Por Ricardo Haag
Manter um equilíbrio mental no ambiente de trabalho se tornou uma das pautas mais importantes nos últimos anos, especialmente ao longo da pandemia. Isolados em casa e sobrecarregados com jornadas extensas e uma alta pressão, a preocupação em garantir uma boa saúde mental é a base para uma qualidade de vida e um bom desempenho nas tarefas necessárias. Muitas companhias, felizmente, se preocupam genuinamente com essa questão e se esforçam para estimulá-la entre seus times. Entretanto, muitas outras ainda não compreendem tal importância, evidenciando um comportamento preocupante que deve ser levado em consideração por todos os profissionais.
Diversos estudos realizados ao longo do isolamento social constataram uma relação crítica entre o excesso de trabalho e o desenvolvimento de problemas de saúde psicológicos. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, como exemplo, 53% dos trabalhadores do Brasil relataram uma piora em sua saúde mental em 2020 — a quinta maior alta no mundo. As consequências destes diagnósticos podem ser severas, com a capacidade de desenvolverem inúmeros transtornos mentais, como a Síndrome de Burnout, e comprometer, assim, a rotina pessoal e profissional de todos.
Qualquer atividade em excesso é indiscutivelmente prejudicial à saúde. Muito mais do que uma questão ideológica, o descanso é uma necessidade biológica de todo ser humano, indispensável para que possamos recompor nossas energias e ter a disposição física e mental para sermos produtivos em nossas tarefas. Porém, a dinâmica mercadológica vista atualmente é propensa à sobrecarga de responsabilidades, o que dificulta ainda mais a disposição deste tempo precioso que precisamos para não sobrepor o trabalho aos nossos limites psicológicos.
Mais do que nunca, é preciso criatividade por parte das empresas em criar alternativas benéficas na estruturação de suas jornadas sem que interfiram na saúde mental de seus times — especialmente, levando em consideração a subjetividade no tempo de descanso considerado como necessário por cada um. Desenvolver uma política interna equilibrada e igualitária para todos esses perfis não é fácil, mas passível de ser elaborada mediante uma análise aprofundada sobre a rotina de suas equipes e suas satisfações.
Uma cultura de estímulo à saúde mental dos profissionais deve ser uma preocupação nitidamente vivida internamente e não apenas uma imagem de fachada passada na tentativa de atrair bons talentos. Aqueles à frente dessa tarefa devem aprimorar um olhar empático sobre cada um, compreendendo sua rotina de trabalho, nível de pressão sentido e a carga de trabalho enfrentada em sua rotina. No menor sinal de excesso em qualquer um desses pontos, é preciso encontrar soluções que tragam um balanço saudável entre seu bom estado mental e o cumprimento com as responsabilidades profissionais.
Do outro lado, todos os trabalhadores também devem se atentar e enxergar se essas ações estão, de fato, sendo uma prioridade clara para os gestores e estimuladas internamente. Afinal, de nada adianta se vender como uma companhia preocupada com a saúde mental de seus times, mas não praticá-la diariamente como, por exemplo, marcando reuniões em horários fora da jornada ou ainda um acúmulo de tarefas que impossibilita o término do trabalho no horário previamente acordado. Exceções sempre irão existir, mas caso essas situações se tornem recorrentes, é um sinal de atenção que precisa ser analisado.
A definição sobre uma boa saúde mental sempre será algo subjetivo, uma vez que cada um possui seu próprio conceito sobre o que caracteriza uma rotina equilibrada. Por isso, é importante conhecer a fundo a cultura organizacional estabelecida por cada companhia sobre este aspecto desde o processo seletivo, avaliando suas práticas e se estão de acordo com o perfil e necessidades individuais. Quando realmente preocupadas em prover tal aspecto, as empresas não apenas conquistarão uma boa imagem no mercado, como também se destacarão no radar de cada vez mais profissionais qualificados e dedicados a integrarem seu time.
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