial, todavia, existe a necessidade de unificar estes idiomas em um só, naquele que já é falado comumente, principalmente pelos fronteiriços, ou seja, que já convive e possui entrelaces, e mais tempo.
A unificação do idioma abriria caminhos para a unificação do território pelo sentimento nacionalista, como uno e indiviso, apesar de sua miscigenação e de necessidades diversas, mas aumentando os laços entre o povo da terra, argentinos, uruguaios, brasileiros, venezuelanos, bolivianos e paraguaios, unidos para intensificar o desenvolvimento local, com o livre transito, comunicabilidade e comércio pelo, em um território unificado e chamado apenas de Sul-Americanos.
O tratado de livre comércio, cujo objetivo explícito era a integração das economias, num contexto de problemas individuais, o que se projetou foi o fortalecimento do bloco, frente as potencias mundiais, como EUA e comunidade europeia, contudo, incialmente visto como ameaça ao poder destes, o que demandou desafios e superação de barreiras, reforçados pelo sentimento união para vencer, o que exigiu o abandono do nacional autônomo, e pretensões hegemônicas, para se vincular aos demais coirmãos da América do Sul.
Assim, a aliança dos países e o amadurecimento das relações, é inexoravelmente, a alavanca para o desenvolvimento em todos os níveis, incluindo-se aqui, o idioma a ser usado na comunicação entre os povos.
A evolução dos acontecimentos demonstra a maturidade da ideia de integração da América do Sul. Por outro lado, a condução prudente do processo de integração sub-regional mostrou um modo eficaz de se conduzir a união econômica e cultural, definitiva de todo o continente, iniciando-se por países próximos geográfica, cultural e historicamente, para expandir-se com a adesão dos demais Sul-americanos, na medida em que forem se consolidando os avanços programados.
A seguir se tratará da importância de se falar um mesmo idioma para facilitar a compreensão e as relações de prosperidade, trazendo como exemplo o texto bíblico da torre de babel.
2.2 Apontamentos bíblicos acerca da importância do entendimento nas relações de prosperidade
Visto que os que começaram a ler as sagradas escrituras provavelmente se lembram de um relato que enfatiza a importância de falar a mesma língua. Trata de um poderoso caçador e um projeto ambicioso: construir uma torre cujo topo alcançasse o céu. A seu favor contava o fato de todos falarem a mesma língua.
“O mundo inteiro falava a mesma língua, com as mesmas palavras. […] E disseram uns aos outros, vamos fazer tijolos e coze-los no fogo […] vamos construir uma cidade e uma torre que chegue até o céu para ficarmos famosos e não nos dispersarmos pela superfície da terra.
Então javé desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. E javé disse: “Eles são um povo só e falam uma só língua. Isso é apenas o começo de seus empreendimentos. Agora nenhum projeto será irrealizável para eles. Vamos confundir a língua deles, para que um não entenda a língua do outro.” […] foi aí que javé confundiu a língua de todos os habitantes da terra”[5].
No entanto, tal projeto de concentração de pessoas e de poder contrariava a vontade divina. Por isso, Deus decidiu confundir-lhes o idioma para que não escutassem (e entendessem) o idioma um do outro, para não haver acumulação de pessoas e desenvolvimento, em um só local da terra, enquanto que o restante ficaria desabitado.
A falha na comunicação frustrou um grandioso projeto de desenvolvimento. Nada resta daquela torre, senão a história e o nome Babel, do Hebraico Ba·vél, -"confundir; desconcertar" – dando assim a "Babel" o significado de "Confusão". A eficaz barreira imposta pelas diferentes línguas continua a frustrar projetos ou a impedir que eles surjam.
Falar um grupo de pessoas o mesmo idioma, porém, não é garantia de êxito num projeto em comum. É preciso escutar o idioma um do outro. Comunicação não é apenas falar. É "ser rápido no ouvir e vagaroso no falar", ou seja, a compreensão, não é entendida apenas na fala, mas no entendimento comum, recíproco.
Deste modo, o brasileiro não se sentiria estrangeiro na Argentina, o uruguaio no Brasil, e/ou nos demais países componentes, nem os cidadãos dos demais países não seriam mais estrangeiros em terras brasileiras ou Argentinas, se colocando como cidadãos do MERCOSUL, com perfeita comunicabilidade, não importando o local que estejam.
