Algumas considerações sobre o desenvolvimento sustentável e a necessária preocupação com os recursos naturais

Resumo: A relação entre o homem e a natureza esteve caracterizada
por um longo tempo pela dominação do homem e a sua falta de preocupação na
utilização dos recursos naturais. Atualmente começa a surgir uma nova
mentalidade, em que o homem deve procurar viver em harmonia com a natureza. A
preocupação com a disponibilidade dos recursos naturais no futuro não é fruto
apenas da escassez de alguns deles, mas de uma conscientização que começa a se
manifestar, mas ainda precisa ser bastante trabalhada, para que se possa salvar
o planeta da ação humana.

Sumário: 1 Introdução; 2
Breve introdução acerca dos recursos; 3 A disponibilidade dos principais
recursos naturais; 4 O desafio da sustentabilidade; 5 Considerações finais; 6
Referências.

1 Introdução

A sociedade contemporânea ainda tenta se
desvencilhar da visão antropocêntrica de mundo. Visão essa que autorizava o
homem a dominar a natureza, e dela se utilizar como se a sua existência fosse
exclusivamente para satisfazer as necessidades humanas. Resultado desse paradigma
e das imposições do capitalismo é a crise ambiental que vivemos hoje.

Os recursos naturais sempre foram utilizados de
modo predatório, sem qualquer preocupação com a preservação dos recursos
naturais e da diversidade biológica como um todo. A preocupação com a
disponibilidade dos recursos naturais só teve lugar quando houve sinais de
escassez, e não por preocupação efetiva com o meio ambiente.

Hoje já começa a surgir uma nova mentalidade, com a
valorização de todos os componentes da biosfera. Não apenas por motivos
econômicos, mas por uma conscientização que não somos donos do planeta, apenas
fazemos parte dele – assim como todas as demais espécies.

Esse breve estudo pretende analisar as estimativas
atuais referentes à disponibilidade e ao uso dos recursos naturais nas próximas
três décadas, e buscar os caminhos que a humanidade deve seguir para que o
nosso planeta continue viável.

2 Breve introdução acerca dos recursos

O termo “recursos” refere-se a concentrações de
materiais, descobertos ou não, em tal forma que uma mercadoria útil pode ser
extraída no presente, ou aguardar para ser extraída no futuro. Os fatores a
serem considerados incluem: ambiente, tecnologias atuais e antecipadas, limites
impostos pela profundidade e pela disponibilidade de água e energia. As
estimativas de recursos não podem ser exatas, pois não é possível precisar
quando ou se os recursos não descobertos se tornarão disponíveis (CORSON, 1996,
p. 177-178).

Os recursos dividem-se em renováveis e
não-renováveis. Os primeiros são os recursos que, após serem utilizados voltam
a ser disponíveis, tais como a pesca, madeira, agricultura, etc. Enquanto que
os segundos são aqueles que, após seu consumo, não ficam mais disponíveis. Por
serem finitos, um dia irão se esgotar do planeta. Exemplos de recursos
não-renováveis são os minérios, o petróleo, o gás e o carvão.

Reservas são os recursos conhecidos, identificados,
dos quais uma mercadoria pode ser extraída tecnologicamente e economicamente,
na época de designação. As reservas estimadas mudam com o tempo, suas
estimativas geralmente aumentam à medida que a exploração é iniciada (CORSON,
1996, p. 178).

3 A disponibilidade dos principais
recursos naturais

3.1 Energia

A energia é essencial para a realização das mais
diversas atividades humanas – tais como transporte, aquecimento, processos
industriais –, e pode ser gerada a partir de fontes renováveis ou
não-renováveis de recursos.

Atualmente, a maior parte da energia utilizada,
mais precisamente cerca de 88% da energia comercial, provém dos combustíveis
fósseis – petróleo, gás, carvão –, que não são renováveis, pois são os restos
de animais e vegetais que viveram há milhões de anos (LOMBORG, 2002, p.
165-166). Não bastasse esse elevado número, a Conferência Mundial de Energia,
realizada no ano de 1989, projetou um aumento de demanda da energia mundial de
75% em torno do ano de 2020 – se o crescimento demográfico e o econômico global
permanecerem nesses níveis –, sendo que o fornecimento continuará a ser
predominantemente de combustíveis fósseis (PENNA, 1999, p. 137).

