Determinantes da aglomeração espacial da atividade industrial no Estado de São Paulo

Resumo: A mundialização do capital e o processo da globalização são os grandes responsáveis pelo o aumento da competitividade. Se por um lado as empresas buscam estrategicamente a melhor localização para otimizar os custos de produção e de distribuição por outro os governos locais competem entre si para criar a cesta de oportunidade mais adequada para postular a atração de novos negócios privados. Sob a visão da Nova Geografia Econômica NGE pesquisamos quais são as externalidades positivas ou forças centrípetas que levam à aglomeração das atividades e as externalidades negativas ou forças centrífugas que levam a dispersão dos investimentos. Para este fim apresentamos estimativas cross section avaliadas empiricamente através de diversas variáveis por meio de uma aplicação para as cidades e microrregiões paulistas no ano de 2010. Os principais resultados mostram que o número de indústrias do setor de transformação e a população com pelo menos o nível superior de graduação concluído influenciam positivamente a aglomeração. Já quanto maior a distância da localidade até a capital menores são as chances da ocorrência da aglomeração. A conclusão que chegamos é que ao nível municipal a simples aglomeração de indústrias é condição suficiente para a atração de novas empresas e condiz com a teoria dos benefícios dos clusters proposta por Krugman 1997 ao passo que no nível micorregional demonstramos a relevância do capital humano qualificado como fator de determinante na localização de indústrias corroborando as ideias de Porter 1989. Sugerimos que os municípios agindo cooperativamente em suas microrregiões podem apresentar melhor desempenho dos indicadores que determinam a formação do PIB industrial e desta forma se tornam mais atrativos ao investimento privado contribuindo com um ambiente onde as empresas criam suas vantagens competitivas. Evidenciamos a necessidade de esforços para que municípios pensem em políticas públicas em conjunto com os governos da microrregião; e com a ajuda estatal consigam melhorar os indicadores apresentados criando polos de desenvolvimento que ressoe em melhorias na qualidade de vida para a sociedade.

Palavras chaves: Desenvolvimento Econômico. Aglomeração Espacial. Competitividade Industrial

Descrição do marco teórico de referência

Costa (2007) traçou um panorama evolutivo sobre a relação entre o desenvolvimento econômico endógeno e o espaço. Ele ressaltou que é um engano pensar que as atividades produtivas aglomeradas de pequenas e médias empresas é apenas um acontecimento recente. Para ele, tal fenômeno apareceu na última década do Século XIX em capítulos destinados ao estudo da organização industrial na obra Princípios de Economia de Alfred Marshall. Ainda apresentou resumidamente os quatro principais paradigmas analíticos das aglomerações produtivas: a teoria dos neoshcumpeterianos, a dos estudiosos dos Distritos Industriais Italianos, a da Nova Geografia Econômica de Paul Krugman e a da Escola de Harvard de Michael Porter.

O enfoque principal da presente pesquisa baseia-se sobre a Nova Geografia Econômica (NGE), que pode ser considerada um modelo de escolha racional aplicado ao espaço, cujas implicações possuem forte elo com as políticas públicas de desenvolvimento regional e de integração de regiões com o perfil de atividades econômicas complementares. A teoria interliga estratégias de transportes, inovação, emprego, educação, infraestrutura e tecnologia, com os custos de produção e distribuição no mercado consumidor.

Com advento da NGE, que dentre outros autores, teve como principal destaque Paul Krugman, um novo conceito foi inserido na Ciência Econômica, cujo principal mister visava explicar a localização da produção no espaço, ou seja, onde as coisas acontecem em relação a outro local. Krugman (1997) registrou que, apesar da concorrência, as forças da manufatura preferem permanecer juntas em clusters. Em sua teoria, o autor elencou como fatores alusivos à concentração geográfica, a questão das externalidades e sua interação com os principais fatores que contribuem na localização de empresas, quer sejam, retornos crescentes de escala, baixo custo de transportes e proximidade da demanda. Para exemplificar tais conceitos, citou sobre os benefícios dos spillovers tecnológicos e de conhecimentos entre firmas vizinhas, evidenciando que as estruturas apresentadas no Silicon Valley e Route 128 são dois cases de sucesso.