Assim, frequentemente envolve ouvir e pensar mais do que falar. Se você se envolveu num projeto e se "falar" a mesma língua que seus colaboradores, ''nada do que intente fazer lhe será inalcançável''. Caso contrário, haverá confusão e frustração de planos. Será que se ouve o suficiente? Fala-se mais do que se ouve? Fala-se primeiro, pensa-se depois? Será que somos precipitados, ou aguarda-se pacientemente que o tempo desempenhe seu papel em esclarecer coisas obscuras? Ser apressado em concluir que outros enxergam menos que eu, ou se está sempre preparado para a feliz constatação de que a equipe fala a mesma língua e está envolvida realmente, no projeto em discussão? Quanto vale falar a mesma língua? Talvez tanto quanto a soma de todos os resultados esperados, ou seja, poderá significar união de forças para o desenvolvimento a partir de esforço próprio e não estrangeiro.
Anota-se, que isto poderá significar uma familiarização dos mesmos desejos, dos mesmos problemas e apegado às mesmas ideias, despertando uma democracia inteligente, comprometidos com o continente Sul americano todo, capaz de desenvolver relações de ajuda mútua e desenvolvimento mútuo, não apenas econômico, como também o social, político, religioso e cultura.
Percebe-se, portanto, que os resultados poderão ser alcançados mais facilmente, se falarmos a mesma língua, se a compreensão for facilitada, além de aumentar o sentimento comum, entre os habitantes deste território.
Assim sendo, todos os países membros, poderão trocar ideias entre si. Se pessoas comuns, a par dos políticos, podem entrar em contacto umas com as outras e iniciar um diálogo, então elas não vão manter um diálogo. Deles surgirão soluções para que haja entendimento, e o desenvolvimento econômico brotará conjuntamente a inúmeros laços de amizade que serão feitos.
Deste modo, o MERCOSUL será uma região mais segura, além de muito mais cativante. Mas para que isto se torne realidade é preciso que as pessoas escolham um idioma para o diálogo comum à todos, fácil de aprender, um idioma que é de todos, e não pertença a nenhuma nação, por enquanto.
Como próximo ponto de pauta, estudar-se-á, os conceitos básicos, como nação território e pátria, para demonstrar a relevância de união e falar um idioma oficial.
3 DA NECESSIDADE DE UNIFICAÇÃO DAS LINGUAS E A CONSTRUÇÃO DE UMA LÍNGUA LOCAL ÚNICA
Apesar das diferenças estampadas, os povos do MERCOSUL possuem um objetivo único que é o desenvolvimento, o que poderá ser intensificado com a instituição de um idioma comum, visando canalizar forças com este alvo, onde os cidadãos de qualquer país, mesmo estando fora de seu local de habitat, não se sintam estrangeiro em solo Sul-Americano, podendo contribuir livremente para a produção e circulação de riquezas.
Neste capítulo, se abordará primeiramente alguns conceitos de identidades coletivas, por entender-se, serem relevantes para ampliar o debate, como território, país, nação e pátria, para em seguida tratar da aproximação dos povos através do idioma comum oficial, no intuito de facilitar as relações dos países membros do MERCOSUL.
Neste sentido, aponta-se, que por mais diversa que a América do Sul possa parecer e, de fato, os países austrais do continente americano tem um histórico sócio-político bastante atrelado um ao do outro.
No entanto, cada um dos países mantinha uma relação de mera vizinhança, sem compartilhar projetos que visassem ao benefício comum dos povos da região.
Ainda se expõe, que tratados como MERCOSUL e a UNASUL, almejam unir os povos da América do Sul, facilitando a circulação de pessoas, turismo, mobilidade em todos os sentidos, inclusive educacional, trocas culturais.
Além disso, o praticamente óbvio desenvolvimento econômico, que deve ser estimulado quando o idioma oficial for único, incorporando assim, o sentimento de nação também única.
3.1 Conceitos básicos de identidades coletivas: território, país, nação e pátria
A lei da conservação não se aplica no domínio da ecologia das línguas. Contrariamente aos recursos naturais, a vitalidade de uma língua depende de sua utilização efetiva, tanto em escala nacional quanto em escala mundial. Quanto mais uma língua é utilizada, mais ela é viva, e inversamente, quanto menos ela é utilizada, mais ela é ameaçada de extinção. Portanto, é seu uso social que determina seu grau de utilização.
