Valores éticos no exercício da advocacia

Introdução

O saudoso professor JOSÉ OLYMPIO DE
CASTRO FILHO em seu livro PRÁTICA FORENSE1 ,
falando da atividade diária do advogado, lembrou o emérito EDUARDO COUTURE,
numa das mais belas páginas de deontologia jurídica,
Os Mandamentos do Advogado, digna de figurar entre os livros clássicos sobre o
assunto, como O Advogado, de Henri Robert, Das Boas Relações entre os Juízes e
os Advogados, de Calamandrei, El
Abogado, de Ossorio, a
Oração dos Moços, de Rui Barbosa, e, mais recente, a obra de Carvalho Neto, Advogados
– Como Aprendemos, Como Sofremos, Como Vivemos, livros que, juntamente com o
Código de Ética Profissional, aprovado pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados, em 25 de junho de 1954, repassados de sabedoria, deveria figurar
obrigatoriamente à cabeceira de todo lidador da advocacia. Ouçam-se as palavras
de COUTURE:

“Aquele que deseje saber em que
consiste o trabalho do advogado, há que explicar o seguinte: de cada 100
assuntos que passam pelo escritório de um advogado, 50 não são judiciais. Trata-se de dar conselhos, orientação
e idéias, em matéria de negócios, assuntos de família, prevenção de futuros
litígios etc. Em todos esses casos, a ciência cede lugar à prudência. Dos dois
extremos do dístico clássico que define o advogado, o primeiro predomina sobre
o segundo, e o “homem bom” se sobrepõe ao “sabedor do
direito”.

Dos outros 50, 30 são de rotina.
Trata-se de gestões, tramitações, obtenção de documentos, questões de
jurisdição graciosa, defesas sem dificuldades ou causas julgadas sem contestação
da parte contrária. O trabalho do advogado transforma aqui o seu gabinete em
escritório de despachante. Seu lema poderia ser como o daquelas companhias
norte-americanas, que produzem artigos de conforto: “more and better service
for more people”.

Dos 20 restantes, 15 representam alguma
dificuldade e exigem um trabalho mais intenso. Trata-se, porém, dessa classe de
dificuldades que a vida nos apresenta a cada passo e que a concentração e o
empenho de um homem diligente estão acostumados a levar de vencida.

Nos restantes cinco reside a essência
da advocacia. São os grandes casos profissionais. Grandes, não certamente, pelo
seu conteúdo econômico, senão pela magnitude do esforço físico e intelectual
que o seu trato exige. Causas aparentemente perdidas, através de cujas fissuras
filtra um raio de luz que serve de guia ao advogado
para abrir a sua brecha; situações graves, que é preciso sustentar por meses e
meses, e que exigem um sistema nervoso a toda prova, sagacidade, aprumo,
energia, visão longínqua, autoridade moral, fé absoluta na vitória.”

A vida profissional é rica em
oportunidades de convivência. Por dever de ofício, somos levados a
conviver com as mais variadas pessoas, serventuários, colegas advogados,
juízes, secretários, etc.

E essa convivência para ser harmônica e
saudável exige de nós uma conduta ética elevada.

Esse tema é atualíssimo, basta dizer
que a 2ª Câmara do Conselho Federal da OAB, ocupa-se do assunto e anuncia ” um novo manual de ética do advogado”. Segundo o
veiculado pelo OAB NACIONAL, Órgão do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil, de outubro-98, sob o título “Vem aí o novo manual de
ética”, “depois de preparar a estrutura da OAB para a apuração do
processo ético-disciplinar, o órgão passará a discutir o novo manual com os
conselheiros, presidentes de Seccionais, membros dos tribunais de ética e
demais integrantes da Ordem. “Essa Segunda fase terá um
caráter didático-pedagógico, define Carlos Tork.
Segundo ele, mais do que propor alterações no processo
interno de julgamento da conduta dos advogados, o importante é despertar
novamente o debate na classe sobre a importância dos procedimentos éticos no
exercício da profissão.”

“Precisamos da participação de
todos para dar ênfase nessa discussão”, defende Tork.
” Somos uma referência para todo o País e por
isso não podemos descuidar nenhum pouquinho dessa área”, acrescenta.
“Hoje a questão ética é a maior preocupação dos advogados
brasileiros”, conclui.”2

A boa educação recebida no lar é básica
e é útil a essa convivência.