Apesar de ser um aspecto preocupante dentro da
questão da disponibilidade e uso dos recursos naturais, há quem defenda que não
há o porquê se preocupar com a questão da energia.

Bjorn Lomborg (2002, p. 165-166) afirma:

“Se a tecnologia permanecesse constante e
continuássemos usando apenas combustíveis fósseis, um dia ficaríamos sem
energia. Mas o fato é que a tecnologia não permanece constante e os
combustíveis fósseis não são a nossa única ou principal fonte de energia a
longo prazo. Primeiro, os dados históricos mostram que temos nos tornado cada
vez mais exímios em encontrar, extrair e utilizar combustíveis fósseis,
ultrapassando mesmo o aumento do consumo. Segundo, sabemos que a energia solar
disponível excede de longe as nossas necessidades de energia, e ela
provavelmente estará disponível a preços competitivos dentro de 50 anos”.

Hamish McRae (1998, p. 149) também defende que não
há uma crise global de energia, e entende que se há crise, é apenas em pontos
específicos, configurando problemas regionais. Em suas palavras:

“Não
existe uma crise global de energia. (…) Felizmente, à exceção do petróleo,
existem carvão e gás em quantidade, porque a maior parte da energia do mundo
virá de combustíveis fósseis, pelo menos a maior parte da energia do mundo virá
de combustíveis fósseis pelo menos por mais 25 anos, e talvez por mais cem”.
(McRAE, 1998, p. 156)

Apesar de defender não haver escassez generalizada
de energia no planeta, McRae (1998, p. 159) admite que o século XXI poderá sofrer
com a escassez e o aumento do preço do petróleo, com as escassezes de energia
regionais e com os efeitos poluidores do uso de combustíveis fósseis.

Dentre os três combustíveis fósseis primários, o
petróleo é o que possui um maior teor energético, é mais versátil e
relativamente fácil de transportar. O carvão é mais volumoso, mais pesado e
também mais poluente. O gás é limpo, mas requer gasodutos para o seu transporte
e é muito volumoso (LOMBORG, 2002, p. 148-149).

A preocupação com a escassez das reservas de
petróleo não é de hoje. Muitas previsões foram feitas em relação aos anos de
consumo restantes. McRae (1998, p. 159-160)
traz uma delas:

“Em 1985, as reservas de petróleo comprovadas
equivaliam ao consumo de 32,5 anos. Se não houvesse reduções no consumo nem
novas descobertas, não restaria, em teoria, petróleo algum em 2020. Isso não
vai acontecer. Muito antes dessa última gota de petróleo ter sido bombeada do
solo, o preço terá subido e mais petróleo terá sido encontrado, substitutos
terão sido criados ou programas de conservação terão sido implementados. No
entanto, mesmo com melhores métodos de extração, que possibilitem que uma
proporção maior das reservas de um campo seja recuperada, mesmo levando-se em
contas algumas novas descobertas, e mesmo partindo do pressuposto de que os
esforços de conservação continuem, os estoques de petróleo ficarão apertados”.

Lomborg (2002, p. 165) defende que há petróleo para
pelo menos 40 anos ao nível do consumo atual, gás para pelo menos 60 anos e
carvão para 230 anos. McRae (1998, p. 156) também afirma haver, se mantidas as
taxas atuais de consumo, carvão suficiente para mais de 200 anos, e gás natural
suficiente para uns 60 anos. Corson (1996, p. 194) ratifica os dados referentes
às reservas mundiais de gás natural e de carvão, mas alerta que o uso do carvão
á causa principal da chuva ácida, do aquecimento global e de outros problemas
ambientais.