Descrição do trabalho e suas principais seções

O objetivo principal desta pesquisa é estabelecer um modelo que possa apresentar quais são as determinantes da aglomeração espacial da atividade industrial no Estado de São Paulo e como cada uma dessas variáveis afeta a aglomeração, isto é, um modelo que seja capaz de explicar como as forças de atração e de repulsão agem como determinantes da localização da indústria. Com isto, será possível entender as condições ideais para ampliar a concentração da atividade industrial, cuja consequência é o fomento do fluxo circular da renda, aquecendo a economia de uma cidade e propondo transformações estruturais na sociedade.

Para atingir a finalidade pretendida, com base no trabalho desenvolvido por Wen (2004), que realizou um estudo sobre o caso das determinantes da aglomeração das empresas na China, primeiramente realizaremos o cálculo do quociente locacional (QL), que mensura o nível de concentração de empregos em dada localidade, comparado com o Estado de São Paulo.

O segundo passo é a construção do modelo econométrico. Sugerimos diversas variáveis independentes que eventualmente podem determinar o nível da aglomeração. A variável explicada do modelo será o Produto Interno Bruto Industrial que na presente pesquisa será uma proxy da aglomeração industrial, tendo em vista que reflete o desempenho de dada localidade neste setor de atividade econômica.

Serão examinadas as combinações de fatores que influenciam a localização das indústrias, desde a dimensão territorial e demográfica, distância do principal mercado consumidor (capital do Estado), número de pessoas com nível superior de educação, entre outros.

Com a análise dos resultados, esperamos comprovar, ou não, as hipóteses assumidas, consolidando a relação de indicadores que possam ser considerados peças-chaves à aglomeração industrial e consecutivamente ao crescimento econômico.

Entendemos que encontrar as determinantes da aglomeração é prestar um trabalho de relevância pública, tanto pelo viés de propor aperfeiçoamentos a gestão pública quanto pela possibilidade de criar diretrizes ao desenvolvimento econômico e social.

 Esperamos que o modelo tenha grande valia para nortear estratégias efetivas ao Desenvolvimento Local Endógeno (DLE) potencializando cada região estudada. Consequência deste empírico trabalho seria a possibilidade de estimular os governos locais a priorizar determinados indicadores, como instrumentos essenciais à atração de investimentos na cidade, criando metas para que alcancem os níveis ótimos que impactarão a gestão pública, além de otimizar o planejamento orçamentário e facilitar a elaboração de políticas industriais e de geração de emprego e renda.

Procedimentos metodológicos

A aglomeração industrial está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento econômico. Nesse sentido, entendemos que esse estudo representa grande importância tanto no cenário mundial quanto no local e por isso pretendemos construir um modelo voltado a guiar ou, ao menos, demonstrar uma direção rumo ao desenvolvimento.

As aglomerações causam grande impacto no desenvolvimento de cidades e regiões. No sentido de procurar o que fazer para estimulá-las, a presente pesquisa pretende responder quais as forças que determinam a formação da aglomeração industrial.

Para tanto, buscaremos respostas a três principais questionamentos, que agrupados sugerem apontar as variáveis chaves para o desenvolvimento local. Inicialmente pretendemos responder se as indústrias se localizam onde há maior mercado. Wen (2004) testou a mesma hipótese para as aglomerações chinesas e encontrou relação entre o tamanho do mercado e a aglomeração industrial. Testes realizados em Glaeser (1994) encontraram reflexos positivos entre urbanização e crescimento. Esperamos que seja comprovada a teoria de que a população afete positivamente a localização das indústrias.

Outra pergunta que levantamos é se o capital humano qualificado impacta a localização de Indústrias. Sustentado em Porter (1989); Glaeser, Scheinkman e Shleifer (1995); e, Guimarães, Figueiredo e Woodward (2000), indústrias buscam na mão de obra qualificada, no aperfeiçoamento da tecnologia e na inovação, seu diferencial competitivo. Pretendemos comprovar que quanto mais pessoas com nível de educação superior completa seja realmente um dos embriões que norteiam a concentração industrial, afetando positivamente o PIB industrial.

A terceira e última hipótese busca afirmar que a concentração industrial é afetada positivamente pela presença do maior número de indústrias de transformação já instalada em dada localidade. Essa teoria, sustentada por Del Valle e Barroso (1999), implicam que o próprio aglomerado industrial é um atrativo para novas empresas e um impulsionador ao crescimento econômico.