Esta utilidade é observável no interior das instituições sociais que respondem às necessidades de uma coletividade e que formam territórios sociais necessários ao seu funcionamento. Trata-se, por sua vez de territórios concretos (familiar, religioso, administrativo, educativo, jornalístico, científico, técnico e econômico) e de espaços mais abstratos (território político ou simbólico).
A identidade firmada entre as pessoas em um determinado espaço e tempo, pode ser classificada como uma identificação dentro das demais pessoas do mundo, pois se diferenciam pelos costumes, culturas, idioma utilizado, etc.
Para Ocampo[6] quando se trata de identidade, esta se compara com raíz, permanecendo igual em diferentes circunstancias, sendo construída com o que a pessoa é e o que vai incorporando aos poucos, nas diferentes circunstancias da vida, sendo que este conceito, também poderá ser aplicado as nações que constroem uma uniformidade de atitudes, distintas como é tocado viver.
Cada povo, fundamentalmente se apega ao seu modo de viver, construindo sua consciência acerca dos valores da vida, por isso necessita de capacidade para construir sua memoria individual e coletiva, tendo em vista que a memória coletiva é o entrelace das identidades que facilitam as relações, solidariamente.
Assim, a mutação semântica do significado de território se deve à necessidade de ampliação do uso terminológico, uma vez que território passa a significar um tipo particular de patrimônio que é a “soberania” e, ao mesmo tempo, sujeito de um tipo particular de identidade coletiva que tem como referência País, Nação e Pátria de um Povo delimitado geograficamente para formar um Estado[7].
Para melhor compreender o Estado linguístico que já temos construído aquele em que o português, o guarani e o espanhol são línguas oficiais, e outro que se consolida num território fértil e específico: o portunhol.
O conceito de País deve ser entendido no âmbito geográfico determinado pelo exercício do poder. Nesse sentido, as leis criadas pelos homens são leis para serem executadas no espaço geográfico juridicamente pré-determinado. A lei de formação do pensamento linguístico brasileiro nos séculos XVI e XVII provinha do pensamento hegemônico da coroa portuguesa que, na pena do Marquês de Pombal, destituiu os falares nativos e oficializou o português europeu como veículo de comunicação. Nesse sentido, o País Brasil se estruturava sob os moldes da nação portuguesa, embora fosse um território autônomo[8].
Nação está definida no dicionário da Real Academia Espanhola como “conjunto de habitantes de um país regido pelo mesmo governo” ou “território de um mesmo país” ou ainda conjunto de pessoas de uma mesma origem étnica que geralmente falam o mesmo idioma e têm uma tradição comum[9].
Por conseguinte, é sobre o conceito de Nação que se pode verdadeiramente assimilar o conceito de língua. Na transição da formação do espírito linguístico brasileiro, encontrava-se, de um lado, o suicídio em massa das línguas territoriais – as línguas indígenas – provocado pelo espírito estatal que não era o nosso, e de outro, o surgimento de uma língua geral, ou língua brasílica, comum a toda população que integrava o sistema colonial. Porém, a língua constituída proveniente da Europa – o português – língua cientificamente estruturada, legalizada em solo pátrio.
Em meados do século XIX, o espírito romântico liderado pelo escritor José de Alencar defende a tese do nacionalismo lingüístico na tentativa de construir a nacionalidade da Pátria Brasil. Sem a pretensão de criar uma língua brasileira, diferente do português, entende que os escritores deveriam adaptar às peculiaridades nacionais o poderoso instrumento de expressão que lhes fora transmitido pronto e alicerçado; foi Alencar quem enriqueceu a língua literária, acrescentando-lhe numerosos tupinismos e brasileirismos[10].
O macro conceito de Nação, que guarda em si o significado de superestrutura política no sistema histórico, o de etnicidade no sistema sociológico e antropológico, e o de língua nacional, no sistema linguístico, concretiza-se no Brasil pela soma de várias nações que construíram o Estado[11].
Pátria, todos nós sabemos, corresponde ao sentido etimológico do termo patrius, “relativo ao pai”. No caso atual, “pátria”, tendo perdido seu significado original restrito à filiação paterna, conota um sentido mais étnico e uma ampliação do lugar para a área localizada de um determinado grupo social.
Sugere-se, assim, a divisão desses conceitos em dois grupos segundo sua referencialidade conceitual: de um lado, território e país conotam um sentido mais geográfico; de outro, pátria e nação conotam um sentido mais étnico.
