A necessidade da educação ambiental continuada em virtude da percepção de moradores do semiárido paraibano acerca da diversidade e relevância da fauna

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Resumo: As populações tradicionais brasileiras são definidas pelo Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007 como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Logo, é de extrema importância entender e registrar a forma como esses povos percebem e interagem com o ambiente que lhes cerca.  Nesse intuito, essa pesquisa teve o objetivo de identificar e discutir as percepções acerca da diversidade e relevância faunística na óptica de moradores de duas comunidades rurais do estado da Paraíba, Brasil. Para isso, entrevistamos de forma livre e com formulários semiestruturados 78 pessoas. Estas definiram “Animal” segundo critérios afetivos, utilitários e conceituais e ainda listaram um total de 35 animais considerados mais importantes, com destaque para os vertebrados domésticos e 21 animais tidos como menos relevantes em suas concepções, com destaque para as serpentes. Nossos resultados devem ser observados, no intuito de orientar e intensificar as atividades de educação ambiental na área, para assim, tentar mitigar os conflitos homem x animais e resguardar a tradição histórico-cultural do aproveitamento dos recursos naturais na região.


Palavras-chave: Educação; Percepção ambiental; Caatinga


Abstract: The traditional Brazilian population are defined by decree nº 6.040, February, 7/2007 as culturally diverse groups and who recognize themselves as such, they have their own forms of social organization, they occupy and use lands and natural resources as a condition for its cultural reproduction, social, religious, ancestral and economic, using knowledge, innovations and practices are generated and transmitted by tradition. It is therefore of utmost importance to understand and record how these people perceive and interact with the environment around them. For this, this research aimed to identify and discuss the perceptions of faunal diversity and relevance in view of residents of two rural communities in the state of Paraiba, Brazil. For this, we interviewed freely and semi-structured forms with 78 people. They defined “Animal” affective criteria, conceptual and utilities and even listed a total of 35 animals considered most important, with emphasis on vertebrates and 21 domestic animals taken less significant in his views, especially snakes. Our results should be observed in order to manage and enhance the environmental education activities in the area, so as to try to reduce conflict man x animal and safeguard the historical and cultural tradition of the exploitation of natural resources in the region.


Keywords: Education; Environmental perception; Caatinga biome


Sumário: 1. Introdução. 2. Material e Métodos. 2.1. Área de estudo. 2.2. Caracterização da Pesquisa e coleta dos dados. 3. Resultados e discussão. 3.1. Da concepção de animal. 3.2. Da relevância da fauna. 3.3. Dos animais menos relevantes. 4. Conclusões. Referências bibliográficas.


1. Introdução


A diversidade biológica compõe um dos bens naturais mais importantes e valiosos do mundo, e assim como a água, a terra, o sol, o ar que respiramos, faz parte do patrimônio natural do planeta que pode ser beneficamente manejado para usufruto da população. A fauna e a flora abrangem uma diversidade imensurável de vida, tanto no meio aquático quanto no terrestre e são, tanto quanto qualquer outro tesouro nacional, tão dignas de proteção, cuidado e zelo (Alves et al., 2008).


A biodiversidade constitui-se de um conglomerado complexo de interações e interdependências entre fatores fisicoquímicos e biológicos que proporcionam a estabilidade na dinâmica dos sistemas ambientais (Ricklefs, 2003). O Brasil é extremamente privilegiado no que diz respeito à biodiversidade, figurando entre os três países mais biodiversos do mundo e com cerca de 20% das espécies vivas conhecidas ocorrendo dentro de seus limites (MMA, 2011).


Além dos fatores ambientais, existem vários fatores sociais que identificam como recursos naturais, certos elementos do meio ambiente. No entanto, a importância de tais recursos é determinada pelos seus diferentes valores para o homem. Um recurso natural é, portanto, um conceito social baseado em necessidades humanas (Fraga, 1999), bem como um conjunto constituído por todos os elementos do ambiente natural que são necessários para a sobrevivência de um grupo social (Begossi, 1998). Neste contexto, os recursos podem ser utilizados na sua forma natural para satisfazer as necessidades de uma sociedade (Bassols, 1969). Assim, o uso no presente e o potencial de utilização futura são o que definem globalmente qualquer recurso natural (Bassols, 1969; Leff, 1994), incluindo as espécies de fauna e flora que têm algum valor para o homem.