A amostra de dados que usamos é referente aos municípios paulistas, para o ano de 2010. Optamos por esse período, pois são os dados públicos mais recentes à disposição na internet e também porque apresenta uniformidade sobre as informações referentes ao Estado de São Paulo.

Para dados de admissão na indústria de transformação, salários e cálculo do Quociente Locacional, utilizamos a base disponibilizada no Sistema Dardo-CAGED/RAIS, do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE). Já para definirmos a distância de cada município até a capital do Estado, utilizamos o Portal das Cidades Paulistas. Para os dados de importação e exportação, utilizamos o site do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Todas as demais informações foram retiradas do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Alicerçado nas pesquisas de Wen (2004) e de Oliveira et al. (2009), utilizamos a análise de regressão linear multivariada, de corte transversal (cross section) referente ao ano de 2010 para os 645 municípios e para as 63 microrregiões do Estado de São Paulo.

O modelo especificado segue a equação abaixo:

PIBINDi= β0i + β1Ni + β2EDUi  + β3NINDi + β4DISTi + β5ADMINDi +

                 β6COMEXi + β7PIBPCi + β8QLi + β9W + u                   

Em que:

PIBINDi = PIB Industrial da localidade i

(1) Ni = População residente na localidade i

(2) EDUi  = População com nível superior de educação completa na localidade i

(3) NINDi  = Número de empresas do setor de indústria de transformação (CNAE 2.0, Setor “C”) na localidade i

(4) DISTi = Distância da localidade i até a capital do Estado

(5) ADMINDi = População na localidade i admitida na indústria de transformação (CNAE 2.0, Setor “C”)

(6) COMEXi = Volume do fluxo de comércio exterior na localidade i (importação + exportação)

(7) PIBPCi = PIB per capita da localidade i

(8) QLi = Quociente Locacional da localidade i

(9) W = Salário médio na indústria de transformação na localidade i

u = Resíduo ou erro residual

i = Localidade do Estado de São Paulo (Município ou Microrregião)

Resultados Econométricos

Assim como Mayer e Mucchielli (1999), também realizamos a modelagem com dados do nível municipal e do nível microrregional. Os resultados econométricos, obtidos por intermédio do software Stata, estão separados nesses dois blocos distintos. No primeiro deles estão os resultados das regressões referentes aos 645 municípios. Já o segundo bloco de resultados, é originado das observações referentes às 63 microrregiões em que o IBGE divide o Estado de São Paulo.

O principal resultado econométrico para o nível municipal, apontou que o número de indústrias já instaladas, a distância da localidade até a capital, o PIB per capita, o quociente locacional e os salários médios nas indústrias de transformação são importantes variáveis para determinar o nível da aglomeração industrial no Estado de São Paulo. Já para as observações microrregionais, a especificação do modelo econométrico que mais se adequou para sugerir as determinantes da aglomeração industrial destacou a relevância das seguintes variáveis: número de pessoas com nível superior completo, a distância da localidade até a capital, o PIB per capita e o quociente locacional. Estas variáveis explicativas são fatores fundamentais à promoção do crescimento industrial das cidades e os resultados sugerem que as firmas se beneficiam por estarem localizadas próximas de empresas no mesmo setor e de setores da mesma cadeia produtiva, fato que permite redução de custo de produção, tanto com a aquisição de insumos quanto com os transportes dos produtos.

Conclusão

Concluímos que ao nível municipal, a simples aglomeração de indústrias é condição suficiente para a atração de novas empresas e condiz com a teoria da Nova Geografia Econômica e dos benefícios dos clusters propostas por Krugman (1997), ao passo que no nível micorregional demonstram a relevância do capital humano qualificado como fator  determinante na localização de indústrias, corroborando com as ideias de Porter (1989).

Com a presente pesquisa ficou patente a necessidade de articulação entre os governos locais para a formatação de um planejamento territorial e industrial que vise reorganizar internamente as microrregiões. É necessária coordenação de políticas industriais, tecnológicas e de qualificação profissional, cuja aposta é que essas localidades sejam capazes de se conectar de forma virtuosa entre si e com os centros econômicos nacionais dominantes. Para que essas ações se realizem, há necessidade de apoio dos agentes públicos e privados, implantação de uma rede de serviços e instituições com vistas a dar suporte às atividades industriais, gerar sinergias entre as cadeias produtivas e reduzir a burocracia que emperra a competitividade empresarial.

