Resumo: Baseado na obra “O que é Iluminismo” de Kant, este trabalho busca analisar o Iluminismo como saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele próprio, atendo-se principalmente as dificuldades que o ser humano enfrenta no seu caminho para a maioridade, tais qual a preguiça e a vileza. O presente trabalho também busca estabelecer um paralelo comparativo entre a realidade em que o texto analisado foi escrito e a realidade dos dias atuais, que já de antemão afirmo em muito diferem, porém também em muito se parecem.[1]
Palavras-chave: Kant; iluminismo; razão.
Abstract: Based on the book "What is Enlightenment" Kant, this work analyzes the output of the Enlightenment as a man of minority status to be attributed tohimself, sticking mainly to the difficulties humans face in their path to adulthood,such that laziness and cowardice. This work also seeks to establish a parallelcomparison between the reality in which the analyzed text was written and the reality of today, who have much say in advance differ, but also much resemble.
Keywords: kant, enlightenment; reason.
Sumário: 1. Introdução; 2. O conceito de menoridade; 3. A razão como meio de sair da menoridade; 4. Dificuldades enfrentadas; 5. Conclusão. Referências.
INTRODUÇÃO
No texto base deste trabalho “O que é o Iluminismo?”, Kant revela a ideia iluminista da existência de possibilidade de o homem seguir por sua própria razão, sem deixar enganar pelas crenças religiosas, tradições e opiniões alheias. Ilustração aí seria "a saída do homem de sua menoridade", ou seja, um momento em que o ser humano se torna consciente da força e inteligência para fundamentar a sua própria maneira de agir, sem a doutrina ou tutela de outrem.
Sapere aude! Sirva-se do seu próprio pensamento! É assim, com a coragem de vencer o medo, a preguiça e a covardia, gerados pela difusão de preconceitos que servem de rédeas para a grande maioria, que o homem consegue sair de uma situação de menoridade em que ele próprio se coloca.
É difícil para o Iluminista pregar uma liberdade racional, num contexto em que por todos os lados a população tem sua liberdade cerceada e é direcionada a não raciocinar, por isso poucos são os que pensam por si. E hoje? Será que no contexto atual seria mais fácil pregar esse abandono à menoridade culpada? Ou já vivemos em uma época já esclarecida?
Vivemos num período de globalização em que as influências são muitas e com um poder manipulador cada vez maiores, a tarefa iluminista de atuar livremente nesse bombardeio de opiniões torna-se árdua. Se por um lado conquista-se a cada dia maior liberdade de pensar, por outro esse processo de globalização busca limitar essa liberdade, com a imposição de padrões.
2. O CONCEITO DE MENORIDADE
O que é menoridade? Uma condição cronológica? Quais os critérios para saber se o individuo é ou não maior? O conceito é bem abrangente, mas aqui será delimitado á ideia Kantiana, menoridade é então seria a incapacidade de se servir da razão, do entendimento sem necessitar da tutela, ajuda de outras pessoas. Sair da menoridade é pensar com autonomia segundo a qual o homem coloca para si mesmo o que ele é e, portanto, o que deve fazer e conhecer para ser efetivamente tal como deve ser, ser efetivamente o que já é em potência.
Tomemos como exemplo disso o que Kant nos diz sobre as leis de um dado povo: “a pedra de toque de tudo o que se pode decretar como lei sobre um povo reside na pergunta: poderia um povo impor a si próprio essa lei?” Sim, e isso somente significa que a autonomia da razão permite a conquista da liberdade, a qual é aquilo que, de modo autônomo se havia decidido ser efetivamente; A ação livre é então aquela que está em conformidade com uma autonomia prévia, ou seja, que não a contradiz.
Kant determina a causa dessa menoridade como a falta de decisão, de coragem do próprio sujeito. A menoridade é por culpa do próprio sujeito minimizado que se deixa abater pela preguiça, o comodismo e a covardia que são cada vez mais comuns até mesmo nos dias atuais, revelando que Kant constrói uma idéia, mesmo cerca de 230 anos atrás, bastante atual. Essa situação cômoda e minoritária ainda é facilitada pela existência de pessoas, tutores que se utilizam do comodismo da maioria para lucrar cada vez mais, determinando como devem agir, falar, comer e enfim como devem viver.
Tutores como a religião, a mídia, as ideologias, que fazem com que o cidadão não consiga pensar além do que lhe é apresentado. Eles limitam os seres humanos numa ditadura estética, econômica, religiosa e cultural, destinando-lhes preceitos e fórmulas que só o aprisionam cada vez mais. É valido ressaltar também que essa minoridade é um vício de longa data do qual, tornou-se hábito e portanto de difícil reversão, mesmo que o homem consiga se desprender, o salto dado será mínimo e a tentação ao retorno imensurável. Com base nisso é que também se pode inferir que são pouquíssimos os que atingem a maioridade visto que para isso é necessário ultrapassar o banal e amadurecer.
3.RAZÃO COMO VÁLVULA DE ESCAPE
Mas então como se desprender dessa minoridade? Como alcançar a maioridade? Como pensar por sozinho?