Entretanto, devemos estar sempre
atentos, pois ao atuarmos podemos eventualmente agradar alguns e desagradar
outros. Entrar em atritos, pois nessa convivência as falhas caracterológicas
se manifestam dificultando o bom relacionamento.

Algumas dessas deficiências, pela
natureza da atividade forense, encontram campo propício para atuar em nossa
mente e assim são as responsáveis por atuações, por
vezes desastrosas e desagradáveis, como veremos, no correr desta exposição.

Para nosso alívio, nem só de deficiências
é formada a nossa psicologia, há nela valores e pensamentos construtivos que
são eficientes colaboradores nessa maravilhosa e difícil arte de conviver.

Mas esses valores, quando não se
manifestam espontaneamente em nossas atuações diárias, podem ser criados e
cultivados.

O exercício da observação quando a
utilizamos para o nosso aperfeiçoamento, nos permite burilar a própria
psicologia, quando nos dispomos a fazer um bom uso do que é fruto dessa
observação. Ao observar o que de ruim eu vejo no outro e ao
invés de criticar a conduta alheia, para menosprezar, eu volto para dentro de
mim e me pergunto se eu agiria daquela forma, o resultado é outro, porque nesse
instante, nessa análise da conduta do semelhante eu me dou conta de que todos
nós seres humanos podemos a cada dia melhorar o nosso comportamento, tornando-o
mais agradável e tolerável.

Todas as profissões têm um Código de
Ética imprescindível ao exercício da atividade profissional, porque, em todas
elas, estamos lidando com o nossos semelhantes,
estamos CONVIVENDO.

O trato cordial é norma iniludível. O
respeito não deve faltar nesse relacionamento, nesse CONVIVER.

O citado professor JOSÉ OLYMPIO DE
CASTRO FILHO  ensina que:

“Dentre as normas do Código de Ética, que estão a reclamar exame e
comentário adequado que pudessem servir de esclarecimento e repertório de deontologia para os profissionais, inclusive com a
coletânea e a divulgação de decisões do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados, as que disciplinam as relações pessoais com o cliente e as relações
em Juízo estão a merecer especial atenção.

Não se catalogaram jamais, e talvez
jamais se apresentem exaustivamente enumerados os cuidados a respeito, que vão
desde a necessidade de apreender a personalidade do cliente e do juiz, para saber
como se conduzir diante um ou outro, seus hábitos, suas virtudes e
deficiências, até inúmeros aspectos a considerar no capítulo cada dia mais
complexo e difícil das comunicações humanas.

Sem embargo, um ponto parece certo, e
dele bem possivelmente decorrerão, naturalmente, consequências
que irão repercutir em tudo o mais: hão de existir, à custa de quaisquer
esforços e sacrifícios, entre o advogado e o cliente, assim como entre o
advogado e o juiz, a compreensão e o respeito, mútuos.”3

A logosofia
como ciência auxiliar do direito

Nesta exposição vou me valer de uma das
ciências auxiliares do Direito.

Segundo o ilustre Professor da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, Dr. JOSÉ ANTÔNIO
ANTONINI, em memorável aula inaugural realizada na “Faculdade de Direito
do Sul de Minas”, em
Pouso Alegre, “se o Direito tem como ciências auxiliares
a Medicina, a Psicologia, a Psiquiatria, a Cibernética, a Informática, etc, agora é chegada a vez de
passar a contar com mais uma: a LOGOSOFIA”.

“Essa nova geração de
conhecimentos tem por campo experimental região pouco conhecida – acrescenta o
festejado Professor ANTONINI -, mal transitada, senão totalmente desconhecida:
o próprio mundo interno de cada vida humana. Esse mundo onde cada um vive e convive
consigo mesmo protegido, à discrição, da incursão alheia. Ninguém penetra nesse
mundo sem permissão de seu titular e ainda quando permitido, não além das
partes que autoriza o possuidor desse domínio.”

“Para a exploração, estudo,
investigação e conhecimento desse mundo interno é que se dirige essa nova linha
de conhecimento, mediante a utilização de um método e uma técnica que lhe são
próprias.”

“Inobstante
o vertiginoso avanço das ciências ditas exatas e humanas, não se conseguiu até
o presente encontrar ou forjar a chave do problema humano e oferecer uma
explicação satisfatória sobre o nosso mundo interior.”