É satisfatório sugerir um novo pensar no campo da cooperação entre os municípios, onde os componentes de uma microrregião devem pensar em grupo e não mais isoladamente. Governos das microrregiões possuem mais chances ao sucesso, quando pensam políticas públicas conjuntamente. Unidos devem encorajar a concentração industrial de forma cooperativa, convergindo os objetivos comuns de desenvolvimento com políticas regionais favoráveis a atração de investimentos privados.

A ideia central é atrair uma indústria-chave a um determinado município e transformá-la em líder do seu mercado, se possível, internacionalmente, e fazer dessa indústria a engrenagem que irá gerar o desenvolvimento da microrregião, não importando em qual município esta indústria irá se instalar, já que empresas desta cadeia produtiva e de cadeias auxiliares, inclusive de prestação de serviços, buscarão áreas na região circunvizinha, como satélites orbitando o corpo celeste principal. Aproveitando o potencial que cada cidade possui de melhor.

Assim, compete à administração pública municipal a criação de empreendimentos, como é o caso do Parque Tecnológico, que converge esforços do governo, de empresas e de universidades para geração de inovação e atração de indústrias em ambientes competitivos e cooperativos.

 

Referências
COSTA, E.J. M. Políticas Públicas e o Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais em Regiões Periféricas. Tese Doutorado em Economia. Unicamp, 10 Ago 2007.
DEL VALLE, R. M.; BARROSO, I. C. Organización Industrial y territorio. Editorial Sintesis: Madrid, 1999.
GLAESER, E. L. Economic Growth and Urban Density: A review essay. Working Paper in Economics E-94-7. The Hoover Institution Stanford Universitu, November, 1994.
GLAESER, E. L.; SCHEINKMAN, J. A.; SHLEIFER, A. Economic Growth in a cross-section of cities. NBER Working Paper Series. Working Paper No. 5013. National Bureau of Economic Research. Febrary, 1995.
GUIMARÃES, O.; FIGUEIREDO, O.; WOODWARD, D.. Agglomeration and the Location of Foreign Direct Investment in Portugal, Academic Press, 2000. Disponível em <http://www.fep.up.pt/docentes/pcosme/Artigos/18-JUE.pdf>.
KRUGMAN, P. R. Geography and trade. Palotino: MIT Press, 1997. 
MAYER, T.; MUCCHIELLI, J. La localisation à l'étranger des entreprises multinationales. Une approche d'économie géographique hiérarchisée appliquée aux entreprise japonaises en Europe. In: Economie et statistique, N°326-327, 1999. pp. 159-176. Disponível em: <http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/
estat_0336-1454_1999_num_326_1_6231>. Acesso em 18 de abril de 2014.
OLIVEIRA, C. et al. A. Política fiscal local e o seu papel no crescimento econômico: Uma evidencia empírica no Brasil. Revista ANPEC. V.10. n.1, p49-68, 2009. Disponível em: <ww.anpec.org.br/revista/vol10/vol10n1p49-68.pdf>
PORTER, M. A vantagem competitiva das nações. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
RESENDE, M.; WYLLIE, R. Aglomeração Industrial no Brasil. Est. Econ. , São Paulo, 35 (3): 433-460, jul-set 2005.
RUIZ, R. M. A nova geografia econômica: um barco com a lanterna na popa? Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2003.
SAWAYA, R. Subordinação consentida: capital multinacional no processo de acumulação da América Latina e Brasil. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2006.
STIGLITZ, J. E. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
SUZIGAN, W. et al. Coeficiente de Gini locacionais – GL: aplicação à indústria de calçados do Estado de São Paulo. Nova Economia, Belo Horizonte, 13 (2) 39-60, julho-dezembro, 2003.
WEN, M. Relocation and agglomeration of Chinese industry. Journal of Development Economics 73 (2004) 329– 347.
WOOLDRIDGE. J. M. Introdução à Econometria: Uma abordagem moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2010.  

Informações Sobre o Autor

André Leme da Silva Fleury Bonini

advogado com mestrado em Economia da Mundialização pela Universidade Sorbonne MBA em Mercado Derivativos e MBA em Gestão de Projetos. Teve passagem como docente da pós-graduação na PUC/SP e UNIP.


logo Âmbito Jurídico