Portanto, ao definir a semântica específica de cada um de maneira concisa, pode-se resumir cada um desses termos da seguinte forma: o território é o âmbito geográfico de exercício do poder de dominação; o país é o âmbito geográfico delimitado e identificado; a pátria é o âmbito apropriado por uma identidade comunitária; a nação é o referente étnico de origem comunitária.
Ao aplicar essa rede de conceitos semântico- políticos às línguas do MERCOSUL – o português, guarani e o espanhol – podemos inferir que cada uma delas constitui a base para o exercício do poder, delimita a fronteira geográfica, identifica uma comunidade, e acentua a etnicidade do povo que a utiliza, ainda estando limitado pelo seu território.
Em função de tais circunstâncias, há- de se apontar, que o portunhol terá papel sócio-político e linguístico no contexto de nacionalidade, ultrapassando as fronteiras políticas estabelecidas. Ao contrário de fixar normas para o exercício do poder local, ao contrário de delimitar e identificar os espaços geográficos instituídos, ao contrário de individualizar cada povo, irá possibilitar uma identidade comunitária, ou seja, uma nação ampliada.
Deste modo, não interferirá, nem fixará os referentes étnicos, nem provocará uma exacerbação nacionalista, pois não adulterará o bem territorial, pátrio e nacional que um povo herda gratuitamente de seus ancestrais – que é sua língua nacional, mas aperfeiçoa o comum e o já existente.
Ademais, o idioma comum, firmará uma identidade conjunta, que poderá ser considerado como ponto positivo da integração efetiva, sem priorizar o interesse apenas de um país, mas o interesse coletivo, ampliando o processo de troca de cultura, onde o processo de integração logrará e conduzirá o todo, em uma direção, aproximando os povos em um único objetivo, frente o resto do mundo, pois a integração é um fenômeno mundial e quanto mais força o MERCOSUL, poderá demandar, mais qualidade de vida poderá oferecer aos seus cidadãos.
Nesse sentido, o conceito de língua está diretamente relacionado ao de nação, isto é, ambos são referentes étnicos. Uma língua não se compra uma língua não se empresta para pegá-la de volta mais tarde; ou uma língua se impõe pelo Poder Superior do País, ou uma língua se herda no seio da família que a abriga.
Então, o portunhol é fruto do contato entre fronteiras do português com o espanhol e o guarani, provocando o surgimento de uma variante mista, denominada portunhol ou fronteiriço, facilitando a comunicação entre os povos.
Várias são as denominações para esta variante linguística de fronteira que, conforme se observa, tem forma própria, resultante da entrada de estruturas de uma língua na outra, ultrapassando raias e criando laços comerciais e culturais.
Esses laços poderão ser ampliados, deixando de ser exclusividade de fronteiriços, para servir a qualquer cidadão que deseja fazer uso, ou ter relações com país vizinho, importando ao gestor público facilitar esta relação, pois os ganhos serão incalculáveis.
Para um primeiro momento, apesar de se tratar de uma língua já empregada e conhecida por fronteiriços, seria necessário um acordo ortográfico e a elaboração de um dicionário linguístico oficial, para ser utilizado pelos interessados, visando a ordem e a segurança das interpretações.
Será palco de estudo, no próximo esboço, a possibilidade de aproximação dos povos através do idioma.
3.2 A aproximação dos povos através do idioma
Após a constituição do entrelace comercial, agora mostra-se cogente o entrelace cultural, com o objetivo de contribuir com a integração efetiva e a constituição de um bloco forte, frente as potencias mundiais.
Os países latino americanos foram divididos e outorgados aos reis da espanha e de Portugal, aproximadamente nos anos de 1794, pelo Vaticano, contudo os países Ibéricos, por sua debilidade financeira, seus baixos níveis de desenvolvimento, não tinham possibilidade de manter o domínio sobre a região, apesar de terem empregados subsídios ilimitados para saquearem o território.
Atualmente, frente à globalização, esses países tentam sair da margem para finalmente serem reconhecidos mundialmente como nações capazes, independentes e desenvolvidas, com um povo forte e valorizado.
Nesta ótica, é preciso modificar os parâmetros de orientação, para buscar o melhor para o povo Sul Americano, sem pensar apenas na satisfação de uma nação apenas, mas consolidar o bem estar deste, celebrando assim, a mutação de diversas nações para uma única, que será um verdadeiro marco de desenvolvimento regional.
