Mudanças políticas no Velho Mundo

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“Ce Les Français Attendent de Lui”. Esta era a dúvida que as principais revistas
européias estampavam em julho de 1997. Estamos em Paris. Lionel Jospin havia vencido a eleição e a
imprensa desejava saber, enfim, o que o líder francês faria como novo primeiro-ministro.
Londres, 1997. Tony Blair leva os trabalhistas à
vitória e torna-se o premiê britânico. Bonn, 1998. Os
sociais-democratas alemães liderados por Gehard Schröeder vencem os democratas-cristãos na Alemanha. O mundo socialista estava em festa. Os mais afoitos
escreveram que uma onda de esquerda havia invadido a Europa. Os analistas mais
atentos, porém, verificaram certas peculiaridades nesses êxitos eleitorais.
Hoje, ao contrário, parece que a Europa assiste ao avanço da direita em
diversos países. Mas será que essas mudanças realmente representam um avanço do
conservadorismo em escala continental no Velho Mundo?

Comecemos pela França. A corrida para
sucessão do Palácio Elyseé está aberta e ocorrerá em
menos de 90 dias. A 5ª República terá como candidatos o presidente gaullista Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista
Lionel Jospin. Nas eleições regionais do último ano,
os socialistas tomaram as prefeituras de Paris e Lyon, contudo, os
conservadores venceram no interior francês, em cidades como Toulouse, Blois e Estrasburgo. O pleito
nacional, entretanto, será resultado do leque de alianças de cada lado e do
apoio do interior, onde Chirac tende a se fortalecer. Nunca é demais lembrar
que a política francesa tem a característica de oscilar entre conservadores e
socialistas nos últimos 20 anos, logo, se o vencedor for Chirac ou Jospin, não poderemos considerar avanço da direita ou da
esquerda, mas apenas simples traço usual da democracia instituída pela 5ª
República.

Grã-Bretanha. Lembro apenas que a
ascensão de Blair ocorreu em virtude da reforma das
idéias dos trabalhistas ingleses, que, de certa forma, vieram
chancelar as reformas realizadas na década 80. Além disto, sua vitória ocorreu
também em decorrência do avanço dos nacionalistas sobre os liberais entre os tories. Os conservadores ingleses pagam o preço deste
avanço até os dias atuais.  

Alemanha. A derrota da
democracia-cristã (CDU) nas eleições que levaram Schröeder
ao poder abalou o partido do antigo chanceler Helmut Köhl. A administração atual, todavia, enfrenta graves
problemas. O maior deles é o desemprego. Além disto, sofre com adesão ao Euro. O Chanceler e seu partido, o SPD, realizaram reformas
que diminuíram a carga tributária e o endividamento, mas as necessárias
mudanças na legislação trabalhista não prosperaram. Entretanto existe um lugar
da Alemanha onde o emprego é pleno, e se chama Baviera. Lá, o governo foi
liderado durante 9 anos por um homem que se opôs à união monetária, chamado
Edmond Stoiber.  Mas o candidato conservador
terá que vencer algumas resistências, como as dos alemães do norte, que possuem
restrições quanto a um candidato do sul. As eleições serão em setembro e Schröeder já aparece em desvantagem nas pesquisas. Será uma
disputa acirrada.

A Itália, dentre todos, experimenta a
maior guinada à direita. A eleição de Silvio Berlusconi, contudo, não pode ser
considerada algo definitivo e duradouro, visto que a rotatividade de chefes de
governo italianos é alta, e a média de permanência no cargo não chega a um ano.

Se há cerca de 5 anos escrevia-se,
equivocadamente, sobre uma guinada à esquerda na Europa em virtude da ascensão
de líderes como Jospin e Blair,
enquanto Clinton governava os EUA, hoje seria precipitado falar em ascensão
conservadora européia, enquanto Bush lidera os americanos. As eleições
ocorrerão dentro de alguns meses e o quadro atual pode sofrer alterações. É
inegável, contudo, o desgaste sofrido pelos governos de Schröeder
e Jospin. Seus adversários não serão fáceis de
derrotar, pois Chirac é um político muito inteligente e conhece bem os anseios
do povo francês. Stoiber, apesar da retórica antiimigração, terá muita força no pleito de setembro. Por
fim, vale lembrar que não devemos creditar as mudanças políticas internas dos
países europeus simplesmente a fatores externos ou a uma suposta tendência
continental, pois cada nação possui peculiaridades importantes que podem
explicar a ascensão de novas lideranças, independentemente do quadro
internacional.


Informações Sobre o Autor

Márcio C. Coimbra

advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).


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