“O investigador mede a trajetória
dos astros e desconhece a de sua própria vida; segue as modificações do átomo e
descuida as de seu pensamento; estuda e analisa tudo, menos o que diz respeito
próprio  conhecimento da  mente, que é a que
lhe permite  discernir e pensar, enquanto se capacita para conhecer a
origem e evolução de seu próprio pensamento; lê e comenta mil biografias e
treme pensando como terminará a sua; descreve maravilhas sobre a organização
das formigas e das abelhas, e quando é instado à organização de seus valores
pessoais, vacila ante cem conselhos antagônicos.

Assim, o estudioso, o universitário, ou
simplesmente o homem que cuida de sua instrução, encontra-se frente a livros
que tratam sobre a essência da história, da filosofia das matemáticas ou a
evolução da mitologia, mas nada de certo pode saber a respeito da essência de
seu próprio ser, a filosofia de sua condição humana ou a evolução de seu
caráter, não obstante constituir tudo isso a primeira e última realidade de sua
existência.” (Biognose-74).4

A LOGOSOFIA, no dizer de seu autor, o
humanista CARLOS BERNARDO GONZÁLEZ PECOTCHE:

“Abarca todos os conhecimentos
humanos e transcende para conhecimentos maiores.”

Configurando-se em ciência e cultura ao
mesmo tempo, a Logosofia ultrapassa a essa esfera
comum e, destina-se “a nutrir o espírito das gerações presentes e futuras
com uma nova força energética – por excelência mental – necessária e
imprescindível ao desenvolvimento das aptidões humanas”.5

Logo, a fonte é inesgotável e oferece
generosamente uma gama infinita de elementos úteis ao aperfeiçoamento dos
demais ramos do saber existente.

O conhecimento logosófico
“encara todos os pontos de estudo que possam interessar ao homem,
ajudando-o a cultivar seu espírito com miras a uma superação.”

Entendemos que a nova cultura, preconizada pela Logosofia, contém
as bases sólidas em que se haverão de fundamentar as normas jurídicas, pois,
sendo o Direito uma ciência social, por excelência, está sofrendo, também, as consequências da inevitável decadência da atual cultura
vigente.

O exercício da profissão e a atuação
das deficiências psicológicas

Alguma deficiências psicológicas comprometem o bom
desempenho da atividade profissional do advogado. Enunciarei algumas:

A impulsividade

É um pensamento impetuoso que provoca a
reação imediata da mente ante qualquer incitação ou motivo que surja excitando.
Em todos os casos se manifesta como ato irreflexivo do indivíduo.

Essa falha psicológica altera o ânimo e
principalmente a paz interior.

O impulso irrefletido leva, às vezes, a
expressar o que se sente ou se pensa em relação a pessoas, assuntos ou coisas,
apesar do propósito que se tinha de mantê-lo em reserva. Nesse
momento surge outra deficiência, a indiscrição. Claro, as dificiências
não atuam sozinhas, atuam em bando, daí a dificuldade em combatê-las. A
antideficiência, o antídoto aconselhável, é usar a
CONTENÇÃO, conter o impulso. Significa nada menos que o domínio de reação,
sempre arbitrária, com efeito deprimente sobre o ânimo.

A suscetibilidade

“O suscetível é uma pessoa
predisposta a ver no próximo uma segunda intenção, o que dá lugar a que se
melindre ou se ofenda com extrema facilidade.”

Para contrapor a essa falha, nada
melhor que a EQUANIMIDADE, ou seja, “o sentido da justiça e ao mesmo
tempo, a medida exata com que se ajuízam os valores opostos. Ela mantém o homem
protegido das atitudes extemporâneas de suscetibilidade, que surgem
impulsionadas pelas ligeirezas de juízo.”

A AFABILIDADE é o mel que, derramado sobre o vinagre
psicológico, melhora seu sabor.

A aspereza

Essa falha temperamental contrai a
sensibilidade, sufocando os sentimentos.

“A aspereza torna o caráter acre e
sombrio; impele ao isolamento. O ser foge do contato com seus semelhantes e
este, do seu, porque a ninguém agrada uma modalidade áspera e pouco amistosa.
Seja no lar, junto aos seus, seja fora dele, sua atitude, oposta a toda
demonstração jovial ou afetuosa, provoca rechaço, pois sua presença se recebe
sempre com escassa mostra de satisfação.”

“Não aguenta
seu gênio”, costuma-se dizer para desculpá-lo. Perguntamos: não tem
inteligência e vontade para lutar contra essa insociável deficiência?”6

O remédio nesse caso será,
também,  cultivar a AFABILIDADE.

A LOGOSOFIA faz uma grande descoberta
ao dar a conhecer o conceito transcendente de PENSAMENTO, definindo-o como os
agentes causais do comportamento humano. Eles são a causa de
nossos atos e ações. Mundando-se os
pensamentos, muda-se a vida.

E as deficiências psicológicas se
constituem falhas caracterológicas e são originárias
do enquistamento de pensamentos na mente. A ciência logosófica
define a deficiência como sendo “o pensamento dominante que, por sua vez,
que enquistado na mente, exerce forte pressão sobre a vontade do indivíduo,
induzindo-o a satisfazer seu insaciável apetite psíquico.”

Em sua aula o festejado professor JOSÉ
ANTÔNIO ANTONINI, ensina que: “é tal a influência e gestão dos pensamentos
na vida do homem que este chega a ser apelidado pelo nome do pensamento de que
é portador. Se de natureza construtiva e cultivada, são gênios, sensatos,
ilustres, mestres; se são vítimas de pensamentos dominantes ou obsessivos, como
o são os portadores de deficiências psicológicas, pelo nome do
pensamento-deficiência que o caracteriza: é chamado de vaidoso, rancoroso, egoista, teimoso, intolerante, etc., havendo os que são
tomados por outros de mais baixo nível, passando a ser chamados de ladrão,
fraudador, falsário, larápio.”

Observou o referido professor ANTONINI
que: “estudando e experimentando os conhecimentos logosóficos advertiu que GONZÁLEZ PECOTCHE estaria para
esse benefício humanitário no campo da vida bio-psico-espiritual,
assim como PASTEUR no campo da biologia. Ambos haviam feito descobertas
fundamentais: uma incursionando na realidade física
do corpo humano, outra na realidade anímica do espírito humano. Os elementos in
natura, em um e outro campo existiam, mas, não haviam sido descobertos, nem se
havia, por isso mesmo, desenvolvido técnicas para tratar com eles.

Essa diferenciação entre a mente e o
pensamento e entre tais entidades existentes in natura e a vontade, etc, permite uma nova observação da realidade nos
cumprimentos das apreciações e decisões emanadas no campo do Direito.”7

Convivência

O estudo de meu organismo mental e
psicológico, me capacita para penetrar nas causas de
minhas próprias limitações, descobrir a origem de meus erros e deficiências,
como também conhecer meus próprios valores e condições, a fim de aumentá-los
progressivamente à medida que vou conseguindo os conhecimentos que me permitam
encarar a vida com acerto e conquistar uma efetiva superação em todas as ordens
da vida humana. Comprovo, também, que as relações
comigo alcançam sua mais ampla efetividade quando consigo manter a harmonia
entre o pensar, o sentir e o atuar: quando adquirindo plena consciência de
minha responsabilidade, esta se traduz espontaneamente na conduta que observo
comigo e com os demais.

A convivência não é a finalidade, mas
uma das conseqüências naturais do auto-aperfeiçoamento.

Para uma boa convivência:

Aspectos do ensinamento logosófico:

1 – “Uns têm o que a outros falta,
e o que a uns falta outros o têm”. “Ninguém quer dar a outro o que tem, porque pretende que o que tem é melhor que o que a
ele lhe falta e outro tem”.

2 – a humanidade vem caminhando: dando
e tirando sem chegar a se completar nunca.

3 – as aproximações se fazem por
influência simpática ou afinidade. Uns e outros se prodigam
afeto, respeito e os melhores desejos. Surgem os distanciamentos porque um e
outro não foram capazes de conservar o que em um momento
apreciaram justo, natural, agradável ou necessário.

4 – imperfeição ou defeito que agrava
as situações dentro da vida de relação:

a- imagem do cheque – a mente, reagindo, extrai do bolso o
cheque e o destrói. O coração é mais pródigo – outorga créditos que a mente ao
reagir os rasga. Contínua reação entre a mente e o coração.

 (”
os homens devem chegar a compreender alguma vez que, enquanto não modifiquem
suas próprias condições internas, seguirão infringindo constantemente essas
leis – que regem o Universo – as que deixam sentir de imediato seu rigor
castigando a raça humana”).

b- “colaborar na grande tarefa de ajuda mútua a fim de
que cada um encontre seus fragmentos perdidos pelo mundo, aqueles que faltam à
figura humana para chegar a ser completa, ou seja, semelhante à imagem do
Criador”.

c- “não somente  é necessário encontrar os
fragmentos que faltam para completar a figura humana, senão que há que cuidar
muito os que já se têm para não perdê-los”.