Apesar dos dados desencontrados e dos
posicionamentos diversos, os autores ainda concordam em um aspecto: na
necessidade de substituição da utilização dos combustíveis fósseis,
especialmente do petróleo, por fontes renováveis de energia – a Europa quer ter
22% de sua eletricidade e 12% de sua energia total de fontes renováveis em 2010
(LOVINS, 2005, p. 72).

Corson (1996, p. 197-198) aponta como principais
fontes de renováveis de energia a hidroforça, a energia geotérmica, a energia
térmica solar, a célula fotovoltaica, a energia eólica, a energia dos oceanos e
a biomassa. Lomborg (2002, p. 152-154) aponta como alternativas a energia
nuclear, as energias eólica e solar, biomassa e óleo de xisto. McRae (1998, p.
158) aponta a madeira como a fonte de energia que pode aliviar um pouco da
pressão sobre as reservas de combustíveis fósseis.

O desafio que se apresenta em relação às fontes de
energia renováveis consiste em utilizá-las de modo que não cause danos ao meio
ambiente natural e que seja economicamente competitivo (CORSON, 1996, p. 197).
Em relação às fontes de energia em geral, é preciso melhorar a eficiência no
seu uso, para a quantidade de energia consumida possa ser reduzida (CORSON,
1996, p. 203).

3.2 Recursos não-energéticos

A preocupação com o esgotamento dos recursos não
está relacionada apenas com a energia, mas também com o uso de minerais não
combustíveis. Os minerais são matérias-primas não renováveis e essenciais à
civilização humana, pois são usadas diariamente mais de cem tipos de minerais,
sob diversas formas e combinações. Apesar de não serem renováveis, quando do
seu uso em geral podem ser reutilizados, vez que continuam existindo, ainda que
sob uma outra forma. Assim, a reciclagem dos minerais é de grande importância
(CORSON, 1996, p. 176; PENNA, 1999, p. 163-164).

A disponibilidade futura dos minerais, sejam eles
metálicos ou não metálicos, não é passível de certeza, pois depende de vários
aspectos e do ponto de vista adotado – seja ele natural ou econômico.

De acordo com Corson (1996, p. 180), se mantidos os
níveis atuais de consumo, haverá cobre, mercúrio, zinco e chumbo para menos de
50 anos; bauxita, pedra fosfato e níquel para cera de 50 a 100 anos; minério de
ferro para de 100 a 200 anos, cal e silício para mais de milhares de anos; e
sal e metal magnésio de modo quase infinito.

Para Lomborg (2002, p. 168-176), com nossas
reservas atuais, haverá cobre suficiente para 50 anos, cimento para de 1.000
anos, alumínio para 276 anos, minério de ferro para 297 anos, fósforo para
cerca de 180 anos, potássio
para pelo menos 357 anos – podendo chegar a 700 anos –, zinco para 54 anos, aos
níveis atuais de consumo.

3.3
Alimentos

Os alimentos são recursos de grande importância
para toda a humanidade, pois são elementos indispensáveis à própria
sobrevivência.

Apesar das grandes diferenças existentes nas
diversas partes do planeta, em geral a produção de alimentos está aumentando
mais do que a população. É evidente que essa afirmação não significa que não
haja mais fome no mundo, pois milhões de pessoas passam fome e/ou são
subnutridas atualmente. Cerca de um quinto da população mundial não consome as
calorias diárias necessárias. O que ocorre é a má distribuição dos alimentos
produzidos (CORSON, 1996, p. 68).

Lomborg (2002, p. 5) afirma que haverá cada vez
mais alimentos por pessoa na população mundial, e que a situação é muito melhor
do que em outros tempos:

“A questão é que um número cada vez menor de
pessoas no mundo passa fome. Em 1970, 35% das pessoas nos países em
desenvolvimento passavam fome. Em 1966, o percentual caiu para 18%, e as Nações
Unidas esperam que, até o ano 2010, tenha caído mais ainda, chegando a 12%.
(…) A situação melhorou muito, mas em 2010 ainda haverá 680 milhões de
pessoas passando fome no mundo, o que obviamente não é suficientemente bom”.

