O jogo da sucessão

A semana em Brasília foi agitada como
previsto. As eleições da Câmara e do Senado tomaram quase todos os espaços do
noticiário. Muitas articulações moveram os bastidores em Brasília nos últimos
dias e nas últimas horas que antecederam as votações. A aliança selada entre
PSDB e PMDB nas duas casas, com a chancela do Planalto, foi decisiva nos
resultados das eleições. O resultado foi o previsto, sem grandes surpresas.
Entretanto, agora chegamos ao momento mais importante: entre mortos e feridos
políticos começam as acomodações de forças que podem influenciar na decisão
acerca do candidato governista à sucessão do Presidente Fernando Henrique
Cardoso.

Nestes dias pós-eleição e pré-carnaval,
os políticos continuam suas conversas para avaliar o impacto das eleições de
Jader e Aécio como os novos presidentes do Senado e da Câmara. O sentimento
mais forte em Brasília é aquele que indica o seguimento da união PSDB-PMDB com
vistas à eleição de 2002. Neste panorama, encontramos o nome de José Serra como
o forte candidato governista da vez. Serra, Senador
por São Paulo, é Ministro da Saúde de FHC, e segundo os bastidores da capital,
um dos principais articuladores da dobradinha vencedora nas eleições do
Congresso. Tem a seu favor a simpatia do empresariado paulista. Como vice,
especula-se o nome de Jarbas Vasconselos, Governador
de Pernambuco, representante do Nordeste e do PMDB.

Vale lembrar que esta eleição deixou um
grande ferido: o PFL. Entretanto, se enganam aqueles que acreditam que o PFL
não irá se recompor facilmente. Quando menos se esperar, o partido do
Vice-Presidente Marco Maciel irá surpreender.

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O novo pelotão de elite governista,
formado pelo PSDB-PMDB terá muito trabalho pela frente no Congresso. O partido
do Presidente já está sofrendo ameaças de baixas importantes como a do
Governador do Ceará, Tasso Jereissati, simpático ao PFL. As avaliações do
Planalto devem ser cautelosas, pois o desgaste do governo federal com
Jereissati pode “abrir uma avenida” para a candidatura de Ciro Gomes. Tasso, um
político leal e cumpridor de acordos é muito mais importante
do que o Planalto imagina. Do outro lado do pelotão encontramos o PMDB,
enfraquecido por denúncias de corrupção, como noticiado na revista Veja desta
semana.  Logo, antes de pensar a longo prazo, os líderes destes partidos
devem arrumar a própria casa antes de pensar em nomes para a sucessão de FHC.

Um resultado importante de toda esta
articulação não pode deixar de ser notado: a ascensão de Aécio Neves.
Desacreditado no início de sua campanha para presidência da Câmara, virou o
jogo, beneficiado pela aliança selada com o PMDB. Mostrou-se um político muito
habilidoso. Aécio, neto do ex-Presidente
Tancredo Neves, é parlamentar desde 1987. Depois de dez anos na Câmara, assumiu
a liderança do PSDB, onde permaneceu por sucessivas aclamações até a eleição
que o levou a presidir a casa.  Aécio é um político hábil, amadurecido,
que sabe aproveitar as oportunidades e deverá alçar vôos mais altos em breve. Sua projeção
como presidente da Câmara extrapolará os limites do Estado de Minas Gerais.
Logo, seu peso político sofrerá importantes acréscimos nos próximos anos.

A projeção de Aécio é a maior prova de
que não se deve simplesmente fazer projeções em cima de nomes que estão em evidência. Não
adianta especular sobre candidaturas como a de Serra, Ciro, Tasso, Lula ou
Itamar, pois outros nomes fortes tendem a aparecer quando o pleito se aproxima.
Logo, aqueles apressados em dizer que o PFL se tornará fraco
estarão cometendo um engano – é só olhar a trajetória do partido. Entretanto,
como resultado destas eleições, podemos enxergar o
esboço dos primeiros movimentos do Planalto. E estes planos não incluem o PFL.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Márcio C. Coimbra

 

advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).

 


 

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