Apontamentos sobre a obra “Categorias” de Aristóteles

“É lícito afirmar que são
prósperos os povos cuja legislação se deve aos filósofos”.

Vida
e Obra de Aristóteles

ATENAS 367 OU 366 a.C. Ao grande
centro intelectual e artístico da Grécia no século IV a.C. chega um jovem de
cerca de dezoito anos, proveniente da Macedônia.

Como muitos outros, vem atraído
pela intensa vida cultural da cidade que lhe acenava com oportunidades para
prosseguir seus estudos. Não era belo e para os padrões vigentes no mundo grego
principalmente na Atenas daquele tempo, apresentava características que
poderiam dificultar-lhe a carreira e a projeção social.

De um lado, Isócrates, seguindo a
trilha dos sofistas, propunha-se a desenvolver a “virtude” ou
capacitação para lidar com os assuntos relativos a polis, transmitindo-lhe a
arte de “emitir opiniões prováveis sobre coisas úteis”.

Ao contrário de Isócrates, Platão
ensinava que a base para a ação política como, aliás, para qualquer ação
deveria ser a investigação científica, de índole matemática.

Na Academia, que fundara em 387
a.C., mostrava a seus discípulos que a atividade humana, desde que pretendesse
ser correta e responsável, não poderia ser norteada por valores instáveis,
formulados segundo o relativismo e a diversidade das opiniões; requeria uma
ciência (episteme) dos fundamentos da realidade na qual aquela ação está
inserida.

Por trás do inseguro universo das
palavras sujeitas à arte encantatória e à prestidigitação dos retóricos, o
educando deveria ser levado, por via do socrático exame do significado das
palavras, à contemplação, no ápice da ascensão dialética, das essências
estáveis e perenes: núcleos de significação dos vocábulos porque razão de ser
das próprias coisas, padrões para a conduta humana porque modelos de todos os
existentes do mundo físico.

Para além do plano da
palavra-convenção dos sofistas e de Isócrates, Platão apontava um ideal de
linguagem construída em função das idéias, essas justas medidas de significação
e de realidade. Diante dos dois caminhos o de Isócrates e o de Platão , o jovem
chegado da Macedônia não hesita: ingressa na Academia, embora a advertência da
inscrição de que ali não devesse entrar “quem não soubesse
geometria”. O novo tirano, Dionísio II, talvez pudesse ser convencido a
adotar uma linha política mais justa e condizente com os interesses gerais do
mundo helênico. O jovem que viera da Macedônia ingressa, assim, numa Academia
na qual a figura principal era, no momento, Eudoxo , matemático e astrônomo que
defendia uma ética baseada na noção de prazer.

De pura raiz jônica, a família de Aristóteles
estava tradicionalmente ligada à medicina e à casa reinante da Macedônia. Seu
pai, Nicômaco, era médico e amigo do rei Amintas II, pai de Filipe. Estagira, a
cidade onde Aristóteles nasceu, em 384 a.C., ficava na Calcídica e, apesar de
estar situada distante de Atenas e em território sob a dependência da
Macedônia, era na verdade uma cidade grega, onde o grego era a língua que se
falava. A vida de Aristóteles e pode-se dizer que até certo ponto sua obra
estará marcada por essa dupla vinculação: à cultura helênica e à aventura
política da Macedônia. Ao ingressar na Academia platônica que viria a
freqüentar durante cerca de vinte anos, Aristóteles já trazia, como herança de
seus antepassados, acentuado interesse pelas pesquisas biológicas. Ao matematismo
que dominava na Academia, ele irá contrapor o espírito de observação e a índole
classificatória, típicas da investigação naturalista, e que constituirão traços
fundamentais de seu pensamento. Por outro lado, embora de raízes gregas, ele
não era cidadão ateniense e estava estritamente ligado à casa real da
Macedônia. Essa condição de meteco estrangeiro domiciliado numa cidade grega
explica que ele não viesse a se tornar, como Platão, um pensador político
preocupado com os destinos da pólis e com a reforma das instituições. Diante
das questões políticas, Aristóteles assumirá a atitude do homem de estudo, que
se isola da cidade em pesquisas especulativas, fazendo da política um objeto de
erudição e não uma ocasião para agir. Em 347 a.C., morrendo Platão, Aristóteles
deixa Atenas e vai para Assos, na Ásia Menor, onde Hérmias, antigo escravo e
ex-integrante da Academia, havia se tornado o governante. É possível que a
escolha de Espeusipo, sobrinho de Platão, para substituir o mestre na direção
da Academia, tenha decepcionado Aristóteles; sua destacada atuação naqueles
vinte anos parecia apontá-lo como o mais apto a assumir a chefia. Três anos
depois que Aristóteles havia se transferido para Assos, Hérmias foi
assassinado. Saindo de Assos, Aristóteles permanece dois anos em Mitilene, na
ilha de Lesbos. Filipe, em 343 a.C., chama Aristóteles à corte de Pela e
confia-lhe importante missão: a de educar seu filho, Alexandre. Chega ao fim a
autonomia das cidades-Estados que caracterizara a Grécia do período helênico.
Nada mais justificava a permanência de Aristóteles na corte de Pela. Do hábito
aliás comum em escolas da época que tinham os estudantes de realizar seus
debates enquanto passeavam, teria surgido o termo peripatéticos (que significa
“os que passeiam”) para designar os discípulos de Aristóteles. Ao
contrário da Academia, voltada fundamentalmente para investigações matemáticas,
o Liceu transformou-se num centro de estudos dedicados principalmente às
ciências naturais. De terras distantes, conquistadas em suas expedições,
Alexandre enviava ao ex-preceptor exemplares da fauna e da flora que iam
enriquecer as coleções do Liceu. Mas o biologismo era mais que uma perspectiva
de escola: tornou-se marca centra] da própria visão científica e filosófica de
Aristóteles, que transpôs para toda a Natureza categorias explicativas
pertencentes originariamente ao domínio da vida. Em particular, a noção de
espécies fixas sugerida pela observação do mundo vegetal e animal exercerá
decisiva influência sobre a física e a metafísica aristotélicas, na medida em
que se reflete na doutrina do movimento elaborada por Aristóteles.