Além da sua relevância social, a importância de um recurso é conferida pelo seu significado cultural e econômico (Sheil et al., 2004). Isso ocorre, pois o valor de um recurso reflete a visão de seus usuários, sendo importante assim, incluir os fatores socioculturais e econômicos ao se avaliar os problemas decorrentes da exploração de qualquer recurso natural (Sheil et al., 2004).


Como a pobreza da população é considerada o principal desafio na Caatinga, a conservação da biodiversidade está entre as menores prioridades de investimento. Além dos percalços socioeconômicos, o semiárido brasileiro ainda é tido por alguns como sendo um ecossistema carente em recursos ecológicos, espécies e endemismos (Vanzolini et al., 1980; Andrade-Lima, 1982; Prance, 1987), o que não configura um fato, tendo em vista a significante ocorrência de espécies endêmicas, tanto florísticas quanto faunísticas (Leal et al., 2003). Contudo, apesar de ser o único grande ecossistema natural brasileiro cujos perímetros estão completamente restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à preservação da variada e acentuada paisagem da caatinga, e a contribuição da sua biota à biodiversidade extremamente alta do Brasil tem sido subestimada (Silva et al., 2004).


Sabe-se, todavia, que conhecer a biodiversidade do semi-árido e seus diferentes modos de uso por parte das populações humanas constitui um passo importante para que seus recursos possam ser aproveitados de maneira sustentável, reduzindo a degradação ambiental e melhorando a qualidade de vida de seus habitantes. Desse modo, estudos que busquem o conhecimento da biodiversidade e suas formas de utilização são fundamentais para subsidiar projetos de desenvolvimento sustentável para a região semi-árida (Barbosa, 2010). Nesse sentido, objetivamos avaliar a percepção de moradores da zona rural dos municípios de Fagundes e Queimadas, na mesorregião Agreste do Estado da Paraíba, acerca da concepção da fauna na caatinga, bem como, com base nos dados obtidos, averiguar quais as eventuais necessidades de implementação e melhoria de trabalhos de educação ambiental, sobretudo nessas áreas da caatinga, fornecendo dados que possam ser usados na organização de técnicas e estratégias educacionais que valorizem a região de maneira adequada, e conscientizem as populações locais da conspícua obrigação de uma modificação de mentalidade e valores, tendo em vista à reabilitação e conservação do bioma caatinga.


2. Material e métodos


2.1. Área de estudo


Esta pesquisa foi realizada em duas comunidades rurais nos municípios de Queimadas (latitude 7º21´29″S; longitude 35º53´53″W) e Fagundes (latitude 7°20’45.56″S; longitude 35°47’51.13″W), ambos localizados na Mesorregião Agreste Paraibano. Tanto o município de Queimadas quanto o de Fagundes estão inseridos predominantemente na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. A vegetação é basicamente composta por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia. O clima é do tipo Tropical Semiárido, com chuvas de verão. Esses municípios apresentam uma precipitação média anual de 431,8mm (CPRM, 2005a; CPRM, 2005b).


Queimadas possui uma área de 409 km². A sede da cidade tem uma altitude aproximada de 450 metros, distando 117,2 Km da capital (CPRM, 2005a e IBGE, 2010). O município foi criado em 1961 e possui uma população total é de 38.883 habitantes (IBGE, 2010), sendo 17.046 na área urbana. Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0.595, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano-PNUD – 2000 (CPRM, 2005a).


O Sítio Gravatá no município Queimadas, escolhido para ser uma das áreas analisadas, recebeu esse nome por conta da incidência de muitas bromeliáceas conhecidas como gravatá na região. Essa comunidade, em virtude de sua grande extensão territorial, foi subdividida em três áreas: Gravatá de Queimadas – por estar mais próxima da sede do município; Gravatá dos Trigueiros e Gravatá dos Velez – ambos os nomes por conta de famílias tradicionais que habitavam a região. A localidade apresenta cerca de 80 residências, relativamente afastadas umas das outras e próximas a algumas serras que mantém trechos pouco preservados de vegetação nativa (Barbosa, 2010).