Criar um meio novo que aproxime “as gentes das falas diversas” remete a idéia de uma língua única na área do MERCOSUL ganha importância no início do novo século, quando o latim, ‘língua morta’ que durante mil anos conseguira o que nenhuma língua viva conseguira depois, ser o idioma internacional dos intelectuais de toda a Europa, entrava a perder terreno ante o assalto de idiomas comuns locais.
O fato é que “a impressionante história dos esforços desperdiçados para a construção de um idioma auxiliar universal” acaba por relatar uma das aventuras mais curiosas do espírito humano na luta sua para livrar-se do irracional e organizar sensatamente o mundo das idéias e de sua expressão[12].
Num primeiro momento, o portunhol, língua fronteiriça, nascida entre o Paraguai e o Brasil, parece ter sido criado com a intenção não só de aproximar “as gentes das falas diversas”, mas também de organizá-las num mundo de idéias e expressões, situado numa fronteira, via de regra, anárquica e caótica, por falta de atuação do aparato estatal, mas que consolida uma autentica relação muito próxima, com uma afinidade incalculável entre as pessoas que ali residem, tendo em vista a cooperação e o entrelace entre as mesmas, visando melhorar sua vida e enfrentar juntos os percalços da sobrevivência humana.
Como se sabe, o cenário de cooperação tomou força em diversas partes do mundo, no auge da globalização, não se pode mais perder tempo com desavenças que apenas atrasam o desenvolvimento, mas construir laços de identidade única, para fomentar o desenvolvimento regional, com base no esforço e união de todos as nações que fazem parte do bloco, e se possível, envolver os demais países Sul Americanos também.
Essa primeira impressão, porém, logo é desfeita, em vista que essa língua se propõe a ser também um movimento cultural. A propósito do portunhol brota como flor apreciável, contudo se se impregnando no intrínseco do povo.
Portanto, esse idioma, até então, não teve uma regra, uma ordem, ele circula livremente por aí, na fronteira livre entre o Brasil e o Paraguai, Argentina, Uruguai e além dela. Disso resulta uma série de características que distinguem o portunhol de outras tantas línguas artificiais, mas que evidentemente, em sendo oficializado, necessita de um regramento capaz de abarcar as três línguas dos povos do bloco, e conduzir para um avanço, que leve o uso deste idioma no território local.
Segundo Rónai[13] existem dois métodos principais para se criar uma língua artificial como:
“Inventar de vez todo o idioma, ou aproveitar o vocabulário de uma ou várias línguas existentes, sistematizando-o e modificando-o conforme o bom-senso. As línguas artificiais que obedecem ao primeiro sistema são chamados a priori, as que seguem o segundo, a posteriori. Existem também sistemas intermediários.”
Levando-se em consideração os mencionados sistemas, poder-se-ia dizer que o portunhol é uma língua a posteriori, já que ela aproveita o vocabulário de várias línguas, não se limitando somente ao português ou ao espanhol, como o seu nome nos faz crer. A língua guarani, por exemplo, integra o portunhol.
No entanto, o portunhol vai além, ou aquém, da simples mescla de línguas, já que ele permite que se fale, ora só espanhol, guarani, ora só português, ou outra língua qualquer, num mesmo discurso, numa mesma narrativa, que ao ser conduzido para um regramento e sua oficialização, permitirá o envolvimento das três línguas.
Lembra-se, que no portunhol, o uso de diferentes idiomas não segue outra regra senão a vontade daquele que se vale dessa “nova” língua, ou seja, o sujeito que se relaciona com sujeitos do outro lado da fronteira.
Inclusive, as fronteiras, poderiam deixar de ser fronteiras, para se tornarem, linhas que unem os países, pois até então, são conhecidas como divisas, ou linhas que dividem os países, com desavenças e rixas.
A respeito das línguas artificiais, sabe-se que, na maioria dos casos, seus inventores “limitam-se a elaborar-lhe a gramática e o léxico, e depois abandonam o seu invento, na esperança de que outros se encarreguem de pô-lo a funcionar.
Infelizmente, a experiência demonstrou, porém, que, se o próprio inventor não cuida de pôr em prática seu idioma, este fatalmente soçobra no mar da indiferença, independente de seus méritos[14].
