O mal do Século XXI

Terror: do Latim. Terrore – s. m.: pavor; grande receio; pânico, qualidade de terrível.

O Século XXI, em termos de política internacional, iniciou-se com o ataque as Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. A sociedade internacional nunca mais foi a mesma desde então. As prioridades foram reconsideradas, os parâmetros subvertidos, e iniciou-se com um processo de confusa reação e perseguição aos “culpados” que culminou com a intervenção norte americana do Iraque.

Contudo, o que parecia fator de desencadeamento da maior reação mundial contra o terrorismo, que conhecera seu então mais dramático episódio nos idos de 1972, quando do brutal assassinato em Munique da delegação olímpica israelense por terroristas palestinos, acabou por se inverter, de forma tão surpreendente quando inexplicável. Ao mesmo tempo em que líderes ocidentais instavam suas populações a não tomar medidas retaliatórias impensadas contra muçulmanos e árabes, o islã saía às ruas em massa para declarar a Jihad (Guerra Santa), contra o mundo ocidental em geral, e contra Israel e EUA em particular. Na Palestina, o regozijo era geral, em imagens pouco veiculadas pela mídia.

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Desde então, o que se assistiu foi um recrudescimento da globalização em um fechamento de fronteiras jamais visto, principalmente no caso norte americano, e o medo que voltou a permear o cotidiano da sociedade internacional, o medo geral e indistinguível que andava ausente desde o término da guerra fria, no início dos anos noventa.

Inobstante, os EUA são acusados insistentemente de ter dado azo ao terrorismo planetário, tanto pelo mundo islâmico em geral quanto por acadêmicos americanos e europeus.

É inacreditável que o mundo ocidental tente justificar seus algozes. A pergunta que fica sem resposta é: qual a alternativa? Não se deve esquecer que os EUA vinham se tornando mais e mais avessos às intervenções no estrangeiro até 2001, receosos dos efeitos que as imagens de seus soldados mortos poderiam trazer na ordem interna, com havia sido o caso da Somália. Saddam Hussein reinava impávido no Iraque, bem como o Taliban no Afeganistão, que se dava ao luxo de explodir diante das câmeras de tv estátuas milenares, por supostamente atentarem contra a fé muçulmana. E tudo mudou, culpa de fatores externos e não o contrário. É fácil justificar a atuação norte americana na figura patética de George Bush, mas seus objetivos são efeito e não causa.

As intervenções americanas, se por um lado nada resolveram, uma vez que os conflitos no Afeganistão e Iraque permanecem até a presente data, foram efeitos do abalo moral do atentado de 2001. Uma reação era necessária.

Então, revela-se fácil e intuitivo concluir que a chance de termos tal panorama intervencionista sem o 11 de setembro era quase nula. Em sendo assim, porque os americanos sempre estão errados?

Não sejamos ingênuos em acreditar que a política externa americana, que armou tanto os talibans contra os soviéticos quanto Saddam contra os iranianos agiu de forma inocente, mas isso não significa que temos de aceitar atentados terroristas como efeito natural de reação a opressão. É o mesmo que aceitar o banditismo como conseqüência natural da miséria.

Sejamos justos: se opressão justificasse o terrorismo, os tibetanos seriam os campeões mundiais, anexados e oprimidos pela China desde 1950, considerados minoria inferior em sua própria terra. O fato é que existe algo no islã que se presta a radicalismos, ainda que o Corão, livro sagrado dos muçulmanos traga expressamente que os “povos de livro” (cristãos e judeus) devem ser protegidos. Mas são estes mesmos povos os considerados infiéis pelos líderes radicais.

Por outro lado, os eufemismos da imprensa têm contribuído para mascarar a realidade dos fatos, denominando “combatentes”, “militantes” ou mesmo “radicais”, o que deveria ser descrito sem dúvida como “terroristas”. Houve bem menos reação aos atentados de 2004 nos trens suburbanos de Madri que a morte dos líderes terroristas do Grupo Hamas, Sheik Ahmed Yassim e Al-Rantissi, chamados de “assassinatos” perpetrados por Israel. Basta recordar que o vocábulo “assassinato” refere-se normalmente á morte brutal e sem sentido, e não à eliminação de fanáticos terroristas responsáveis pela morte de centenas de pessoas, e abertamente contra qualquer negociação de paz no oriente médio, pregando a destruição total do Estado judeu. Por outro lado, “assassinato” é um termo bem mais sério que “atentado”.

Existe uma tendência em se considerar grupos terroristas como herdeiros dos antigos guerrilheiros. Porém, estes combatentes atacavam alvos militares ou estratégicos, visando enfraquecer o poder estabelecido, ao passo que os modernos terroristas atacam declaradamente alvos civis, com o único intuito de espalhar o pânico e a morte. Não há comparação possível, nem como justificar o ataque a prédios comerciais, trens de subúrbios que carregam trabalhadores, restaurantes, discotecas, e outros.

Assim, permanecemos atônitos entre a opção de sermos vítimas de nosso sistema liberal, que acolhe diversos povos no seio da diversidade, apenas para perceber que nosso território é a base de treinamento e desenvolvimento de terroristas; fecharmo-nos ao exterior e sermos acusados de xenófobos; atacarmos nossos agressores e sermos tachados de intervencionistas e assassinos; ou quedarmo-nos no imobilismo, à espera do próximo ataque sem rosto.

O que devemos fazer é rejeitar, com veemência política, econômica e intelectual, qualquer forma de legitimação do terrorismo, do Hamas ao IRA, do ETA à Al-Qaeda, repudiando seus princípios, e demonstrando claramente que não haverá qualquer negociação possível com base na morte de civis inocentes. Suprimindo qualquer indício de simpatia, solapamos sua base ideológica.

Não custa recordar que os piores ataques sofridos, o 11 de setembro e Madri, não foram até agora reclamados expressamente por nenhum grupo terrorista, o que só reforça seu objetivo maior: espalhar o pânico, indistintamente.

Enquanto continuarmos justificando, estaremos sempre à espera.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

André Luís Ferreira

 

Advogado, mestre em Ciências Jurídico Internacionais pela Universidade de Lisboa e professor de Direito Internacional Publico e Privado na UniverCidade, UCAM, UNISUAM e UNIFESO.

 


 

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