Fagundes possui uma área de 162 km². A sede do município tem uma altitude aproximada de 505 metros, distando 104 Km da capital (CPRM, 2005b e IBGE, 2010).O município foi criado em 1961 e possui uma população total é de 11.830 habitantes, sendo 4.958 na área urbana. Seu índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0.559, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano-PNUD – 2000 (CPRM, 2005b).


O Sítio Salvador no município de Fagundes, também selecionado como área deste estudo, apresenta uma extensão menor quando comparado ao Sítio Gravatá em Queimadas. A localidade comporta cerca de 40 residências próximas umas das outras, o que culmina em um estreitamento de relações entre os habitantes locais. A região é cercada por serras, contudo, estas serras apresentam consideráveis áreas comprometidas pela ação antrópica (Barbosa, 2010).


2.2. Caracterização da pesquisa e coleta dos dados


O presente trabalho trata uma pesquisa participativa realizada entre os meses de março de 2008 e junho de 2009 nos municípios de Queimadas e Fagundes na mesorregião Agreste do estado da Paraíba. Essas localidades foram escolhidas como forma de dar continuidade a pesquisas acerca das interações homem/biodiversidade na região, sendo áreas já visitadas em pesquisas de campo anteriores (Barbosa, 2010), o que possibilitou um diálogo mais aberto entre os pesquisadores e os membros das comunidades (happort) e, em virtude também do acentuado processo de degradação ambiental em que se encontram seus trechos de caatinga hiperxerófila e de remanescentes cadulcifólios.


Segundo Thiollent (2005), na pesquisa participativa, os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com intuito de serem melhor aceitos, enquanto desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas.


Ainda de acordo com Alves et al. (2008), na pesquisa participativa o problema se origina na comunidade em estudo e a última finalidade da pesquisa é a transformação estrutural fundamental e melhoria da vida dos envolvidos.


Sendo assim, nas visitas iniciais averiguamos através de estrevistas livres (Mello, 1995; Chizzoti, 2000; Albuquerque & Lucena, 2004) e aplicação de formulários semiestruturados (Huntington, 2000; Albuquerque & Lucena, 2004), a concepção de fauna e a importância relativa atribuida aos animais por 78 entrevistados, sendo 42 do município de Queimadas e 36 do município de Fagundes.


Os dados acerca das concepções de fauna foram agrupados em três categorias: Conceitual, Utilitária e Afetiva, de acordo com Razera et al. (2006). Posteriormente, pedimos que os entrevistados listassem, de acordo com o grau de importância relativa atribuida, os animais da região mais relevantes para si, bem como aqueles aos quais eles atribuiam menor importância.


Em visitas subsequentes, mostramos aos entrevistados os resultados de pesquisas anteriores acerca das modalidades de aproveitamento dos recursos faunísticos desenvolvidas na região (Barbosa, 2010), bem como demonstramos, através de dinâmicas e palestras a importância do conhecimento tradicional das populações locais para preservação dos recursos naturais.


Por último, pedimos que os entrevistados novamente listassem os animais mais importantes para si e o motivo dessa relevância, bem como que opinassem acerca dos animais considerados menos relevantes nas primeiras entrevistas.


3. Resultados e discussão


Foram entrevistadas no total 78 pessoas (44 mulheres e 34 homens) com idade variando de 19 a 74 anos. Estes listaram na primeira entrevista, de acordo com o grau de importância relativa atribuída, um total de 35 animais sendo que essas citações, em sua grande maioria (78%) foram destinadas a animais domésticos.


3.1. Da concepção de animal


Quando questionados com a pergunta “O que é um animal para você?”, os 78 entrevistados utilizaram-se para responder, de algumas características que foram agrupadas em três categorias – Afetiva, Conceitual e Utilitária.


As respostas baseadas em aspectos afetivos foram as mais recorrentes, com 49% de representatividade (63 respostas), como nas seguntes frases:


“Um animal é um amigo […], um amigo de verdade.” (L. V. A. – 34 anos).


“É um ser que torna a vida da gente mais alegre.” (A. A. O. – 61 anos).


As concepções de carater utilitário representaram 20% das respostas dos entrevistados (26 respostas), como nos trechos seguintes:


“Animais são seres que nos ajudam na lida. Sem eles tudo ia ser mais dificil.” (J. V. – 69 anos).


“São seres que servem pra comer ou pra gente carregar as coisas e, se quiser até andar neles.” (M. J. C. – 47 anos).