Certamente esse não é o caso do portunhol, uma vez que ninguém trabalhou seu léxico, nem sua gramática. Suas regras nascem espontaneamente e estão sempre em ebulição, são aquelas de quem o usa.
Ademais, o portunhol sempre existiu nas fronteiras dos países Sul Americanos e sempre existirá, de modo que dificilmente se pensará no portunhol como uma língua prestes a cair no esquecimento. O portunhol, no entanto, vai além do uso corriqueiro da língua, já que esse idioma pretende ser o idioma da arte, da poesia, da literatura, é a língua de um movimento artístico, ou seja, a cultura da América do Sul.
Portanto, se na opinião de Rónai[15] a língua artificial é uma “tentativa antipoética, por sua essência”, a qual só “pela audácia do empreendimento, se torna um verdadeiro poema, em que o heróico e o burlesco aparecem juntos mais de uma vez, e cujos capítulos vale a pena recordar” o portunhol, ao contrário, quer fazer arte, é “arte relacional” que cria contatos, interações ou sociedades em torno de um objeto.
A respeito da língua e da sua relação com a arte, George Steiner (1990, p. 15) lembra que “a teoria romântica sustenta que, de todos os homens, o escritor é o que mais obviamente encarna o gênio, o Geist, a quididade de sua língua materna.” O escritor, mais do que um falante comum, poderá levar a sua língua a influenciar um pensamento, ele também anota que é a “sua familiaridade com ela, sonambular, genética, que torna a influência radical e inventiva.” Daí “a estranheza a priori da idéia de um escritor linguisticamente ‘desabrigado’, de um poeta, romancista, dramaturgo não completamente em casa na língua de sua produção, mas deslocado ou em hesitação na fronteira.”
Sem duvida, os livros, além dos meios de comunicação, possuem papel fundamental, na evolução da cultura de um povo, fazem parte do mesmo, podendo cunduzir a evolução na direção, considerada mais adequada àquele momento da vida do ser humano.
Até o final do século XVIII, porém, o bilinguismo, “no sentido de uma fluência igualmente expressiva na língua materna e em latim e/ou francês, era regra, mais do que exceção, entre a elite européia.” Frequentemente, “o escritor se sentia mais à vontade em latim ou em francês do que na sua própria língua.” George Steiner (1990, p.16) destaca ainda, no seu ensaio, escritores modernos, como Oscar Wilde e Samuel Beckett, “geniais” em duas línguas e que não dependeram, portanto, de uma língua materna para se expressar.
A propósito do “gênio” e de sua relação com a “língua materna”, o filósofo italiano Giorgio Agamben[16] afirma, paradoxalmente, que “viver com Genius significa, (…), viver na intimidade de um ser estranho, manter-se constantemente vinculado a uma zona de não-conhecimento.” Ou seja, “genius é a nossa vida [a nossa língua], enquanto não nos pertence.”
A respeito do problema do bilinguismo, que as línguas artificiais trazem à tona, numa tentativa de solução, em 1961, Paul Celan, poeta judeu de língua alemã que cresceu numa região da Romênia onde se falavam correntemente pelo menos quatro idiomas, declarou o seguinte: “Não acredito que haja bilingüismo na poesia. Falar com língua bífide, isso sim, existe, também em diversas artes ou artifícios da palavra e dos nossos dias (…). Só na língua materna se pode dizer a verdade. O poeta mente se usa uma língua estrangeira[17].”
Agamben acrescenta o conceito de “único”, tornando a discussão nada conclusiva. Para ele, “a língua única não é uma língua. O Único, de que os homens participam como da única verdade materna, isto é, comum, é sempre qualquer coisa dividida. (…) Ao falar, podemos apenas dizer alguma coisa – não podemos dizer unicamente a verdade, nem podemos dizer apenas que dizemos[18].”
O portunhol revisa o tempo todo esse conceito de único, já que a divisão da língua não está só no conceito dos nomes, mas na escolha dos vocábulos de diferentes línguas. Sem esquecer que a sucuri, com sua língua bífida, é um dos totens do portunhol.