“Mesmo vivendo em um mundo obcecado pelo consumo rotular, é possível buscar o esclarecimento. Até nas atividades cotidianas pode-se encontrar o esclarecimento. Para um individuo que se acostumou com a condição de menoridade, a saída desta não é fácil, nem impossível” (KANT 1985, p. 102).
Por meio da razão, do entendimento, da ilustração para qual nada mais se exige do que a liberdade, só o uso público da razão, que ocorre com a liberdade, pode realizar o esclarecimento. O esclarecimento só pode ser encontrado com a liberdade exercida com o uso público da razão. A liberdade é então elemento essencial para o encontro do esclarecimento. E essa liberdade num conceito de liberdade jurídica, que é a faculdade do cidadão de só obedecer as leis externas às quais ele pôde dar assentimento (BOBBIO, 2004, p. 100).
O homem iluminado destaca-se da natureza como algo diferente dela Essa diferença é declarada uma superioridade, de modo que o homem pode, desde essa sua diferença constitutiva, lançar seu domínio sobre a natureza. Sem desviar-se da moralidade: pois tal dominação visa ao bem do homem.
Deixar de lado os tutores e caminhar com os próprios pés, transformar as potencias que se possui em atos, sem ser guiado por ditames religiosos, midiáticos, econômicos e ideológicos.
4.DIFICULDADES ENFRENTADAS
O medo, a preguiça, a covardia, o comodismo e ainda a existência de tutores são os principais obstáculos segundo Kant para que se chegue á Ilustração. Nos dias atuais não podemos mais sistematizar as formas de ensino como a dez ou vinte anos atrás, as relações mudaram e é necessária uma revisão nos princípios que movem a sociedade afim de que se acompanhe a dinâmica social. Não se pode, hoje, pensar um Brasil sem a massificação da mídia que aqui existe, considera-se a TV como meio de alienação e manipulação, uma vez que persuade, ilude, manipula e convence as pessoas. A facilidade do acesso á informação, principalmente pela internet, gerou um comodismo que definitivamente se instalou na cultura brasileira.
A mídia pode tanto eleger um candidato quanto ditar padrões de comportamento. A influência da mídia é total, desde roupas até a desagregação de valores essenciais à vida em sociedade. O brasileiro se baseia principalmente na televisão, que é capaz de influenciar até mesmo na hora da decisão profissional. Também os padrões de beleza são definidos pelas propagandas na TV e em revistas. È uma mídia que bombardeia todas as pessoas, independentemente da idade, com muitas informações, de forma que, o indivíduo chega até mesmo a esquecer de sua individualidade e a natureza da beleza. Os resultados desta forte influência são o comodismo e o não raciocinar por si mesmo, é justamente o que Kant há séculos atrás denominou de menoridade.
No mundo contemporâneo, o homem é vítima dos sistemas, os quais determinam o que ele deve consumir, o que deve fazer, como deve se portar. São esses sistemas que determinam a moda e o que está “dentro” e “fora” dela.
5.CONCLUSÃO
Por fim, o homem não pode renunciar ao esclarecimento, já que é é um direito sagrado da humanidade, sequer é aceitável um governo representativo no qual um governante decide sobre o esclarecimento de seu povo.
“Um homem, para a sua pessoa, e mesmo então só por algum tempo, pode, no que lhe incumbe saber, adiar a ilustração; mas renunciar a ela, quer seja para si, quer ainda mais para a descendência, significa lesar e calcar aos pés o sagrado direito da humanidade”. [KANT, 1988, pg.5]
Vivemos nós agora numa época esclarecida? Não. Mas acredita-se ser esta uma época do Iluminismo, ainda falta muito para que os homens tomados encontrem um meio de se servirem bem e com segurança do seu próprio entendimento, sem a orientação de outrem, principalmente em questão de religião. Arrisco afirmar que essa época ou sociedade esclarecida é utópica, principalmente quando se deparar com a realidade atual em que o comodismo e a busca pelo fácil e pela reprodução – não criação- do pensamento parecem ter definitivamente se instalado.
Referências
BOBBIO, N. A era dos direitos. 9. ed. (Trad.) Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
KANT, I. Textos Seletos. 2. ed. (Trad.) Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1985.
______. A paz perpétua e outros opúsculos. (Trad.) A. Mourão. Lisboa: Edições 70, 1988.
[1] Trabalho orientado pelo Prof. Dr. Nelson Juliano Cardoso Matos
Informações Sobre o Autor
Joel Coelho Ferreira Portela
Acadêmico de Direito na Universidade Federal do Piauí. Membro do núcleo de pesquisa sobre direito, democracia e republicanismo-República coordenado pelo Doutor Nelson Juliano Cardoso Matos. Membro do Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Direitos Humanos e Cidadania-DiHuCi, subgrupo de estudos Socioambientais, coordenado pela Doutora Maria Sueli Rodrigues. Bolsista em Iniciação Científica Voluntária (ICV) pela Universidade Federal do Piauí, com a linha de pesquisa centrada no tema Judicialização da Política