Faxina

Pelo andar da carroça, as abóboras não se ajeitam mais. Os mecanismos fisiológicos da política brasileira estão expostos. Posso estar enganado pela distância, mas de tão expostos já começam a apodrecer. O que essa crise revela,  preliminarmente? Que uma boa parte dos parlamentares (acredito que a maioria deles) financia suas campanhas e seus mandatos com recursos obtidos junto a empresas que mantêm negócios com os governos. O esquema de caixa 2, que tem garantido a alguns espertinhos mesadas muito mais antigas do que estas que, agora, são objeto de investigação, é viabilizado pela engrenagem política brasileira, notadamente pelo voto nominal e pelo financiamento privado das campanhas. Assim se assegura a desigualdade no processo eleitoral e a dinâmica política é cada vez mais um mercado persa. Quando nos horrorizamos com a possibilidade de haver um “mensalão” no Congresso, devemos também nos dar conta de que pelas leis em vigor sempre foi possível “alugar” vários deputados. Bastaria,  para  isso, financiar suas campanhas e, depois, vincular os mandatos aos interesses da banca. O Deputado  Roberto Jefferson é a favor do armamento dos “cidadãos de bem” – categoria ampla a ponto de incluí-lo,  presume-se. Deveria ter dito que recebeu, em sua última campanha, como doação declarada, R$ 50.000,00 da Forjas Taurus. A pergunta é: quem é financiado pela indústria das armas irá se posicionar pelo desarmamento? Como separar aquele que recebe uma doação porque possui posição firmada que coincide com os interesses de uma empresa, daquele que assume os interesses da empresa para ser financiado por ela? Se você vota em um candidato a Deputado Federal de um partido de esquerda, digamos… do PT – só para efeito de raciocínio, é claro – e, depois de vê-lo eleito, percebe que ele dedica o seu mandato à preservação dos interesses do latifúndio, o que você conclui que está acontecendo? Bem, financiamento privado mais falta de caráter dá nesse mangue, inevitavelmente. E ainda há quem fale contra o financiamento público sob o argumento que isto geraria uma grande despesa ao contribuinte! Quem afirma isso não tem a menor idéia do custo que os contribuintes, sem o saber, já têm assumido no Brasil pela mecânica das “doações”.  Mas financiamento público de campanha só é possível e só faz sentido com votação em listas fechadas. De tal modo que, em cada eleição, ao invés de milhares de campanhas, tenhamos apenas algumas, aquelas feitas pelos partidos. Tudo se alteraria com esta reforma, a começar pelas razões dos partidos em escolher seus candidatos e pelos motivos que podem conduzir o eleitorado a votar neles. Ao invés  de uma “unha desencravada” pelos pilantras nas campanhas – independente do partido onde se abrigam, reconhece-se sempre um pilantra pela disposição de “desencravar uma unha” em troca do voto –  teríamos que escolher entre propostas.  Este seria um caminho para que a política pudesse, pelo menos,  se deslocar para a disputa entre as idéias, ao invés da disputa  pelos cargos. Faxina no Congresso Nacional, meus amigos, chama-se reforma política. Se não for isso, será o mesmo de sempre: alguns serão expurgados, os menos protegidos passarão pela delegacia, os jornais terão boas fotos, e o mangue seguirá intacto. Na próxima eleição os pilantras estarão com a maioria para apoiar o governo, qualquer que seja ele.

 


 

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Marcos Rolim

 

Jornalista

 


 

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