Uma imagem, talvez, resuma o portunhol numa recente, num exemplo de uma viagem de Assunção ao Rio Janeiro, onde, um individuo relata que trazia na bagagem uma sucuri de papelão de três metros. No final da viagem, ao desempacotar no Rio de Janeiro esse e outros bichos “kartoneros”, percebeu que El Domador de Yacarés havia perdido “la linguita da cobra no caminho”. A imagem da língua perdida no meio do caminho é a imagem de uma língua sem verdade, de uma língua sempre estrangeira, que nos mantém na “zona do não conhecimento”, na intimidade de um ser estranho e justamente por isso, estamos diante do momento da criação. Achar a língua da sucuri é como achar a gênio da lâmpada, só que a língua da sucuri nunca vai satisfazer nossos desejos, ao contrário, vai se transformar numa máquina de gerar desejos, não vai resolver a questão. Então a sucuri sem língua é tão eficaz, nesse contexto, quanto a cobra com língua.
Assim a pessoa poderá circular, tanto em assunção, quanto no Rio de Janeiro, em Montevideo ou em Buenos Aires, falando e compreendendo o que se fala, sem perder sua linguita, ou seja, seu sentimento de estar entre pessoas que lhe compreendam.
Percebe-se, que a necessidade de substituição do eu pelo verbo nós, ou nosostros, significa a união da cultura e a mesma fala na boca e nos ouvidos de todos os habitantes da região, ou de quem deseja transitar pelas línguas dos outros, como a sucuri-totem do portunhol, por conseguinte, quem vier a transitar, terá que apreender o idioma comum.
Ressalta-se, que poderá servir de alavanca para ampliar as forças, tendo em vista que a região sul americana possui negócios com quase todos os países do mundo, e assim, aquele que quiser negociar com o MERCOSUL, aprenderá a falar o portunhol, para facilitar sua comunicação.
Vale mencionar aqui, que as traduções do portunhol também partem do princípio da origem, quase que apenas como pretexto, todavia, em sendo comum, sua origem será do MERCOSUL.
O fato é que, como afirma Rónai[19], ainda hoje é “espantoso o trabalho que a multiplicidade das línguas nos tem dado. Quanto tempo e esforço gasto unicamente para sabermos o que nos quer dizer o vizinho!” Mas quando a língua se perde no meio do caminho, será que aí não é o vizinho que nos desobriga da tarefa de compreendê-lo, ou ser compreendido.
A respeito das muitas línguas, restam algumas perguntas: “Quem sabe quantas coisas úteis se deixaram de fazer no mundo inteiro pela necessidade de aprender idiomas?” Lembra-se, que conforme os estudiosos, o fato de um escritor estudar diferentes falas e criar inclusive vocabulários novos para certos casos particulares, não significa perda de tempo, já demonstra um prenúncio de que o escritor estava à procura de uma nova dimensão, do gesto, como dizem os críticos, que completasse o verbo, era a sua passagem do texto para o palco. Certamente, o portunhol é apreciado por isso, uma vez que ele não se quer só verbo, mas movimento, reunião de pessoas em torno de um tema comum[20].
Outra pergunta que se faz é: “em vez de construir um idioma auxiliar, não seria mais simples adotar uma das línguas já existentes?” Rónai afirma que:
“A resposta dos partidários da língua universal é não, pois os demais povos ficariam com inveja e receio da nação favorecida, ‘porque é coisa bem compreensível que o povo cuja língua fosse escolhida como internacional em pouco tempo haveria de alcançar tal supremacia sobre todos os outros povos que os oprimiria e os tragaria”[21].
Assim, se o espanhol fosse o escolhido, os brasileiros ficaria descontentes com a escolha, do mesmo modo se o português fosse o indicado, as nações que falam espanhol, não concordariam, isto aumentaria a discórdia, em vez de unificar.
Portanto, “a fé no advento de uma língua auxiliar artificial pressupõe a confiança na possibilidade de soluções internacionais pacíficas.” O portunhol é a solução pacífica das nossas fronteiras culturais, que abraçam as diferenças e dão as boas-vindas aos estrangeiros, sem solucionar, é verdade, os impasses inerentes aos espaços de relações contemporâneas.
Todavia, o novo idioma, o portunhol, criaria um microterritório onde novos momentos de socialidade são possíveis, a partir das línguas que se usa habitualmente, sem falar verdadeiramente, segundo a compreensão convencional sobre o que é falar uma língua, ou “dominar” um idioma, com uma comunicabilidade entre todos, facilitando as relações, das mais diversas e imagináveis.