As respostas de carater conceitual foram as menos recorrentes, representando apenas 9 % de representatividade (11 respostas), como nas frases a seguir:


“É um ser vivo irracional que a gente pode domesticar.” (J. A. A. B. V. – 23 anos).


“Animais são seres vivos como nós, só que não pensam.” (R. C. – 55 anos).


A mesma tendência de concepções acerca da definição do termo “Animal” baseadas, sobretudo em características afetivas, foi encontrada por Razera et al. (2006), em seu estudo acerca das definições sobre a fauna em uma tribo Tupinambá no Nordeste do Brasil. Isso pode demonstrar uma tendência de apropriação conceitual da fauna baseada em potencialidades de domesticação. Ainda em relação à classificação zoológica popular, os seres humanos, segundo Posey (1986), percebem, identificam, categorizam, classificam os animais de acordo com os costumes e percepções próprios de cada cultura, estabelecendo uma diversidade de interações com as espécies animais nas localidades onde residem.


Para Moura (2004), a fauna doméstica caracteriza-se por sua especial forma de interação com o homem em seu meio ambiente, apresentando comportamento normalmente dócil e de grande dependência para sua subsistência. Como de fato ocorreu nas comunidades estudadas, onde grande parte dos entrevistados cria animais por apego e para alimentação.


3.2. Da relevância da fauna


Quando foi pedido aos entrevistados que listassem os animais mais relevantes para si, os mesmos mencionaram 35 espécies, com 78% dessas meções referidas a animais domésticos. As espécies mais citadas foram: Vaca/ Boi – Bos taurus (73 citações) e Galinha – Gallus gallus domesticus (70 citações). Estes números podem demonstrar as relações de cotidiano dos entrevistados. Para Marques (2001), as sociedades constroem suas etnotaxonomias e atribuem importância aos seres, considerando de forma marginal seu conhecimento sobre as espécies biológicas (dimensão cognitiva), sobretudo pelos sentimentos (dimensão afetiva), pelas crenças (dimensão ideológicas) e pelos comportamentos (dimensão etológica) que definem as interações dos seres humanos com os recursos faunísticos de seu ambiente.


Dos animais citados pelos entrevistados, apenas os vertebrados foram mencionados, dentre eles, os mamíferos e as aves tiveram a maior frequência de citações, num total de 11 mamíferos listados e citados 389 vezes e 19 aves listadas e citadas 331 vezes. Esse resultado pode ser consequência da maior visibilidade desses grupos faunísticos na região, graças a, sobretudo, domesticação de alguns mamíferos e aves citados, como Bos taurus e Gallus gallus domesticus  e do consumo de representantes silvestres como Cavia aperea e Columbina minuta.


Devem-se ainda destacar as motivações comerciais direcionadas, sobretudo as aves, como por exemplo, Passerina brissonii e Paroaria dominicana, que são comercializadas entre alguns membros da comunidade e até mesmo vendidas em feiras livres de municípios vizinhos, como já haviam denunciado Barbosa (2010) em trabalho acerca da utilização da fauna por populações tradicionais do semi-árido paraibano e Barbosa et al. (2010) em estudo sobre os aspectos da caça e comércio ilegal da avifauna silvestre por populações tradicionais do agreste paraibano.


De fato, vários trabalhos denunciam o comércio ilegal de animais em áreas da mesorregião Agreste do estado da Paraíba (Rocha et al., 2006; Alves et al., 2009; Nobrega et al., 2009; Barbosa et al., 2009; Barbosa, 2010; Barbosa e Alves, 2010; Barbosa et al., 2010), o que sugere a existência de rotas comerciais de destinação ativas e pré-definidas para os animais capturadas nas zonas rurais agrestinas, evidenciando a necessidade de uma fiscalização mais efetiva que reprima essa prática ilegal que vem se consolidando na região.


3.3. Dos animais “menos relevantes”


Quando perguntados acerca das espécies da fauna consideradas menos relevantes para si, os entrevistados mencionaram um total de 21 animais, citados 263 vezes, e afirmaram que todos são caçados e abatidos na região, com destaque para as serpentes, com 10 espécies mencionadas e 152 citações, o que representa 57,8% do total de menções a espécies caçadas sob forma de controle nas áreas pesquisadas.