5 – cada um espera, senão tudo, pelo
menos noventa por cento dos demais, parecendo ainda muito esses dez por cento
que põe de sua parte.

6 – “O homem deverá se mover
dentro do mundo sem pretender suplantar o semelhante ou tirar-lhe seu lugar,
pois cada um tem o seu, que pode ampliar sem MOLESTAR ninguém”.8

7 – buscar e eliminar todos os
fragmentos de imperfeição que minguam a figura humana. O egoismo,
a propensão à folgança. Enumerar algumas deficiências psicológicas que
prejudicam o relacionamento entre os seres.

8 – “muitas vezes se esfria o
calor de um afeto ou de uma amizade porque não se mantém intata
a recordação do fato que a originou”.

9 – A imagem ideal dos seres que se
amam. A realidade mostra a imagem real. O encontro de ambos não foi o encontro
das duas imagens.

“Porém algo fica sempre dessa
imagem ideal: fica a força do afeto, a força da recordação, que em constante revivência fixa a cada um sua
conduta. Essa parte da imagem ideal é a que influi desde o momento em que os
seres se desencontram, se desconhecem ou se rechaçam; desde o momento em que,
por causas não muito graves, se suscitam desgostos, desavenças ou atritos. É a
que influi para acalmar a agitação, suavizar o erro e ainda para perdoar,
porque quando a imagem física, nos instantes de enojo se desmancha para os
olhos que a vêem, aparece mostrando-se a esses mesmos olhos a imagem ideal,
revestida sempre de recordações, de afetos e de história; dessa história que
juntos viveram, participando dos dias felizes e dos dias de dor. Essa imagem é
a que influi, e não outra, para que os seres se reconciliem e se reencontrem,
estreitando seus espíritos no amor dessa imagem”.

10- “Não é a última gota a que faz
entornar o vaso, senão toda a água que o enche, fazendo que uma gota mais não
possa caber nele. De modo que a causa não está na gota, senão nas muitas gotas
que contém o vaso”.

11- “Não se deve esquecer que a
relação e vinculação entre os seres está constituída
por uma série de coisas e fatos que se entrelaçam. De nós depende que se
mantenham como no primeiro dia que se estabeleceram, pois do contrário se destróem; acontecerá o mesmo que com o “sweater”, cujos pontos, ao se soltar, irão destecendo-se pouco a pouco, não ficando ao final mais que
um fio como recordação do mesmo. Este é o drama da vida, do mundo, da
humanidade”.

12 – Cultivar a atenção sem afetação,
fazendo que esse traço gentil, que tanto atrai e obriga, se produza naturalmente.

13 – Trocar atenções que tanto
contribuem para suavizar as amarguras que trazem consigo
os esforços cotidianos.

14 – Cultivo da simpatia. A simpatia é
uma força que atrai. Tanto a simpatia como a antipatia estão
dentro de nós. Cabe a nós cultivar a simpatia e combater a antipatia.

Ao compreender que essas duas forças
existiam dentro de mim, pude experimentar muitas situações interessantes. Passei a observar que algumas pessoas me eram antipáticas,
pode-se dizer, gratuitamente, sem que sequer tivesse algum contato com elas,
após um tempo de relacionamento me tornavam simpáticas, outras, ao contrário,
de início, eram simpáticas e, depois, surgia a antipatia.

Recordo-me, que em certa ocasião,
constatei que um ser me era muito antipático e pouco tinha contato com ele. Esforçei-me por combater essa antipatia em mim e, aos
poucos, houve a aproximação a esse ser e aquela força repulsiva desapareu por completo. De fato, a força simpática e a
força antipática estão dentro de nós.

15 – Ao observar o negativo no outro,
pensar sempre se algo semelhante acontece comigo.

16 – Aproveitar as duas oportunidades
que a vida nos oferece: a de não ser incomodado e a de não incomodar os demais.

Neste ponto cabe o relato de algumas
vivências de nosso dia-a-dia, tanto no Fórum como em
outras Repartições Públicas. Ficamos esperando no balcão para
sermos atendidos e o serventuário vem tranquilamente atendendo aos que se encontram em nossa frente, depois de algum tempo de espera,
está na sua hora de tomar o cafezinho, pois ninguém é de ferro, e continuamos
ali esperando a nossa vez. Por várias ocasiões fiz interessantes observações,
uma delas é o prurido que todos têm de ser “do contra”, quanto mais
pressa tem o que quer ser atendido, mais devagar o serventuário que está ali o
atende.

