A questão da FEBEM é de fato complicadíssima, ninguém duvida. Decorre principalmente, acredito, da falta de educação de base dos adolescentes. Na grande maioria dos casos, a miséria tornou inacessível a eles uma infância condigna. Não tiveram acesso para educação, alimentação decente, brinquedos, roupas, planos de saúde, etc., mas, principalmente, nunca tiveram o direito de sonhar com o futuro. A eles foi negado o principal combustível da própria vida, a esperança de progresso e evolução. Sem modelos próximos a serem seguidos, muitos deles miraram-se nas figuras dos criminosos à sua volta que, estes sim, davam-lhes alguma atenção, roubando dos “ricos”, assaltando, mostrando valentia contra a “burguesia”, a serem “corajosos”, para enfrentar o sistema que os alijou da sociedade, tornando-os muitas vezes menos considerados do que animais de estimação.
Como resultado cresceram só conhecendo o lado do crime, e nada de exemplo de trabalho honesto para ganhar a vida. São eles contra os ricos e contra a Polícia. Contra o próprio Estado que não lhe propiciou a vida que certamente gostariam de ter. São, de fato, seres absolutamente revoltados e violentos.
E como então solucionar o problema imediato? Não passa nem de longe a minha pretensão de, como inexperiente nas questões da infância e juventude, ousar indicar soluções. Mas de palpites às vezes formam-se idéias.
A médio e longo prazo, evidentemente que a solução encontra-se na educação de base. Nesse sentido, melhor seria que os Governos gastassem a sua energia, muito mais nas escolas de base do que nas Universidades, proporcionando à população, antes uma formação cívica do que universitária especializada. Não que se deva abandoná-los, mas certamente proporcionar um grande esforço para formar cidadãos, conscientes de seus deveres e direitos no seio da sociedade, para depois torná-los doutores.
A curto prazo, vê-se o esforço indisputável dos sucessivos Governos Estaduais na solução dos problemas da FEBEM. Retirá-los de vez dos internatos parece fora de questão, já que, paralelamente, necessitam de reintegração social, além da possível educação moral e cívica. Mas são rebeliões e mais rebeliões. Troca-se funcionários, demitem-se os violentos, contrata-se educadores, e nada parece surtir o efeito esperado. Têm-se tentado de tudo. De tudo e mais um pouco, mas a complexidade de operacionalização da situação é tal, que muitos dão o problema como insolúvel.
Mas não se pode é desistir.
De minha parte, e sugerir não custa, gostaria de ver equacionada a seguinte sugestão: Esporte concentrado. O Governo Estadual poderia firmar parcerias com empresas, por exemplo concedendo privilégios fiscais, de modo a estimular a intensa (eu disse intensa) prática diária de esportes para os internos. Seriam formadas equipes de futebol, voley, basquete, atletismo etc., com os internos, que teriam treinos diários, uma ou duas vezes. Seria dar-lhes estímulo de sonho de futuros promissores, tal e qual muitos de nossos craques. Parece-me que eles reservem incomensurável energia potencial, que poderia ser utilizada com os treinamentos rigorosos, fazendo-os gastar toda essa energia, mas principalmente alimentando o tal “sonho” de futuro promissor e principalmente honesto. Assim substituiríamos o “ídolo” criminoso pelos jogadores, Ronaldinhos, Robertos Carlos, Gibas, Oscares etc. Faríamos com que se ocupassem de se esforçar para serem os melhores nos treinos, ao invés de serem os melhores com as armas. No final do dia estariam tão cansados, que não teriam forças sequer para pensar em fugas ou rebeliões. Principalmente, usaríamos o esporte para reintegrá-los, rapidamente, à sociedade. Claro que, para aqueles que assim desejassem, tudo seria complementado com cursos, como línguas, de formações técnicas etc. De quebra, faríamos muitas e muitas mais medalhas nas olimpíadas e pan-americano, e campeonatos mundiais.
Com um esforço concentrado do Estado, talvez essa idéia possa um dia se tornar realidade, para o bem da nação.
Promotor de Justiça/SP – GEDEC, Doutor em Processo Penal pela Universidad de Madrid, Pós-Doutorado na Università di Bologna/Italia
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