Observou-se que todas as serpentes, de maneira geral, são rotulada na região como seres nocivos e perigosos que precisam ser abatidos para que as comunidades se sintam seguras. Essa concepção cultural acerca das serpentes é transmitida de geração a geração, agravando ainda mais o quadro de ameaça a diversidade biológica local. De fato, as serpentes são historicamente os animais mais odiados e ao mesmo tempo os que causam maior curiosidade (Vainer, 1945; Silva Junior, 1956). Conforme Puorto (2001), a aversão a estes animais deve ser tão antiga quanto a própria humanidade.


Percebeu-se que outro forte estimulador da caça de animais silvestres na região é o seu eventual potencial para atacar criações de animais domésticos. A conexão com o componente zoológico é permeada de contradições e ambiguidades, pois a fauna nativa tanto pode constituir-se em fonte de recursos quanto ser vista como possibilidade de riscos (Marques, 2001). Trinca & Ferrari (2006), em seu estudo sobre caça no assentamento rural Japuranã, município de Nova Bandeirantes, MT, notaram que em 14,2% dos casos de abate dos animais, estes eram caçados por predarem criações, caracterizando a caça de controle, ou por serem considerados perigosos aos animais domésticos e às pessoas. Normalmente, animais carnívoros silvestres não têm o habito de atacar criações domésticas, já que em ambientes que apresentam condições para a sua sobrevivência, esses animais evitam qualquer contato com o homem e suas criações. Entretanto, devido à diminuição de suas presas naturais em virtude da caça predatória e/ou da fragmentação do habitat, os carnívoros podem atacar espécies domésticas (Azevedo & Conforti, 2002). Nesse sentido, foram de suma importância os trabalhos de educação ambiental realizados, no intuito de conscientizar as populações locais acerca do papel de cada ser vivo na manutenção dos ecossistemas.


Em virtude de uma visão, por vezes deturpada e degradante acerca da importância da fauna local por alguns habitantes, tornam-se se suma importância os trabalhos de educação ambiental continuada, estendida além do âmbito escolar, pois, segundo Barbosa (2011), a formação dos mestres, seja qual for o nível ou modalidade, pressupõe a observância da lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), que estipula que a “educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe formação comum  indispensável para o exercício da cidadania, do qual faz parte a manutenção da biodiversidade nacional.


De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, é preciso trabalhar de forma contextualizada o tema transversal Meio Ambiente, que engloba também a fauna. Esse trabalho em salas de aula, muitas vezes, através dos próprios estudantes se estende aos lares, chegando assim à grande parte da comunidade. Em seu artigo 26 a LDB prevê uma parte do ensino diversificada em função das peculiaridades locais, o que, na área de estudo seria de grande valia, em virtude da visão errônea e precipitada de alguns habitantes acerca de determinados elementos da fauna da região.


No artigo 46, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) prevê o dever de incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e a criação e difusão da cultura, para, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. Sendo assim, tenta-se com o presente estudo fortalecer esse entendimento entre homem e ambiente, sobretudo homem x fauna, no intuito de, através da educação ambiental continuada, possibilitar a conservação da fauna da Caatinga e promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios do conhecimento aplicado à realidade local.


4. Conclusão


Os resultados do estudo demonstraram que os entrevistados, na maioria, percebem os animais baseando-se em aspectos afetivos.


Os vertebrados foram os únicos animais citados, provavelmente graças à proximidade e maior gama de interações desses animais com os entrevistados.


Alguns animais foram inicialmente considerados menos relevantes, sobretudo por, na opinião dos entrevistados, colocarem em perigo a vida das pessoas que habitam a região, ou por ameaçarem criações de animais domésticos. Deve-se atentar para esse fato, no intuito de intensificar as atividades de educação ambiental na área, para assim, tentar mitigar os conflitos homem x animais na região.


 


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Informações Sobre os Autores

José Aécio Alves Barbosa

Biólogo, Mestre em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais/ UFCG. Membro do Grupo de Pesquisas em História, Meio Ambiente e Questões Étnicas da UFCG

Alice Alves de Oliveira

Cooperadora informal na realização de um Plano de Estudos do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais CTRN da Universidade Federal de Campina Grande UFCG.

Tercio De Sousa Mota


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