De outras vezes, quando vou preparado
para enfrentar um balcão de uma Secretaria do Foro, sou atendido prontamente e
saio dali tranquilo. Quando vou sem realizar um
mínimo preparo interno para não me deixar envolver pelos pensamentos de pressa e
de intolerância que rondam esses ambientes, sou vítima deles e me vejo
incomodado, irritado e saio com a sensação de que não fui bem atendido e perdi
muito tempo naquela repartição. Isso não acontece conosco em nossas atividades?
Tudo, então, depende de nosso estado de ânimo interno. A causa dessa
irritabilidade está dentro de nós mesmos e a forma de eliminá-la não é outra,
senão trabalhar internamente para evitar que esses momentos desagradáveis e que
afetam nossa tranquilidade tomem conta de meu ser e me
veja no final do dia esgotado, extenuado.

Valores éticos na convivência
(respeito, tolerância, paciência, etc).

1 – A observação:

“Uno de los
valores éticos que se pronuncia con caracteres más prominentes, es el de la OBSERVACIÓN; la
observación consciente, que en forma constante recoge por doquier los elementos
que luego han de servir para perfeccionar el carácter y modalidades del ser, al
permitir que en el ejercicio continuado de esa facultad verifique la práctica
de lo observado, puliendo en esta forma, como hemos dicho, todas las aristas de
su temperamiento”.9

A paciência, a benignidade e a
tolerância:

“La
paciencia, la benignidad y la tolerancia, son manifestaciones de ética
superior”.
2 – A simpatia:

“La simpatía
se conquista por la naturalidad en el trato, por la agilidad y la gracia que se
exterioriza y la buena disposición a hacer agradable el instante de
sociabilidad”.10

3 – A confiança:

“La confianza
que inspira la amistad sincera, similar a la de la familia, se funda en la reciprocidad
del afecto y del conocimiento personal. Desde el simple conocido hasta el amigo
verdadero, existe una escala de grados en el vínculo que los aproxima, vínculo
susceptible de alterarse por cual-quier motivo,
mientras no se manifiesta el aprecio y la consideración como una afirmación del
concepto mutuo. La confianza es, entonces, producto de la garantía moral que
cada uno se otorgue.” (- “La confianza en su expresión ética”).11

-abuso de confiança.

-brincalhões – que excedem em suas
brincadeiras – esses ferem a sensibilidade e molestam o pudor comum.

-“La broma
elevada, gentil y sana, es aceptada por todos;”

-“La
confianza que un pueblo otorga a su mandatario al centralizar en uno la
voluntad de todos, es una prueba de moral pública, pero si ella es defraudada,
la misma moral reacciona y el usurpador pierde la confianza de su pueblo”.

“Agregaremos
que la confianza, desde el punto de vista de su expresión ética, debe
constituir el fundamento de toda organización moral, política y social”.12

4 – A lealdade:

“Sin LEALTAD
no es posible concebir la amistad entre las personas ni tampoco hacer factible
una convivencia de carácter permanente y sincero”.13

“Puede
afirmarse sin que ello sea aventurado, que una de las causas primordiales de
los múltiples infortunios humanos fué siempre la
falta de lealtad en el trato mutuo. El engaño y la falsedad han sido dos
tendencias destructivas que en todo tiempo atentaron contra las buenas
disposiciones del ser”.

“La lealtad
se caracteriza en primer término por la conciencia del deber. Es profesión de
fe consciente que el ser hace al sentimiento que, nacido de una amistad o de un
afecto sincero y puro, se convierte en parte de sí mismo. Y siendo así, no
podría menoscarbárselo sin herir hondamente la propia
vida”.

5 – Respeito:

1 – fator essencial da
paz:   “No puede haber paz en un pueblo si el respeto a las
leyes y a sus instituiciones deja de ser la garantía
que ampara a cada uno en sus derechos y en sus valores. De ahí que cuando se
burla la dignidad humana faltando el respeto a su persona, sobrevienen las
crisis sociales, tan nefastas para la vida de pueblos y naciones.”14

2 – “En todos
los tiempos el respeto constituyó el medio imprescindible que hizo realizable
la convivência entre los seres humanos. El hombre,
desde que nace, como todo lo que se manifiesta a la vida en el seno de la Creación, debe
inspirar respeto. Nada mejor podría hacerse, pues, para edificar la paz futura,
que lo-grar que el respeto presida todas sus
determinaciones, erigiéndo-lo como algo inseparable
de la responsabilidad de los mismos”.15

6 – Paciência:

1 – paciência ativa.