Ha de se destacar, que existem duas estruturas de poder na América do Sul: a que fala inglês e a que fala a língua local (português, guarani e espanhol). A primeira mais familiarizada com as ideias estadunidenses e europeia, e de outro lado, uma mais apegada a terra, que consegue escutar as reivindicações do povo com ideias puramente sul-americanas, desejando que a sociedade local se una e cresça com suas próprias forças, enquanto que os que falam inglês querem relações mais acirradas com os EUA e Europa, desejando inclusive que aqui se propague as empresas transnacionais e a língua inglesa, constituindo um ideário imperialista inglês.
Por isso, há grande vantagem de união e estratégica dos países Sul Americanos, unidos poderão impor respeito e também reverência a sua língua, enquanto que divididos podem ser presa fácil da ambição alheia.
A ideia é formar uma grande nação, mesmo que isso, não necessariamente, reflita em se tornar um só Estado, mas com vantagens de idioma comum e trânsito livre para os seus, onde nossos povos teriam efetivamente o lugar que lhes corresponda no contesto mundial, com uma autentica integração.
De todo o exposto, conclui-se, que existe a necessidade de se estabelecer uma língua oficial para uso no MERCOSUL, sem ofender a diversidade das nações, nem sua soberania, todavia com intuito de aproximar, ainda mais os povos, criando uma cultura e um sentimento comum, que unirá as pessoas, ainda mais, esta língua será o PORTUNHOL, ou seja, um idioma construído, com base no espanhol, português e guarani, e o entrelace existente entre as culturas locais, facilitando com isso o entendimento. No inicio, pode ser utilizado em encontros oficiais, mas aos poucos se expandirá automaticamente, pois mesmo em não sendo oficializado, já e falado na fronteira dos países membros.
Aprender um idioma é uma tarefa que exige um estudo, que leva certo tempo, mas muitos argentinos, brasileiros, paraguaios, uruguaios, venezuelanos, ainda não dominam o vocabulário básico do portunhol, todavia, sendo mais fácil aprendê-lo, aos poucos, do que pretender saber falar o idioma nativo de cada país, no momento da precisão, principalmente em encontros, bem com para facilitar as relações.
Ademais, algumas regrinhas simples da gramática e sua aplicação podem facilitar a convivência, sabendo que "fogo" se diz "fuego" e "corvo" se diz "cuervo", sendo valido para todos. Assim como há brasileiros que acham que "cuello" (pesco‡o) é um animal de orelhas comprimidas (se diz "conejo"), que "zurdo" (canhoto) é um cara que não escuta ("sordo") também há hermanos que acham que "trueno" (trovão) se diz "trono" e "bueno" (bom) se diz "bono". Situações que um dicionário do idioma específico resolveria.
Ressalta-se, que para evitar complicações, o PORTUNHOL poderia se transformar o idioma oficial do MERCOSUL. Assim ninguém precisaria passar pelas agruras de aprender outro idioma, e tudo seria bem mais fácil. Claro que ainda haveria algumas complicações e mal-entendidos.
Devido à predominância do inglês, a nossa cultura- Latina tem se acuado e, as pessoas dos países onde ele é falado têm conhecimentos deficientes doutras línguas, o que por si diminui a compreensão por culturas além da própria, sendo esta disseminada pelo mundo contemporâneo. É quando aprendemos coisas sobre outras culturas, que melhor penetramos na nossa para emulsificar a própria, em vez de prestigiar as de outras regiões do mundo.
Uma América do Sul ou Latina em que todos soubessem portunhol, pelo menos o básico, seria uma um continente onde todas as pessoas facilmente poderiam trocar ideias e aprenderiam a compreender outros povos e outras culturas. Um dar e receber, que enriqueceria a todos.
Um idioma comum, na América do Sul, não é uma ameaça, mas sim, uma proteção aos idiomas e cultura local. É importante que haja uma multiplicidade linguística porque um idioma, como o portunhol está fortemente integrado à nossa identidade, nossa raiz latina, sendo ainda o transmissor de uma cultura. Um mundo no qual muitas línguas e culturas vivam lado a lado, sem que se sintam ameaçadas entre si, será sempre um mundo mais pacífico e mais feliz, um mundo em que as pessoas não têm necessidade de se sentirem alienadas.
Informações Sobre os Autores
Aladio Anastacio Dullius
Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA – Buenos Aires-Ar.
Aldair Hippler
Advogado, Bacharel em Direito pela UNIJUÍ-Campus Santa Rosa/RS