O dominio das facções
Com
táticas de guerrilha e logística sofisticada, o crime organizado mostrou a sua
força, traumatizou a população e tem deixado o país refém. Neste ano o dia das
mães, foi marcado pela história. Uma tragédia de erros do governo do Estado de
São Paulo, onde o indulto que liberou nada menos que 12 mil presos, transformou
o estado em um verdadeiro território de guerra entre agentes dos ataques e
policiais.
O ataque
comandado pelo líder do chamado Primeiro Comando da Capital, que controla os
presídios do Estado como também de alguns espalhados pelo país, e estende seu
poder sobre o tráfico de drogas, de armas e contrabando, assassinaram nada
menos do que 36 policiais somente naquele final de semana.
Segundo a
revista Isto É, os ataques somente se cessaram depois de negociações absurdas
que, nada mais atendeu aos pedidos do líder que privilegiava sua permanência no
presídio como também o ajudaria futuramente. “O líder do PCC obteve quase tudo
o que reivindicou. A entrada de 60 televisores nas cadeias para a Copa do
Mundo, o fim dos uniformes amarelos – fáceis de identificar em casos de fuga
-,respeito ao horário do banho de sol, ampliação do número de visitas íntimas”.
Feito o
acordo, Marcola, chefe do PCC disparou um “salve” – comunicação entre presídios
feita a partir de uma carta lida por um dos líderes e repassada às outras
penitenciarias por celular, determinando o fim dos ataques, bem como o
encerramento de mais de 80 rebeliões que estavam em andamento nos presídios de
São Paulo.
Como
surgiram as facções
No final
da década de 70 era freqüente nos presídios brasileiros presos políticos e
bandidos comuns dividirem o mesmo espaço. A convivência forçada ensinou toda a
população carcerária que só de maneira organizada poderiam fazer valer bandeiras como o fim da tortura, por
exemplo. Foi assim que no Rio de Janeiro a Falange Vermelha, organização
criminosa hierarquizada que conseguia denunciar os maus-tratos a que seus
membros eram submetidos. Mais tarde surge, também no Rio, O Comando Vermelho,
oriundo da Falange, e ainda mais sofisticado. A organização funcionava fora dos
presídios, fazendo com que produtos de ações criminosas pudessem em parte
reverter para um caixa único, a fim de garantir o sustento de famílias daqueles
que estavam presos.Em São Paulo, as organizações surgiram, por volta da década
de 80, com os Serpentes Negras, grupos que exigia a implantação de uma política
de direitos humanos no sistema penitenciário. O PCC se organiza a partir de
1993, depois do massacre que resultou na morte de 111 presos no presídio
extinto Carandiru, reivindicando os mesmos direitos das organizações do passado.
No inicio de 2000, após rebeliões
simultâneas em presídios paulistas, alguns lideres do PCC, entre eles Marco
Camacho, o Marcola, foram transferidos para o Rio de Janeiro. Conforme o
delegado Godofredo Bittencourt, Diretor do Departamento de Investigações
Criminais de São Paulo (DEIC), este foi o maior erro cometido por parte do
departamento. No convívio com o Comando Vermelho, Marcola que era um simples
batedor de carteiras, com seus contatos, construiu relações com a organização
aprimorando assim o PCC. De presos organizados, passaram para o crime
organizado, liderando ações como trafico de drogas e de armas, contrabando,
roubo a bancos e seqüestras de dentro dos presídios. A estrutura financeira do
PCC, é capaz de arrecadar mensalmente cerca de R$ 1 milhão, em dinheiro usado
para bancar outros crimes. O mais recente investimento, foi a de alguns membros
inscritos em cursos promovidos por segurança privada para aprenderem a manusear
armas mais modernas.
Para consolidar sua liderança sob os
100 mil comandados no sistema penitenciário e dez mil soldados (estes agem fora
dos presídios), Marcola usa o tacão do terror. Conforme os números informados
pelo governo paulista, nos presídios morrem 500 presos por ano. Em 2004 cresceu
em 200% o numero de suicídios dentro dos presididos. “Muitos dos presos que tem
dívidas com as facções ou não querem mais cumprir ordens são ‘Obrigados’a se
suicidar”, diz Padre Valdir José Silveira, coordenador estadual da Pastoral
Carcerária, entidade não governamental que trabalha em defesa de presidiários.
Se por um lado o crime aterroriza,
por outro ele ameniza a dor de presos e familiares. Dentro dos presídios
comandados por Marcola, o lider adotou posturas que aumentarão sua
credibilidade. O uso de crack dentro das prisões é proibido, pois segundo ele
acaba matando seu exército. Também decretou o fim dos estupros que vitimavam os
presos mais fracos. Embora o líder tenha apenas a oitava serie, este possui
ambição. Alem de usar praticas de guerrilha urbana para aterrorizar a
população, o líder também joga de outro lado. O PCC vai financiar dois
candidatos a deputado sendo um federal e um estadual. A justificativa de Marcola
é criar a longo médio prazo, uma bancada para oficialmente lutar pelos direitos
do preso.
Informações Sobre o Autor
Virginia Camargo
Acadêmica de Direito