E acrescenta:

“Basicamente,
sabemos que hoje há muito mais alimentos por pessoa do que costumava haver,
embora a população tenha dobrado desde 1961. (…) Enquanto em 1971 quase 920
milhões de pessoas passavam fome, o total caiu para menos de 792 milhões de
pessoas em 1997. Espera-se que caia para 680 milhões em 2010”. (LOMBORG, 2002,
p. 76-77)

Apesar dessa visão otimista, sabe-se que a cada ano
cerca de 40 a 60 milhões de pessoas morrem de fome ou devido a doenças
relacionadas a ela (CORSON, 1996, p. 68). De modo que é preciso aumentar a
produção de alimentos, fazer com que os alimentos produzidos cheguem aos que
têm fome, e se utilizar de métodos sustentáveis de agricultura, para não
agravar ainda mais a crise ambiental.

A agricultura também tem um grande desafio pela
frente, como aponta Paul Polak (2005, p. 76):

“Em 2050 os agricultores do mundo terão de
alimentar 9 bilhões de pessoas – 3 bilhões a mais que a população atual – sem
ampliar muito a quantidade de terra e de água dedicada à agricultura. A água,
em particular, revelou-se o ponto essencial para aumentar a produção agrícola e
aliviar a pobreza, porque são necessários quase mil litros de água para
cultivar 1 quilo de grãos. Precisamos armazenar mais água para a irrigação e
administrar nosso fornecimento de forma mais eficaz”.

Assim, para tornar a produção agrícola mais
eficiente e sustentável é preciso: melhorar a eficiência e o aproveitamento da
produção agrícola; reduzir a erosão do solo e a desertificação; reduzir a
dependência por fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas; reduzir o uso
de combustível fóssil na agricultura; expandir a aquacultura; reforçar as
pesquisas na agricultura e educação; implementação de medidas administrativas,
políticas e econômicas para melhorar a agricultura; limitar o crescimento
populacional (CORSON, 1996, p. 82-88).

3.4 Água

O grande problema referente à questão da água é a
sua crescente demanda, ao mesmo tempo em que há o declínio de sua qualidade. A
água doce é um recurso renovável desde que for usada de maneira adequada e
cuidadosa, respeitando totalmente o ciclo hidrológico. Ocorre que o crescimento
populacional e a crescente demanda por energia e alimentos estão acabando com
os suprimentos de água doce (CORSON, 1996, p. 156-157). Segundo Barlow e Clarke
(2003, p. 8), “o consumo global de água está dobrando a cada 20 anos, mais que
o dobro da taxa de crescimento populacional.”

As águas cobrem três quartos da superfície da
Terra, mas menos de 3% desse total é de água doce (CORSON, 1996, p. 157).
Calcula-se que a quantidade de água doce disponível é menos que 0,5% de toda a
água do planeta (BARLOW; CLARKE, 2003, p. 5). A escassez – e principalmente a
distribuição desigual – da água doce é possivelmente um dos problemas mais
graves que o mundo enfrentará nos próximos anos em relação à disponibilidade de
recursos (McRAE, 1998, p. 152).

Barlow e Clarke (2003, p. xxiv) alertam: “A menos
que mudemos nosso comportamento drasticamente, entre 1/2
e 2/3 da humanidade estará vivendo com severa escassez de
água doce nos próximos vinte e cinco anos.” E trazem dados preocupantes:

“De acordo com as Nações Unidas, 31 países no mundo
atualmente enfrentam escassez de água. Mais de um bilhão de pessoas não têm
nenhum acesso à água limpa para beber e quase três bilhões não têm acesso a
serviços de saneamento público. Até o ano 2025, o mundo terá 2,6 bilhões de
pessoas a mais do que tem hoje, mas 2/3 dessas pessoas viverá em condições de
séria escassez de água, e 1/3 com escassez de água absoluta. A demanda por água
excederá a disponibilidade em 56%.” (BARLOW; CLARKE, 2003, p. 29)

Apesar de haver certo consenso em relação ao problema
da água, em se tratando da disponibilidade de recursos, sempre há
posicionamentos diversos. Não seria diferente com a questão da água doce
disponível. Lomborg (2002, p. 180) tem posicionamento contrário ao de Barlow e
Clark, ao defender que “É verdade que pode haver problemas regionais e logísticos
com a água. Teremos de aumentar a eficiência de seu uso. Mas basicamente temos
água suficiente”.

