Se você vai a praia, é apropriado usar maiôs, biquinis, saída-de-praia, toalhas, shorts, bermudas… e, até porque não dizer minissaia…
Se você vai a um templo religioso, ainda que seja jovem ou mesmo infante, voce vestirá roupas ainda que sejam informais, serão contidas e discretas,como convém a quem vai procurar um culto ou a uma divindade e irá dirigir-lhe preces e devoção.
Se você vai a um clube… jogar bola, tênis, voleibol, squash ou outro esporte qualquer, por mais informal e descontraído que este pareça, você irá de forma não convencional, mas não poderá se expor em demasia e, nem mesmo afrontar os costumes e a cultura esportiva local.
Se você vai a uma festa, ou mesmo a um bacanal. Daqueles que a gente costumava chamar de “festa do cabide”.. Mesmo assim, íamos vestidos, para depois no momento crucial de sedução, despir-se cerimoniosamente… ao som de um sax totalmente irresistível…
O vestir do corpo revela e identifica as pessoas em períodos de guerra, de paz, de recessão, de riquezas, medos, alegrias e, até ideologias. Vestir o corpo significa paradoxalmente despir a alma…mostrar ao mundo nossa maneira de ser e de pensar.
A indumentária vem do latim at. induméntum,i significando’vestidura, traje, máscara, véu, envoltório, manto, cobertura’, derivado. do verbo latino. indùó,is,i,indútum,induère ‘vestir(-se), pôr roupa, revestir’,e p.ext. ‘introduzir, fincar, inculcar’, este do verbo.grego. endúó ‘fazer entrar em’, p.ext. ‘vestir(-se), revestir(-se) de (armadura etc.), entrar, penetrar’.
A roupa revela ainda a classe social, cultural ou política de quem a veste. A rebeldia começada nos anos cinquenta impedia essa identificação e a classificação das pessoas pelas classes sociais, contestando através de um visual inusitado. Nos idos dos anos sessenta, ainda experimentávamos a contracultura…e a indumentária era ainda mais revolucionária.
A indumentária também é estudada pela Semiótica pois se preocupa com as linguagens verbais e não-verbais, assim sendo considerada uma forma de expressão munida de caráter visual. O apelo da linguagem não-verbal dirige-se diretamente ao inconsciente e pode provocar reações inusitadas ou, no mínimo, inesperadas…
Lembremos que a aparência de uma pessoa expressa à outra, revela a forma com a qual essa deseja se comunicar, informações sobre sua identidade e estilo de vida. Mas, a imagem pode funcionar por vezes como um simulacro, a traduzir equivocadamente uma coisa que a pessoa não é, mas gostaria de ser, para ser aceito em determinado grupo social.
O simulacro desesperado no afã de ser aceito e acolhido pelo que parece ser, mas em verdade, não o é…
A roupa como objeto de consumo se diversifica de uma sociedade para outra, conforme seu contexto social, e político, e pode ser explicada pela necessidade de expressar significados mediante a posse dos produtos de consumo que comunicam a sociedade como o indivíduo percebe e, é percebido e, ainda interage com os grupos sociais.
Mas o motivo do presente artigo é explicar o simplesmente óbvio, que existe a roupa adequada e aceitável para cada ambiente a ser freqüentado pela pessoa… Sem falsos moralismos e sem dar apoio aos apedrejadores hipócritas de plantão…
O episódio acontecido em 22 de outubro desse ano, quando quase uma universidade inteira repudiou o trajar de uma das alunas, revela o quão é importante essa adequação da indumentária ao contexto convivencial da pessoa…
O desfecho do acontecido traz inúmeras reflexões… a primeira dessas, é que se a aluna tem frequentado as dependências da universidade em trajes inadequados e sumários e com postura incompatível com ambiente acadêmico e, apesar de alertada, não alterou seu comportmento, temos caracterizado desinteresse da referida aluna em se adequar e utilizar a universidade para fim que realmente se destina que é estudar, aprender e socializar-se.
Aliás, a educação em seu viés mais contemporâneo é uma ferramenta socializante e socializável, onde a aprendizagem surge da interação e da complementação da realidade.
Outro aspecto, foi o fato de ter sido oficialmente expulsa a discente, pois é óbvio que a segurança física e moral dela restou definitivamente abalada e, não se poderia admitir que a cada dia de aula, ou ainda, quando quisesse ousar e usar trajes exóticos, a universidade tivesse que pôr a sua disposição PMs ou segurança para lhe escoltá-la até sua casa.
Mais, tarde o reitor da referida instituição de ensino refugou da decisão do Conselho Universitário e, readmitiu a aluna, propondo medidas educativas para todos os transgressores…
É o caso típico da emenda sair pior do que o soneto… Pois afinal de contas, apesar do aluno ser consumidor e cidadão, ainda assim, há de preencher minimamente os requisitos e respeitar os códigos de convivência e de civilidade. Afora da ética, moral e bons costumes…
Todos os envolvidos deveriam mergulhar numa reflexão crítica e perceber aonde erraram para não mais reincidir no desastre presenciado amplamente pelo “youtube”. Todavia, pelas entrevistas que assisti e por tudo que li sobre a matéria, reitera a aluna que jamais fora advertida sobre seu comportamento e mesmo sobre seu trajar…
E, mais que teria voltado humildemente para casa, se tivesse sido impedida de entrar na universidade por conta dos trajes… Nessa festa de mau gosto, dançamos todos nós, por presenciarmos um espetáculo grotesco de execração pública e de violentação aos direitos humanos e, ainda, os dela e os nossos…
Rezemos para que o seminário sobre a cidadania tenha entre os palestrantes a Glória Khalil que poderá falar elegantemente sobre os códigos de etiqueta, de comportamento e civilidade para a vida real, e demonstrar que o bom senso não é artefato assim tão inatingível…
Uma “dica” importante, o uso frugal do bom senso evita traumas na vida adolescente e adulta.
Informações Sobre o Autor
Gisele Leite
Professora universitária, Mestre em Direito, Mestre em Filosofia, pedagoga, advogada, conselheira do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas.