A que horas trabalha o deputado?

Outro dia li na imprensa que alguns políticos demonstram grande preocupação com o seu aspecto físico. Deu-se exemplo de um que se diz possuidor de implante capilar, que se mantém em ótima forma física, veste trajes bem cortados etc. Chamou-me a atenção especialmente a situação de um deles, de tal forma asseado com manicure, pedicure, sauna, massagens e cortes de cabelo, que precisa ir ao barbeiro todos os dias.

O que mais me inquietou, entrementes, não foi o fato esdrúxulo de saber que um deputado estadual do RS vá à barbearia diariamente para fazer as mãos e os pés; se realiza implantes de cabelo ou se apenas atualiza o penteado.

Preocupa, e muito, é ver que homens públicos da nossa terra nem sequer se pejem – nem percebam o quanto estão sendo ridículos – de contar tal fato, como se isto nos interessasse enquanto eleitores.

Pior: um deles acrescenta – do alto da sua completa desconexão com a realidade – ser ele um produto, o qual deve ser “vendido” como qualquer outro.

Ora, será que até em nível de seus representantes no Parlamento merece a sociedade gaúcha ser empulhada por produtos de baixa qualidade, envoltos em embalagens de gosto duvidoso? Fico a me perguntar o que diriam de tais futilidades alguns homens públicos que os antecederam, notórios por sua austeridade, como Júlio de Castilhos e Gaspar Martins…

Por fim: quem paga a mordomia? E a que horas trabalha o deputado?

 


 

Informações Sobre o Autor

 

César Peres

 

Advogado em Porto Alegre. Professor de Direito Penal e de Direito Processual Penal na ULBRA/Gravataí – RS

 


 

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