Ainda que as visões sobre essa problemática sejam
tão diferentes, existe um ponto em comum: a água do planeta precisa ser melhor
gerenciada. Assim como os demais recursos, não basta a abundância, ou uma
quantidade suficiente disponível para a utilização. É preciso que todos tenham
acesso a ele.

3.5 Florestas

As florestas, assim como ocorre com a água,
constituem um recurso renovável que está sendo explorado pelo homem de modo
excessivo, de forma a não conseguir acompanhar o ritmo da exploração através de
seu ciclo de renovação. As florestas estão desaparecendo de nosso planeta, e o
problema é ainda mais grave em relação às florestas tropicais, que possuem
grande diversidade biológica.

As flores tropicais são importantes pois mantêm as
populações nativas e servem de habitat a milhões de espécies de plantas e
animais; fornecem muitos produtos, tais como a madeira, frutas, vegetais,
condimentos, medicamentos, borracha, óleo, cera, entre outros; podem controlar
doenças e pestes; além de seu valor estético inestimável (CORSON, 1996, p.
117-118).

As causas do desmatamento das florestas tropicais
são: a agricultura; o corte de árvores para obtenção de madeira e para a
indústria; a obtenção de carvão vegetal; a criação de gado; os projetos de
desenvolvimento em larga escala; o grande crescimento populacional e a
distribuição desigual de terras; a pobreza; e até a realização de objetivos
militares (CORSON, 1996, p. 119-122).

As conseqüências do desflorestamento são a extinção
de plantas e animais; o deslocamento de culturas indígenas e de outras
comunidades locais; a degradação dos solos de florestas; o assoreamento dos
cursos de água; o rompimento dos fluxos de água; mudanças climáticas regionais;
alteração do clima global; e a perda de produtos valiosos (CORSON, 1996, p.
122-124).

Nesse sentido, Edward Wilson (2002, p. 79) alerta:

“A perda de florestas durante os últimos cinqüenta
anos constitui uma das modificações ambientais mais rápidas e profundas da
história de nosso planeta. O impacto sobre a biodiversidade é automático e
cruel. Reduzir a área de um habitat é diminuir o número de espécies que podem
viver nesse habitat de forma estável. (…) a redução de um habitat a um décimo
da área original faz com que a variedade da flora e da fauna seja reduzida
aproximadamente à metade”.

O ação do ser humano vem destruindo as florestas do
planeta de modo implacável. Calcula-se que a Europa já perdeu cerca de 50 a 70%
de sua floresta original. Na América, os Estados Unidos derrubaram cerca de 30%
de sua área de floresta original, enquanto que a América Latina perdeu cerca de
20% de sua cobertura florestal. O sul da Ásia e a China também diminuíram em
50% a sua cobertura florestal original (LOMBORG, 2002, p. 136-137).

Para reduzir os atuais índices de desmatamento, é
preciso: a criação de reservas florestais; melhorias na administração das
florestas; prevenção dos projetos de desenvolvimento insustentável; recuperação
de áreas desflorestadas; melhorias na agricultura; redistribuição da terra;
redução do crescimento populacional; e a limitação por produtos tropicais
(CORSON, 1996, p. 124-127).

 3.6
Diversidade biológica

A diversidade biológica está sendo diminuída
sensivelmente através da extinção de milhares de espécies de plantas, animais e
outros organismos. A perda mais séria da biodiversidade está ocorrendo nos
trópicos, em razão do grande crescimento populacional, da pobreza generalizada,
da demanda crescente por carvão vegetal e falha nos métodos de agricultura
sustentável e florestamento (CORSON, 1996, p. 100-101).

