O muro

Esta crônica efetiva uma análise abstracionista sobre a simbologia do muro em nossa sociedade, demonstrando que o "Muro" pronta-se como a invenção humana (observando-se todo um panorama histórico) que mais representa a incapacidade do homem de integrar-se com os indivíduos de sua própria espécie.

Sermos diferentes: esse não é o problema! Sermos intolerantes e egocêntricos é que o é! A problemática humana, desde o seu surgimento, habita no limbo obscuro da intolerância e do egocentrismo. E esse limbo obscuro impede-nos, definitivamente, de integrar-nos, somando, assim, as nossas particularidades e individualidades, com o objetivo de formar um todo maior (uma unidade pacífica, ainda que plural em si mesma).

O "Muro" é a invenção humana (observando-se todo um panorama histórico) que mais representa a incapacidade do homem de integrar-se com os indivíduos de sua própria espécie. Desde a primeira propriedade privada (onde se desenvolveu a primeira cerca), passando pela época do feudalismo (período dos fortes dos Senhores Feudais) e por Berlim (alvo certeiro, no século XX, de gélidos choques e atritos), levando-se em consideração, até mesmo, a milenar China (terra das colossais muralhas), lá esteve vivo e presente (robusto, poderoso e catastrófico) o "Muro", ainda que em formatos diversos, representando a nossa impotência de entendermos e tolerarmos a nós mesmos.

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O mais absurdo é pensar que, mesmo em tempos presentes, reine o “Muro” irônico ante o seu criador. A tola e a desesperada tentativa israelense de frear o ódio e o rancor palestino com quilômetros de concrético desprezo é um exemplo claro desse contexto e que, de certo, não pode ser descartado. Não pode ser descartado, por demonstrar, cristalinamente, que o que divide os dois povos não é, simplesmente, o concreto do "Muro" que se está construindo, mas, principalmente, a idéia que está por trás de sua imagem, o sentimento que está por trás de sua cinza cor.

A grande verdade é que o "Muro" jamais existiu! O grande segredo, que agora se revela, é que o "Muro", por mais concreto que seja, consubstancia-se em tijolos abstratos. O "pulo do gato" é o fato de que o Muro não passa da personificação concrética da abstrata Intolerância humana, da abstrata incapacidade do homem de suportar as diferenças (sociais, culturais, religiosas, de opinião…) de seu "quase" semelhante.

Resta, por fim, questionar: até quando se prorrogará a Dinastia do "Muro", o seu Reino, o seu Império? Para responder a essa questão creio que não haja palavras mágicas, um "abre-te, Sésamo" ou um "abracadabra". Da mesma forma, paira na certeza que não seria suficiente, para solucionar a questão, dizer que bastaria destruir todos os Muros do universo, quando, na verdade, o que prepondera, e que não pode ser destruído por máquinas ou marretas, pela tecnologia mais avançada, é a incapacidade de suportar e respeitar as diferenças alheias.

Diante do impasse ora presenciado, o mais irônico é ter que admitir que, por mais que tenhamos evoluído nos últimos séculos, por mais que tenhamos avançado nos estudos científicos e literários, por mais inenarráveis que sejam os avanços tecnológicos alcançados na contemporaneidade, a resposta para a questão supracitada tenha surgido, há mais de dois mil anos, de uma pessoa simples e humilde, de um ser humano como qualquer outro.

"Amai ao próximo como a si mesmo": esta é a solução! Pois, não há "Muro" que sobreviva, não há distância, por mais cruel, que persista ao amor verdadeiro. Ao amor que une as pessoas não pelo que se harmonizam, mas pelo que se incompatibilizam. Ao amor que faz brotar na mente e no coração das pessoas, por mais áridos e inóspitos que sejam, o entendimento de que a diferença que habita, em cada um de nós, é uma benção (uma riqueza) e não uma maldição.

Enquanto não compreendermos a complexidade desse ensinamento (independente de sermos, diuturnamente, religiosos ou não), reinará o "Muro" soberano em nossas vidas; reinará a Intolerância permanente ante o respeito; reinará o Furor veterano ante a paz.


Informações Sobre o Autor

Fernando de Azevedo Alves Brito

Advogado. Escritor. Professor Substituto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências. Doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidad Nacional de La Plata. Mestrando em Ciências Ambientais pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Membro da APRODAB.


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