2 – “a paciência cria a
inteligência do tempo”. – paciência do que sabe esperar. (esperar o
nascimento do pintinho – 21 dias e não mais).

“Puede
decirse, entonces, que es un secreto digno de ser tenido en cuenta, el hecho de
que los mejores éxitos que el hombre ha podido tener en la conquista del bien,
han sido merced a esa paciencia activa puesta de manifiesto en su
perseverancia, su ininterrumpida labor, su consagración, y también a esa fe cons-ciente que se va arraigando
en el alma merced a las propias cons-tataciones”. ( “La
paciencia como factor del éxito”).16

Esse são alguns dos valores éticos da
convivência apontados pela Logosofia.

Esses valores respondem sempre ao
interno do ser, ou melhor, têm uma correspondência no interno.

É preciso, portanto, que haja um
cultivo interno desses valores para que eles se exteriorizem em forma de
conduta no trato com o semelhante, em ÉTICA.

O conhecimento dos pensamentos e
sentimentos têm grande influência no cultivo desses
valores éticos aqui assinalados.

A reeducação sugerida pelo conhecimento
transcendente contribui para uma revisão de conceitos, visto que eles se
encontram desvirtuados. Houve, através dos tempos na humanidade, um grande
desvio de conceitos e uma flagrante inversão de valores. É preciso, portanto,
repensar, se é que temos pensado alguma vez, sobre essas coisas.

O estudo das deficiências psicológicas
me tem permitido conviver melhor, porque ao tomar contato com as falhas caracterológicas de meu temperamento, passo a ser mais
comedido e equânime em meus juízos sobre os demais.

Ao verificar que “o intolerante
cria em seu redor um ambiente hostil, que o impede de levar uma vida
grata”, me esforço por afastar de mim esse pensamento e contrapor a ele a
“tolerância, considerada por nós elemento indispensável à convivência
harmônica”.17

O interessante é que a intolerância
jamais se manifesta para com os de cima, nem contra aqueles de quem se espera
tirar partido. Mas ela está presente de forma às vezes constante no trato com
os seres mais queridos.

O que se pode dizer quando se aprende
que ” o suscetível é um indivíduo predisposto a
ver no próximo uma segunda intenção, o que dá lugar a que se melindre ou se
ofenda com extrema facilidade”. E, no combate a esse defeito passamos a
utilizar a equanimidade que é o sentido da justiça e a medida exata com que se ajuizam os valores opostos, associado a esse esforço o
cultivo da afabilidade.

O uso da observação é um meio eficaz de
combater as deficiências, tão detestáveis inimigos da sensibilidade humana.
Observação de deficiências em nossos semelhantes, observação essa que se fará
sem perder de vista as próprias, sobretudo quando se trate de irregularidades
que se assemelham às que se tem empenho em neutralizar. No
efeito desagradável que nos produzem as más atuações alheias, pode-se avaliar o
que causamos em circunstâncias análogas, surgindo de tão singelo confronto, com
maior vigor que antes, a resolução de nos tornarmos mais gratos e suportáveis.

Deve-se ter o cuidado também de
observar a ótima impressão que produzem as virtudes do próximo. “Eis o
estímulo natural que nos deve inspirar a desenvolver iguais virtudes e a nos
converter em exemplos vivos de captação e assimilação de valores espirituais e
éticos, valores que a sensibilidade e a consciência reclamam como
indispensáveis para mover e ativar as próprias bases internas de
superação”18 .

7) – O exemplo:

“Todo ensinamento moral não
avalizado com o exemplo de quem o dita atua na alma do que o recebe em sentido
contrário”.

“O exemplo é a imagem vivente de
uma realidade perfeita”.

“A moral se edifica com o bom
exemplo, não com palavras”.

O exemplo é a maior das tradições,
porque sem exemplo não existe tradição.

