A dança da pizza: voto aberto – já!

Matéria de “Folha-Brasil”, de 9
de abril de 2006: “Esse é o índice dos
que consideram desempenho dos parlamentares ruim ou péssimo, similar aos do
auge da crise no ano passado.  Após
pizza, Congresso é reprovado por 47% .
DA REDAÇÃO: A reprovação ao desempenho
do Congresso Nacional subiu novamente em abril, voltando a ter índices
similares aos obtidos entre julho e outubro do ano passado, no auge da crise do
mensalão o aumento da avaliação negativa da atuação de deputados federais e
senadores reflete as absolvições de dois parlamentares petistas envolvidos no
escândalo -João Magno (PT-MG) e João Paulo Cunha (PT-SP)-, além da dança da
deputada Angela Guadagnin (PT-SP), comemorando a absolvição de Magno.A última
pesquisa Datafolha, realizada nos dias 6 e 7 de abril, revela que 47% dos
entrevistados acham que o desempenho do Congresso é ruim ou péssimo. Em relação
ao levantamento anterior, de 16 e 17 de março, houve um aumento de seis pontos
percentuais na avaliação negativa.Ao mesmo tempo, diminuiu o índice dos que
consideram a atuação dos parlamentares regular -de 37% para 34%. O número dos
que acham o desempenho do Congresso ótimo/bom ficou estável: oscilou de 14%
para 13%, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.As avaliações se
aproximam das registradas no auge do escândalo do mensalão. Em agosto de 2005,
48% reprovavam o desempenho do Congresso. A reprovação aos parlamentares sobe
entre os que têm nível superior de escolaridade, atingindo 66% nessa parcela da
população. Também é alto o mesmo índice entre os que ganham mais de dez
salários mínimos: 64%
.”(MICHELE
OLIVEIRA).

É tão
lamentável, que se pode deixar de comentar, e os comentários, as discussões, as
análises, só fazem aprimorar o Estado Democrático de Direito.

O Congresso
Nacional está dando exemplo de vergonhoso corporativismo à nação brasileira,
com reflexos no exterior. A nossa economia, por exemplo, alcançou razoável
índice de sustentação, pelo que se lê nos jornais. Mas essa sustentação foi
atingida, entre os valores, pela confiança nas instituições brasileiras. Mas,
assistir ao que vem acontecendo no Congresso Nacional, com recomendações de
cassações do Conselho de Ética da própria casa, faz os brasileiros se sentirem
todos uns idiotas. Votamos nestes parlamentares para nos representarem e
representarem os interesses da nação, que com certeza, não passam pela
deslavada impunidade demonstrada. O Conselho de ética vem sendo tratado com
indiferença pelos próprios colegas. Têm procurado pautar as investigações
através de fatos e provas, de forma independente, idônea e apartidária. Mas na
hora do julgamento em plenário, os parlamentares covardemente, agindo por
coleguismo e retribuição de favores (talvez até escusos) ignoram as
recomendações. Isso fez com que alguns honrados parlamentares abandonassem
aquele conselho. Fizeram bem, para mostrar não compactuarem com a vergonha
nacional.

Está com um problema jurídico e precisa de uma solução rápida? Clique aqui e fale agora mesmo conosco pelo WhatsApp!

As atitudes
dos parlamentares pode até ser legal, mas é ilegítima, porque com certeza não
seguem o interesse dos seus eleitores e imoral, porque inocentam-nos pelos
crimes praticados (muito mais de falta de decoro).

A grotesca
“dança da pizza” como a imprensa convenientemente a chamou, da deputada Ângela
Guadagnin foi a exteriorização da vergonha nacional, com repercussão, repito,
em outras partes do mundo. Ao invés de se desculpar, admitir o erro, prometer
se corrigir, como mínimo do que se esperava, nada disso, como outros colegas
que ousaram se equiparar a Jesus Cristo, colocou-se no papel da vítima, dizendo
ainda ter sido “condenada” pela opinião pública (que sarcástica essa tal de
opinião pública, hein?) porque não pintava os cabelos, porque é gorda e porque
não tem o protótipo de “mulher bonita”. Ainda que tudo isso seja verdade,
cabia-lhe, isso sim, representar o seu eleitorado com suas ações, e não com as aparências.
Veja-se que ela foi criticada não pelo que é, ou como é, mas pelo que fez.

Senhores
leitores, não dá mais. Os parlamentares precisam – votar abertamente
para que a democracia amadureça e para que possamos saber como eles agem nos
representando. O Congresso Nacional deverá, providenciar imediatamente, em
seguida, em um site, a exposição de todos os votos dos senhores parlamentares,
para que saibamos de que forma votaram cada questão discutida e aprovada ou
rejeitada pelo parlamento. Isso é muito fácil, basta vontade, e a transparência
virá. Precisamos exigir e acompanhar os seus trabalhos, para colaborarmos com
um País melhor. De se consignar o trabalho sério e dedicado por semanas e meses
de alguns parlamentares que buscaram, a todo custo, nadar contra a maré, homens
dignos de reconhecimento e apoio, cujos nomes são notórios, e deixo de citá-los
para não correr o risco de esquecer de alguém e fazer injustiça.

E enfim,
depois de tanta absolvição no plenário da Câmara dos Deputados, do vexame
nacional e da pizza, resta-nos acompanhar os trabalhos do Ministério Público
Federal, instituição na qual depositamos a mais alta confiança, pois os
Procuradores vem dando exemplo de trabalho silencioso, e certamente eficiente.
Estes mesmos deputados ainda voltarão à cena, tenho convicção, após serem-lhes
negada reeleição e pelas mãos da Justiça, para responderem os respectivos
processos criminais.

“Fiat iustitia ne pereat mundus” – “Faça-se justiça para que o mundo não pereça”. (Georg Wilhelm
Friedrich HEGEL)

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Marcelo Batlouni Mendroni

 

Promotor de Justiça/SP – GEDEC, Doutor em Processo Penal pela Universidad de Madrid, Pós-Doutorado na Università di Bologna/Italia

 


 

Está com um problema jurídico e precisa de uma solução rápida? Clique aqui e fale agora mesmo conosco pelo WhatsApp!
logo Âmbito Jurídico