A preservação da diversidade biológica é essencial
para a vida e o bem estar do ser humano porque é a fonte de recursos naturais
mais importantes do planeta – muitas espécies oferecem às pessoas importantes
produtos, entre eles alimentos, medicamentos e matérias-primas às indústrias –,
além de conservar a estabilidade dos ecossistemas (WILSON, 2002, p. 128).

Carlos Penna (1999, p. 86) trata da importância da
diversidade biológica:

“O valor ecológico da biodiversidade é
incomensurável. Ela tem um papel fundamental no funcionamento dos ecossistemas,
nos quais se desenvolvem os processos essenciais à vida humana, na regulação do
ciclo da água, na proteção contra a erosão, na manutenção da qualidade do solo,
na polinização de culturas, na reciclagem de dejetos e como barreira contra
catástrofes naturais. Os ecossistemas são fontes de alimentos, fibras, energia,
madeiras, medicamentos, produtos industriais, genes para melhorar as variedades
de cultura etc. Os processos dos enxofre, elementos essenciais à vida.”

As estimativas referentes à extinção das espécies
variam bastante.

Para Penna (1999, p. 86), “se algo não for feito
para reverter a atual tendência, de 5% a 20% de alguns grupos específicos de
vegetais e animais estarão, em futuro próximo, ameaçados de serem extintos da
face do planeta.”

Kenski (2005, p. 49) afirma que “até 37% das
espécies do planeta estarão extintas até 2050 – e esta é uma estimativa
otimista. Ela não leva em conta a interação do clima com fatores como o
desmatamento e barreiras para a migração, como estradas, cidades e plantações.”

Para McRae (1998, p. 164) “nos países
industrializados, o meio ambiente local e a biodiversidade tenderão a melhorar
ou, pelo menos, a não deteriorar-se mais nos próximos 25 anos”.

Lomborg (2002, p. 308) critica os números trazidos
por Wilson, que referem que nos próximos 50 anos chegarão à extinção de 25 a
100% de todas as espécies – cerca de 40.000 espécies ao ano –, afirmando que a
taxa de extinção ao longo dos próximos 50 anos é de apenas 0,7%. Afirma ainda
que esses dados são importantes apenas à medida que conferem força política
para o assunto da conservação das espécies ameaçadas (LOMBORG, 2002, p. 300).

Independentemente das estimativas contrastantes, o
importante é aumentar as áreas protegidas e as pesquisas científicas, recuperar
os ecossistemas, buscar soluções culturais para a biodiversidade, unindo
conservação e desenvolvimento (CORSON, 1996, p. 104-106).

4 O desafio da sustentabilidade

O grande desafio atual é o desenvolvimento
sustentável, que busca o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a
preservação do meio ambiente. O termo “desenvolvimento sustentável” é
abrangente – engloba aspectos econômicos, sociais e ambientais –, e foi
expresso no Relatório Brundtland como o “desenvolvimento que atende às
necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as futuras gerações
atenderem às suas próprias necessidades” (MOUSINHO, 2003, p. 348).

A visão antropocêntrica de mundo, ainda
predominante em nossa sociedade, faz com que o crescimento econômico muitas
vezes seja visto como a solução de todos os problemas. O problema é que a
economia está interligada aos demais subsistemas, e é dependente da biosfera
finita que lhe dá suporte. Assim, a economia não é um sistema fechado – como
querem muitos economistas –, e todo o crescimento econômico afeta o meio
ambiente e é por ele afetado, já que economia e meio ambiente são parte de um
sistema único e, conseqüentemente, interagem (PENNA, 1999, p. 127-129).

De modo que é preciso mudar a trajetória do
progresso e fazer uma transição para uma economia sustentável, para que o
futuro de nosso planeta não reste comprometido (DALY, 2005, p. 92).

Nesse sentido alerta Herman Daly (2005, p. 99):

“Se não fizermos os ajustes necessários para
atingir uma economia sustentável, condenaremos nossos descendentes a uma
situação infeliz em 2050. O mundo se tornará cada vez mais poluído e mais
despojado de peixes, combustíveis fósseis e de outros recursos naturais.
Durante algum tempo essas perdas poderão continuar a ser mascaradas pela
enganosa contabilidade baseada no PIB, que mede o consumo de recursos como se
fosse renda. Mas, em determinado momento, o desastre será sentido. Será difícil
evitar essas calamidade. Quanto mais cedo começarmos a agir, melhor.”