Exemplos que podem ser seguidos,
exemplos que sejam compreendidos pela mente humana e não supostos exemplos de
exemplos que não existiram.19

Atmosferas e órbitas pessoais

A) homem ativo – atrai a simpatia e
amizade de muitos seres – a exemplo dos astros que por sua influência cósmica
atraem a outros a sua órbita;

B) a sensatez e a franqueza mantêm
diáfana a atmosfera pessoal.

Atmosfera pessoal = atmosfera interna

“La atmósfera
interna puede trascender y tomar contacto con los demás seres siempre que quien
la posea no viva aislado, pues en este caso permanecería estática. Pero si
busca la vinculación, puede acontecer que sea atraído o repelido, conforme a la
índole simpática o antipática de su onda o vibración. He aquí, finalmente, lo
que va determinando la órbita de atracción personal”.20

Conclusão

Para terminar, fazemos nossas as
seguintes palavras do criador da Ciência Logosófica,
publicadas na revista LOGOSOFIA :21

“Uma nova era deverá começar para
este mundo alquebrado e submerso em tanta desgraça: a era da reconstrução em
todas as ordens em que a vida se desenvolve; a era de uma nova concepção da
vida que abra aos espíritos as portas de um futuro melhor. Desta maneira haverá terminado a era
sombria do desprezo ao semelhante e do desprezo a todo o justo, nobre e bom.

“A nova era terá que se
caracterizar, pois, por uma ampla compreensão dos problemas humanos e pelo
respeito mútuo, consagrado universalmente; o respeito à vida, à família, aos
povos e a quanto constitua a razão da existência. Só assim voltará a humanidade
a se humanizar e a alcançar, mais além, cumes no aperfeiçoamento”.

Referências bibliográficas

1 CASTRO FILHO, José Olympio. Prática
Forense. Rio de Janeiro: Forense, (s/d), 483 p.
2 REVISTA JURÍDICA MINEIRA. Belo Horizonte, V. nº 89,
Dez., ano 990, 243 p.

3 GONZÁLEZ PECOTCHE,
Carlos Bernardo. Introdução Ao Conhecimento Logosófico.
São Paulo: Editora Logosófica, 1996, 491 p.

4 GONZÁLEZ
PECOTCHE, Carlos Bernardo. Biognose. São Paulo: Editora Logosófica, 1996, 174 p.

5 GONZÁLEZ
PECOTCHE, Carlos Bernardo. Deficiências
e        Propensões do Ser Humano. São
Paulo: Editora Logosófica, 1989, 204 p.

6 REVISTA JURÍDICA
MINEIRA. Belo Horizonte, V. nº 67, Nov. ano 1989. 273 p.

7 GONZÁLEZ
PECOTCHE, Carlos Bernardo. Diálogos. São Paulo: Editora Logosófica, 1995, 211 p.

Notas
1.  CASTRO FILHO. Prática Forense.,p. 31

2.  OAB Nacional, Órgão do
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil Ano IX nº
66-Out-98

3.  CASTRO FILHO, Prática
Forense, p. 119.

4.  ANTONINI, José Antônio. A Logosofia como cência auxiliar do
Direito. Revista Jurídica Mineira, Ano VII – Vol. Nº
80- Dez/90, p. 44

5.  CHAGAS, Marco Aurélio Bicalho de Abreu. Uma nova concepção do Direito, Revista Jurídica
Mineira, Ano VI – Vol. Nº 67 – Nov/89,
p. 07

6.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Deficiências e Propensões do Ser Humano, p.105

7.  ANTONINI, José
Antônio, A Logosofia como ciência auxiliar do
Direito, Revista Jurídica Mineira, Ano VII- Vol. Nº 80
– Dez/90, p.50

8.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Introdução ao Conhecimento Logosófico,
p.194

9.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia, nº 51, p. 23

10.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia, nº 51, p. 31

11.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia, nº 17, p. 19

12.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia nº 17, p. 21

13.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia nº 51, p. 33

14.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Evolução Consciente nº 12,
Ano 71, p. 70

15.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia nº 57, p. 15

16.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Revista Logosofia nº 17, p. 17

17.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Deficiência e Propensões do Ser Humano, p. 139

18.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Deficiência e Propensões do Ser Humano, p. 25

19.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Conferências T. V , p. 94

20.  PECOTCHE, Carlos
Bernardo González, Diálogos, p. 87

21.  PECOTCHE, Carlos Bernardo
González, Revista Logosofia, nº
53, p. 26

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas

 

Advogado em Minas Gerais

 


 

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