Apesar da estima que Alexandre
parece ter devotado sempre a seu antigo mestre, uma barreira os distanciava:
Aristóteles não concordava com a fusão da civilização grega com a oriental.
Aristóteles estava profundamente convencido de que o regime político dos gregos
era inseparável de seu temperamento, sendo impossível transferi-lo para outros
povos. Depois da morte de Alexandre, em 323 a .C ., Acusado de impiedade,
deixou Atenas e refugiou-se em Cálcis, na Eubéia. Aí morreu no ano de 322 a.C.

Filosofia
de Aristóteles

Partindo como Platão do mesmo
problema acerca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a solução do
mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres
desta grande síntese são:

1. Observação fiel da natureza
Platão, idealista, rejeitara a experiência como fonte de conhecimento certo.
Aristóteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto de partida de suas
teorias, buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas
especulações metafísicas.

2. Rigor no método Depois de
estudas as leis do pensamento, o processo dedutivo e indutivo aplica-os, com
rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo à linguagem imaginosa e
figurada de Platão, em estilo lapidar e conciso e criando uma terminologia
filosófica de precisão admirável. Pode considerar-se como o autor da
metodologia e tecnologia científicas.

3. Unidade do conjunto Sua vasta
obra filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese.

Obra: Categorias

O propósito da obra de Aristóteles é nos revelar a forma correta e
adequada de raciocínio, o conhecimento da lógica, que o faz por meio da
estrutura do pensamento e da linguagem, tomando por base também, as figuras do
raciocínio.

Analisa o método do pensamento ideal a partir da linguagem, apontando
que para isso é indispensável ao conhecimento do nome e a existência da coisa,
acreditando ser condição sine qua non para o próprio pensamento, que na
ausência desses elementos, ele não é possível. O que nos torna possível
entender que para o autor, o pensamento ideal e correto se faz pela união dos
seus elementos formadores, o nome e a existência da coisa.

Revela-nos também que as palavras somente terão significado somente
quando estiverem agrupadas a uma proposição, considerando que sua estrutura
reflete a estrutura do próprio ser, ou seja, que as palavras quando se
encontram isoladas nada refletem, ou não significam nada em si mesmas. Sustenta
que uma proposição gera uma conseqüência, uma qualidade característica (um
predicado P) que pode ser dado ou negado a um sujeito, que o intitula de S,
admitindo que o próprio ser, ou em suas palavras, ente, é um sujeito com
predicados.

O autor revela-nos também em sua obra as categorias do ser, do
pensamento e da linguagem, que dentre essas considerações admite ser a ciência
possível, ou seja, quando o ser passa pelo crivo do pensamento adequado,
utilizando-se de uma linguagem correta, pode-se dizer que a ciência pode ser
praticada.

Sustenta em sua obra que um estudo profundo acerca da linguagem nos
proporciona um vasto conhecimento, partindo da distinção existente entre o
sujeito e o predicado, sendo necessário ainda, fazer a distinção entre os
próprios predicados?

Manifesta sua convicção de que existem certos termos na linguagem que
sempre tem o mesmo sentido, chamando-os de sinônimos, enquanto outros, apesar
de se expressarem de forma idêntica, são comumente utilizados com sentidos
totalmente diversos da própria palavra.

Utiliza-se de alguns termos para exemplificar essa diversidade de
sentidos como claro, branco, etc, que empregados a diferentes objetos, imprimem
uma conotação diferente, ou seja, imprime um sentido diverso, designando-os de
equívocos.

Admite ainda a existência de um terceiro tipo, chamando-o de análogo,
que são aqueles que se referem a múltiplos significados, em razão de existir
alguma semelhança ou relação entre eles. Porém, há sempre uma ligação geral que
une entre si todos esses sentidos. Assim, para que o ser possa ser tomado como
objeto de uma ciência é imprescindível estudar os diversos significados em que
se pode exprimir esse ser, tornando-se assim, possível de se conhecer o real
fundamento que confere uma certa unidade a tudo que é, o silogismo, que é a
atividade do pensamento que consiste em concatenar juízos e deles obter uma
conclusão, é a base fundamental da lógica de Aristóteles.

A estrutura do silogismo é a dedução, que permite por meio das
verdades conhecidas se chegar a outras verdades oriundas das primeiras. É
composto por três proposições (maior, menor e conclusão).

Aristóteles organizou regras para o raciocínio para garantir a
veracidade das conclusões, com a finalidade de evitar erros e falsidade,
entretanto, ele não assegura um conteúdo verdadeiro, posto que a linguagem pode
ter ou não relação entre o nome e a coisa escolhida.

Com a apresentação desta obra, o autor demonstra como chegar à verdade
sem cometer enganos, utilizando-se do pensamento lógico. Não abordou na verdade
com o conteúdo dos pensamentos, mas a forma com que eles devem ser organizados
para alcançar um raciocínio lógico.

“Nosso caráter é resultado de
nossa conduta”.

 

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Soraia Castellano

 

Bacharel em Direito pela UNISANTOS , Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela UNIMES, Advogada militante na Baixada Santista e Vale do Ribeira, Professora de Direito Comercial e Empresarial.

 


 

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