Na busca do desenvolvimento sustentável a grande
questão é que a demanda de recursos é cada vez maior, mas os recursos são
finitos. Nesse sentido, Penna (1999, p. 130):

“Grande parte das questões ambientais e sociais
baseiam-se no equilíbrio abastecimento versus
demanda. Embora não se sabia com precisão os seus limites, o abastecimento (de
qualquer coisa) é seguramente limitado, enquanto a demanda pode ser ilimitada.
Não há limites intrínsecos à demanda dos seres humanos.”

O crescimento econômico e o progresso material não
podem ser um fim em si mesmo. “O que deveria ser apenas um meio está sendo cada
vez mais confundido com os objetivos últimos, que são o desenvolvimento humano,
a sobrevivência e o bem-estar presente e futuro da nossa espécie e daquelas que
conosco partilham a biosfera.” (PENNA, 1999, p. 130-131).

A economia ecológica é uma economia que usa os
recursos renováveis com um ritmo que não exceda sua taxa de renovação, e que
usa os recursos esgotáveis com um ritmo não superior ao de sua substituição por
recursos renováveis. Uma economia ecológica conserva ainda assim a diversidade
biológica, tanto silvestre como agrícola. Uma economia ecológica é também uma
economia que gera resíduos somente em quantidade em que o ecossistema pode
assimilar ou reciclar (ALIER, 1994, p. 226).

Uma economia ecológica deve ser necessariamente uma
economia politizada porque os limites ecológicos à economia estarão sujeitos a
debates científico-políticos democráticos (ALIER, 1994, p. 227).

Se a riqueza de alguns destrói o ambiente, também a
pobreza excessiva destrói o ambiente. Os ecologistas propugnam a redistribuição
de recursos e da produção na geração atual, e entre esta geração e as
seguintes, mas não pensamos que repentinamente possa alcançar-se uma economia
sustentável e com eqüidade em todo o mundo, mas devemos avançar nessa direção
(ALIER, 1994, p. 227).

Assim, o foco da sociedade contemporânea não pode
mais estar direcionado apenas para a produção de riquezas, mas para a sua
distribuição. É necessária uma verdadeira e efetiva mudança de postura na
relação entre o homem e a natureza, onde não há a dominação, mas a harmonia
entre eles.

5 Considerações finais

Para lidar com os problemas de disponibilidade de
recursos no futuro devemos contar com a tecnologia e, principalmente, ter
parcimônia na utilização dos recursos naturais. Nesse sentido, é de fundamental
importância o desenvolvimento sustentável, que busca o equilíbrio entre o
desenvolvimento econômico e a preservação dos recursos.

Se não houver um ambiente saudável, de nada
adiantará um crescimento econômico acelerado ou um grande desenvolvimento
tecnológico. O futuro da espécie humana e de todas as espécies dependem do
equilíbrio do meio ambiente. Sem uma relação harmônica e equilibrada entre o
homem e a natureza, não há como assegurar a sadia qualidade de vida no
presente, e resta comprometida a existência das futuras gerações.

Diante disso, percebe-se a necessidade de se buscar
uma nova ética, regida por um sentimento de pertença mútua entre todos os
seres. A ética sempre esteve preocupada com as questões de existência do homem,
mas agora deve voltar-se principalmente para a sua inter-relação com o planeta
– uma ética voltada a um relacionamento equilibrado entre a natureza e o ser
humano.

6
Bibliografia

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espécies, inclusive a humana. Trad. Ronaldo Sérgio de Biasi. Rio de Janeiro:
Campus, 2002.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Daniela Vasconcellos Gomes

 

Advogada. Mestre em Direito pela Universidade de Caxias do Sul (UCS); Especialista em Direito Civil Contemporâneo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS); Professora de Direito Civil no Centro de Ensino Superior Cenecista de Farroupilha (CESF)

 


 

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