A cada dia torna-se mais evidente
que estamos diante de um “governo Dolly”. Dolly, como se sabe, foi a
ovelha clonada que andou aparecendo na mídia internacional mais do que grandes
líderes mundiais. O clone humano, anunciado por um francês de dentes tortos,
penteado ridículo, roupas exóticas, que se dizia representante de alguma nação
de extraterrestres, pela vigarice explícita que representava não durou muito
tempo na imprensa. Dolly era um clone de verdade e talvez só tenha perdido em
termos de exposição jornalística para Osama Bin Laden, o chefe guerreiro,
espiritual e podre de rico que, a frente de seus seguidores fanáticos declarou
luta sem tréguas aos infiéis de todo o mundo. Dolly foi sucesso, mas seu
problema residiu no fato de que clones envelhecem precocemente. Assim, morreu
antes do tempo o simpático animal.
Isso de certa forma lembra o atual
governo. Depois do sucesso fabuloso do candidato do PT nas eleições, o governo
Lula, um clone com alguns defeitos, do governo FHC, está envelhecendo precocemente.
Isso chega a ser visível na face e nos cabelos do dirigente máximo, conforme
ele aparece nas fotos diárias que os jornais estampam. Mesmo aquele entregar-se
ao afago das multidões para distribuir autógrafos, diminuiu consideravelmente
na rotina presidencial. Aos poucos a fantasia criada pelo marketing vai cedendo
espaço às dificuldades reais e aos problemas inerentes ao jogo político,
enquanto a boa e velha esperança se dissipa na curva dos sonhos imaginados.
Em meio ao caos primordial do
governo Lula, onde o desencontro entre ministros, o desdizer constantes com
relação às reformas pretendidas, o fracasso de factóides de cunho social são
evidentes, apenas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, segue fazendo
sucesso, escudado pelo Banco Central cujo presidente trabalha em silêncio.
Seguindo modelo da ortodoxia
capitalista, o neopetista Palocci arranca elogios do FMI e tornar-se a menina
dos olhos de banqueiros nacionais e internacionais. E esta política
macroeconômica, antes chamada pejorativamente de neoliberalismo, faz recordar
as palavras do jornalista norte-americano, H.L. Mencken, que continuam
atualíssimas:
“Não há a menor razão para se
acreditar que o capitalismo esteja em colapso ou que qualquer alternativa a ser
proposta pelos mágicos em voga seja melhor. O máximo que se pode dizer é que o
sistema capitalista está sofrendo transformações, algumas penosas. Mas estas
mudanças servirão para reforçá-lo”.
Mas Palocci a parte, não há
vislumbre de encaminhamento ou mesmo de planejamento de soluções para questões
sociais prioritárias, entre elas o desemprego e a violência. Quanto ao Programa
Fome Zero, tido como prioridade máxima do presidente da República, é justamente
o que envelhece mais depressa. Não admitindo clonar os programas sociais do
governo anterior, o ministro José Graziano encontra-se perdido no labirinto de
sua incompetência e começa a tornar-se presa fácil a ser abatida pelos próprios
companheiros. Já se pensa para substitui-lo, num empresário que em outros
tempos foi seqüestrado por gente do PT. Tudo porque o ministro Graziano é
daqueles que, como diria o saudoso personagem Odorico Paraguaçu, fica nos
entretanto sem chegar aos finalmente. Do jeito que vai o Fome Zero, daqui a
pouco o lema do Programa será: “Dê fome a quem não tem”. Um cabal
atestado de caduquice que a pobre Dolly deveria estar sofrendo quando faleceu.
Informações Sobre o Autor
Maria Lucia Victor Barbosa
Socióloga, jornalista e escritora, autora entre outros livros de: “O voto da pobreza e a pobreza do voto: a ética da malandragem (Jorge Zahar Editor) e América Latina: em busca do paraíso perdido (Editora Saraiva).